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Os anos mais importantes da vida de Kerouac

1922 – Jack Kerouac nasce em 12 de março.

1926 – Morte do seu irmão Gerard.

1934 – Encontra a sra. Dinneen, professora de literatura, e a srta. Mansfield, bibliotecária, que o encorajam a escrever. É apaixonado pela leitura de histórias em quadrinho policiais e fantásticas.

1939 – Seu talento como jogador de futebol americano lhe permite obter uma bolsa na universidade Columbia.

1940 – Entra na universidade. Machuca a perna e não pode mais jogar. Lê o romancista Thomas Wolfe e essa leitura será determinante para sua escolha de se tornar escritor.

1941 – Aprofunda seu envolvimento com Jazz. Abandona a universidade.

1942 – Engaja-se na marinha mercante. Escreve o esboço de O mar é meu irmão (The sea is my brother).

1943 – Sai da marinha.

1944 – É apresentado a Lucien Carr e, por intermédio dele, em maio, encontra Allen Ginsberg. Em junho, conhece William Burroughs.

1946  – Morte de seu pai, Leo Kerouac, que lhe pede para cuidar da mãe Gabrielle aconteça o que acontecer. Em dezembro, Neal Cassady chega a Nova York.

1947 – Trabalha em um volumoso romance inspirado em Thomas Wolfe: Cidade pequena, cidade grande. Em julho faz sua primeira viagem de carona de Nova York a Denver.

1948 – Termina Cidade pequena, cidade grande. Atravessa os EUA de leste a oeste. Viaja pelo sul com Neal Cassady. Começa On the road.

1949 – Novas viagens com Neal Cassady pelos EUA.

1950 – Viagem ao México. Prossegue On the Road. Casa-se com Joan Haverty.

1951 – Em abril, termina On the Road.

1952 – Estadia em São Francisco, na casa dos Cassady. Ligação com Carolyn Cassady. Em fevereiro, fruto do relacionamento com Joan, nasce sua filha Janet Michelle. Escreve Visões de Cody. Na casa de Burroughs, começa O livro dos sonhos.

1953 – Escreve Os subterrâneos. Descobre o budismo.

1955 – Na cidade do México, conhece Esperanza Villanueva que dará origem ao livro Tristessa.

1956 – Entre junho e setembro trabalha como guarda florestal em Desolation Peak e começa a escrever Anjos da desolação.

1957 – Publica On the road.

1958 – Publica Os vagabundos iluminados.

1960 – Entrega-se cada vez mais ao álcool.

1961  – Última viagem ao México. Termina Anjos da Desolação e Big Sur. No outono, encontra-se pela primeira vez com a filha Janet, então com nove anos e meio.

1962 – Publica Visões de Gerard e Big Sur. Afasta-se ainda mais dos amigos dos anos 1940.

1964 – Último encontro com Neal Cassady. Sua irmã Nin morre de parada cardíaca.

1966 -Publica Satori em Paris. Casa-se com Stella Sampas.

1968 – Morte de Neal Cassady no México.

1969 – Solidão e decadência. Morre no dia 21 de outubro em consequência de uma hemorragia.

Kerouac_familia

A família Kerouac: Jack, Nin, Gabrielle e Leo

 

A natureza de nossos escritores

Thoreau cantou a vida nos bosques em Walden, Ibsen escreveu um libelo contra os crimes ecológicos em Um inimigo do povo, Kipling compreendeu os mistérios da vida selvagem e O livro da selva, Kerouac foi vigia de incêndios em um parque e contou sua experiência em Anjos da desolação. Muitos outros seguiram este caminho, adentrando florestas, plantando flores e árvores em nossa imaginação, declarando o amor pelos elementos da natureza e descrevendo seus contornos em livros. A todos estes escritores, a nossa homenagem sempre, mas principalmente hoje, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente e Dia Nacional da Ecologia.

Top 10 L&PM, os destaques do ano

Todo ano que se preze termina com listas de “melhores”, “mais lembrados”, “mais influentes”,  “mais importantes”… A restrospectiva faz parte do encerramento em grande estilo. Para nós, aqui da L&PM, foi bem difícil pensar nos 10 livros que marcaram o ano. Porque foram vários e todos eles, especiais. Mas também não vamos negar que alguns se destacaram e chamaram mais atenção dos leitores e da mídia. E são eles, agora, que (re)apresentamos aqui como sendo o “Top Ten L&PM 2010”:

1. Freud traduzido direto do alemãoO ano começou com duas novas traduções das obras de Freud: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, traduzidos direto do alemão por Renato Zwick. São dois livros, mas concluimos que eles são um único destaque.

2. Os informantes – lançado em março,  marcou a estreia do escritor Juan Grabriel Vásquez no Brasil. O romance retrata a conturbada relação entre pai e filho a partir de uma parte esquecida da história da Colômbia.

3. Peanuts Completo – Este ano foram mais dois volumes de Peanuts Completo, a primorosa edição de luxo, com capa dura, que traz tiras dos anos 50 de Charlie Brown e sua turma. Em 2011 tem mais!

4. Surdo Mundo – Comovente e irônico, o romance do inglês David Lodge foi inspirado na própria surdez do escritor e conquistou leitores e críticos de todo o Brasil.

5. Anjos da Desolação – O romance de Jack Kerouac nunca antes traduzido e publicado no Brasil foi lançado no mês de agosto. Diretamente transcrito dos diários de Kerouac, a edição é complementada pela apresentação de Seymour Krim, escritor e crítico literário que participou da geração beat.

6. Pedaços de um caderno manchados de vinho – O livro de Charles Bukowski que apresenta uma seleção de contos e ensaios que ainda não haviam sido reunidos ou publicados. Contém, inclusive, o primeiro e o último contos escritos por Buk.

7. Agatha Christie em Quadrinhos – No ano dos seus 120 anos, Agatha Christie teve destaque na L&PM e ganhou até um Hotsite. Mas foram os HQ que mais chamaram a atenção. O primeiro volume foi lançado em agosto: trouxe Assassinato no Expresso Oriente, seguido de Morte no Nilo. Em outubro, chegou Morte na Mesopotâmia, seguido do Caso dos Dez Negrinhos.

8. As veias abertas da América Latina – O clássico de Eduardo Galeano ganhou nova tradução de Sérgio Faraco e foi lançado, ao mesmo tempo, em formato convencional e pocket. Para completar, ganhou índice analítico.

9. Série Encyclopaedia – Aqui, o destaque foi para uma série. Em 2010, a Série Encyclopaedia L&PM entrou em uma nova fase, com títulos da britânica Oxford University Press e livros trazendo ilustrações, fotos e mapas.

10. WaldenLançado em novembro, o clássico de Thoreau ganhou apresentação de Eduardo Bueno e elogiada tradução de Denise Bottmann.

A cabana de Jack Kerouac no Desolation Peak

“Hozomeen, Hozomeen, most beautiful mountain I ever seen.” Assim Jack Kerouac definiu o Desolation Peak, onde passou pouco mais de 60 dias como vigia de incêndios. Dessa experiência, nasceu Anjos da desolação, agora publicado pela L&PM. A cabana que Jack morou nesses dois meses ainda está lá, aberta aos visitantes.

Para ler um trecho de Anjos da desolação, clique aqui.

Lançamentos na Bienal de São Paulo

No post anterior, falamos das 50 reedições deste mês.
E se em julho, que era para ser “o mês de cães danados”, já tivemos essa produção toda, agosto não poderia chegar em menor estilo. O grande acontecimento será a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a realizar-se no Anhembi de 12 a 22 de agosto.
E para marcar este importante evento, a L&PM terá excelentes novidades tanto entre os livros convencionais, como nos livros de bolso. Olha só:

Coleção L&PM POCKET:
Depois do Funeral – Agatha Christie
Maigret sai em viagem – Simenon
Radicci 7 – Iotti
A linha de sombra – Joseph Conrad
Lincoln (Série Encyclopaedia) – Allen Guelzo
Primeira guerra mundial (Série Encyclopaedia) – Michael Howard
Despertar: uma vida de Buda – Jack Kerouac
O amor é o cão dos diabos – Charles Bukowski
Bella Toscana – Frances Mayes

Outros formatos:
Peanuts Completo volume 3 – Charles Schulz
Anjos da desolação – Jack Kerouac
Clássicos do Horror (Drácula, Frankenstein e O médico e o monstro) (Série Ouro) – Bram Stoker, Mary Shelley e Robert Louis Stevenson
Pedaços de um caderno manchado de vinho –Bukowski
Amores de alto risco – Walter Riso
A espécie fabuladora – Nancy Huston
Videiras de cristalLuiz Antonio de Assis Brasil
Assassinato no Expresso Oriente & Morte no Nilo (Versão em Quadrinhos) – Agatha Christie

Alguns trechos dos livros novos já estão disponíveis na seção Próximos Lançamentos do nosso site.

A aventura de traduzir Kerouac

Guilherme da Silva Braga enfrentou o desafio de traduzir Jack Kerouac: Visões de Cody, Big Sur e agora Anjos da desolação, que deverá ser lançado no início do segundo sementre de 2010. Obras viscerais de um autor que marcou o século XX, que inovou na linguagem e segue sendo contemporâneo, e que chega até nós na versão impecável de Guilherme que narra, abaixo, o duro caminho que percorreu para traduzir o texto e a alma de Kerouac.

Por Guilherme da Silva Braga

Depois de três meses de trabalhos começados logo após o Ano-Novo e de quase quatrocentas páginas de prosa ensandecida, hoje terminei a tradução de mais um livro do Kerouac, que vai sair em português pela L&PM com o título de Anjos da desolação (“Desolation Angels”). Assim como aconteceu com Visões de Cody, essa é a primeira tradução de Anjos da desolação para o português, o que é uma ótima notícia para os leitores ávidos por novidade.
Não sei se algum leitor faz idéia, mas esse jeitão largado dos textos do Kerouac pode ser um tanto intimidador para quem traduz, mesmo quando a gente trabalha com o maior cuidado e o maior respeito pelo texto. Quando terminei a minha tradução do difícil poema Mar, que encerra o Big Sur, por exemplo, foi um grande incentivo descobrir que a tradução do Paulo Henriques Britto (Brasiliense, 1985) – embora muito diferente da minha – tinha dado um tratamento mais ou menos similar ao texto. Faz bem saber que o que a gente está fazendo não é uma loucura e que outros tradutores de reconhecida competência e talento tomaram decisões parecidas quando precisaram.

Um bom começo para quem quer conhecer Kerouac

Guilherme também traduziu "Visões de Cody" / Divulgação

Digo sem dúvida que Anjos da desolação é o meu livro favorito do Kerouac até o momento, bem como uma excelente apresentação para quem nunca leu nenhuma obra do cara. Anjos da desolação não é tão surtado quanto Visões de Cody, mas ainda assim quaisquer concessões à “arte do bem escrever” no sentido acadêmico-babaca do termo passaram longe: Kerouac acerta a mão na escrita de sua prosa tipicamente escalafobética, mantendo a estranheza, a espontaneidade e o experimentalismo subversivo do texto, porém sem descambar o tempo inteiro para o absurdo. O resultado é um livro a um só tempo mais cativante e de leitura mais agradável.
Como de costume, em Anjos da desolação Kerouac faz da vida uma aventura e relata desde as experiências espirituais que teve durante a solidão prolongada no topo do Desolation Peak, onde trabalhou como vigia de incêndios, até cenas absolutamente hilárias ao lado dos amigos Allen Ginsberg, Peter Orlovsky, Lafcadio Orlovsky e Gregory Corso na Cidade do México – tudo regado a viagens, garotas, alegrias, bebidas, paranoias, tristezas e ternuras, como qualquer leitor devoto está cansado de saber.
Como tradutor que sou, no entanto, não me cabe contar a história do livro, mas apenas a da tradução. Anjos da desolação, diferente do que ocorreu em Visões de Cody, não virá acompanhado de nenhuma nota introdutória minha sobre a tradução, uma vez que as dificuldades que apresenta – embora não tenham faltado – não são nem tão específicas nem tão extremas a ponto de justificar a tal nota. O que não me impede de escrever estas breves palavras sobre alguns dos percalços que enfrentei com tanta alegria durante a tradução da obra, claro.
Ao contrário do que reza a cartilha tradutória – mas a exemplo do que quase todos os tradutores literários que conheço e com quem já troquei idéias fazem –, não costumo ler os livros que traduzo antes de começar a traduzi-los. No caso específico do Kerouac, parece-me que abrir mão de uma leitura prévia pode ter o benéfico efeito colateral de manter o frescor do texto, o que evidentemente não me dispensa, ao cabo da tradução, de reler todo o texto produzido em português uma segunda vez com o maior cuidado possível para corrigir erros, completar lacunas e aparar arestas a fim de deixar o texto o mais fluente possível.

Parte da série "Beats", publicada pela L&PM

Cada página, um desafio

Tenho certeza de que há quem pegue os livros do Kerouac – seja no original, seja em uma tradução minha ou dos outros valentes tradutores que arriscaram o pescoço nas outras versões brasileiras dos livros do autor – e pense que é fácil escrever ou traduzir prosa em um estilo mais livre, já que certas preocupações com correção gramatical, coerência e coesão textual vão em boa parte para o espaço. O que menos gente percebe é que toda essa liberdade estilística gera um conjunto muito particular de problemas tradutórios. Um dos aspectos mais gritantes, no caso específico de Kerouac, é o som e o ritmo da prosa original, dotada de uma naturalidade incrível, que a faz soar quase como se fosse de fato um texto falado – o que às vezes de fato acontece, como por exemplo no enorme capítulo de Visões de Cody intitulado Frisco: a fita. Assim, um dos grandes desafios de traduzir Kerouac é manter essa espontaneidade, essa vivacidade da língua falada no texto escrito – algo que não estamos acostumados a ver. Muito do que pode parecer desleixo e improviso destrambelhado quando escrito na página soa exatamente como falaríamos no dia-a-dia se lido em voz alta com a entonação adequada (verdade que em certos casos soa tal como falaríamos depois de tomar um porre, mas ainda assim o efeito de verossimilhança permanece).

Os diálogos, um dos pontos altos

Outro aspecto muito comentado e raras vezes explicado quando se fala sobre tradução é a necessidade de conferir a cada personagem uma voz própria. As primeiras vezes em que ouvi falar a respeito, não entendi muito bem como esse efeito seria alcançado. Mas durante a tradução de Visões de Cody descobri um caminho que tem me prestado bons serviços e me permitido dar uma cara própria às falas de Kerouac, Neal Cassady, Gregory Corso, Allen Ginsberg, William Burroughs e o resto desse pessoal. No texto original, o modo como alguns dos personagens falam – Cassady em particular – é tão flagrantemente diferente dos demais que me vi obrigado a elaborar um guia pessoal de estilo para os diferentes protagonistas, a fim de registrar as peculiaridades que eu conferi, em português, à fala de cada um. Assim, nas minhas traduções, o leitor notará por exemplo que Cassady prefere a forma “cê” em vez de “você”, e que Kerouac e Ginsberg falam “teu”, enquanto Corso fala “seu”. Claro, esses são apenas exemplos simplórios, mas depois de traduzir três livros de Kerouac – Visões de Cody, Big Sur e agora Anjos da desolação, com um quarto livro do autor já em vista – o meu pequeno guia cresceu a ponto de incluir expressões e maneirismos menos óbvios, como “fiadaputa” (em geral dito por Neal Cassady), “tá legal” (Gregory Corso), “hmmm” (William Burroughs) e “volta e meia” (Jack Kerouac). É óbvio que estas são apenas orientações gerais que elaborei para a minha própria consulta e não regras infalíveis a que me ative de maneira obstinada – o que sequer seria desejável –, mas de qualquer modo pareceu-me que adotar este ou aquele modo de dizer dependendo de quem está falando seria uma boa forma de marcar a individualidade dos personagens nos diálogos.
Os diálogos de Anjos da desolação, aliás, são um dos pontos mais altos do livro. Em algumas das melhores cenas, Gregory Corso, sempre aos berros, faz um breve e inflamado discurso sobre a beleza e a verdade para os atônitos passageiros de um ônibus; Allen Ginsberg trava uma divertidíssima conversa trilíngüe em que mistura inglês (português), espanhol e francês para pechinchar o aluguel de um apartamento na Cidade do México com a senhoria; e Lafcadio, o irmão parcialmente catatônico de Peter Orlovsky, insiste em fazer perguntas sobre os sonhos de Kerouac.

Agora é só esperar mais alguns meses para o livro chegar às livrarias.