Arquivo mensais:março 2016

Os bolos de aniversário de Van Gogh!

Vincent Van Gogh nasceu em 30 de março de 1853. Isso quer dizer que hoje é seu aniversário de 163 anos! Para comemorar, separamos aqui alguns bolos inspirados em sua obra (ou tentativas, vá lá…). O resultado é meio bizarro, já que como Van Gogh, só Van Gogh mesmo.

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Torre Van Gogh

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Noite estrelada de outono?

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Os Girassóis mais para bolo de noiva do que bolo de aniversário

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Mais uma torre querendo chegar no céu de Van Gogh

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Van Gogh Frozen? Como assim???

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Autorretrato na versão bolo caseiro

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Esse cupcake até que parece fofinho

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Hein? Como assim? Van Gogh em bolo de Halloween?

“Café Society”: o novo filme de Woody Allen

Woody Allen vai abrir a 69ª edição do Festival de Cinema de Cannes em 11 de maio. Mas seu novo filme, Café Society, não fará parte da competição principal.

Kristen Stewart (a eterna Bella Swan) e Jesse Eisenberg (o eterno Mark Zuckerberg) estão nos papéis principais. “Café Society” mais uma vez leva os fãs de Allen a viajarem no tempo, dessa vez até a Hollywood dos anos 1930. O personagem de Jesse tenta se inserir na indústria do cinema e acaba mergulhado na efervescência boêmia e cultural do Café Society. Kristen e Eisenberg já haviam dividido os sets em 2009, na comédia “Férias frustradas de verão”, dirigida por Gret Mottola (“Superbad: É hoje”). Também não é a primeira vez em que Eisenberg trabalha com Woody Allen, já que ele participou de “Para Roma, com amor” (2012).

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Woddy Allen dirige Kristen Stewart e Jesse Eisenberg em Café Society

A L&PM publica quatro livros de Woody Allen. 🙂

30 anos de saudades de Josué Guimarães

Em 23 de março de 2016, completaram-se 30 anos da morte de Josué Guimarães.

Seu nome está estreitamente ligado à L&PM, pois foi um dos primeiros grandes autores brasileiros a aderir ao nosso projeto. Isto lá nos idos de 1976, dois anos depois da fundação da editora. Antes de ter sido um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, autor de uma obra sólida, emocionante e de altíssima qualidade literária, Josué foi um homem de bem, um amigo solidário, alguém que dedicou o melhor de si mesmo para um projeto humanista de sociedade. Era generoso e combativo. Sua fé na liberdade e na democracia, valeu-lhe uma dura perseguição por parte da ditadura militar de 1964 e o exílio em Portugal.

Passados três décadas, eu ainda posso vê-lo, bem humorado, com o seu ar maroto e amigo, elegante como sempre, numa gravata preta a olhar-me do retrato pendurado na parede em minha sala. E fico pensando: será que não se fazem mais homens íntegros, coerentes até quase a insanidade, como Josué? Rejeitado por uma elite cultural no seu tempo (que torcia o nariz porque Josué ganhava a vida como jornalista), sua obra sobreviveu intacta, verdadeiros clássicos que são reeditados permanentemente.

Josué Guimarães na sala do editor Ivan Pinheiro Machado

Grande amigo, conselheiro, um ótimo papo. Sempre alegre – ou fingindo estar ok, quando não estava – ele tinha permanentemente na ponta da língua uma palavra de estímulo, de carinho. Deixou-nos precocemente, no auge de sua carreira como escritor, aos 65 anos. Recém publicara a pequeno e emocionante novela “Garibaldi & Manoela – uma história de amor” e tinha mais quatro romances desenhados na sua cabeça. Josué contava as suas obras futuras para os seus amigos até a exaustão. Quando ele achava que a história estava “fechadinha”, como ele dizia, sentava-se na máquina e escrevia de um fôlego só. Sem emendas.

Foram os originais mais limpos que eu conheci em décadas como editor. Deixou “contados” quatro romances, “A morte da primeira dama”, que seria a história de uma telefonista (no tempo das telefonistas) de uma cidade do interior que exercia um enorme poder, pois escutava as conversas, “Uma fresta na janela” que seria a história – também numa cidade do interior – de uma mulher que observava tudo o que se passava na cidade, “A Ferro e Fogo, vol. 3” que se chamaria “Tempo de Angústia” (os volumes anteriores chamaram-se “Tempo de Solidão” e “Tempo de Guerra”) e finalmente “Brava Gente” uma novela-saga atemporal, em que um homem percorreria toda a história do Brasil – um romance entre o histórico e o fantástico. Peço ao leitor o benefício da dúvida na descrição destes livros que jamais sairão, pois afinal se passaram 30 anos… Saudades do Josué Guimarães. (Ivan Pinheiro Machado)

Livros vs Ovos de Páscoa

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Ainda não comprou os ovos de Páscoa? Então pense bem: quem sabe, este ano, pra variar, você não troca o chocolate pelos livros? Não tem certeza? Então dá uma olhada nos doze motivos abaixo. Eles já foram listados aqui no blog uma vez, mas achamos que nunca é demais repetir:

1. Enquanto, ao ser levado na bolsa, o chocolate do ovo de Páscoa tem grande chance de derreter, escapar do papel e melecar tudo, um livro pode ficar ali quanto tempo você quiser. De preferência, até o dia que de você termine de lê-lo, é claro.

2. Um ovo de Páscoa de 300g tem em média 1.600 calorias (alguns até mais)! Em contrapartida, segundo uma pesquisa da cadeia de livrarias britânica Borders, livros de ação fazem a gente gastar duas calorias por minuto, pois suas histórias levam o corpo a produzir mais adrenalina. Agatha Christie e Conan Doyle são, portanto, emagrecedores!

3. O ovo de Páscoa pode durar de alguns minutos a semanas, enquanto o livro vai durar até a próxima Páscoa. Ou melhor: pode ficar com você por toda vida. Quem sabe até passar pra seus filhos, seu netos, bisnetos…

4. Um ovo de Páscoa pode ser dividido (apesar de muita gente preferir comer tudo sozinho), mas compartilhar um livro é espalhar conhecimento e emoção…

5. Livros, apesar de serem feitos de papel, podem ser considerados mais ecológicos, pois não produzem lixo. Já os ovos são embalados em papel alumínio e papel celofane, vem com fita, adesivo, embalagem do recheio…

6. Você já ouviu falar de alguém que tenha alergia ou intolerância a livros?

7. Enquanto os ovos de chocolate têm apenas opções do tipo “ao leite”, “meio amargo”, “amargo”, “branco” e “com flocos”, livros oferecem uma gama enorme de gêneros que vão dos romances aos quadrinhos.

8. Em caso de compras de última hora, ao optar por livros, você não vai precisar entrar em fila, ficar com os “restos” ou brigar com aquela senhora que insiste que o último ovo da Barbie é dela e não seu.

9. Livros vêm com mais surpresas do que um ovo de Páscoa. Pode ter certeza.

10. O livro pode ir junto pra cama e, mesmo no caso do sono se abater sobre você, ele não vai sujar o seu lençol. Ah, você também não precisa escovar os dentes depois.

11. Livros em excesso não fazem mal à saúde. Muito pelo contrário. Já os ovos…

12. Os livros da Coleção L&PM POCKET custam mais barato do que a maioria dos ovos de Páscoa.

Se mesmo com tudo isso, você ainda insistir nos ovos, a gente entende, afinal, eles são o símbolo da Páscoa. Mas quem sabe você também não coloca um livro no ninho?

Uma luz sobre Goethe

Johann Wolfgang von Goethe foi o mais notável poeta da Alemanha e um dos maiores gênios de toda a literatura. Juntamos aqui algumas curiosidades sobre sua vida.

Goethe teve vida longa?
Longuíssima para os padrões da época. Goethe faleceu aos 82 anos em 22 de março de 1832 na cidade de Weimar. Ele estava sentado na poltrona, ao lado de sua cama e, respirando com dificuldade, fez um sinal para que seu criado se aproximasse e então falou: “Abra a janela do quarto, para que entre mais luz.” Foram as últimas palavras de Goethe.  

Goethe in the Roman Campagna, Johann Heinrich Tischbein, 1787

Goethe in the Roman Campagna, Johann Heinrich Tischbein, 1787

Goethe foi uma celebridade?
Praticamente um pop star. Dizem que Napoleão leu seu livro, Os sofrimentos do jovem Werther, sete vezes e o carregava consigo em sua Biblioteca de Campanha. Quando o escritor e o imperador se encontraram, em 2 de outubro de 1808, Napoleão o louvou, afirmando “Eis um homem”, ao que Goethe, descontente pela invasão francesa na Alemanha teria respondido laconicamente. Ao final do encontro, Napoleão convidou-o para visitá-lo em Paris, mas o encontro jamais aconteceu.

 O encontro de Goethe e Napoleão - Desenho de 1828, feito por Jahrgang Angsburg, "Goethe e Napoleão I", gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher


O encontro de Goethe e Napoleão – Desenho de 1828, feito por Jahrgang Angsburg, “Goethe e Napoleão I”, gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher

Goethe escrevia em pé?
É o que dizem. O escritor acreditava que a posição vertical favorecia o processo de escrita, canalizando a energia criativa, de modo que ela fluísse sem obstáculos do corpo para o papel. Mas para facilitar as coisas, ele possuía uma escrivaninha alta e devia apoiar-se ali de vez em quando.

Goethe influenciou jovens suicidas?
Talvez, mas não dá pra colocar a culpa disso no coitado. Como no final de Os sofrimentos do jovem Werther, o personagem principal suicida-se e torna-se o protótipo do herói romântico, há rumores de que essa obrade sucesso tenha sido responsável pelo suicídio de diversas jovens que o leram.

Goethe era um mulherengo?
Talvez até sofresse do mal de Douglas, vai saber… Fato é que se apaixonou por muitas durante a vida. Entre as mulheres que amou estão Anna Katharina (a filha de um comerciante), Frederica (filha de um pastor), Charlotte (a noiva de um colega que foi a inspiração para Os sofrimentos do jovem Werther), Lili (viúva de um banqueiro), Clarinde (a amante que acabou suicidando-se), Christiane Vulpius (de origem humilde, a única com quem se casou e mãe de seu filho August), Mariana (a mulher de um amigo) e Ulrique (uma jovem de 18 anos). Goethe declarou que as mulheres eram indispensáveis, energizadoras do corpo, e civilizadoras do espírito do homem, e fonte de sua vida criativa.

"Goethe e Charlotte", pintura do século XVIII, autor desconhecido

“Goethe e Charlotte”, pintura do século XVIII, autor desconhecido

Goethe frequentava a casa da mãe Joana?
Na verdade, de Johanna, mãe de Arthur Schopenhauer. Como Goethe viveu durante anos com Christiane Vulpius sem casar-se com ela (o escritor a apresentava como sua governanta), uma das poucas casas que aceitavam receber o casal de amancebados em Weimar era a de frau Schopenhauer, uma romancista bem sucedida que, depois de se tornar viúva, adotou o amor livre e criou um salão para a boemia da cidade. Seu filho não aprovava a vida da mãe, mas nas poucas vezes em que visitou o local, conheceu e ficou amigo de Goethe.

Goethe era a fim de um ménage à trois?
Olha… Em 1775, ele escreveu Stella, a história de um homem, Fernando, que encontra um modo de conciliação entre sua mulher Cecília e sua amante Stella: viverem juntos, num casamento a três. A peça provocou protestos e Goethe acabou sendo obrigado a mudar seu roteiro, promovendo o suicídio de dois personagens da trama. Ainda bem que os tempos mudaram…

Goethe seguia alguma seita?
Não era bem uma seita. Ele foi membro da sociedade secreta Illuminati, a qual, a partir de 1780, ficou conhecida como “Maçonaria Iluminada”. Essa sociedade alcançou grande prestígio em meio às elites europeias, mas foi extinta pelo governo da Bavária que, em 1787, instituiu pena de morte para os membros que desobedecessem.

“Os Sertões” para ler e ser visto

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Façamos um exercício imaginativo, antes de iniciar a leitura deste clássico. No ano de 2015, um líder camponês emerge do interior do país, dos sertões (isto é, daquela ampla região do Brasil rural que pode ser definida em oposição ao litoral e longe das grandes cidades), e consegue fundar uma pequena comunidade que se recusa a obedecer às regras da República. Neste pequeno povoado imaginário, não se paga imposto, não há democracia, e todo poder emana da figura desse líder hipotético, que estipula regras moralmente muito rígidas – é proibido consumir bebidas alcoólicas, é proibido faltar aos cultos religiosos, homens e mulheres, para o bem da decência, não frequentam o mesmo espaço etc. – e prega à comunidade todas as noites, fazendo profecias revolucionárias e associando a República aos poderes do diabo. Como você acha que o governo federal reagiria a tal conjunto de dados, mesmo que não fossem estritamente verdadeiros? Agora imagine que um jornalista fervorosamente republicano, culto, com amplo domínio de diversas áreas do conhecimento humano, de um jornal do centro do país, digamos, de São Paulo, seja deslocado para cobrir in loco essa estranha revolta sertaneja…

Se nos acompanhou nessa pequena jogada de imaginação, o leitor conseguiu divisar boa parte dos fatores que envolve a escritura de Os Sertões, este caso raríssimo das letras não só brasileiras, mas americanas, misto de reportagem de guerra, ensaio documental e libelo político lançado em 1902.

O texto acima é o início da Apresentação de Os Sertões, livro de Euclides da Cunha que acaba de ser lançado na Coleção L&PM Pocket. Esta Apresentação, de 15 páginas, foi escrita em conjunto pelos doutores em Literatura Brasileira Luís Augusto Fischer, Guto Leite e Homero Vizeu Araújo e recupera alguns dados que ajudam a aproveitar ainda melhor a leitura deste grande clássico.

Em 1897, Euclides da Cunha foi enviado a Canudos, no interior da Bahia, como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo. Lá, os seguidores de Antônio Conselheiro, o líder religioso que comandava a revolta, já haviam derrotado três expedições militares. Da região de Canudos, onde permaneceu durante dois meses, Euclides da Cunha ficou intensamente impressionado com as cenas de violência e miséria que viu. Foi nessa época que ele deu início ao que viria a ser Os Sertões.

Quando a primeira edição do livro foi lançada, trazia, em suas páginas, três fotografias captadas pelas lentes de Flávio de Barros, fotógrafo contratado pelo Exército.

Autorretrato de Flávio de Barros, em Canudos, no ano de 1897

Autorretrato de Flávio de Barros, em Canudos, no ano de 1897

O fotógrafo foi autor dos únicos registros até hoje conhecidos do dia a dia das tropas, da rendição e da destruição do arraial organizado por Antônio Conselheiro.

As três imagens escolhidas para ilustrar o livro foram rebatizadas por Euclides da Cunha. “Divisão Canet” ganhou o nome de “Monte Santo”. “7° Batalhão de Infantaria nas Trincheiras” virou “Acampamento dentro de Canudos”. E a mais emblemática de todas, “400 jagunços prisioneiros” ganhou o nome de “As prisioneiras”.

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“Divisão Canet” ou “Monte Santo”, de Flávio de Barros

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“7° Batalhão de Infantaria nas Trincheiras” ou “Acampamento dentro de Canudos”

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“400 jagunços prisioneiros” ou “As prisioneiras”

As dezenas de fotografias de Flávio de Barros sobre a Guerra de Canudos são atualmente disponibilizadas na Brasiliana Fotográfica e, em 2002, o Instituto Moreira Salles realizou a recuperação digital dos originais existentes nos acervos do Museu da República, no Rio de Janeiro, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, em Salvador, e da Casa de Cultura Euclides da Cunha, em São José do Rio Pardo. Com a colaboração dessas instituições, a Brasiliana pode constituir um álbum canônico virtual gerado a partir do exemplar em melhor estado de conservação existente em cada uma das apenas setenta imagens conhecidas do evento. Clique aqui para conhecer.

Além de Flávio de Barros, outro fotógrafo foi enviado a Canudos em abril de 1897. Seu nome era Juan Gutierrez de Padilla e ele foi mortalmente ferido em 28 de junho daquele mesmo ano. Até hoje, não se conhece nenhum registro fotográfico que Padilla tenha feito do conflito. Em Os Sertões, Euclides da Cunha referiu-se a ele como um “Oficial honorário, um artista que fora até lá atraído pela estética sombria das batalhas”.

“O caso dos dez negrinhos” por Martha Medeiros

(Crônica publicada no livro Montanha Russa que acaba de chegar em uma nova e linda edição)

Se existe uma culpada pela minha quedinha por romances policiais, acuso: chama-se Agatha Christie. Foi através de seus Assassinato no Expresso OrienteCipreste triste O caso dos dez negrinhos que me rendi ao gênero e que mais tarde aprendi a gostar também de Patricia Highsmith, outra dama da literatura de suspense. Pois um amigo que mora na Alemanha e com quem troco correspondência virtual me informa que a revista Der Spiegel noticiou que os herdeiros da escritora decidiram proibir a utilização do título O caso dos dez negrinhos nas futuras reedições. Esse título é ofensivo, uma vez que negro é uma palavra pejorativa, argumentaram eles. A partir de agora o romance se chamará E não sobrou nenhum.

E não sobrou nenhum livro com o título "O caso dos dez negrinhos"

E não sobrou nenhum livro com o título “O caso dos dez negrinhos”

Com todo respeito: é levar demasiadamente a sério essa febre do politicamente correto. Se a moda pega no Brasil, alguns livros poderão sofrer rebatizados semelhantes. O Navio negreiro, de Castro Alves, e a lenda do nosso Negrinho do pastoreio poderão entrar na mira dos defensores de um vocabulário menos ultrajante e virar Navio com passageiros de cor O afro-americaninho do pastoreio. Clássicos como A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e O mulato, de Aluísio Azevedo, com sorte, escaparão ilesos.

Esse não precisa mudar... ufa.

Esse vai escapar… ufa.

É bom lembrar que a lista de termos considerados incorretos não se restringe às classificações de raça. Notas de um velho safadode Charles Bukowski, poderá se transformar em Notas de um indivíduo de idade avançada com atenção fortemente voltada para o sexo, e a obra-prima de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, poderá trazer em suas novas edições o título Ensaio sobre o desprovimento de capacidade visual.

Será que o velho safado vai ter que mudar?

Será que o velho safado terá que se comportar melhor?

A gente poderia ficar aqui até amanhã se divertindo com essas traduções. Não nego (do verbo negar) que a expressão negrinho só é simpática para nominar aquele doce também conhecido como brigadeiro, pois ele tem um oponente, o branquinho, e assim ninguém se sente diminuído. Até pode ser que a troca do título de um livro ajude a melhorar as relações entre pessoas de raças diferentes, vá saber. Mas, sinceramente, acho uma forçação de barra, uma patrulha que cada vez mais nos enquadra num comportamento padronizado e  nos impede de ser politicamente alegres e sem ranço.

Bukowski além da boa e limpa poeira

Apesar do estilo intenso de Bukowski levar a vida – tinha o álcool como fiel companheiro e não raro estava metido com drogas e orgias –  foi a leucemia que, em 9 de março de 1994, deu fim à vida de Henry Charles Bukowski Jr. – ou Hank para os íntimos. “Don’t try” é o recado que ficou na lápide de seu túmulo, em Los Angeles. Parece que nem mesmo ele acreditava que chegaria tão longe, pois sempre que o assunto era morte, o tom beirava a ironia. Abaixo, um poema do livro As pessoas parecem flores finalmente com tradução de Claudio Willer.

encômios

após a morte
exageramos as boas qualidades de alguém,
nós as inflamos.

durante a vida
frequentemente sentimos repulsa pela mesma pessoa
enquanto falamos com ela ao telefone
ou só de estar no mesmo aposento.

e frequentemente criticamos o jeito como
andam, falam, vestem-se
vivem
creem.

mas é só morrerem
então que criaturas elas
se tornam.

se apenas em uma cerimônia fúnebre
alguém dissesse,
“que indivíduo odioso
esse aí foi!”

que em meu funeral
haja só um pouco de verdade,
e depois a boa e limpa
poeira.

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Mas se depender da L&PM, o velho Hank jamais morrerá. Prova disso são os livros da série Bukowski.

Um mundo de homenagens a Shakespeare

Pouco importa de William Shakespeare nasceu e morreu mesmo em 23 de abril. Esta foi a data escolhida para prestarmos homenagens a ele. E ponto. 23 de abril deste ano, aliás, marca os 400 anos de sua morte, ocorrida em 1616, o que fará acontecer muitas produções, concertos, exposições e eventos ao redor do mundo. O The New York Times separou aqueles que considerou mais significativos e publicamos eles aqui com tradução feita pela Folha de S. Paulo.

Este seria o único retrato de Shakespeare que foi pintado enquanto o dramaturgo era vivo

Este seria o único retrato de Shakespeare que foi pintado enquanto o dramaturgo era vivo

CENTRO DE LONDRES

O trecho da margem sul do rio Tâmisa, em Londres, situado entre Westminster e Tower Bridge, deve ficar lotado no fim de semana de 23 e 24 de abril. Nesses dias, o Shakespeare’s Globe vai apresentar “The Complete Walk”, uma celebração shakespeareana com 37 telas, cada uma das quais exibindo um curta-metragem com atores notáveis como Simon Russell Beale e Jonathan Pryce representando cenas de cada peça de Shakespeare.

‘FIRST FOLIO’ EM TURNÊ

A Folger Shakespeare Library está enviando exemplares do “First Folio” —a publicação de 1623 que incluiu quase todas as peças do dramaturgo em um só volume, pela primeira vez— em uma turnê que passará por todos os 50 Estados americanos. A tour do “First Folio” faz parte de uma celebração promovida pela biblioteca Folger intitulada “The Wonders of Will”, que também inclui uma produção de “Sonho de Uma Noite de Verão” na Folger, em Washington, uma série de palestras e um convite para as pessoas compartilharem em vídeo suas histórias envolvendo Shakespeare ou suas visões do discurso “ser ou não ser” de Hamlet.

DEPOIS DO APOCALIPSE

A distopia se espalha pelo palco em “unShakeable”, obra encomendada pela Santa Fe Opera ao compositor e regente Joseph Illick e a libretista Andrea Fellows Walters. Inspirada nas peças de Shakespeare, a ópera é ambientada num teatro abandonado do Novo México, 25 anos no futuro, três anos depois de uma pandemia viral. Contrariando essa descrição trágica, trata-se de uma comédia romântica, pelo menos pelos padrões operísticos. Depois de apresentações em Santa Fe em 9 e 10 de abril, a produção partirá em turnê pelo Novo México e Colorado.

VENDENDO ESPETÁCULOS

Em 28 de março a companhia Theater for a New Audience e a Princeton Architectural Press vão promover uma discussão livre sobre o design de pôsteres para obras de Shakespeare, vinculada a “Presenting Shakespeare: 1.100 Posters from Around the World”, um grande compêndio de arte de 55 países. Os pôsteres que mais chamam a atenção no livro são minimalistas inteligentes, como o deliciosamente mórbido sorvete de casquinha de carne numa produção argentina de “Hamlet”. A discussão será presidida pelos autores do livro, Mirko Ilic e Steven Heller, e contará com a participação dos designers gráficos Milton Glaser e Paul Davis.

RELÂMPAGO

Para assistir a uma peça do jeito que os contemporâneos do autor faziam -possivelmente até em pé-, uma boa opção pode ser dar um pulo até Auckland, Nova Zelândia. Ali você encontrará uma réplica do Globe Theater em dimensões fiéis ao original. Estamos falando do segundo Globe Theater: o primeiro, construído em 1599, tinha telhado de colmo e foi destruído em um incêndio em 1613, durante uma apresentação de “Henrique 3º”. “Hamlet” e “A Tempestade” são algumas das peças que serão encenadas na temporada curta deste espaço relâmpago, que vai desaparecer rapidamente em abril.

FLUIDEZ DE GÊNERO

A companhia Cohesion Theater, de Baltimore, está dedicando parte de sua temporada a obras de autores teatrais transgêneros ou estreladas por transgêneros. No caso de sua produção de “Hamlet”, a diretora Alice Stanley, que não se identifica com nenhum gênero, escolheu uma atriz para representar uma Hamlet mulher e uma atriz para fazer um Laerte homem.

SHAKESPEARE E VOCÊ

“We Are Shakespeare”, criado pela Shakespeare Theater Association em colaboração com a Universidade de Notre Dame, convida qualquer pessoa a compartilhar uma homenagem —quer seja um discurso, monológo, trabalho de arte visual ou qualquer outra coisa—, colocando no site do projeto um link para um vídeo do YouTube. As contribuições já postadas incluem uma performance de um Hamlet armado com navalha e uma explicação do deputado democrata Ted W. Lieu, da Califórnia, das razões por que gosta de Shakespeare.

Conheça a Série Shakespeare na L&PM Editores.

20 anos sem o Blá, Blá, Blá dos Mamonas Assassinas

Foi um acidente aéreo que pôs fim à meteórica carreira do grupo Mamonas Assassinas. O primeiro álbum da banda vendeu incríveis 2 milhões de cópias e se tornou o maior fenômeno comercial da história da indústria fonográfica brasileira até então. Na noite do dia 2 de março de 1996, quando retornavam de um dos shows da turnê que correu o Brasil, o jatinho da banda se chocou contra a Serra da Cantareira, há poucos minutos do pouso em Guarulhos. Os cinco integrantes, os dois empresários, o piloto e o co-piloto do avião morreram na hora. De forma trágica e inesperada, chegava ao fim a história dos Mamonas Assassinas.

Menos de três meses depois do acidente que comoveu o país, a L&PM lançou o livro Blá, Blá, Blá – biografia autorizada, em que o jornalista e escritor Eduardo Bueno resgata a história do grupo por meio de longos depoimentos de pais, mães, irmãos, amigos, namoradas, companheiros de estrada, empresários, enfim, todas as pessoas que foram importantes na vida dos Mamonas Assassinas.

No primeiro capítulo intitulado “O feitiço da Lua Nua”, Eduardo escreve:

Quando João Augusto de Macedo Soares, 39 anos, vice-presidente da gravadora EMI Odeon, seu filho Rafael, 16, e o produtor independente Arnaldo Saccomani enfim chegaram, a boate Lua Nua estava quase vazia. Eram dez e trinta da noite meio fria de 7 de abril de 1995. (…) Era uma visita anunciada e João Augusto foi logo conduzido ao mezanino e instalado na melhor mesa, próximo a uma garrafa de uísque cujo lacre permaneceria intocado até tarde da noite. (…)

No instante em que cinco Chapolins Colorados saltaram no palco, loucos furiosos, anteninhas balouçantes e tudo, e detonaram um rock ensandecido que levantou a massa – era Cabeça de Bagre II -, João Augusto ouviu o som que estava aguardando não há 3 horas, mas há quase um mês. E ao vivo era ainda melhor do que ele imaginava. Em seguida, um forrock também arrasador, sobre a vida seca e a sina tragicômica de um baiano e seu jumento com toca-fitas, fez os muitos espiões estrategicamente espalhados pela casa terem certeza de que o executivo da multinacional, recém-chegado do Rio, estava no papo: ninguém riria tanto se não estivesse mesmo gostando. Os olheiros se estressavam à toa: João Augusto já não tinha a menor dúvida sobre o resultado final daquele jogo.

Quando o Chapolin-cantor colocou um enorme bigode postiço e os Chapolins-instrumentistas detonaram um fado turbinado, cuja letra a plateia amestrada sabia de cor, a casa quase veio a baixo. João Augusto só não parou o show naquela hora para apertar a mão dos rapazes porque seria linchado pela massa – e porque também queria mais.

Infelizmente, o livro Blá, Blá, Blá – biografia autorizada está esgotado, mas quem quiser saber mais sobre esta história, vale conferir a entrevista (áudio) que fizemos com o Eduardo Bueno sobre o fenômeno Mamonas Assassinas no dia dos 15 anos da morte do grupo.