Arquivo mensais:agosto 2012

Os candidatos de Angeli

Angeli, o criador de Rê Bordosa, Walter Ego, Bob Cuspe e Os Skrotinhos nasceu em 31 de agosto de 1956.  E como estamos em época de horário eleitoral gratuito, vale dar uma olhada em alguns dos candidatos criados pelo grande chargista. Saídos diretamente do livro E agora são cinzas.  

A folha em branco

Tudo começa com uma folha – ou uma tela – em branco. É ali que um escritor deposita o fruto de sua imaginação, de sua observação, de suas ideias. O branco que precisa ser preenchido e dominado. Jean-Paul Sartre inicia o livro A imaginação falando nela, a temida folha em branco. Nessa obra, escrita no início da sua carreira de pensador, Sartre propõe uma teoria única para analisar a imaginação, observando de que maneira os grandes filósofos como Descartes, Leibniz, Hume e Spinoza pensaram o assunto. A imaginação está entre as reedições importantes que acabam de chegar. Para quem quer ir fundo na análise da imagem, é um prato cheio. Ou melhor: um livro cheio.     

Olho esta folha em branco colocada sobre minha mesa; percebo sua forma, sua cor, sua posição. Essas diferentes qualidades têm características comuns: em primeiro lugar, elas se oferecem ao meu olhar como existências que posso apenas constatar e cujo ser não depende de modo algum do meu capricho. Elas são para mim, não são eu.  (…) De nada serve discutir se essa folha se reduz a um conjunto de representações ou se ela é e deve ser algo mais. O certo é que o branco que constato não é minha espontaneidade que pode produzi-lo. Essa forma inerte, que está aquém de todas as espontaneidades conscientes, que deve ser observada, aprendida aos poucos, é o que chamamos uma coisa. (Sartre em A imaginação, tradução de Paulo Neves)

As muitas faces do monstro de Frankenstein

Foi em 1910 que os Estúdios Edison lançaram o primeiro filme com a história de Frankenstein de Mary Shelley. Escrito e dirigido por J. Searle Dawley tinha os atores Augustus Phillips como Dr. Frankenstein, Charles Ogle como o monstro e Mary Fuller como a noiva do doutor.

Depois dele, muitos outros filmes vieram com atores que ficaram célebres pelas cicatrizes no rosto, a testa enorme e os pinos no pescoço. Aliás, qual dos m0nstros seria o mais parecido com o que Mary Shelley imaginou? Veja algumas abaixo e vote no seu prerido.

Boris Karloff no filme de 1931

Bela Lugosi em 1943

Glenn Strange em 1944

Cristopher Lee em 1957

Peter Boyle em 1974

Robert de Niro em 1994

Mary Shelley, a escritora que criou Frankenstein aos 19 anos nasceu em 30 de agosto de 1797. Seu célebre livro é publicado na Coleção L&PM Pocket e na Série Ouro.

Mary Shelley e sua visão

No ano de 1816, conhecido como “o Ano sem Verão”, a jovem Mary Wollstonecraft Godwin, então com apenas dezenove anos, hospedou-se às margens do Lago Léman, na Villa Deodati, a convite de Lord Byron. Também integravam a companhia John Polidori, médico pessoal de Byron e escritor e Percy Bysshe Shelley, com quem Mary viria a se casar no mesmo ano. Reunidos no pé da lareira para fugir do frio e da chuva fora de época, os amigos passavam o tempo lendo histórias de fantasmas, até que Byron sugeriu que cada um escrevesse uma história baseada em algum evento sobrenatural. Mal sabia o lorde inglês que esta prosaica sugestão acabaria dando ensejo a uma das ocasiões mais célebres da história da literatura. Dia após dia perguntavam a Mary Godwin se havia pensado em uma história; dia após dia a resposta era uma negativa. Até que, certa noite, a autora teve uma visão:

Depois de repousar a cabeça no travesseiro, não dormi, nem se poderia dizer que eu estivesse pensando. A minha imaginação, agindo por vontade própria, possuiu-me e guiou-me, conferindo sucessivas imagens que surgiram na minha mente uma vividez muito além dos limites ordinários da fantasia. Eu vi – os olhos fechados, mas com uma visão mental precisa -, eu vi o pálido estudante das artes profanas de joelhos ao lado da coisa que havia montado. Vi o odioso espectro de um homem estendido, que então, sob a influência de algum móvel poderoso, deu sinais de vida e agitou-se com movimentos canhestros, dotados de uma espécie de semivida.

Logo o tempo melhorou e o grupo foi passear nos Alpes – porém Mary, obcecada pela ideia do monstro e graças ao incentivo e ao apoio de Shelley, saguiu lapidando o texto que culminaria no romance Frankenstein, finalmente publicado em 1818.

Trecho de Breve esboço sobre a vida literária dos monstros, texto de Guilherme da Silva Braga que abre o livro Clássicos do Horror da Série Ouro L&PM e que traz, no mesmo volume, Frankenstein, Drácula e O médico e o monstro, títulos que também são publicados na Coleção L&PM Pocket.

Charlie Parker e a grande influência na escrita de Kerouac

Quando Charlie Parker surgiu, no início dos anos 1940, apresentando-se no Minton’s Playhouse, andar térreo do Cecil Hotel, no Harlem novaiorquino, Jack Kerouac estava lá, testemunha ocular e auditiva dessa revolução sonora chamada bebop. Kerouac absorveu a novidade e, ao contrário de alguns que se sentiram confusos, ele imediatamente entendeu o que acontecia ali. Não só compreendeu como percebeu que a literatura poderia ter esse ritmo. Segundo Kerouac, o poeta, da mesma forma que o escritor, deveria escrever como quem sopra um sax, sendo que o texto deveria ser elaborado como a trama de um longo solo improvisado e sincopado.

Charlie Parker em ação. O criador do estilo “be bop” seria a grande influência no estilo literário de Jack Kerouac

O autor de On the road foi fiel ao jazz até o fim. E fez de Charlie Parker sua principal e eterna fonte de inspiração. Não apenas pelos acordes musicais, mas também pela intensidade emocional. Poucos meses depois da morte de Parker, no verão de 1955, Kerouac compôs uma série de 242 refrões imitando a forma de construção musical do sax alto, que deu origem à Mexico City Blues, de 1959.

Na trilha sonora do filme Na Estrada / On the Road, como não poderia deixar de ser, há duas músicas de Charlie Parker, Ko-Ko e Salt Peanuts, esta última uma parceria dele com Dizzy Gillespie, outra lenda do jazz. Ouça as duas músicas aqui:

Nascido em 29 de agosto de 1920, este gênio do jazz foi  um pássaro que planou bem acima da técnica e cuja vida meteórica e caótica foi contada no filme “Bird”, de 1988, dirigido por Clint Eastwood.

Maus costumes

Por Juremir Machado da Silva*

Quando vou perder a mania de falar de livros? Ainda mais de livros sentimentais. Ando tão piegas que, depois de chorar num filme de caminhoneiro, fiquei de queixo caído diante de um livro do Eduardo Galeano, “Os Filhos dos Dias” (L&PM). Galeano, autor do clássico infanto-juvenil ideológico “As Veias Abertas da América Latina”, que os lacerdinhas transformam com maledicência em “véias”, também serviu de modelo para o idiota do filho de Mario Vargas Llosa escrever um livro idiota intitulado “Manual do Perfeito Idiota Latino-americano”. Não desrespeito quem gosta, pois eu mesmo sou um idiota perfeito e um perfeito idiota, o que não é muito difícil constatar, embora eu não seja marxista, nem comunista, só um idiota.

Com textos curtos, dedicados a cada dia de um ano, o escritor uruguaio desencava histórias que deveriam ser esquecidas. Por exemplo, esta de Winston Churchill, o herói civilizador que comandou a resistência ao nazismo: “Não consigo entender tantos melindres sobre o uso de gás. Estou muito a favor do uso de gás venenoso contra as tribos incivilizadas. Isso seria um bom efeito moral e difundiria um terror perdurável”. Uau! E esta, ainda melhor (ou seja, pior): “Eu não admito que se tenha feito mal algum aos peles-vermelhas da América, nem aos negros da Austrália, quando uma raça mais forte, uma raça de melhor qualidade, chegou e ocupou seu lugar”. Racismo britânico, of course! Só no dia 26 de janeiro de 2009, graças a um plebiscito, que aprovou uma nova Constituição, outorgou-se cidadania a todos os índios da Bolívia. Obra “lamentável” do “atrasado” Evo Morales.

Há uma divertida homenagem a um magnata americano: “Em 1937, morreu John D. Rockefeller, dono do mundo, rei do petróleo, fundador da Standard Oil Company. Tinha vivido quase um século. Na autópsia, não foi encontrado nenhum sinal de escrúpulo”. Excelente também é a síntese da visão de mundo de Tintim, personagem mítico de histórias em quadrinhos criado pelo belga Hergé. Na sua famosa viagem ao Congo, Tintim “fuzilou 15 antílopes, escalpelou um macaco para se disfarçar com sua pele, fez um rinoceronte explodir com um cartucho de dinamite e disparou na boca aberta de muitos crocodilos. Tintim dizia que os elefantes falavam francês muito melhor que os negros. Para levar um souvenir, matou um e arrancou suas presas de marfim”. O rei da Espanha adora Tintim.

Instrutivo é o capítulo sobre a “desonra”. Em 1981, Galeano participou de uma reunião do Tribunal Internacional, que tratou, em Estocolmo, da invasão do Afeganistão pela União Soviética. Um alto chefe religioso islâmico, integrante do que os americanos chamavam, então, de “guerreiros da liberdade”, mais tarde rebatizados de terroristas, acusou, no seu depoimento, os invasores de terem cometido o mais hediondo dos crimes:

– Os comunistas desonraram nossas filhas!

Diante da expectativa geral, explicou:

– Ensinaram elas a ler e a escrever!

* Juremir Machado da Silva é jornalista e escritor, autor de História Regional da Infâmia. Este texto foi originalmente publicado em sua coluna no Jornal Correio do Povo do dia 16 de agosto de 2012

Goethe por correspondência

O escritor Johann Wolfgang von Goethe combina com cartas. Essas que cada vez são mais raras de adentrar as caixas de correios. Só para Charlotte von Stein, por exemplo, ele escreveu mais de 2 mil cartas e bilhetes de amor.

E já que o assunto é correspondência, aqui vão alguns selos estampados com a figura de Goethe, que nasceu em 28 de agosto de 1749 e foi um dos maiores românticos que a literatura já conheceu. Basta ler “Trilogia da paixão” para comprovar.

E não pense que é só a Alemanha que homenageou Goethe em selo. Aqui tem da França, da República de Mali, Moldávia e Nigéria. Brasileiro é que não achamos nenhum. Se você encontrar, aliás, mande pra gente. Mas não precisa ser por carta, pode ser aqui pelo blog mesmo. 🙂

O manso leão russo

Leon Tolstói foi um leão. Não que fosse uma fera – ao contrário, tornou-se um pacifista -, mas produzindo obras como Guerra e Paz e Anna Karenina, ele tornou-se um verdadeiro rei: o rei da selva literária russa. Para completar, era nobre: filho de um conde com uma princesa. Nascido em 28 de agosto de 1828 (9 de setembro pelo calendário gregoriano), veio ao mundo na propriedade da família, Yasnaia Poliana, a 200 quilômetros de Moscou.

Tolstói ainda jovem e sem sua grande barba

Em seu gabinete de trabalho em 1908

Aristocrata russo, filho do Conde Nicolau Ilich Tolstói e da princesa Maria Nikolayevna Volkonski, Leon Tolstói nasceu na enorme propriedade patriarcal de Yasnaia Poliana na província de Tulna. Teve uma infância carente e complicada; sua mãe morreu quando ele tinha dois anos e seu pai foi vítima fatal de uma apoplexia antes de Tolstói completar os dez anos. Órfãos de pai e mãe, o jovem Leon e seus três irmãos foram criados por parentes próximos na província de Kazan, onde Leon começou seus estudos universitários. Pouco tempo depois foi morar em São Petesburgo, onde completou os estudos, seguindo então para Moscou, onde viveu intensamente as famosas noites moscovitas entre jovens aristocratas, muita bebida e belas mulheres. (…) Oficial do exército russo, veterano de várias batalhas, Tolstói conheceu os horrores e a irracionalidade da guerra. E todo o seu pacifismo e seu repúdio às guerras está registrado em Guerra e Paz. (Trecho da introdução de Guerra em Paz (publicado na Coleção L&PM Pocket em 4 volumes), escrita por Ivan Pinheiro Machado)

Leon Tolstói casou-se com Sophia e com ela teve 13 filhos. Os descendentes diretos do escritor russo, que morreu em 1910, reúnem-se anualmente.

Tolstói com seus filhos e netos

Quadrinhos podem ajudar vestibulandos a conhecer clássicos da literatura

Uma das dicas mais recorrentes para se sair bem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nos vestibulares e nas redações é ler bastante. Alguns estudantes, entretanto, não cultivam este hábito. Os dados da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” mostra que o número de leitores recuou: em 2007, eram 95,6 milhões de leitores, mas, em 2011, houve recuo para 88,2 milhões.

Apesar do recuo, os dados mostram que 48% dos estudantes são leitores. Já quando pesquisamos o ensino médio, 30% dos alunos destas séries têm o hábito de ler. Estes, portanto, costumam ter uma vantagem em relação aos vestibulandos que correm dos livros. Para quem não curte muito os clássicos da literatura podem encontrar nos quadrinhos bons aliados.

A L&PM Editores está lançando alguns clássicos da literatura mundial com adaptação para os quadrinhos.

– Não é uma concorrência com o mercado editorial dos livros. Os quadrinhos são uma maneira lúdica de o professor chegar ao coração do aluno. A partir daí, esse leitor pode buscar a versão original ou até mesmo outros livros, como acontece muitas vezes, ou seja, os quadrinhos podem apresentar o universo da leitura – comenta Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM Editores.

A L&PM passou a investir na adaptação de clássicos para quadrinhos quando percebeu que esse esse tipo de leitura já não era mais rejeitado pelo Ministério da Educação (MEC) que, inclusive, já faz compras dos livros, assim como algumas secretarias de educação estaduais, para abastecer bibliotecas.

– Até o fim da década de 90, o MEC não aceitava bem adaptação de obras e histórias em quadrinhos. A medida que este conceito foi mudando, percebemos que este era um bom mercado. Fizemos uma longa pesquisa e recebemos o apoio da UNESCO, o que mostra que mantivemos a ideia central do autor, ou seja, que fomo fieis ao tema da obra. Aproveitamos que já sabíamos fazer histórias em quadrinhos, já que a empresa nasceu editando quadrinhos – revela.

Para o editor da L&PM Editores, um dos pontos fortes é a forma lúdica de apresentar a história.

– Justamente por apresentar a história de uma maneira lúdica, o quadrinho acaba criando uma ponte entre o mundo real e o virtual, cada vez mais presente na realidade dos adolescentes e jovens. Dessa maneira, é possível fazer uma ligação entre grandes autores e um público que talvez estivesse afastado deles.

"Odisseia" é um dos títulos da Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos da L&PM

Trecho de matéria originalmente publicada no Jornal Extra online, editoria Vida de Calouro, em 27 de agosto de 2012.