Sábado passado, meio-dia, Buenos Aires. Do lado de fora, uma chuva fina e fria levava os tantos turistas a procurarem vitrines cobertas. Justamente por isso, as já normalmente cheias “Galerias Pacífico” eram um mar de gente que se apertava pelas escadas rolantes e rolava lojas a dentro. Pouco à vontade (e com pouca plata), resolvi procurar abrigo no único local que poderia me oferecer algum alento por ali: o Centro Cultural Borges. Ele fica no último andar do prédio histórico do século XIX, onde a Galerias Pacífico chegam mais perto do céu e é possível, das janelas, enxergar alguns telhados do centro da cidade. Chegando lá, uma surpresa, ao contrário dos outros andares, não havia um único turista transitando pelos corredores. Aliás, não havia quase ninguém pelos 10 mil metros quadrados do centro cultural. “Nada para comprar”, poderiam explicar alguns. “Mas bastante para ver”, eu responderia… No salão de entrada, por exemplo, o visitante pode contemplar uma bela exposição de pinturas Sumi acompanhadas de Hai-kais. E subindo mais um lance de escadas rolantes, chega-se ao acervo de Borges, onde entre frases do escritor, vídeos e imagens, é possível também ver, em uma parede, livros e retratos de seus autores preferidos, aqueles que o influenciaram de alguma forma. Edgar Allan Poe, Kafka, Chesterton, Robert Louis Stevenson, Cervantes e Conrad são alguns deles.
Além desse espaço, há outras três salas de exposições sempre com algo interessante. Por isso, fica aqui a dica para você visitar este labirinto de Borges em sua próxima ida a Buenos Aires. Mas só se você, assim como eu, estiver à procura de uma biblioteca de Babel – e não de uma babilônia do consumo. (Paula Taitelbaum)
No ano em que a tragédia do Titanic completa 100 anos, vários resquícios da fatídica viagem vêm a tona e ganham ainda mais valor como registro do acidente que marcou a história do século 20. E pelo jeito, o valor monetário cresce na mesma medida: uma carta escrita pelo líder da banda que tocava no Titanic foi vendida por 154.974 dólares em um leilão on-line na semana passada.
O músico Wallace Hartley enviou a carta a seus pais na Inglaterra no dia 11 de abril de 1912 durante a parada do navio em Queenstown, na Irlanda. Dias depois, em 15 de abril, o Titanic bateria em um iceberg e afundaria deixando 1.517 mortos. “Temos uma boa banda e os garotos parecem muito legais”, escreveu Harley na carta, prometendo visitar os pais no domingo seguinte à sua volta.
Ele aparece no livro O crepúsculo da arrogância, em que Sergio Faraco reconta o acidente minuto a minuto. No dia 15 de abril, às 0h15, a tragédia já tinha acontecido, mas o capitão ordenou que a música não parasse:
15 de abril, 0h15min
A bordo, os passageiros circulam como sonâmbulos, e tal atmosfera de irrealidade se adensa quando, por ordem do capitão, o conjunto de Wallace Hartley começa a tocar peças do ragtime na sala de estar da Primeira Classe, entre elas Alexander’s ragtime band e Great big beautiful doll. Mais tarde, vai transferir-se para o convés dos barcos, tocando junto à porta de bombordo da grande escadaria da proa.
Um estúdio de design de Hamburgo, na Alemanha, levou ao pé da letra a compulsão de algumas pessoas por “devorar” livros e criou um livro de receitas que o cozinheiro pode comer inteirinho depois de preparar o prato. O “livro” é, na verdade, uma massa de lasanha tradicional e vem com as instruções “impressas” nas “folhas”. Para preparar a receita, o cozinheiro deve folhear página por página seguindo as instruções para o recheio, acrescentando passo a passo os ingredientes indicados. Ficou difícil de imaginar isso? Então dá uma olhada:
A gerente de vendas da L&PM, Clóris Kluck, flagrou uma cena inusitada em sua última visita à Store in Store da L&PM dentro da livraria Laselva do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Enquanto esperava pelo horário de seu voo, uma leitora resolveu ler para passar o tempo. Ok, muita gente faz isso, mas a diferença é que esta leitora se instalou com malas e tudo dentro da Store in Store, puxou um livro e por ali ficou até a hora do voo.
A Série Agatha Christie da Coleção L&PM Pocket já ultrapassou a marca dos 50 títulos! O recém-chegado O cão da morte é o número 52 desta série que não para de crescer: até o fim de 2012 presentearemos os fãs da Rainha do Crime com cerca de dois novos títulos por mês. O cão da morte reúne 12 contos que têm em comum uma inexplicável e macabra presença da morte. No eixo central de cada enredo estão estranhos fenômenos e elementos clássicos das histórias de contato com o “outro mundo”, como casas mal-assombradas e pesadelos que inesperadamente se tornam realidade.
Um dos contos mais famosos do livro é o “Testemunha da acusação”, que já virou até filme (“Witness for the Prosecution“, de 1957) com Marlene Dietrich no papel de Christine, a esposa alemã de Leonard Vole (Tyrone Power), acusado de assassinato, que entra em cena como testemunha de acusação. No entanto, uma mulher não pode testemunhar contra seu marido e é aí que começa o mistério: Christine revela que ainda era casada com outro homem quando aceitou casar-se com Leonard, e afirma que ele teria confessado a ela o assassinato de Emily French, e que sua consciência a havia impelido a contar a verdade.
A musa Marlene Dietrich em cena do filme "Testemunha da acusação"
Para saber como esta história continua, leia o conto no livro O cão da morte, o mais novo título da Série Agatha Christie, ou vá juntando as cenas do filme espalhadas em pedaços pelo Youtube 😉
De botânico de Napoleão a estanceiro na fronteira do Brasil com a Argentina: este é o protagonista do novo romance de Luiz Antonio de Assis Brasil
Luiz Antonio de Assis Brasil acaba de entregar à L&PM Figura na Sombra, o seu mais recente romance. É o quarto e último livro da série “Visitantes ao Sul”, do qual fazem parte O pintor de retratos (2001), A margem imóvel do rio(2003) e Música perdida (2006). Todos publicados pela L&PM Editores. São variações sobre um mesmo tema, mas leituras absolutamente independentes.
Figura na sombra é o romance de um francês, médico e botânico, testemunha da Revolução Francesa, que alcança as honras científicas mais desejadas por pesquisadores de quaisquer latitudes. Aimé Bonpland, personagem real, protagoniza uma história repleta de episódios, que o faz trilhar o mundo e, de botânico de Napoleão, amigo de Simon Bolívar, prisioneiro do ditador paraguaio Francia, passar a estanceiro em São Borja, na fronteira do Brasil com a Argentina. Mas a obra é, ao mesmo tempo, a história de dois homens – o outro é o célebre Alexander von Humboldt – que, por trilhas antagônicas, perseguem a harmonia da natureza. Um, iluminista, quer conhecê-la para sistematizá-la; o outro, romântico, deseja fundir-se nela. Que esses dois homens tenham sido os naturalistas mais famosos do século 19 é um pormenor, pois o tema do livro é o amor que, entrelaçado às vicissitudes e pautando a longa vida de Aimé Bonpland, comparece em variadas formas: amor à natureza, à razão, às ideias, às leis da ciência, à beleza; o amor erótico, platônico, fraterno. Por fim, o amor da aceitação, que se revela na entrega ao fluxo da vida, e cujas leis e regularidades não estão nunca inteiramente nas mãos de homem algum, nem dos mais sábios. Aimé Bonpland é essa figura na sombra que, hoje, é nome de uma cratera da Lua, de um asteroide, de um pico na Nova Zelândia, de uma rua em Buenos Aires, de um rio na Patagônia, de um liceu na França e de duas cidades na Argentina.
Um daguerrótipo antigo de Aimé Bonpland
Alexandre Humboldt em pintura de 1800
A previsão de lançamento de Figura na Sombra é agosto de 2012. Clique aqui e conheça outros livros do autor já publicados pela L&PM Editores.
Foram 100 livros da Coleção 64 Páginas “escondidos” em locais públicos de Porto Alegre, São Paulo, Salvador e Recife e mais dez presenteados em uma promoção feita nas nossas redes sociais. Além disso, adesivos foram distribuídos em lojas da Livraria Cultura de Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. Tudo isso ontem, 23 de abril, em comemoração ao Dia Mundial do Livro. Na L&PM WebTV há um vídeo com algumas cenas reais de pessoas encontrando os livros. Clique aqui e assista.
Em Porto Alegre
Os livros foram deixados em diversos lugares da cidade como Parque Moinhos de Vento, Parque da Redenção, Praça da Encol, Mercado Público, universidades, bancos de ônibus e telefones públicos. “Comunico que encontrei O Retrato do Gogol, na Praça Carlos Arnt (Encol) esq. Renato Almeida sobre uma das mesas com tabuleiro de Xadrez, quando retornava para casa após a minha caminhada diária. Obrigado e parabéns pela iniciativa.” dizia o email de Marco Floriano.
"O retrato" espera por alguém na mesa de uma praça em Porto Alegre
Em São Paulo
Estações de metrô, galerias, praças, shoppings, museus, cafeterias e até o aeroporto de Congonhas foram alguns dos locais escolhidos para deixar os livros perdidos em São Paulo. “Estou informando que encontrei o livro ‘’Tchékhov’. A Corista e outras histórias no Metrô Praça da Árvore. Obrigada” informa o email de Maria da Paz que chegou até nós.
Bukowski esperando para ser encontrado em um banco do aeroporto de Congonhas
Em Recife
Os pernambucanos encontraram livros perdidos nos bancos e estações de metrô, em shoppings como o Tacaruna e por diferentes ruas e esquinas de Recife. “Olá, entrei no caixa eletrônico do shopping e, que surpresa! Havia um livro me esperando lá dentro! Adorei. Muito obrigada e parabéns!” escreveu a empolgada Marisa Carneiro de Recife.
Mais um Gogol esperando para ser encontrado
Em Salvador
Na capital baiana, foram encontrados livros em paradas de ônibus, shoppings centers, praças e até na areia da praia. “Encontrei o livro ‘O gato do Brasil’ de Arthur Conan Doyle num banco do Shopping Salvador. Li a mensagem no adesivo e fiquei com o livro para mim, pois adoro ler. Parabenizo a vocês pela idéia e agradeço o inesperado presente.” disse Silvana Leite em seu email. (Ainda não recebemos fotos de Salvador, assim que elas chegarem, colocaremos por aqui).
Após embarcar numa temida sexta-feira 13 para a 41ª edição da London Book Fair tive a bela surpresa de um ensolarado – e frio – final de semana londrino. Na segunda-feira, com o início do evento, veio também a esperada chuva.
Saindo da estação de metrô já era possível ver o Earls Court Exhibition Centre (foto), onde se desenrolaram os três dias de feira, reunindo mais de 24.500 profissionais ligados ao mundo editorial. Neste ano, o foco esteve na China, que promoveu sua literatura e seus autores em um dos pavilhões.
Earls Court Exhibition Centre
Tive a oportunidade de assistir a algumas das dezenas de palestras oferecidas, como “Publishing and economics dialogue”, com os professores Li Yining e Christopher Howe (foto), e percorrer os corredores da feira. Falando em percorrer, teve gente que acabou se entregando às massagens que eram oferecidas por lá (foto).
“Publishing and economics dialogue”, com os professores Li Yining e Christopher Howe
O International Rights Centre (foto) foi o lugar mais concorrido para as reuniões com os agentes, além dos próprios estandes das editoras e dos países que lá estavam representados. Mas para quem não tinha nem um nem outro, era possível ver que reuniões aconteciam nos diversos cafés e restaurantes de Earls Court.
International Rights Centre
Além de um espaço para negociação de direitos, a feira é um espaço de trocas de informações valiosas entre os diferentes mercados, um espaço para a diversidade de línguas e de propostas editoriais. Nos estandes é possível ver livros que literalmente dão vontade de morder, outros que chamam a nossa atenção pelo cuidado gráfico ou mesmo pelo inusitado. Uma feira é sempre um bom lugar para exercitar o olhar.
Ah, para os que ficaram na dúvida sobre o efeito da sexta-feira 13 durante a jornada, posso afirmar que a viagem foi um sucesso, descontando o fato de que naquele domingo ensolarado tive que dar meia volta na frente do suntuoso palácio de Buckingham, pois naquele dia a troca da guarda não aconteceria.
* Janine Mogendorff é editora da L&PM e viajou a Londres para participar da London Book Fair
23 de abril é dia de Shakespeare, Cervantes, São Jorge. Dia Mundial do Livro. Mas hoje nada disso importa… 23 de abril é o dia em que, há exatos 51 anos, Bob Dylan fez seu primeiro show pago, abrindo para John Lee Hooker no Gerde´s Folk City em Nova York. E mais do que isso: é o dia em que nasceu Clara, minha filha. Ou seja: ontem era aniversário dela. Clara, que estava fazendo 11 anos, toca Knock, knock, knockin’ on heaven’s door ao violão e encontra Dylan todo dia de manhã, ao sair do quarto – em uma tela feita pelo artista plástico Oscar Fortunato que há anos está pendurada na parede do corredor bem em frente à sua porta. Clara sabia que o bardo estava na cidade, em um hotel não muito longe de nossa casa. E talvez por isso, desde o final da tarde de ontem, repetia sem cessar: “Queria tanto encontrar o Bob Dylan no dia do meu aniversário…”. Ao sairmos pra jantar com a família, ela continuou falando isso à exaustão, convencida de que o encontro era realmente possível. Lá pelas 22h, ao deixarmos o restaurante, já no rumo de casa, resolvemos fazer um caminho mais longo só para, quem sabe, tropeçar sem querer com Dylan rolando como uma pedra pelas ruas de Porto Alegre… Vá que Clara tivesse razão.
O carro ía devagar, olhávamos atentos às ruas vazias de uma segunda-feira fria. Procurávamos uma figura magra, pequena, provavelmente de touca preta e jaqueta de couro. Nada. Nem sombra. Então, sugeri que virássemos numa rua ao lado do Parcão (como é chamado o Parque Moinhos de Vento). De repente, vimos, sob a penumbra das árvores, entre a luz difusa, duas pessoas caminhando bem devagar. “É ele!” gritou Eduardo. E parou o carro. E era ele. Ele! O cara que escreveu “Like a Rolling Stone” e tanto tanto tanto mais. Que habita nossas paredes, nossas estantes, nossos corações e mentes, o próprio ar que respiramos com sua música. Não havia a menor dúvida de que era ele. Bob e uma mulher caminhavam e conversavam. Dois amigos falando sobre a vida, o clima, o mundo e suas complexidades, sei lá… Together in the park, with the sky already dark. I looked at him and felt a spark, tingle to my bones: meu coração disparou, comecei a tremer inteira, Clara saltou do carro. Caminhamos em direção a ele. Clara e eu. Eduardo ficou um pouco mais atrás, não queria atrapalhar o momento… Ao ver Clara, Dylan sorriu com os olhos. Uma criança faz toda a diferença… “Hi Bob”. “I´m very nervous” disse eu (se isso é coisa que se diga!!!). “Is her birthday” falei, apontado para ela. Ele abriu um sorriso gentil: “Oh, it´s your birthday! Happy birthday”. Então Clara tirou um bilhete da bolsa e ofereceu a ele. Um bilhete que ninguém sabia que ela tinha feito. Estava escrito e desenhado com um coração “I love Bob. From Clara / To Bob Dylan”. Ele pegou o bilhete e sorriu ainda mais, apertando os olhos finos de um azul translúcido, capazes de iluminar a noite fria. Então, apontou para o tênis dela e, vendo os cadarços desatados, disse “You will stumble… Tie up your shoes” (Você vai tropeçar, amarre seu sapato). Clara bend down to top the laces of her shoes… Então, ele ergueu o bilhete, sacudiu-o no ar e o apontou em direção a ela, deixando claro que iria guardá-lo. Eu agradeci e disse “See you tomorrow” (but “Tomorrow is a long time” devia ter emendado). Eles continuaram caminhando. Eu tremia e chorava. Clara pulava. Na cama, antes de dormir, ela disse “Que velhinho mais querido!”. Sim, sim, o velhinho mais jovem que eu já vi na vida. Forever Young and still on the road, after all these years. Nunca vamos esquecer esse 23 de abril… Never gonna be the same again…
*Paula Taitelbaum é escritora, coordenadora do Núcleo de Comunicação da L&PM, mãe de Clara e hoje vai assistir pela sétima vez um show de Bob Dylan.
23 de abril é um dia agitado, apaixonante, literário. Escolhida pela UNESCO para ser o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, a data não foi eleita por acaso. Em 23 de abril de 1616 morreram William Shakespeare e Miguel de Cervantes (um pelo calendário juliano e outro pelo calendário gregoriano, mas o que isso importa…). Shakespeare, aliás, também teria nascido nesse dia e, até que provem o contrário, a gente acredita que hoje é seu aniversário. Pra completar, 23 de abril é Dia de São Jorge no mundo e Dia das Flores na Catalunha.
Aliás, os catalães juntaram tudo isso e criaram um super evento chamado “Diada de Sant Jordi”. Como hoje é feriado em Barcelona, os moradores e visitantes passeiam pelas ruas e participam deste festival que vende livros e rosas e ainda oferece exposições, cursos, espetáculos, sessões de autógrafo, recitais de poesias e leituras dramáticas pelas ruas. A ideia catalã de juntar livros e flores vem de uma antiga lenda em que os cavaleiros ofereciam uma rosa vermelha a suas damas e recebiam em troca um livro. Talvez inspirada nesse clima total de paixão, a Catalunha também escolheu o dia 23 de abril para ser o seu Dia dos Namorados. Ai que vontade de estar lá…
Foto tirada hoje, em Barcelona, mostra que o povo saiu às ruas para encontrar livros e rosas
Mar de gente no "Diada de Sant Jordi" em Barcelona