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Que dia… Que livro

Por Goida*

Poucas semanas antes de começar o “Dia D”, o desembarque das forças aliadas na Normandia, o Marechal Rommell disse ao seu lugar-tenente W. Lang: “As primeiras vinte e quatro horas da invasão serão decisivas… o destino da Alemanha depende desse resultado… para os aliados, do mesmo modo que para nós, será o mais longo dos dias… o dia mais longo do século.”

O nosso encontro com esse longo dia, o primeiro da chamada “Operação Overlord”, foi através dos jornais que se seguiram àquele 6 de junho de 1944. Pouco depois, chegaram as imagens da invasão na cine-atualidades norte-americanas, que eram exibidas na grande maioria dos cinemas de Porto Alegre. Uma visão quase só gloriosa e épica daquela gigantesca saga militar. Nada sobre as incontáveis baixas na praia de Omaha. Nada sobre o massacre quase total dos paraquedistas aliados que tentaram, na madrugada do 6 de junho, marcar pontos de apoio para as tropas invasoras.

Em 1963, lá em Montevidéu, encontrei uma edição do livro O mais longo dos dias de Cornelius Ryan – em espanhol, claro – com imagens reais do desembarque e também cenas do filme produzido por Darryl F. Zanuck para a Fox, em 1962, e ainda não exibidas no Brasil. Era um super espetáculo com três horas de duração, dividido em três campos: o Exército Nazista, os aliados (norte-americanos, canadenses, ingleses) e alguns civis franceses, ligados à chamada “Resistência” contra os invasores alemães. O filme teve três diretores – Gerd Oswald, Ken Annakin e Andrew Marton – mas o próprio Zanuck chegou a dirigir algumas sequências. Cornelius Ryan havia participado do roteiro, com mais cinco escritores (entre eles Romain Gary). Todos ouviam uma exigência quase constante de Zanuck, que pedia: “Usem, o máximo possível, os fatos e os personagens descritos na obra de Ryan”. Cornelius, como correspondente de guerra, esteve na invasão da Normandia e também em outros pontos do conflito na Europa. Para escrever o livro sobre o “Dia D”, ele entrevistou mais de mil sobreviventes, sintetizando tudo numa obra compacta de 300 páginas, de absorvente leitura. A obra é dedicada “para todos os homens do Dia D”.

Curiosamente, só bem depois da morte de Cornelius (1974), o diretor Steven Spielberg  resolveu abordar o tema do desembarque dos aliados em Ohama. O título do filme foi  O resgate do Soldado Ryan (1998, vejam até coincidência nos nomes). A história parecia tirada de O mais Longo dos Dias.

Em junho de 2014 lá se irão 70 anos dessa operação armada que mudou os rumos da Segunda Guerra Mundial. Ainda na Normandia se encontram milhares de sepulturas dos soldados que lá pereceram. Cornelius Ryan ajudou a imortalizá-los neste livro magnífico que tem a mesma força – sem romantismo – do Guerra e Paz de Tolstói.

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 *Jornalista, crítico de cinema e pesquisador. Este texto foi escrito especialmente para o Blog da L&PM.

Guerra e Paz em quadrinhos

Por Goida*  

Em 1957, a Editora Globo (a do Rio Grande do Sul) publicou na Biblioteca dos Séculos, Guerra e Paz, de Leon Tolstói. A obra, completa, tinha mais de 1.200 páginas. Já pensaram adaptar um romance assim para as histórias em quadrinhos?

Coleciono HQs, de forma intensa, desde 1958. Nunca, nesses anos todos, vi ou ouvi falar de Guerra e Paz no formato de quadrinhos. Qualquer roteirista, mesmo com experiência e capacidade, deve ter sonhado com essa aventura louca. Na hora H, porém, desistiram.

Recentemente encontrei em Montevidéu uma raridade: El Extranjero, de Albert Camus, editado em quadrinhos pela Coleção Novela Gráfica, da Ediciones La Flor (Buenos Aires). Meu espanto só foi maior quando, na semana passada, me chegou às mãos o Guerra e Paz de Tolstói, como parte da Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos, da L&PM Editores, com o apoio da UNESCO.

Em 96 páginas, Frédéric Brémaud (roteirista) e Thomas Campi (ilustrador) conseguiram sintetizar de forma magnífica as andanças de Natacha, Pedro Bezukov e o príncipe André na Rússia (e Europa) que se agitava nas guerras napoleônicas. A HQ cobre o período entre 1805 (principalmente a Batalha de Austerlitz) até 1812, a trágica retirada dos franceses, culminando com a mortandade dos mesmos na travessia do Berezina. O álbum ainda tem mais de 18 páginas, focalizando o autor (Tolstói), sua época e sua obra.

Temos certeza de que os adolescentes – e também os adultos – que lerem Guerra e Paz em HQ vão se deliciar com esse universo gigantesco, que poucos ainda têm a força de percorrer na versão original literária.

*Goida (Hiron Goidanich) é jornalista e pesquisador, autor de Enciclopédia dos Quadrinhos.

Assista ao vídeo feito pela L&PM WebTV para promoção de Guerra e Paz em quadrinhos:

Além de Guerra e Paz, a Série Literatura em Quadrinhos já possui os títulos A volta ao mundo em 80 dias, A ilha do tesouro, Dom Quixote, Um conto de Natal, Odisseia, Robinson Crusoé e Viagem ao centro da Terra. Os próximos a serem lançados são Os miseráveis, de Victor Hugo,  e As mil e uma noites.

Joe Kubert na Enciclopédia dos Quadrinhos

O desenhista Joe Kubert, que morreu neste domingo, dia 12 de agosto, aos 85 anos, também está na Enciclopédia dos quadrinhos, de Goida e André Kleinert. Em homenagem a ele, aí vai o texto na íntegra:

KUBERT, Joe
Estados Unidos (1926)

Tarzan teve desenhistas ótimos – Hal Foster, Burne Hogart, Bob Lubbers, Russ Manning – mas gostamos, principalmente, da interpretação que Kubert deu ao personagem de Edgar Rice Burroughs. Para os comic books, Joe criou histórias de Tarzan onde o dimensionamento espaço/dinâmica ganhou novos horizontes. Foi talvez o melhor trabalho que Kubert realizou nas suas múltiplas atividades para os quadrinhos. Desde 1943 na profissão, ele desenhou, roteirizou e editou principalmente revistas, mas também passou pelas tiras diárias, com a criação de uma série lamentavelmente inédita no Brasil, “Green Barets” (Os boinas verdes), realizada entre 1966/67 para o Chicago Tribune-New York News Syndicate. Além de toda essa atividade, Joe Kubert ainda ilustrou centenas de capas para as publicações da DC Comics, exemplos marcantes de dramaticidade e apelo para a venda. Kubert dedicou-se também à formação de novos desenhistas.

Vejam só alguns personagens dos comic books que ganharam o talento de Kubert: Dr. Fate, Hawkman, Flash, Wildcat, Viking Pince, Sea Devils, Firehair, Thor, Phanton Lady, Tomahawk, Korak, Son of Tarzan e até mesmo Superman. Foi, entretanto, nas histórias de guerra editadas pela DC que o talento de Kubert nos comics books soltou-se mais, começando por Enemy Ace (história de aviação, Primeira Guerra Mundial, onde um dos personagens era o famoso Barão Vermelho) e, principalmente, Sgt. Rock of Easy Co. (O sargento Rock da Companhia Moleza), criação original de Robert Kanigher (roteiros) e que também teve desenhos de Ross Andru, Mike Esposito e outros.

Além de continuar desenhando personagens da Marvel (Thor) e da DC (Johnny Clond, O soldado desconhecido), Kubert ainda achou tempo para criar Abraham Stone (Marvel, com mais de cem páginas), uma trama social-realista, nunca publicada no Brasil. Também inéditas ficaram as aventuras do Justiceiro (Marvel, 1994) e Rio de Sangue, a partir de um roteiro de Chuck Dixon. Pela Dark Horse, em álbum, veio Fax From Sarajevo (1996), longa história baseada em fatos reais passados na Bósnia, inédita no Brasil. Para a série “Tex Gigante”, da Bonelli, Kubert desenhou uma obra-prima roteirizada por Claudio Nizzi, O cavaleiro solitário (Mythos, 2002). Também tivemos lançados no Brasil outros trabalhos de Kubert, como Ás inimigo (Opera Graphica, 2005 – com roteiro de Brian Azzarello) e Sargento Rock – a profecia (Panini, 2009).

Verbete de hoje: Baptista Mendes

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje foi escolhido em comemoração ao descobrimento do Brasil pelos portugueses. É o ilustrador português Baptista Mendes (1937).

Ilustrador e quadrinista português, Baptista Mendes nasceu em Luanda e foi para a Europa com 11 anos de idade. Começou a trabalhar muito jovem em publicações infantojuvenis (Mundo das aventuras, Cavaleiro andante, Camarada, O falcão). Mais tarde, pelos seus conhecimentos históricos e por ter uma biblioteca de pesquisa, trabalhou também nas publicações dos órgãos militares, Jornal do Exército e Revista Armada. A maioria de suas histórias é baseada em acontecimentos do Portugal antigo, muitas reunidas no álbum Por mares nunca dante navegados.

Verbete de hoje: José Luis Salinas

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o argentino José Luis Salinas (1908 – 1985).

Salinas é não só um dos maiores nomes dos quadrinhos argentinos, mas um mestre mundial nessa arte. Foi o primeiro artista platense da especialidade a ter seus trabalhos publicados em muitas partes do mundo, firmando ainda mais o seu conceito quando passou a colaborar para o King Features Syndicate. Mas vamos mais devagar. É relevante contar toda a história desse buenairense do Bairro de Flores, autodidata completo, que costumava afirmar: “O desenho não se aprende, apenas aperfeiçoamos aquilo que já nasce com a gente”. Começou sua carreira como ilustrador e publicitário. Embora estivesse esporadicamente nas páginas pioneiras da revista de Ramon Columba, El Tony, foi em 1936 que ele realmente marcou sua presença nos quadrinhos. Sua primeira história em série, “Hérnan El Corsário” (publicada por Patozuzú, de Dante Quinterno), marcou o início da moderna tradição de aventuras nas historietas argentinas. Desde o primeiro quadrinho, essa narrativa de oitenta páginas saiu redonda, perfeita, uma beleza em detalhes, anatomia e expressividade dramática. A América do Sul já tinha o seu Harold Foster, que provou talento ainda maior ao adaptar, também em série, para a revista El Hogar, clássicos da literatura internacional. Para essas adaptações, Salinas não utilizou os balloons, tornando as imagens mais limpas, criando verdadeiras obras de arte em cada página. E foram várias as versões que desenhou: Miguel StrogoffO Capitão TormentaA Costa de MarfimEllaa feiticeiraAs minas do Rei SalomãoPimpinela EscarlateOs três mosqueteirosO último dos moicanos O livro da Jangal. Em 1949, a convite do King Features Syndicate, que queria transpor para os quadrinhos um personagem criado originalmente por O. Henry – Cisco Kid –, ele viajou aos Estados Unidos. Fechou contrato com uma curiosa cláusula: continuaria morando no seu país e remeteria o trabalho para os Estados Unidos, a partir dos roteiros que lhe mandava Rod Reed. Assim, entre 1950 e 1968, Salinas desenhou Cisco Kid (imagem) para a meca dos comics norte-americanos, sentado no seu estúdio em Buenos Aires. Clássico dos westerns, Cisco Kid constantemente ganha reedições no mundo inteiro (aqui no Brasil através da revista Eureka e em álbum na coleção “Quadrinhos L&PM”). Em 1973, depois de um período trabalhando em ilustração e criação de livros sobre a História dos trajes e uniformes no século XIX, Salinas voltou ao King. Com roteiros do seu compatriota Alfredo Grassi, desenhou, entre 1973/75, Dick the Gunner (Dicoo artilheiro, no Brasil, em revista própria editada pela RGE). A história, quando Salinas a deixou, ainda teve continuidade, algum tempo, por Lucho Olivera (veja em O). Terminam por aqui as experiências de Salinas nos quadrinhos. Ganhador de todos os prêmios possíveis na Argentina, ele também foi galardoado, em 1976, em Lucca, com o troféu Yellow Kid, o máximo em distinção mundial. Deixou principalmente uma obra a ser admirada através dos anos pelo invariável traço limpo, sereno, expressivo em cada quadrinho, em cada detalhe que ele nunca cansou de desenhar.

O verbete de hoje é: Millôr Fernandes

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o brasileiro Millôr Fernandes (1924 – 2012), que se foi esta semana. 

Durante muito tempo ele não foi Millôr, foi Vão Gôgo, nome com o qual assinava suas colaborações para as revistas O Cruzeiro e A Cigarra (décadas de 40 e 50). Aliás, o próprio e estranho nome de Millôr ele assim explica: “Meu pai queria registrar-me com o nome de Milton. Na hora, o funcionário do cartório errou e o Milton virou Millôr. E ficou por isto mesmo”. Carioca do Méier, nascido em 16 de agosto, iniciou-se na imprensa em 1943, como humorista e cartunista. Com o decorrer dos anos, tornou-se escritor e autor teatral (Um elefante no caos, Liberdade, Liberdade – junto com Flávio Rangel –, É, Os órfãos de Jânio). Foi também tradutor brilhante, pintor, artista gráfico e editor. Desentendendo-se com a cúpula de O Cruzeiro, por motivos de censura, fundou a publicação de humor Pif Paf (nome das páginas que mantinha naquela revista) e mais tarde ajudou também a editar O Pasquim. Manteve, desde a década de 60, incrível atividade diária na imprensa (Correio da Manhã, Jornal do Brasil) e semanal em revistas como Veja e Isto É. Em mais de sessenta anos de atividades, Millôr/Vão Gôgo já escreveu e desenhou milhares e milhares de páginas, sempre com um nível impressionante e busca de renovação. E quadrinhos, o Millôr fez? Mas claro que fez, senão estaria fora desta obra. Nas páginas do Pif Paf (tempos de O Cruzeiro) ele sempre ensaiava essa forma de comunicação. Em 1948, junto com outro notável humorista e desenhista (Carlos Estevão, veja em C), Millôr roteirizou as tiras de um personagem chamado Ignorabus, o contador de histórias, publicadas no Diário da Noite. Uma das razões de sua saída de O Cruzeiro foi a publicação de A verdadeira história do paraíso, onde misturava textos, desenhos e técnicas de quadrinhos. Para O Pasquim, de boa lembrança é também O último baião em Caruarú, uma divertidíssima gozação com o filme-escândalo de Bertolucci, O último tango em Paris. Isso é o que nos lembramos. Quem pesquisar toda a imensa obra de Millôr, certamente vai encontrar mais. Sem dúvida, o livro mais importante dele (sem ilustrações e sem quadrinhos) foi Millôr Definitivo, a bíblia do caos, editado pela L&PM em 1994 e com reedições até 2000. Foram selecionadas 5.142 frases, pensamentos, máximas, insultos e outras incríveis definições do autor, em volume único de mais de 500 páginas. Mais recentemente, de 2006 para cá, quem vem reeditando as obras de Millôr é a Desiderata. Já saíram A verdadeira história do paraíso, Ministério de perguntas cretinas (com ilustrações de Jaguar), Trinta anos de mim mesmo, Que país é este? e Novas fábulas & contos fabulosos, esse ilustrado por Angeli. 

Verbete de hoje: Joe Sacco

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é Joe Sacco (1960).

Ele nasceu em Malta, mas antes de completar 20 anos mudou-se para os Estados Unidos. Formou-se jornalista e editou sua primeira publicação, a Portland Permanent Press. A primeira vez que vimos os desenhos de Joe Sacco foi no álbum The Big Book of The Unexpleined (Paradox Press, da DC, em 1997). Ele apresentava a história do Chupa-Cabra, em dez páginas. Em 2000, a Conrad lançou o primeiro álbum de Sacoo, Palestina, uma nação ocupada. Destacando-se no estilo que se chamou “jornalismo em quadrinhos”, Sacco foi novamente publicado em álbum pela Conrad em 2001 (Gorazde, área de segurança), 2003, (Palestina: na faixa de Gaza), 2005 (Uma história de Sarajevo) e 2006 (O derrotista). Esse último possuiu uma série de histórias curtas do autor, começando com a crônica Gênio dos quadrinhos, de uma autoironia incrível. Nesses últimos treze anos, Joe Sacco acumulou prêmios e mais prêmios por seus trabalhos, destacando-se  Eisner Award em 2001 (Gorazde, área de segurança), American Book Award em 1996 para Palestina: uma nação ocupada, e 1999, pelo mesmo álbum, o prêmio Tournesol de Angoulême (França). Em 2010, a Companhia das Letras publicou no Brasil o álbum Notas sobre Gaza. Para melhor conhecer seu estilo cáustico e irreverente, é interessante ler as 218 páginas de Derrotista, uma síntese de seu trabalho avulso, às vezes distante do “jornalismo em quadrinhos”.

O verbete de hoje é Jean Giraud (Moebius)

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o francês Moebius que faleceu há pouco mais de uma semana, em 10 de março de 2012, aos 73 anos. 

Também conhecido por Gir ou Moebius, dependendo do gênero que ilustra, Jean Giraud é hoje um dos mais prestigiados desenhistas não só da França, mas do mundo inteiro. No álbum da L&PM, O homem é bom?, aparece a seguinte apresentação do autor: “Aos 16 anos, em 1954, Giraud entra para a École des Arts Apliqués, em Paris. Aos 18 anos começa a colaborar ativamente em periódicos, onde realiza suas primeiras histórias no estilo faroeste. Discípulo de Jijé, entre 1963 e 1980 desenha a famosa série “Tenente Blueberry” (imagem), a partir de roteiros de Charlier. Paralelamente começa, sob o nome de Moebius, algumas histórias maravilhosas de fantasia e ficção científica, como O desvio (1973), O homem é bom? (1974), As aventuras de John Watercolor (1974) e O pesadelo branco (1975). Enfim, pode-se dizer que ele definiu seu estilo feito de fantástico, de poesia e de insólito, quando realiza para a revista Metal Hurlant, Arzach e, mais tarde, A garagem hermética (O major Fatal – publicada no Brasil pela L&PM). Muito ativo, Moebius também desenha posters, cartazes publicitários e ilustra, com roteiro de Dan O’Bannon, The Long Tomorrow. Desenhou o storyboard do filme que Jodorowsky tentou realizar a partir do clássico Duna (mais tarde filmado por David Lynch). Em 1978, colaborou estreitamente com Giger em Alien, o filme de Ridley Scott. Em seguida, fez os storyboards dos filmes O garoto do espaço (Les Maitres du Temps) e Tron, esse último produzido por Walt Disney. Jean Giraud é um dos desenhistas mais premiados do mundo: Estados Unidos, França, Bélgica, Itália e Holanda. Em toda parte, ganhou medalhas e prêmios de Melhor Desenhista. Às vezes, duas vezes! Uma pelos seus álbuns assinados por Jean Giraud ou Gir. Uma segunda por aqueles assinados por Moebius!”. Resta acrescentar alguns trabalhos mais recentes de Moebius, como a série “O Incal Negro” (roteiro de Alejandro Jodorowsky) já com seis álbuns e “Os Mundos de Edena”. A série “Tenente Blueberry” também foi ilustrada por um ótimo  assistente que ele formou, Colin Wilson. Usando o pseudônimo Moebius, depois de 1990, ele participou de dois álbuns coletivos, Au Secours (Amnesty International) e O muro antes e depois (Meribérica Liber, 1991) – esse último organizado por Christin e Knigge. Também por essa mesma editora portuguesa saíram álbuns do Incal negro (Uma aventura de John Difool), em primeira edição, depois pela Editorial Futura. O Incal negro recebeu edição no Brasil pela Devir. O ciclo de Edena, sem a ajuda de Jodorowsky, como fora em Incal, foi publicado até o volume três pela Meribérica/ Liber. No prefácio do volume 3, Os jardins de Edena, Moebius anunciava novos volumes para breve. Embora não ilustre mais a série “Tenente Blueberry”, Giraud apareceu como apenas roteirista nos álbuns desenhados por William Vance, À ordem de Washington e Missão Sherman (editados em Portugal pela Meribérica/Liber). Também saíram, ainda com roteiros de Charlier e desenhos de Colin Wilson, os álbuns de Blueberry, Os demônios do Missouri, Terror no Kansas e O raid infernal (traduções pela Meribérica/Liber).

Moebius e seu personagem, Major Fatal, publicado pela L&PM nos anos 80

Verbete de hoje: Glauco

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o brasileiro Glauco (1957-2010).

Glauco Vilas Boas, paranaense de Jandaia do Sul, nasceu em 10 de março. Junto com Angeli e Laerte, formou a trinca dos melhores e mais ativos quadrinistas da contracultura brasileira. Seus primeiros bonecos (ou abobrinhas, como ele gostava de chamar) foram publicados em 1976, no Diário da Manhã, de Ribeirão Preto. Colaborou para as seções de humor Vila Lata e Gol, da Folha de S. Paulo, onde manteve igualmente uma tira diária com o personagem Geraldão. O sucesso da figura – um “Edipão” em estado crônico, cuja frase chave é “amar é espiar a mãe tomando banho” – incentivou Glauco a criar sua revista própria (exatamente Geraldão), que começou trimestral. Com a participação cada vez maior de outros ótimos desenhistas e criadores, Geraldão atingiu um público tão entusiasta quanto o de Chiclete com Banana, de Angeli. Em Geraldão, além das tiras do conhecido personagem, aparecem O casal neuras, Zé do apocalipse, Doy Jorge e Dona Marta. Junto com Laerte e Angeli, Glauco fez seguidamente histórias a seis mãos. Em Geraldão colaboraram Claudio Paiva, Pelicano e Jaca. Glauco, como cartunista, foi premiado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba (1977/1978) e na 2a Bienal de Humorismo y Grafica Militante de Cuba, 1980. Teve três livros publicados, Abobrinhas da brasilonia, As minorias do Glauco e Geraldão. Depois de 1990: em revistas, as histórias de Glauco saíram em Bundas (Los Três Amigos, com Angeli e Laerte), Mil Perigos, Interquadrinhos, Geraldinho e Glauco Geraldão. Álbuns e livros: As espocadas de Geraldão (Ensaio/Circo, 1995); Abobrinhas da brasilônia – reedição pela L&PM, em 2006; Geraldão 1: edipão, surfistão, gravidão (L&PM, 2007); Geraldão 2: a genitália desnuda (L&PM, 2007); e Geraldão 3: ligadão, taradão na televisão (L&PM, 2008). Álbuns coletivos: Los Três Amigos (Ed. Ensaio, 1992/1994), com Laerte e Angeli; Os filhos da dinda (Scritta Ed., 1992); e Seis mãos bobas (Jacarandá/Devir, 2006), com Laerte e Angeli. Morreu assassinato, em 2010, junto com o filho Raoni.

Glauco está na Coleção L&PM Pocket

12 de março de 2012 marca os 2 anos da morte trágica e precoce de Glauco.

Verbete de hoje: Sampaulo

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o brasileiro Sampaulo (1931-1999).

Sofrenildo, o personagem mais famoso de Sampaulo

O gaúcho Paulo Sampaio, nascido em Uruguaiana, no dia 3 de maio, ficou conhecido como Sampaulo, pseudônimo que assinava suas charges e tiras na imprensa gaúcha, desde 1954. Trabalhou em Clarim, A Hora, Diário de Notícias, Correio do Povo, Folha da Tarde, Revista do Globo e Zero Hora. Em 1963, foi publicado uma coletânea de trabalhos dele com o título de Humor do 1º ao 5º (Editora Globo), onde pela primeira vez, em meio de piadas essencialmente urbanas, aparecia também muito do folclore gaúcho, veia depois explorada por Santiago (veja em S). Em tiras de quadrinhos, seu personagem mais conhecido – com mais de 25 anos de publicação – chamou-se Sofrenildo e o nome diz tudo. Sampaulo ganhou vários prêmios nacionais e internacionais pelo seu excelente humor cotidiano. Tinha um irmão mais velho, que com o nome de Sampaio criou muitas páginas de humor na Revista do Globo e jornais gaúchos das décadas de 40 e 50. Tiras e histórias escolhidas de Sofrenildo apareceram em dois álbuns, Como eu ia dizendo… (Mercado Aberto, 1991) e Até que um dia (AGE Editora, 1998). De Pedro a Collor – As charges da tragédia, um livro de charges sociopolíticas, foi lançado em 1992, pela editora AGE. Participou ainda dos livros coletivos Separatismo, corta essa! (L&PM, 1993) e 40 anos de humor (RBS Publicações, 2004).