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Que dia… Que livro

Por Goida*

Poucas semanas antes de começar o “Dia D”, o desembarque das forças aliadas na Normandia, o Marechal Rommell disse ao seu lugar-tenente W. Lang: “As primeiras vinte e quatro horas da invasão serão decisivas… o destino da Alemanha depende desse resultado… para os aliados, do mesmo modo que para nós, será o mais longo dos dias… o dia mais longo do século.”

O nosso encontro com esse longo dia, o primeiro da chamada “Operação Overlord”, foi através dos jornais que se seguiram àquele 6 de junho de 1944. Pouco depois, chegaram as imagens da invasão na cine-atualidades norte-americanas, que eram exibidas na grande maioria dos cinemas de Porto Alegre. Uma visão quase só gloriosa e épica daquela gigantesca saga militar. Nada sobre as incontáveis baixas na praia de Omaha. Nada sobre o massacre quase total dos paraquedistas aliados que tentaram, na madrugada do 6 de junho, marcar pontos de apoio para as tropas invasoras.

Em 1963, lá em Montevidéu, encontrei uma edição do livro O mais longo dos dias de Cornelius Ryan – em espanhol, claro – com imagens reais do desembarque e também cenas do filme produzido por Darryl F. Zanuck para a Fox, em 1962, e ainda não exibidas no Brasil. Era um super espetáculo com três horas de duração, dividido em três campos: o Exército Nazista, os aliados (norte-americanos, canadenses, ingleses) e alguns civis franceses, ligados à chamada “Resistência” contra os invasores alemães. O filme teve três diretores – Gerd Oswald, Ken Annakin e Andrew Marton – mas o próprio Zanuck chegou a dirigir algumas sequências. Cornelius Ryan havia participado do roteiro, com mais cinco escritores (entre eles Romain Gary). Todos ouviam uma exigência quase constante de Zanuck, que pedia: “Usem, o máximo possível, os fatos e os personagens descritos na obra de Ryan”. Cornelius, como correspondente de guerra, esteve na invasão da Normandia e também em outros pontos do conflito na Europa. Para escrever o livro sobre o “Dia D”, ele entrevistou mais de mil sobreviventes, sintetizando tudo numa obra compacta de 300 páginas, de absorvente leitura. A obra é dedicada “para todos os homens do Dia D”.

Curiosamente, só bem depois da morte de Cornelius (1974), o diretor Steven Spielberg  resolveu abordar o tema do desembarque dos aliados em Ohama. O título do filme foi  O resgate do Soldado Ryan (1998, vejam até coincidência nos nomes). A história parecia tirada de O mais Longo dos Dias.

Em junho de 2014 lá se irão 70 anos dessa operação armada que mudou os rumos da Segunda Guerra Mundial. Ainda na Normandia se encontram milhares de sepulturas dos soldados que lá pereceram. Cornelius Ryan ajudou a imortalizá-los neste livro magnífico que tem a mesma força – sem romantismo – do Guerra e Paz de Tolstói.

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 *Jornalista, crítico de cinema e pesquisador. Este texto foi escrito especialmente para o Blog da L&PM.

“O mais longo dos dias”: a obra prima de um correspondente de guerra

O irlandês Cornelius Ryan não foi um correspondente de guerra qualquer. Nascido em 1920 em Dublin, tinha pouco mais de 20 anos quando cobriu os conflitos da Segunda Guerra Mundial, entre 1941 e 1945, para a agência de notícias Reuters e para o jornal britânico London Daily Telegraph. Participou de catorze missões de bombardeio junto às forças aéreas norte-americanas, do desembarque no Dia D, do avanço aliado através da França e da Alemanha e, após os últimos meses da campanha no Pacífico, tornando-se um dos mais proeminentes correspondentes de guerra da época. Seu trabalho baseava-se tanto em fontes oficiais e entrevistas com líderes militares quanto em depoimentos de soldados comuns e civis, de modo que toda a sua obra está impregnada de uma forte tensão humana. Foi com rigor  jornalístico de detalhes e informações e com extrema compaixão com dramas das pessoas envolvidas que Ryan escreveu uma trilogia da segunda guerra mundial que começa com O mais longo dos dias, lançado originalmente em 1959 e que está focado no Dia D, quando as tropas aliadas desembarcaram na Normandia para expulsar a Alemanha da França.

Cornelius Ryan

Cornelius Ryan

O mais longo dos dias vendeu cerca de quatro milhões de exemplares em quase 30 línguas e foi levado às telas do cinema em 1962, em uma megaprodução internacional de mesmo nome sob direção de Darryl F. Zanuck e estrelado por grandes atores da época como Henry Fonda, Robert Mitchum, John Wayne e Sean Connery.

Robert Mitchun em ação no "Mais longo dos dias" cinematográfico

Robert Mitchun em ação no “Mais longo dos dias” cinematográfico

Em 1973, Cornelius Ryan recebeu a medalha da Legião da Honra do governo francês. Morreu de câncer no ano seguinte.

A L&PM publica O mais longo dos dias  em pocket e também em formato 14cm X 21cm.

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