Arquivo mensais:abril 2010

“Kafka” de Soderbergh chega ao Brasil em formato de DVD

Quase 20 anos depois do lançamento, Kafka, segundo longa da carreira de Steven Soderbergh (diretor de Onze homens e um segredo e Che), finalmente chega ao Brasil em formato de DVD. A ausência de cores faz lembrar os expressionistas Robert Wiene e Fritz Lang, e o filme está mais para thriller do que para biografia. Nele, Kafka (Jeremy Irons) é um servidor público que tenta descobrir o paradeiro do amigo Eduard Rabin. Rabin desapareceu depois de ter sido mandado pelos patrões a um lugar – não coincidentemente – chamado de “Castelo”. E essa é só a primeira das várias referências à obra do escritor tcheco na trama. Assista ao trailer e corra para a locadora:

Com informações do jornal Zero Hora.

Um jardim com todas as plantas venenosas das histórias de Agatha Christie

55 assassinatos por envenenamento foram cometidos nos livros de Agatha / Divulgação

A Coleção L&PM POCKET já soma mais de vinte títulos de Agatha Christie. Perfeitos para serem levados na mala, eles ainda podem servir de motivação para um tour pelo sul da Inglaterra.
Ao visitar o condado de Devon, onde a escritora nasceu, você poderá conhecer Greenway, a casa de veraneio da família Christie, e dar uma passada pela Ilha do Burgh, que inspirou a Rainha do Crime a escrever O caso dos dez negrinhos. Também terá a opção de ficar hospedado no The Grand Hotel, em Torquay, onde Agatha passou a noite de núpcias com o primeiro marido.
Em Torquay, aliás, cidade do condado às margens do Canal da Mancha, há ainda um museu com uma ala inteira dedicada à escritora e um jardim venoso em homenagem a ela. O jardim apresenta todas as plantas venenosas que aparecem em seus livros – dos 80 casos de assassinatos, 55 foram cometidos por envenenamento. O interessante é que o jardim tem um clima de mistério, pois além das ervas letais que apresenta, ainda oferece pistas que permitem ao visitante tentar descobrir os segredos de algumas delas.
 Torquay, chamada de “Riviera inglesa” pelo seu clima ameno, será o principal palco das celebrações dos 120 anos do nascimento da escritora que começam em setembro deste ano. Se você é fã, prepare as malas. 

As aventuras de Tommy e Tuppence

Tradutor de diversos títulos da Agatha Christie, Henrique Guerra publicou no seu blog um texto sobre os livros da dupla Tommy e Tuppence. Com a devida autorização, reproduzimos o aqui o texto dele. Da dupla, a L&PM já publicou Sócios no crime e Portal do destino. Os direitos de N or M? e By The Pricking of My Thumbs também foram adquiridos pela editora e serão publicados em breve.

Tommy & Tuppence: sempre aventureiros

O universo de Tommy e Tuppence envolve espionagem, contraespionagem, mensagens cifradas, segredos de Estado, fugas, perseguições, reviravoltas, tiros, socos e até cabeçadas. Tommy, sempre com os pés no chão; Tuppence, intuição pura. Um casal que se ama e se alfineta com intensidade. Ao criar a dupla, Agatha Christie surpreendeu a Bodley Head (editora do livro de estreia da autora, O misterioso caso de Styles), que esperava novo whodunnit. Em vez disso, Agatha entregou um thriller insuperável.

O inimigo secreto (The secret Adversary, 1922), primeiro livro com Tommy e Tuppence e segundo de Agatha, tem como dedicatória: “A todos os que levam uma vida monótona, com votos de que experimentem em segunda mão os encantos e os perigos da aventura”. Ao cabo da Primeira Guerra, Tommy e Tuppence precisam encontrar Jane Finn, que antes de escapar de um naufrágio recebe importantes documentos de um agente secreto.

Sócios no crime (Partners in Crime,1929) é uma coletânea de contos que se interconectam. A segunda aventura dos Beresford inicia com Tuppence ansiosa por peripécias. Então Tommy recebe a missão oficial de cuidar de uma agência de detetives. Detalhe: em cada caso deslindado, Agatha homenageia (ou satiriza) um detetive da ficção policial (entre eles, o Padre Brown e Sherlock Holmes). Inclusive, numa das histórias, Tommy e Tuppence encarnam Poirot e Hastings para enfrentar ninguém menos que o Número 16 – brincadeira alusiva ao Número 4, vilão de Os Quatro Grandes.

Em M ou N? (N or M?, 1941), sua terceira aventura, T & T voltam à ativa em plena Segunda Guerra, quando agentes infiltrados (os “quinta-colunas”) no seio da comunidade britânica auxiliam os nazistas a realizar seus intentos. A ação se passa na pensão Sans Souci, pacato estabelecimento no litoral, onde podem estar hospedados M ou N, agentes nazistas da confiança de Hitler. A única informação de que os Beresford dispõem é que M é mulher e N é homem. Mistura perfeita de adrenalina e suspense.

By the pricking of my thumbs (1968), é uma citação da peça Macbeth (da fala de uma bruxa). No Brasil, ganhou o título Um pressentimento funesto. Em sua quarta aventura, Tommy e Tuppence vão visitar a tia Ada, que mora num asilo. Tuppence conversa com a sra. Lancaster, que olha para a lareira e comenta: “A coitadinha era sua filha?”. A sra. Lancaster é retirada do asilo de modo tempestuoso, deixando como única pista o quadro de uma bucólica residência. Tuppence decide investigar o paradeiro da sra. Lancaster e o sinistro mistério por trás da “criança morta na lareira”.

Publicada em 1973, a quinta aventura dos Beresford, Portal do destino (Postern of Fate), é a derradeira obra composta por Agatha. Depois ainda lançou dois romances escritos na década de 1940: Cai o Pano e Um crime adormecido (o último caso de Poirot e de Miss Marple). Portal do destino narra o mergulho no passado feito pelos Beresford ao encontrarem nas páginas de um livro no sótão da nova casa a mensagem: “Mary Jordan não morreu de morte natural”. Ladeados pelo cãozinho Hannibal, os Beresford voltam à ativa para desvendar o mistério. Uma curiosidade: Tuppence encontra na casa itens citados na autobiografia de Agatha (KK, Matilde e Truelove). Como em outras obras do fim de carreira de Agatha, Portal do destino foi gravado no ditafone e depois transcrito.

Em todas as cinco aventuras, o casal conta com a fiel colaboração do escudeiro Albert. Diálogos espirituosos, gosto pelo perigo e inesgotável juventude garantem aos Beresford lugar especial na galeria de personagens de Agatha Christie. Que teve um pressentimento nada funesto ao escrever em 1922 numa carta para sua mãe: “Não se preocupe com dinheiro. Algo me diz que a dupla Tommy e Tuppence será um sucesso.”

Apontamentos sobre uma semana passada em Buenos Aires #2

Ontem a editora Caroline Chang começou a publicar suas impressões sobre VIIIa. Semana TyPA de Editores. Para ver o primeiro post, clique aqui.

Caroline Chang

– É invejável o nível de preparo dos livreiros, em geral. Sim, tive que soletrar nomes de alguns autores, mas também pode ser culpa do meu castelhano de pé quebrado. De modo geral, os livreiros conhecem os livros que vendem e são capazes de opinar sobre eles. Imagino que isso se deva em parte ao melhor nível educacional argentino (embora também haja queixas de que o ensino privado está maquiavelicamente clientelizando o processo educacional, coisa que conhecemos bem no Brasil), em parte à posição privilegiada que a leitura e a cultura livresca ocupa na vida portenha.

– Eu nunca havia me dado conta da dimensão que ocupa, na vida cultural argentina, do fato de as grandes editoras espanholas comprarem direitos para língua espanhola e os leitores argentinos se verem em uma de três situações: ou a editora espanhola que compra os direitos de tradução para o espanhol exporta os livros para as livrarias e distribuidoras argentinas, e nesse caso o livro chega ao leitor argentino a um preço que é no mínimo o dobro do que custaria se fosse produzido no país; ou então a editora espanhola não distribui direito os livros na Argentina (seja por problemas nos canais de distribuição, seja por acreditar, baseado na carreira espanhola do livro, que ele não terá êxito comercial, o que nem sempre é verdade, já que se trata de contextos culturais diferentes); ou, melhor dos casos sob o ponto de vista do leitor argentino, a editora espanhola que compra os direitos para tradução para o espanhol tem uma casa editorial filial na Argentina, podendo então produzir tiragens na Argentina, para o leitor local, que então tem acesso ao livro a um preço argentino, e não europeu. Alguns setores do mercado editorial argentino inclusive defendem que agências literárias e editoras que vendem direitos de tradução deveriam comercializar em separado direitos para traduzir o livro na Espanha e, por exemplo, na Argentina (tal como acontece com Brasil e Portugal: direitos para explorar um livro em língua portuguesa no Brasil é vendido para uma editora brasileira, e os direitos para explorar o mesmo livro em língua portuguesa em Portugal, para uma editora portuguesa). Assim os direitos ficariam livres para editoras argentinas que quisessem explorar tal livro e tal autor, o que certamente fortaleceria a cadeia nacional. (Vale lembrar que a separação dos direitos entre Portugal e Brasil é recente: poucas décadas atrás, os agentes vendiam direitos mundiais para língua portuguesa para editoras portuguesas, e nós, leitores brasileiros, nos víamos na obrigação de importar o livro e ler Lawrence Durrell em português de Portugal.)

– Suspeito que nossos irmãos argentinos conheçam melhor a literatura brasileira que nós a argentina. El Corregidor (www.corregidor.com.ar ), por exemplo, tem uma série que se chama Vereda Brasileira, onde se encontra o que de melhor a nossa literatura produziu. A editora Adriana Hidalgo tem, na sua serie de traduções, uma clara veia brasileira, tendo publicado João Gilberto Noll, Clarice Lispector, Dyonélio Machado e – pasmei quando vi – Grande Sertão: Veredas, além de Sagarana. Me corrijam se estou errada, mas creio que não há nenhuma editora brasileira que tenha uma série numerosa e longeva de literatura platense, que dirá argentina.

Caroline ao lado da estátua de Mafalda em San Telmo / Arquivo pessoal

 – Por fim, vida longa a uma menina baixinha de quem o Gobierno de La Ciudad (de Buenos Aires) inaugurou há pouco uma estátua, no velho bairro de San Telmo, próximo à casa de Quino, seu criador (esquina da calle Defensa com calle Chile). Foi com ela que a literatura argentina fez sua grande e indelével entrada na minha vida.

Ministro Temporão recomenda sexo cinco vezes por semana. Nós recomendamos todos os dias

Por Paula Taitelbaum

“A pelada do final de semana não deve ser a única atividade. Os adultos devem praticar exercícios, caminhar, dançar, fazer sexo seguro”. Declarou o Ministro da Saúde José Gomes Temporão no lançamento da campanha contra a hipertensão. E completou: “Cinco vezes por semana é importante para manter uma vida saudável”.

Pois bem, caro leitor, eu vou além do ministro: indico sexo para a semana inteira. Calma, não quero abusar do coração de ninguém. Minha indicação é puramente literária. São livros da  Coleção L&PM POCKET.

Segunda-feira: Kama Sutra

Para iniciar a semana, uma escolha clássica. O Kama Sutra ajuda não apenas os menos experientes a se tornarem deveras criativos, como oferece novas ideias aos mais virtuosos amantes. A edição da L&PM não vem com aquelas posições que só um contorcionista é capaz de fazer, mas é um verdadeiro manual de uso para o corpo. O capítulo 5, por exemplo, trata sobre “As mordidas e os métodos a serem usados com mulheres de distintas origens”.

Terça-feira: Pequenos pássaros: Histórias eróticas

A voz de uma mulher pode ser um tanto quanto excitante. Principalmente quando essa voz narrativa vem de Anaïs Nin. Em Pequenos pássaros – Histórias eróticas, a autora dá vazão à sua veia erótica, também presente em Henry e June e Uma espiã na casa do amor. Na próxima terça, esqueça a TV e sussurre em voz alta para ele – ou para ela  –  um trecho da página 82: “Ele sentiu que estava molhada. Ficou deliciado, beijando-me, deitando-se por cima de mim…”

Quarta-feira: O sofá

Quarta não é dia de namorar no sofá? Pois então: O Sofá, de Crébillon Fils vai ajudar a esquentar os ânimos no meio da semana. Considerada “a verdadeira libertinagem”, o livro conta a história de um homem que foi condenado a reencarnar como um sofá e assim acompanhar as aventuras, muitas delas eróticas, que se passam sobre ele. Da página 95: “Enrubecendo pelo que sentia, queimava de vontade de sentir mais; sem imaginar novos prazeres, desejando-os…”.

Quinta-feira: Fanny Hill

O final de semana está quase chegando e quinta é um ótimo dia para fantasias mais ousadas. Fanny Hill, Memórias de uma mulher de prazer, de John Cleland, vem causando polêmica desde sua publicação em 1749. Mas com certeza não vai ser censurado na sua casa. Considerada uma ode ao prazer sexual, o livro traz cartas da cortesão Fanny. Sinta um trecho: “com uma das mãos ele gentilmente abriu os lábios daquela luxuriosa boca da natureza, enquanto com a outra inclinou a sua máquina poderosa até aquele ponto de atração”.

Sexta-feira: Anti-Justine

Nem pense em dizer que está cansado porque é sexta-feira. Trate de se animar abrindo em qualquer página de Anti-justine, de Restif de La Bretonne. Contrapondo-se às ideias sádicas do Marquês de Sade (que antes escrevera Justine e Os infortúnios da virtude), o narrador dessa história conta onde não há regras morais, apenas a busca do prazer: “As duas moças estavam sentadas ao seu lado, os seios de fora. Ela beijou seus botõezinhos…”

Sábado: Teresa filósofa

Teresa filósofa, de autor anônimo do século XVIII, é um dos maiores clássico eróticos da literatura mundial. Ideal para os “embalos” de um sábado à noite. Conta a história da formação de uma jovem tão inocente quanto disposta a colocar em prática todas as lições de seus preceptores. “Nessa posição, era preciso que eu, por complacência, algumas vezes também por gosto, me servisse de fricção de um falo artificial para provocar o meu prazer” diz Teresa na página 132.

Domingo: Porno pop pocket

Dizem que até Deus descansou no domingo. Mas quem sabe você descansa durante o dia e aproveita as energias poupadas de noite? A indicação para fechar – ou começar – bem a semana é de minha própria autoria. Sei que sou suspeita para falar, mas acredito sinceramente que os poemas e hai-kais de Porno pop pocket são uma boa dica. Sinta o clima: Ele gosta de mulheres com falo no meio das falas / com palavras que pingam e frases que entram rasgando / ele gosta de mulheres que fodem com as regras de gramática / que comem letras quando estão gozando.

Apontamentos sobre uma semana passada em Buenos Aires #1

Por Caroline Chang*

Na semana passada, participei da VIIIa. Semana TyPA de Editores en Buenos Aires, a convite da Fundación TyPA – uma instituição privada e sem fins lucrativos – e da Embaixada Brasileira na Argentina. A ideia é promover, in situ, a literatura argentina, proporcionando encontros entre os editores estrangeiros participantes e argentinos, também encontros com agentes literários, palestras e outras atividades. Segue abaixo um pouco do que vi, senti e pensei.

– Chegando aqui, descobri que a Fundación TyPA foi fundada em seguida à e em função da crise que castigou a Argentina em 2001. Para combater o cenário de desastre econômico, juntos, agentes de várias áreas da cultura – literatura, patrimônio, cinema e artes plásticas – se juntaram para pensar maneiras de promover os distintos setores culturais e ajudá-los a contornar a crise. Não pude deixar de admirar a iniciativa, tomada em um contexto que faria muitos povos se entregarem à prostração. Também não pude deixar de invejar esse temperamento portenho e de pensar que não por acaso a Argentina conquistou sua Independência à unha, e não no canetaço (aliás, o país se prepara para festejar, em maio próximo, seus 200 anos de independência).

– Impressionante o número, a variedade e a qualidade das editoras pequenas e independentes da Argentina. Fiquei me perguntando se no Brasil não há tantas, proporcionalmente, ou se eu é que não as conheço. A Libre, claro, é referência aqui, e os hermanos admiram a iniciativa brasileira tanto quanto nós as deles. Talvez uma diferença importante esteja no fato de que uma pequena editora argentina, se fizer direitinho o seu trabalho, encontrar seu nicho e perseverar – e se encontrar um bom distribuidor nos outros países de fala hispânica, inclusive na Espanha –, tem mais chances de multiplicar suas vendas. Entendo que para as pequenas editoras brasileiras tal expansão comercial é bem mais difícil, senão impossível (alguém conhece algum editor que venda livros para Moçambique?).

– Apesar da pujança portenha, me parece que os livros brasileiros, de um modo geral, são mais modernos e arrojados, em termos de capa e design, do que as edições que se vê nas livrarias argentinas. Há, é claro, a bela coleção de traduções da Adriana Hidalgo, os bonitos livros da HUM e os lindíssimos livros da pequena Tamarisco – todas editoras independentes –, mas creio que, no geral, as capas de livros brasileiras são mais modernas, quiçá menos figurativas e mais limpas.

– Invejável a quantidade e a qualidade das livrarias de Buenos Aires. Se são em maior número do que todas as livrarias do Brasil, não sei, mas eu bem que não me importaria em morar em uma cidade em que se pode sair de uma festa à meia-noite e meia, voltar a pé para casa pela Corrientes, sem medo de assalto e, de quebra, parar no caminho na Livraria Edipo para comprar um livro, como eu fiz. Destaque para a relativamente nova livraria Eterna Cadencia (www.eternacadencia.com – ver foto), em Palermo, e também para a Libros Del Pasaje (www.librosdelpasaje.com.ar ), também em Palermo.

*Caroline é editora da L&PM
**Nota do editor: amanhã, neste mesmo blog, a continuação dos apontamentos sobre a semana TyPA de Editores em Buenos Aires.

Sex Pistols, Sky e o conto do vigário

Por Ivan Pinheiro Machado

No magnífico documentário “The trash and the fury”, sobre a curta vida do “Sex Pistols” nos anos 70, há a cena antológica do último concerto da banda inglesa em Dallas, Texas. O grupo já agonizava, detonado por brigas e muita droga. O ginásio onde seria o show estava superlotado, mas a banda estava tão enlouquecida que não conseguiu subir ao palco; depois de muito tempo de espera, o vocalista Johnny Rotten (Joãzinho Podre) foi comunicar à plateia histérica que eles iam dar o fora e não fariam o show. A platéia urrava, protestava, atirava pedaços de cadeira no palco. Aí então, chapadaço, Johnny pegou o microfone e disse “não estou entendendo, vocês nunca tinham sido enganados antes?”.

Pois estas palavras ficaram reverberando na minha cabeça todo o fim de semana. Não vou chatear com a historia inteira, mas a Sky me passou o golpe do vigário. É o seguinte: um cara me ligou em nome na Sky prometendo mundos e fundos. Me dariam o aparelho HD grátis e mais canais, porque eu era um cliente Vip, dez anos de Sky. Era de graça e eu topei. Foram na minha casa uma semana antes do agendado (já desconfiei). Fizeram o serviço. Mais tarde fui ver TV. Aí então notei que faltavam pelo menos uns cinco dos meus canais favoritos. Liguei para a Sky. Disse que não tinha sido informado que perderia canais e não me interessava o “Up grade” pra baixo que eles tinham me dado, portanto gostaria que voltasse ao pacote que eu tinha antes. Aí a moça do call center me disse: “O pacote que o senhor tinha até hoje pela manhã, a Sky não comercializa mais. Se o senhor quiser os canais que perdeu de volta, vai ter que pagar mais R$ 50 reais”.

O que saiu da minha boca você já viu várias vezes nas histórias em quadrinhos: cobras, lagartos, aranhas, etc… Mais calmo, me lembrei do Johnny Rotten; na real, tão descaradamente, eu nunca tinho sido enganado antes…

Duas opiniões sobre a Alice de Burton

O frenesi para ver a adaptação de Tim Burton de Alice no País das Maravilhas levou a Paula, coordenadora do núcleo de comunicação da L&PM, e a Tássia, assessora de imprensa, ao cinema no final de semana de estreia do filme no Brasil. As impressões das duas a gente publica agora:

Que país das maravilhas é esse?

Por Paula Taitelbaum
Eu juro que fui preparada para assistir a uma versão da história. Juro que eu sabia que, para gostar do filme, teria que deixar o mundo literário e entrar de cabeça no mundo visual (e virtual). Eu já tinha sido avisada – e bem avisada pela mídia – de que a Alice de Burton era outra. Mesmo assim, não adiantou. Como grande amante do livro, não consegui gostar do filme. Acho até que prefiro a primeira versão da Disney.
Mas nem tudo me desagradou, é claro. O figurino de Alice é dos melhores. E desde que a moça entra na toca do coelho, troca de roupa cada vez que diminui ou aumenta de tamanho, o que acontece várias vezes. Até a armadura com a qual ela enfrenta o dragão malvado é digna de uma diva pop. Mas tirando isso, saí com a sensação de que é muito marketing para pouco enredo.
Na minha humilde opinião (essa pseudocrítica não passa de algo pessoal com a qual você tem todo o direito de não concordar), o que mais me irritou foi a luta do bem contra o mal. Enquanto no livro não há mocinhos e bandidos, no filme há heróis e vilões. No País das Maravilhas original todos são malucos, mas em suas maluquices ironizam o mundo real de forma inteligente. É impossível não rir quando se lê o livro. No País das Maravilhas de Tim Burton, os loucos, com destaque para o Chapeleiro Johnny Deep, são melancólicos párias dignos de pena. E piedade não me parece um sentimento que Lewis Carroll quisesse estimular. Mas daí voltamos ao início: o filme propõe-se a ser uma versão, não uma adaptação.
Só que a adaptação de Burton, volto a repetir, não me convenceu. Mesmo sendo gótico, o diretor é norte-americano demais para a inglesa Alice. Na verdade, acho até que ele se enganou de filme: o que Burton fez foi filmar O Mágico de Oz. Assista ao filme e depois me diga: Alice não está mais pra Dorothy? O Chapeleiro não está a cara de um espantalho? A Rainha Branca não é igualzinha à Bruxa Boa do Leste? A Rainha Vermelha não poderia ser a Bruxa Má do Oeste?
Mas não desanime: minha filha de nove anos gostou…


Alice para crianças. Só para crianças.

Por Tássia Kastner
Na edição de bolso de Alice no País das Maravilhas, publicada pela L&PM, a obra é apresentada como “O mais estranho e fascinante livro para crianças (só para crianças?)”. O sucesso da história através dos séculos, entre adultos e crianças, está em não ter solução para as perguntas. Tim Burton, em sua adaptação para o cinema, tem uma resposta: sim, só para crianças.
Porque a história que nos conta o aclamado diretor é uma narrativa linear, permeada por todos os principais elementos já consolidados no imaginário popular sobre o que é a história da Alice de Lewis Carroll. Uma menina, um coelho branco, um chapeleiro, um gato risonho, rainhas, charadas. Tudo isso está lá, devidamente organizado. Para Tim Burton, Alice tem 19 anos, está prestes a ser pedida em casamento, diz que precisa de um tempo para pensar e sai a perseguir um coelho – aquele coelho que todos conhecemos. O caminho, como também sabemos, a levará ao buraco “porta de entrada” do mundo que teimava em existir em seus sonhos desde os cinco anos – primeira vez que estivera no País das Maravilhas.
A partir daí, muitas cenas de ação, típicas dos clássicos infantis e infanto-juvenis da Disney. O visual, todos sabem, enche os olhos, a linguagem 3D é muito bem explorada e sem excessos. A queda de Alice no buraco é um brilhante jogo de perspectiva e faz o 3D finalmente ser mais do que uma profusão de objetos saltando da tela em direção ao espectador.
Quem pouco aparece é o Senhor Tempo, com exceção da cena do chá, quando à mesa, todos dizem que aguardavam Alice para a batalha que os libertaria daquele dia em que ela estivera lá pela última vez. Alice mal sabe que está atrasada. Responde sem dúvidas à pergunta da lagarta azul: Sou Alice. A charada insolúvel vira quase um bordão repetido ao longo do filme, e ela não ter resposta já não é uma perda de tempo.
Com um roteiro desprovido da fantasia do original de Carroll, restam apenas as perseguições e as atuações cuidadosamente afetadas de Johnny Depp e de Helena Bonham Carter. Já Tim Burton está ali quase que somente pelas peles pálidas e olheiras, sua herança expressionista, como se o excesso de cores do País das Maravilhas tivesse tirado as formas e a estética que consagraram o diretor. As árvores e seus troncos retorcidos são o que de mais próximo há na linguagem tradicional do cineasta (bem parecido com Noiva-Cadáver, animação de 2005).
A beleza do cenário e o uso das cores são o mais interessante das duas horas de filme. Ainda que não seja o melhor de Tim Burton, a estética do diretor ainda faz valer o ingresso do cinema. Já o onírico e fantástico mundo de Alice, esse é melhor buscar nos livros.

Um corpo aos pedaços… mas sem cabeça. E o gênio de Simenon

Por Ivan Pinheiro Machado

Robert e seu irmão estavam intrigados. O motor fazia um barulho diferente e a barcaça curiosamente não saía do lugar. Parecia que a hélice girava no vazio. O diagnóstico era fácil: a embarcação levava um carregamento de pedras e, com o peso, o casco estava próximo ao lodo no fundo do canal. Naquele ponto, no Sena, as pessoas jogavam de tudo no rio e algo havia se enroscado na hélice. Desligaram o motor e cada um dos irmãos pegou um arpão. Depois de várias tentativas, um deles conseguiu firmar o objeto intruso e finalmente Robert o arrancou das engrenagens. Para espanto dos irmãos, na ponta do arpão havia um braço humano. Este é o mote. Mais um problema para o comissário Maigret. Ou melhor, dois problemas. Chamada a polícia, foram retirados do fundo do rio mais uma perna, um tronco, outro braço… e nada da cabeça. Portanto, era preciso descobrir, primeiro, quem viria a ser o morto e, depois, quem o matou.

Inédito no Brasil Maigret e o corpo sem cabeça é, entre todos o “Maigrets”, um dos mais verdadeiros e emblemáticos do célebre comissário.

O gênio de Georges Simenon resplandece nesta história que ultrapassa o gênero policial. É um livro tão profundo que pode até decepcionar os mais ortodoxos amantes do gênero. Pois ele se eleva a um patamar maior, que é a grande literatura e mergulha nas profundezas da condição humana. Desesperança, desamor, solidão, tristeza, fraquezas e incertezas são mazelas próprias do homem e que estão, frequentemente, na origem do mal e do crime.

Nesta história genial o leitor verá, até o ponto final na página 171, que foi guiado pela mão de um mestre que questiona, diverte e, sobretudo, emociona milhões de leitores em todo o mundo.

Site da Bienal do Livro do Ceará revela preferência do público


O site da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará, onde a L&PM esteve presente com seus livros, fez uma pergunta: “Qual a programação mais interessante da Bienal?”. Interessante mesmo foram as respostas: 40,9% disse que era o Espaço Cordel. 13,5%, os lançamentos de livros. 11,9%, respondeu que era a própria Feira. 10,7% responderam que preferiam as palestras e debates. 7,2% votou nos shows. E só 2,6%, escolheram os seminários. A Bienal, que aconteceu em Fortaleza entre os dias 09 e 18 de abril, fechou os trabalhos com Maurício de Sousa que no dia 18, Dia do Livro Infantil, falou sobre os seus 50 anos de carreira.