Arquivo mensais:março 2021

Quadro desconhecido de Van Gogh é leiloado em Paris por 13 milhões de euros

Mesmo quem nunca foi a Paris deve ter ouvido falar em Montmartre, o bairro boêmio (e turístico) de Paris que foi reduto de artistas como Renoir, Picasso e… Van Gogh!

E é justamente o quadro “Cena de rua em Montmartre”, pintado por Van Gogh em 1887, durante sua curta temporada por lá, que acaba de ser leiloada por 13 milhões de euros – algo em torno de 87 milhões de reais. Detalhe: a pintura era praticamente desconhecida até agora, pois ficou mais de um século nas mãos de colecionadores particulares.

O leilão aconteceu no dia 25 de março, virtualmente, na casa Sotheby’s em Paris. Esperava-se que fosse vendido por algo entre 5 e 8 milhões de euros, mas o preço final ficou bem acima disso e tornou-se um recorde na França.

A tela mostra um casal caminhando e duas crianças brincando, tendo ao fundo o “Moulin à poivre”, um emblemático moinho de vento transformado em salão de dança na época.

É a primeira vez que a obra, que permite perceber a virada de Van Gogh para o impressionismo ao reforçar o caráter das cores, é mostrada em público desde que foi adquirida há um século por uma família francesa, cuja identidade permaneceu oculta.

Até recentemente, a pintura só era conhecida por meio de fotografias em preto e branco contidas em catálogos.

“A venda desta magnífica tela em ambiente virtual faz parte destes momentos mágicos que podem ser vividos numa casa de leilões”, afirmaram em comunicado responsáveis pela venda da Sotheby’s, que organizou este leilão de obras impressionistas e modernas.

“É um testemunho sobre (o bairro parisiense) Montmartre no final do século XIX”, ressaltou Aurélie Vandevoorde, comissária de vendas.

“Os parisienses iam lá para passear e divertir-se (…) mas Van Gogh foi mais sensível ao caráter bucólico do lugar do que à representação dos cabarés”, acrescentou.

A última tela do artista holandês em leilão, “Laboureur dans un champ” (1889), arrecadou US$ 81 milhões em 2017, em Nova York.

VAN GOGH CENA DE RUA AMARELADA

VAN GOGH CENA DE RUA ZOOM

A L&PM Editores publica vários livros sobre Van Gogh, veja aqui.

“Amar e depender” na coluna de Maria Paula

Se você é do tempo da MTV Brasil ou lembra do programa Casseta & Planeta, sabe quem é Maria Paula. Atriz e escritora, ela também assina uma coluna semanal no jornal Correio Braziliense, principal periódico do Distrito Federal. Em seu texto do dia 14 de março, Maria Paula escreveu sobre o livro Amar ou depender, de Walter Riso, publicado no Brasil pela L&PM Editores. Vale conferir:

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Livros, livros de mão cheia

Se você adora conhecer novas obras e costuma ir na contramão dos best-sellers, aqui vão cinco sugestões de leituras imperdíveis.

capa_Tuareg_14x21_montada.inddTuareg, de Alberto Vázquez-Figueroa

Um livro denso e ao mesmo tempo tenso. Que flui como grãos de areia esparramados pelo vento no deserto. Seu autor, Alberto Vázquez-Figueroa, constrói uma narrativa que prende do início ao fim e que oferece um final surpreendente. O tuareg Gacel Sayad vivia quieto na sua tenda, peregrinando com sua família pelo Saara, até que dois desconhecidos, vindos sabe-se lá de onde, meio mortos, meio vivos, chegam em seu acampamento. O tuareg os recebe – porque nenhum tuareg nega abrigo – e no dia seguinte, o exército chega, matando um deles e levando o outro. Começa aí, uma incansável saga que vai envolvendo o leitor como os próprios panos que envolvem esses incríveis guerreiros do deserto.

MARCAS DE NASCENCAMarcas de Nascença, de Nancy Houston

Uma obra sensível e atemporal, escrita pela franco canadense Nancy Houston. Dividido em quatro capítulos, o livro conta as histórias de quatro membros da mesma família judia que possuem uma idêntica marca de nascença em diferentes lugares do corpo. Histórias sempre narradas do ponto de vista de uma criança de seis anos e com um estilo diferentes para cada capítulo. Dessa forma, vai se desenrolando um novelo familiar que conta em primeira pessoa a vida do bisneto, pai, avó e bisavó. Tudo começa com Solomon, passando para seu pai Randall, indo para sua avó Sadie e terminando em sua bisavó Kristina. Num período que vai de 2004 até 1945.

90778 Mona2009.cdrRoubaram a Mona Lisa!, de R. A. Scotti

No final da tarde de 20 de agosto de 1911, um domingo, três homens entraram no Museu do Louvre, em Paris. Disfarçados de funcionários, esconderam-se até o cair da noite. Dezesseis horas depois, o quadro mais famoso do mundo, a Mona Lisa, tinha desaparecido. Onde ela estava? Quem a levara? No livro Roubaram a Mona Lisa!, a escritora R.A. Scotti volta no tempo e faz um relato vívido e minucioso deste que foi o maior roubo de arte da História. A autora revisita as origens da obra-prima de Leonardo da Vinci e contrói um romance policial baseado em fatos reais. Vivo, pulsante, fluente, Roubaram a Mona Lisa! é o tipo de livro que não se consegue parar de ler.

AUTOBIOGRAFIA ALICEA autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein

Gertrude Stein foi muito mais do que uma escritora talentosa. De família riquíssima, foi uma mecenas das artes que ajudou a catapultar pintores e escritores nas primeiras décadas do século XX. Nasceu nos EUA, mas foi em Paris que morou e recebeu seus amigos artistas junto com Alice B. Toklas, sua companheira. Nesta que é sua mais famosa obra, Stein conta a sua história  pela boca de Alice; no tempo em que Paris era uma festa e Picasso, Matisse, Cézanne e toda a arte moderna pintavam, amavam, se divertiam, sofriam e passavam fome na capital de todas as revoluções. Gertrude inventou a célebre expressão “Geração Perdida” para os jovens autores americanos que ela havia descoberto pelas ruas de Paris; Ernest Hemingway e Francis Scott Fitizgerald. Uma história fascinante e verdadeira que merece ser lida.

a_fabulosa_historia_do_hospitalA fabulosa história do hospital, de Jean-Noël Fabiani

Neste delicioso livro, Jean-Noël Fabiani – renomado cirur­gião francês e um dos maiores especialistas em história da medicina – descortina um dos mais incríveis legados da humanidade: a evolução dos hospitais e da medicina, num relato repleto de humor e erudição. Veremos que as primei­ras cirurgias eram realizadas por barbeiros!; como se deu a invenção do estetoscópio; a importância da decisão da rai­nha Vitória de dar à luz sem dor sob efeito do clorofórmio e, segundo alguns, contrariando a Bíblia; o nascimento da medicina humanitária com a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras; o fortuito papel do acaso na invenção do Viagra, e muito mais. Todo o gênio e toda a ingenuidade humana são aqui pos­tos a nu, na incansável busca pelo viver mais e melhor.

 

 

Mulherão

Martha Medeiros*

Peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1 metro e 80, siliconada, sorriso colgate. Mulherões, dentro deste conceito, não existem muitas. Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina.

Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa  e uma família morta de fome. Mulherão é aquela que vai de madrugada pra fila garantir matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco pra buscar uma pensão de 200 reais. Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento. Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista. Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos pra natação, busca os filhos na natação, leva os filhos pra cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz. Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.

Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à  tarde trabalha atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expediente de 8 horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio pra azia.

Longa vida às mulheres lindas de morrer, mas mulherão é quem mata um leão por dia.

* Martha Medeiros é escritora best-seller e mulherão. O texto acima está no livro Trem-bala.

Denise Bottmann e sua tradução de “A fazenda dos animais”, de George Orwell

Denise Bottmann é uma respeitada e premiada tradutora que há muitos anos trabalha com a L&PM Editores. Pedimos que ela escrevesse um texto contando sobre sua tradução de A fazenda dos animais, de George Orwell que, por um longo período, foi editado no Brasil com o título de A revolução dos bichos. Por mais que alguns leitores tenham se apegado a esse título, Denise explica sua opção de seguir o original que é publicado na L&PM nos formatos convencional e pocket.

A fazenda dos animais 

Por Denise Bottmann

Creio que uma das áreas a que melhor se aplica o sapientíssimo dito “Ninguém é dono da verdade” é, provavelmente, a tradução. E a infindável variedade de seus frutos é o que faz da tradução algo tão interessante e fascinante.

Assim é que Animal Farm, a fábula escrita por George Orwell nos idos dos anos 40, pode ser lida em Portugal e no Brasil sob diferentes títulos: A quinta dos animais, O porco triunfante, O triunfo dos porcos, A revolução dos bichos e, last but not least, A fazenda dos animais.

De meu ponto de vista, um elemento útil para me nortear no oceano relativista em que nós tradutorxs podemos navegar – e talvez, ou não, nos afogar – é o original. Não ouço mentalmente nenhuma voz clamando para que me afaste de um claro e singelo Animal Farm: A fazenda dos animais, sem maiores problemas nem grandes dúvidas. Aí alguém pode objetar: “fazenda”? Melhor “sítio” ou “granja” ou “herdade”… Tenho lá minhas razões para preferir “fazenda” – mas que seja, não vou ficar brigando por causa disso.

Até aí, é simples. Mas, atendo-nos ao título mais usado no Brasil – A revolução dos bichos –, fico um pouco confusa, em primeiro lugar, com “bichos”. Que bichos, gente? Pois, quanto a isso, a grande questão é que Orwell estabelece muito cuidadosamente, muito meticulosamente, muito sistematicamente, uma divisão do reino animal dentro da obra. E a estabelece adotando uma terminologia muito específica e constante ao longo de toda a sua fábula.

Vejamos, pois. Por animals ele designa única e exclusivamente o que chamamos de animais domésticos, de trabalho, criação e reprodução: vacas, cavalos, cabras, ovelhas, porcos, galinhas, gansos, pombos. Aram as terras, puxam carroças, pisam o trigo, fornecem ovos, servem de reprodutores e assim por diante. Note-se – e isso é bonitinho – que também há entre eles uma gata: ela vive fugindo ao trabalho, mas os outros animais não se zangam com sua mandriice porque, quando aparece depois das jornadas de trabalho, é sempre muito meiga, carinhosa e afetiva. Ou seja, entre os animais domésticos inclui-se também o que chamaríamos de animal de estimação (não de trabalho, criação etc.). Além da gata, há os cachorros, também incluídos entre eles na função de cães de guarda, de pastoreio e mesmo de caça. Esses são os animals orwellianos.

E os outros? Os ratos, os coelhos do mato, os pardais? Orwell nunca, nunca os trata como animals: são wild creatures, não domésticos e sim silvestres. Aliás, é muito interessante que, depois de expulsos os homens e instaurado o novo regime – animal – na fazenda, um dos líderes, o porco Bola de Neve, cria “o Comitê de Reeducação dos Camaradas Silvestres (o objetivo desse comitê era domesticar os ratos e os coelhos)”, para integrar as wild creatures à sociedade animal – que não tenha dado muito certo, são outros quinhentos.

E, por fim, temos beasts: aqui, sim, eu diria “bichos”. Com o termo beasts, Orwell abarca a totalidade dos seres animais, domésticos e silvestres. Daí a importância da canção Beasts of England, que se torna por algum tempo o hino da nova sociedade animal: todos os seres animais, os domésticos e os silvestres, nele se congregam. Aliás, logo no começo, quando o Maioral começava a organizar os animais da fazenda, havia até algumas dúvidas se os bichos do mato, as criaturas silvestres, seriam considerados “camaradas” dos animais domésticos. “Os bichos do mato, como os ratos e os coelhos, são amigos ou inimigos nossos? Vamos pôr em votação. Faço a seguinte pergunta à assembleia: os ratos são camaradas?”. Sim, foram considerados camaradas quase por unanimidade (e vale notar que apenas os cachorros votaram contra: afinal gostavam de perseguir os ratos e acompanhavam os homens na caça às lebres).

Bem, a questão central é que animals, wild creatures e beasts designam coisas diferentes, de abrangência e interrelações bem específicas. Posso em sã consciência tratar indiscriminadamente os termos? Falar em “bichos” para me referir especificamente aos animals? Ou, inversamente, falar em “animais” para me referir especificamente às wild creatures? A meu ver, creio que não. Se Orwell fez assim, tinha lá suas razões para isso – as quais, aliás, ficam muito claras durante a leitura do texto. Assim, não entendo como eu poderia falar em Fazenda dos bichos ou, ainda menos, em Revolução dos bichos. Repisando, não foram as beasts que se rebelaram, foram apenas os animals.

E os animais não fazem uma revolução: os animais se rebelam, se levantam numa rebelião. Não têm qualquer programa revolucionário, a não ser aspirações de tipo cooperativista e autogestionário de longo prazo. Mobilizam-se por insatisfação, rebelam-se contra a opressão: que essa rebelião coletiva depois resulte numa nova situação, cujo comando virá a se concentrar progressivamente num número cada vez mais restrito de animais, são outros quinhentos. Dá-se a rebelião, mas não se implanta concretamente qualquer tipo de coisa que se assemelhe às aspirações que acompanhavam a rebelião: e é esse é o drama da coisa.

A propósito, é o papel fundamental dessa mobilização pessoal contra a opressão que Orwell deixa tão claro em relação a si mesmo, no famoso prefácio à edição ucraniana: “Tornei-me pró-socialista mais por horror à opressão e ao descaso a que estava submetida a parcela mais pobre dos operários industriais do que por qualquer admiração teórica por uma sociedade planejada”. É esse elemento subjetivo, a profunda insatisfação com o status quo, amparado em outro elemento subjetivo, o sonho com um mundo melhor, que leva os animais da Fazenda do Solar a se erguerem contra a situação, e não uma adesão a um projeto revolucionário pré-elaborado. Não à toa, em momento algum encontramos o termo revolution em Animal Farm; é sempre, única e exclusivamente, rebellion. A única vez em que encontramos algo similar a revolution é um derivado: o adjetivo revolutionary, tratado como algo descabido, quando o porco Napoleão se reúne com um grupo de fazendeiros humanos e declara, em discurso indireto citado: “Por muito tempo circularam rumores – divulgados … por algum inimigo malévolo – de que havia algo de subversivo e até de revolucionário na posição dele e dos seus colegas. … Nada podia estar mais distante da verdade!”.

Em suma, em tradução pode-se fazer praticamente qualquer coisa. O que nos dá bússola, guia, norte, é o texto original. Nada, porém, obriga que o tomemos como bússola, guia ou norte. Vai de cada um. De minha parte, prefiro me ancorar no autor. E viva A fazenda dos animais!

"A fazenda dos animais" é publicado na L&PM Editores em formatos convencional e pocket com tradução de Denise Bottmann

“A fazenda dos animais” é publicado na L&PM Editores em formatos convencional e pocket com tradução de Denise Bottmann