Arquivo da tag: Tuareg

Livros, livros de mão cheia

Se você adora conhecer novas obras e costuma ir na contramão dos best-sellers, aqui vão cinco sugestões de leituras imperdíveis.

capa_Tuareg_14x21_montada.inddTuareg, de Alberto Vázquez-Figueroa

Um livro denso e ao mesmo tempo tenso. Que flui como grãos de areia esparramados pelo vento no deserto. Seu autor, Alberto Vázquez-Figueroa, constrói uma narrativa que prende do início ao fim e que oferece um final surpreendente. O tuareg Gacel Sayad vivia quieto na sua tenda, peregrinando com sua família pelo Saara, até que dois desconhecidos, vindos sabe-se lá de onde, meio mortos, meio vivos, chegam em seu acampamento. O tuareg os recebe – porque nenhum tuareg nega abrigo – e no dia seguinte, o exército chega, matando um deles e levando o outro. Começa aí, uma incansável saga que vai envolvendo o leitor como os próprios panos que envolvem esses incríveis guerreiros do deserto.

MARCAS DE NASCENCAMarcas de Nascença, de Nancy Houston

Uma obra sensível e atemporal, escrita pela franco canadense Nancy Houston. Dividido em quatro capítulos, o livro conta as histórias de quatro membros da mesma família judia que possuem uma idêntica marca de nascença em diferentes lugares do corpo. Histórias sempre narradas do ponto de vista de uma criança de seis anos e com um estilo diferentes para cada capítulo. Dessa forma, vai se desenrolando um novelo familiar que conta em primeira pessoa a vida do bisneto, pai, avó e bisavó. Tudo começa com Solomon, passando para seu pai Randall, indo para sua avó Sadie e terminando em sua bisavó Kristina. Num período que vai de 2004 até 1945.

90778 Mona2009.cdrRoubaram a Mona Lisa!, de R. A. Scotti

No final da tarde de 20 de agosto de 1911, um domingo, três homens entraram no Museu do Louvre, em Paris. Disfarçados de funcionários, esconderam-se até o cair da noite. Dezesseis horas depois, o quadro mais famoso do mundo, a Mona Lisa, tinha desaparecido. Onde ela estava? Quem a levara? No livro Roubaram a Mona Lisa!, a escritora R.A. Scotti volta no tempo e faz um relato vívido e minucioso deste que foi o maior roubo de arte da História. A autora revisita as origens da obra-prima de Leonardo da Vinci e contrói um romance policial baseado em fatos reais. Vivo, pulsante, fluente, Roubaram a Mona Lisa! é o tipo de livro que não se consegue parar de ler.

AUTOBIOGRAFIA ALICEA autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein

Gertrude Stein foi muito mais do que uma escritora talentosa. De família riquíssima, foi uma mecenas das artes que ajudou a catapultar pintores e escritores nas primeiras décadas do século XX. Nasceu nos EUA, mas foi em Paris que morou e recebeu seus amigos artistas junto com Alice B. Toklas, sua companheira. Nesta que é sua mais famosa obra, Stein conta a sua história  pela boca de Alice; no tempo em que Paris era uma festa e Picasso, Matisse, Cézanne e toda a arte moderna pintavam, amavam, se divertiam, sofriam e passavam fome na capital de todas as revoluções. Gertrude inventou a célebre expressão “Geração Perdida” para os jovens autores americanos que ela havia descoberto pelas ruas de Paris; Ernest Hemingway e Francis Scott Fitizgerald. Uma história fascinante e verdadeira que merece ser lida.

a_fabulosa_historia_do_hospitalA fabulosa história do hospital, de Jean-Noël Fabiani

Neste delicioso livro, Jean-Noël Fabiani – renomado cirur­gião francês e um dos maiores especialistas em história da medicina – descortina um dos mais incríveis legados da humanidade: a evolução dos hospitais e da medicina, num relato repleto de humor e erudição. Veremos que as primei­ras cirurgias eram realizadas por barbeiros!; como se deu a invenção do estetoscópio; a importância da decisão da rai­nha Vitória de dar à luz sem dor sob efeito do clorofórmio e, segundo alguns, contrariando a Bíblia; o nascimento da medicina humanitária com a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras; o fortuito papel do acaso na invenção do Viagra, e muito mais. Todo o gênio e toda a ingenuidade humana são aqui pos­tos a nu, na incansável busca pelo viver mais e melhor.

 

 

Os amantes de Tuareg

Não faz muito tempo que escrevi um texto dizendo que o livro Tuareg é um romance imperdível. E parece que não sou só eu que penso assim. Uma matéria publicada no Jornal O Estado de Minas, de Belo Horizonte, em 23 de setembro passado, revelou que há um livreiro especializado em indicar este livro aos seus clientes. A história é ótima e vale ler! (Paula Taitelbaum)

Tradicional livreiro do Centro de BH fez de “Tuareg” um best-seller entre a sua vasta clientela

Eduardo Tristão Girão – EM Cultura

É fato. Se você não leu Tuareg por indicação do livreiro Johan Van Damme, conhece alguém (ou alguém que conhece alguém) que o tenha feito dessa forma. Proprietário da loja que leva seu sobrenome, no Centro de Belo Horizonte, ele ganhou fama por frequentemente sugerir aos fregueses o clássico do escritor espanhol Alberto Vázquez-Figueroa. Essa obra ocupa a primeira posição na estante batizada de “Sugestões do Sr. Van Damme”, que soma 90 títulos, à entrada da livraria.

Van Damme calcula ter vendido o livro do espanhol “a pelo menos nove mil pessoas” desde 1980, quando foi lançado no Brasil. O protagonista do romance é o tuareg Gacel Sayah, pertencente à população de costumes muito antigos e estilo de vida nômade que vive no deserto do Saara, no Norte da África. Habilidoso, o personagem domina o território e faz parte do grupo conhecido como Povo do Véu, cujo integrante jamais deixa um estranho conhecer-lhe o rosto. Só os olhos estão à vista.

A ação começa quando Sayah dá abrigo a dois fugitivos, seguindo seu próprio código de hospitalidade, sem se dar conta de quem são eles. O encontro o leva a uma aventura de desdobramentos impensáveis, envolvendo honra, costumes, estratégia, coragem e morte.

Van Damme conheceu Tuareg numa das remessas de editoras que chegam à sua livraria a todo momento, somando centenas de títulos novos por mês. “Na página 20, já estava incendiado e não consegui mais parar”, relembra o livreiro. Ele já leu o romance 14 vezes – inclusive a versão original, em espanhol. “Não perde a graça, pois é como um filme de cujo tema ou história a gente gosta”, garante. “A versão em português é excelente e não deixa nada a dever à espanhola”, completa.

O livreiro leu toda a obra de Vázquez-Figueroa. Ainda assim, Tuareg permanece no topo de suas preferências. “Esse romance toca muito. Mostra de onde tirar energia quando a gente acha não tê-la mais e como manter a tenacidade para alcançar os objetivos. É como naquela frase famosa: o covarde nunca começa, o fracassado nunca termina e o vencedor nunca desiste”, avalia.

Van Damme tem certeza de que ajuda a manter o romance espanhol popular, por meio de suas incansáveis indicações. A cada 20 meses, ele encomenda nova tiragem à editora gaúcha L&PM, cada uma com 2 mil exemplares. Tuareg está em sua 12ª edição brasileira e custa R$ 49,90 (R$ 22,00 em versão pocket).

Johan Van Damme

“Tuareg”: não dá pra não ler

Por Paula Taitelbaum*

Tuareg” é um livro denso e ao mesmo tempo tenso. Que flui como grãos de areia esparramados pelo vento no deserto. E prende como um oásis. Nunca tinha ouvido falar nele. Vergonhosamente, nem ao menos conhecia seu autor, Alberto Vázquez-Figueroa. Até que no final do ano passado, em uma reunião aqui dentro da L&PM, o Paulo Lima (o “L” da L&PM) comentou: “Quem não leu Tuareg, tem que ler, é um livro incrível e o final é espetacular.” Foi algo assim que ele disse. E eu confesso que não levei muita fé. Mas quando fui escolher um livro para levar na mala, no feriado do Ano Novo, lembrei do que o Lima tinha dito e peguei “Tuareg”. Daí que num dia de chuva no Rio de Janeiro, li a primeira frase. E você já deve estar desconfiado do que aconteceu: eu não parei mais. “Tuareg” conta a história de um… tuareg. Esses guerreiros do deserto que seguem um código de conduta muito próprio e muito definido.

O tuareg Gacel Sayad vivia quieto na sua tenda, peregrinando com sua família e seus escravos pelo Saara, lugar que ele conhecia como a palma da mão. Aliás, mais do que a palma da mão. Até que dois desconhecidos, vindos sabe-se lá de onde, meio mortos, meio vivos, chegaram em seu acampamento. O tuareg os recebeu – porque nenhum tuareg nega abrigo – e no dia seguinte, o exército veio, matando um deles e levando o outro. Começa aí, uma incansável saga que vai envolvendo o leitor como os próprios panos que envolvem esses incríveis guerreiros do deserto. E o final, bem, o final… é realmente brilhante. Já indiquei pra vários amigos. Só faltava indicar aqui no blog.

Por sua vez, Gacel permaneceu muito quieto, observando o comboio que se afastava, até que o pó e o ruído se perderam por completo na distância. Logo, devagar, ele se encaminhou à jaima onde já se amontoavam seus filhos, a esposa e os escravos. Não precisou entrar para saber o que encontraria. O homem jovem aparecia no mesmo lugar em que o deixara, após sua última conversa, com os olhos fechados, agarrado ao sono pela morte. Unicamente um pequeno círculo vermelho na testa fazia-o parecer diferente. Observou-o com pena e raiva durante um longo instante e, em seguida, chamou Suílem.

– Enterre-o – pediu. – E prepare meu camelo.

Pela primeira vez na vida Suílem não cumpriu a ordem do amo, e uma hora depois entrou na tenda e se atirou aos seus pés, tentando beijar-lhe as sandálias.

– Não faça isso! – suplicou. – Nada conseguirá.

Gacel afastou o pé com desagrado.

– Acredita que devo consentir com semelhante ofensa? – perguntou Gacel com voz rouca. – Acredita que continuaria vivendo em paz comigo mesmo, depois de haver permitido que assassinassem um dos meus hóspedes e levassem o outro?

 

* Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.