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Livros, livros de mão cheia

Se você adora conhecer novas obras e costuma ir na contramão dos best-sellers, aqui vão cinco sugestões de leituras imperdíveis.

capa_Tuareg_14x21_montada.inddTuareg, de Alberto Vázquez-Figueroa

Um livro denso e ao mesmo tempo tenso. Que flui como grãos de areia esparramados pelo vento no deserto. Seu autor, Alberto Vázquez-Figueroa, constrói uma narrativa que prende do início ao fim e que oferece um final surpreendente. O tuareg Gacel Sayad vivia quieto na sua tenda, peregrinando com sua família pelo Saara, até que dois desconhecidos, vindos sabe-se lá de onde, meio mortos, meio vivos, chegam em seu acampamento. O tuareg os recebe – porque nenhum tuareg nega abrigo – e no dia seguinte, o exército chega, matando um deles e levando o outro. Começa aí, uma incansável saga que vai envolvendo o leitor como os próprios panos que envolvem esses incríveis guerreiros do deserto.

MARCAS DE NASCENCAMarcas de Nascença, de Nancy Houston

Uma obra sensível e atemporal, escrita pela franco canadense Nancy Houston. Dividido em quatro capítulos, o livro conta as histórias de quatro membros da mesma família judia que possuem uma idêntica marca de nascença em diferentes lugares do corpo. Histórias sempre narradas do ponto de vista de uma criança de seis anos e com um estilo diferentes para cada capítulo. Dessa forma, vai se desenrolando um novelo familiar que conta em primeira pessoa a vida do bisneto, pai, avó e bisavó. Tudo começa com Solomon, passando para seu pai Randall, indo para sua avó Sadie e terminando em sua bisavó Kristina. Num período que vai de 2004 até 1945.

90778 Mona2009.cdrRoubaram a Mona Lisa!, de R. A. Scotti

No final da tarde de 20 de agosto de 1911, um domingo, três homens entraram no Museu do Louvre, em Paris. Disfarçados de funcionários, esconderam-se até o cair da noite. Dezesseis horas depois, o quadro mais famoso do mundo, a Mona Lisa, tinha desaparecido. Onde ela estava? Quem a levara? No livro Roubaram a Mona Lisa!, a escritora R.A. Scotti volta no tempo e faz um relato vívido e minucioso deste que foi o maior roubo de arte da História. A autora revisita as origens da obra-prima de Leonardo da Vinci e contrói um romance policial baseado em fatos reais. Vivo, pulsante, fluente, Roubaram a Mona Lisa! é o tipo de livro que não se consegue parar de ler.

AUTOBIOGRAFIA ALICEA autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein

Gertrude Stein foi muito mais do que uma escritora talentosa. De família riquíssima, foi uma mecenas das artes que ajudou a catapultar pintores e escritores nas primeiras décadas do século XX. Nasceu nos EUA, mas foi em Paris que morou e recebeu seus amigos artistas junto com Alice B. Toklas, sua companheira. Nesta que é sua mais famosa obra, Stein conta a sua história  pela boca de Alice; no tempo em que Paris era uma festa e Picasso, Matisse, Cézanne e toda a arte moderna pintavam, amavam, se divertiam, sofriam e passavam fome na capital de todas as revoluções. Gertrude inventou a célebre expressão “Geração Perdida” para os jovens autores americanos que ela havia descoberto pelas ruas de Paris; Ernest Hemingway e Francis Scott Fitizgerald. Uma história fascinante e verdadeira que merece ser lida.

a_fabulosa_historia_do_hospitalA fabulosa história do hospital, de Jean-Noël Fabiani

Neste delicioso livro, Jean-Noël Fabiani – renomado cirur­gião francês e um dos maiores especialistas em história da medicina – descortina um dos mais incríveis legados da humanidade: a evolução dos hospitais e da medicina, num relato repleto de humor e erudição. Veremos que as primei­ras cirurgias eram realizadas por barbeiros!; como se deu a invenção do estetoscópio; a importância da decisão da rai­nha Vitória de dar à luz sem dor sob efeito do clorofórmio e, segundo alguns, contrariando a Bíblia; o nascimento da medicina humanitária com a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras; o fortuito papel do acaso na invenção do Viagra, e muito mais. Todo o gênio e toda a ingenuidade humana são aqui pos­tos a nu, na incansável busca pelo viver mais e melhor.

 

 

Os escritores e seus amores

Neste Dia dos Namorados, compartilhamos algumas fotos de escritores e seus amores. E que elas inspirem todos os apaixonados. Hoje e sempre.

Bukowski e Linda

Bukowski e Linda

Peter Orlowski e Allen Ginsberg

Peter Orlowski e Allen Ginsberg

Neal Cassady e Carolyn

Neal Cassady e Carolyn

Gertrude Stein e Alice Toklas

Gertrude Stein e Alice Toklas

Pablo Neruda e Matilde

Pablo Neruda e Matilde

Oscar Wilde e Lorde Alfred Douglas

Oscar Wilde e Lorde Alfred Douglas

Sartre e Simone

Sartre e Simone

Virginia Woolf e Vita

Virginia Woolf e Vita

E o Oscar foi para… Woody Allen

Como era esperado, Woody Allen ganhou, mas não compareceu à cerimônia de entrega do Oscar. Se tivesse ido, poderia ter abraçado Angelina Jolie na hora de receber mais uma estatueta de melhor roteiro original. Mas ter uma das mais belas atrizes do mundo nos braços não foi motivo suficiente para ele quebrar a tradição. Allen nunca foi receber os prêmios que ganhou da “Academia” e só pisou no palco do Oscar uma única vez, em 2002, pós 11 de setembro, para prestar uma homenagem à sua amada Nova York.

Em 1978, seu filme Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) levou quatro Oscar (melhor filme, roteiro e direção para Allen e melhor atriz para Diane Keaton). E Hannah e suas irmãs recebeu três estatuetas em 1987 (melhor roteiro novamente para Allen, melhor ator coadjuvante para Michael Caine e melhor atriz coadjuvante para Dianne Wiest).

Este ano, a irmã de Woody Allen, a produtora de Meia noite em Paris, Letty Aronson, já tinha avisado que ele não abriria nenhuma exceção e não compareceria a entrega do Oscar 2012, mesmo sabendo que seu roteiro era o favorito na disputa. “Os prêmios não o agradam nada, portanto ele não virá. Como a Academia não permite receber o Oscar em nome de outra pessoa, eu não vou subir ao palco para recebê-lo. Suponho que aquele que apresentar o prêmio dirá que Woody Allen não está presente.” disse Letty.  No fim, quem acabou agradecendo por ele foi a própria Angelina Jolie.

Meia noite em Paris é considerado o maior sucesso comercial da carreira de Allen. Um filme que foi inspirado nas memórias de Getrude Stein e que estão no livro A autobiografia de Alice B. Toklas.

Woody Allen ganhou o Oscar. Mas vejam quem ele perdeu...

A L&PM publica quatro livros de Woody Allen na Coleção L&PM Pocket e na L&PM WebTV você pode assistir a uma entrevista sua legendada.

Gertrude Stein, a amiga de Picasso

Gertrude Stein, por Pablo Picasso

Em 3 de fevereiro de 1874, nascia Gertrude Stein, uma das figuras mais importantes da história da arte moderna no mundo. Nascida em Pittsburgh, nos Estados Unidos, ela foi morar em Paris com seus irmãos Léo e Michael. A casa da família Stein na Rua de Fleurus nº27 vivia cheia de artistas e escritores, entre eles Pablo Picasso, Ernest Hemingway, o casal Zelda e F. Scott Fitzgerald, Henri Matisse, Paul Gauguin e outros grandes nomes que devem muito ao apoio financeiro e intelectual dos irmãos Stein.

As paredes da mansão eram “decoradas” com cerca de 600 quadros de alguns dos artistas que frequentavam a casa, entre eles um retrato de Gertrude Stein (reproduzido acima) feito por Picasso. Para retribuir a homenagem do amigo, ela fez o poema “If I told him”, que você pode ouvir na voz da própria autora no vídeo abaixo.

Para saber mais sobre a vida de Gertrude Stein e dos visitantes que frequentavam sua casa em Paris, vale ler A autobiografia de Alice B. Toklas da Coleção L&PM Pocket.

Os estrangeiros que sustentaram a revolução da arte moderna

No começo do século, todos queriam morar em Paris. Pintores miseráveis, escultores famintos, escritores em busca de espaço para suas inovações, bailarinos, dramaturgos, músicos, enfim, todos que tinham algo para dizer olhavam para Paris como a Meca das artes e do modernismo.

No que diz respeito à pintura, as grandes revoluções do final do século XIX e começo do século XX ocorreram exatamente em Paris. Foi lá que os impressionistas deram um golpe duro na arte acadêmica, assim como foi lá que surgiram o Cubismo, o Fauvismo, o Dadaísmo, o Surrealismo e outros “ismos” que mudariam a cara da arte.

Neste blog nós já falamos da espetacular mega-exposição da coleção dos Stein (Gertrude, Léo, Michael e Sarah) que conseguiram reunir no começo do século XX cerca de 600 obras de arte moderna. Com a absoluta indiferença dos franceses, especialmente dos parisienses, diante da revolução que era gestada na cidade, os estrangeiros assumiram o papel de comprar e difundir esta nova arte. Os quatro Stein conseguiram convencer suas compatriotas, as irmãs Claribel e Etta Cone de Baltimore, Maryland, a ir às compras no Salão de Outono e nas galerias dos históricos marchands Amboise Vollard e Daniel-Henry Kahnweiler. Com isso, elas acumularam 42 telas, 18 esculturas, 200 desenhos e gravuras de Matisse e também 114 telas e desenhos de Picasso.

A casa de Michael e Sarah Stein na Rue Madame, Paris, em 1907. Matisse está sentado no meio.

Na Rússia, destaque para Ivan Morosov, industrial do ramo têxtil e Serguei Chtchoukine (Sergej Sjtsjoekin), plantador de cereais. Ambos montaram fantásticas coleções de arte moderna entre os anos de 1890 e 1914. Juntos possuíam o maior conjunto conhecido de obras de Cézanne e Gauguin. As encomendas de Chtchoukine à Matisse, para decorar seu palacete em Moscou e dezenas de Picassos das fases azul e rosa fizeram a alegria dos museus soviéticos (e hoje dos museus russos) depois da revolução comunista de 1917.

Uma das salas da casa de Sergei Chtchoukine, outubro de 1911 (clique para ampliar)

Da Alemanha veio Karl Ernst, um dos poucos colecionadores que conseguiram se aproximar e frequentar o atelier de Cézanne. Ernst dividia sua paixão artística entre Cézanne e Matisse. Seu legado está reunido no museu de Essen na Alemanha. Uma grande coleção de pós-impressionistas e impressionistas foi reunida também pelo dinamarquês Christian Tetzen-Lund.

Todos estes estrangeiros tinham em comum a compreensão de que uma nova arte estava surgindo e o dinheiro para adquiri-la. Não que não houvesse grandes fortunas na França. Mas os ricos da época preferiam investir em móveis antigos, castelos, terras e quadros do século XVIII.

Por tudo isto é importante celebrar a coragem aventureira dos Stein, e nada mais justo do que esta grande homenagem que se presta em Paris, no Grand Palais, até o dia 15 de janeiro de 2012. Com o desinteresse dos franceses, foram os Stein e os outros estrangeiros que viabilizaram o mercado que sustentou estes jovens e miseráveis pintores. Sabe-se lá se, caso não houvesse russos, americanos, dinamarqueses e alemães estes pintores geniais não teriam mudado de ramo para sobreviver… (Ivan Pinheiro Machado)

A coleção Stein: o maior acontecimento cultural do ano em Paris

Por Ivan Pinheiro Machado*

“Matisse, Cézanne, Picasso: l’aventure des Stein” – Grand Palais, Paris 8º. De sextas às segundas das 9h às 22h; de terças às quintas das 10h às 22h. Entrada: 12 euros. De 5 de outubro à 15 de janeiro

“Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa…” (“a rose is a rose is a rose is a rose”), poema escrito em 1914, tornou célebre a escritora Gertrude Stein (1874-1946). Esta genuína vocação para a vanguarda ela provaria uma década antes. Seu endereço parisiense, na rua Fleuris, 27, onde morava com seu irmão Leo e sua companheira da vida inteira, Alice B. Toklas, mais o grande apartamento  de seu irmão Michael e sua mulher Sarah, também em Paris, na rue Madame, 8, abrigaram nos primeiros 20 anos do século XX a maior coleção privada de arte moderna jamais reunida.

Em torno dos anos 1900 os franceses detestavam a arte moderna. O máximo que toleravam em matéria de modernismo eram os impressionistas, e apenas alguns, justamente os mais conservadores. Cubismos estranhos e sombrios de Picasso e cores feéricas e selvagens de Matisse eram motivos de risos e escândalo. Já os americanos e os russos entenderam que ali tinha alguma coisa. E foi graças a eles que Picasso, Matisse, Juan Gris, Cézanne, Marie Laurencin, Renoir, entre muitos outros conseguiram muitos pratos de comida.

Retrato de Gertrude Stein

Em 1903, Leo Stein comprou seu primeiro Cézanne. Um ano depois, Gertrude começaria a comprar Picassos (compraria 180 no total), enquanto seu outro irmão Michael e sua mulher Sarah comprariam praticamente toda a produção da época de Matisse (em torno de 200). Ao todo, entre desenhos, pinturas e esculturas, teriam sido cerca de 600 obras de arte acumuladas pela família Stein em 15 anos de compras. A coleção só não foi mais além, porque em poucos anos os quadros custariam 1000 vezes mais do que os Stein pagaram, inviabilizando a continuação da coleção. Foi então que eles começaram a vendê-la lentamente.

Sarah e Michel Stein retratados por Matisse

Os recursos que mantinham os irmãos Stein numa vida tão confortável em Paris vinham da venda da Omnibus Railway and Cable Company de San Francisco, empresa da família, e de muitos imóveis alugados na Califórnia. Um dos quadros emblemáticos da arte moderna e – junto com “Demoiselles d’Avignon” – precursor do Cubismo é, não por acaso, “Retrato de Gertrude Stein”, uma homenagem de Pablo Picasso que acabou colocando-a como uma das protagonistas (mesmo sem ser pintora) da grande revolução da arte moderna.

Nos anos 20, na euforia pós-guerra, depois de vender boa parte de sua coleção, Gertrude Stein voltaria a cena, treinando seus dotes de visionária. Desta vez, na literatura. Ainda em Paris, descobriria dois jovens escritores americanos: Ernest Hemingway e Francis Scott Fitzgerald.

Pois toda esta história está exposta agora em Paris nas paredes das Galeries nationales du Grand Palais, um fantástico palácio situado entre a avenida Champs Elisées e o Sena. A megaexposição foi inaugurada em 5 de outubro e deverá prosseguir até 15 de janeiro de 2012. É uma viagem fascinante que reúne o melhor da coleção Stein em cerca de 350 obras.

Uma exposição realizada nos melhores moldes das grandes exibições francesas: tudo muito bem explicado, perfeitamente iluminado, muito bem exposto e com a utilização de todos os recursos áudio-visuais disponíveis. Um trabalho impressionante da equipe do Grand Palais. Principalmente se levarmos em conta que a coleção deixou de existir dentro da família Stein nos anos 50 do século passado e que – pior ainda – desde os anos 20 foi sendo paulatinamente vendida. Foram anos de trabalho tentando localizar quadro por quadro nos lugares mais remotos do planeta. Mas o resultado é extraordinário e faz  de Matisse, Cézanne, Picasso: l’aventure dês Stein o maior acontecimento cultural do ano em Paris. E isso não é pouca coisa.

As imensas filas acabaram sendo turbinadas por uma incrível coincidência. Não bastasse a grande importância do conjunto exposto nas paredes do Grand Palais, a exibição passou a ter um poderoso reforço de marketing: o megasucesso cinematográfico de 2011, “Meia noite em Paris”, de Woody Allen, tem como centro de suas ações Gertrude Stein, sua casa e sua turma.

*Ivan Pinheiro Machado é editor e visitou a exposição em Paris quando estava a caminho da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha. A L&PM publica A autobiografia de Alice B. Toklas na Coleção L&PM Pocket.

Picasso, Matisse e Cézanne juntos em Paris

No início do século 20, anos antes de estourar a 2ª Guerra Mundial na Europa, circulavam por Paris os artistas da chamada “geração perdida”. Em meio a festas e noitadas em bares, eles produziram romances, quadros e esculturas que seriam reconhecidas mais tarde como verdadeiras obras-primas da história da arte e da literatura mundial.

Uma das festas mais badaladas e “bem frequentadas” da época acontecia na casa da família Stein, que tinha se mudado de São Francisco, nos Estados Unidos, para a capital francesa. O famoso sobrado da Rue de Fleurus ocupado por Gertrude Stein e seus irmãos tinha as paredes “forradas” com mais de 200 quadros de alguns dos maiores gênios da pintura mundial como Picasso, Matisse, CézanneGauguin e Toulouse-Lautrec – só para citar alguns que frequentavam o local e deixavam por lá suas marcas.

É a própria Gertrude Stein quem conta as histórias desta época no livro Autobiografia de Alice B. Toklas (Coleção L&PM Pocket), que certamente serviu de inspiração para Woody Allen no filme Meia-noite em Paris. Aliás, quem assistiu ao filme, sabe bem do que estamos falando! E a boa notícia é que a partir de hoje (5/10), as obras do acervo de Gertrude Stein farão parte de uma exposição na galeria Grand Palais, em Paris.

Visitantes observam pinturas de Picasso e Cezanne, durante pré-estreia de exposição da coleção dos Stein

Quem estiver pela Cidade Luz não pode deixar de conferir! A exposição começa hoje e vai até o dia 16 de janeiro de 2012.

O melhor amigo dos escritores

Graziela dormia numa cesta de vime, que ficava ao lado de uma cadeira. Certo dia, na ausência dos donos, ela aproveitou um descuido da empregada e fugiu pelo portão aberto. Ao serem informados do acontecido por telegrama, Machado de Assis e sua esposa Carolina ficaram inconsoláveis e, imediatamente, mandaram publicar na Gazeta de Notícias e no Jornal do Commercio um anúncio que oferecia cem mil réis de recompensa para quem trouxesse de volta a cachorrinha. Para alívio do casal, Graziela foi encontrada poucos dias depois e viveu com eles por muitos anos ainda, até morrer já bem doentinha, cega e sem dentes. O próprio Machado de Assis enterrou-a com seu cesto de vime no jardim da frente.

Enquanto alguns apreciam a companhia dos gatinhos, outros não ficam sem seus fiéis companheiros: os cachorros. A exemplo de Machado de Assis, que tinha verdadeira adoração por Graziela, outros escritores deixaram registrado todo seu carinho pelos cãezinhos nas fotos a seguir, reunidas pelo blog Dog Art Today.

Gertrude Stein no pátio de casa com Pepe e Basket

Kurt Vonnegut com seu pequeno Pumpkin no colo (1982)

Jack London tinha vários cachorros!

John Steinbeck e Charley (1962)

O livro que inspirou Woody Allen a escrever “Meia noite em Paris”

Woody Allen é um intelectual europeu. Sempre foi. E a prova disso é seu culto à Nova York, a menos americana de todas as cidades americanas. Quem leu “Cuca Fundida”, “Sem Plumas”, e todos os contos e peças de Allen, poderá constatar que ele não é um cineasta americano. É um cineasta internacional. Nos últimos tempos, Woody Allen escancara esta condição ao fazer filmes que contemplam cidades cosmopolitas do mundo e personagens com diferentes sotaques. Tenho ouvido pessoas tentando criticar “Meia noite em Paris”, dizendo que é um filme de clichês, uma visão americanizada da cultura européia. Não acho. Esta, na verdade, é a nossa visão. Mesmo porque, a impressão que nós temos da Europa é aquecida pelo ponto de vista que os americanos têm do Velho Mundo. E quem disse que esta é uma falsa visão?

Se você ainda não leu, leia o livro de Gertrude Stein Autobiografia de Alice B. Toklas. É escancaradamente uma das inspirações para o roteiro de “Meia noite em Paris”. Você vai entender porque Paris era o paraíso dos intelectuais e artistas na primeira metade do século XX. Na verdade, Paris era o paraíso de TODOS os artistas. Se ficou esta ideia de uma “visão americana” da Paris, é porque os americanos Hemingway, Fitzgerald, Henry Miller, Gertrude Stein, T. S. Eliot, sem dúvida nenhuma escreviam bem melhor do que os outros… (Ivan Pinheiro Machado)

Veja alguns trechos do livro que certamente inspirou Woody Allen:

“A casa da Rue de Fleurus, número 27, se compunha, tal como hoje, de um minúsculo pavilhão de dois andares com quatro pecinhas, cozinha e banheiro, e um vasto ateliê anexo. (…) Toquei a campainha do sobrado e fui levada ao minúsculo vestíbulo e depois à pequena sala de refeições forradas de livros. No único espaço livre, as portas, havia desenhos de Picasso e Matisse presos por tachinhas.”

“Eliot [T.S. Eliot] e Gertrude Stein mantiveram uma conversa solene, principalmente a respeito de infinitivos separados por preposições e outros solecismos gramaticais e por que motivos Gertrude Stein gostava de usá-los.”

“A primeira coisa que aconteceu quando regressamos a Paris foi encontrar Hemingway com uma carta de recomendação de Sherwood Anderson. Eu me lembro muito bem da impressão que tive de Hemingway naquela primeira tarde. Era um rapaz extraordinariamente bonito, de vinte e três anos de idade. Faltava pouco tempo para todo mundo ter vinte e seis…”

“Getrude Stein e Fitzgerald são muito estranhos na relação que mantêm entre si. Gertrudes Stein tinha ficado impressionadíssima com Ths Side of Paradise. Leu quando saiu e antes de conhecer qualquer escritor da nova geração americana. Disse que considerava o livro como a primeira manifestação pública da nova geração. E nunca mais mudou de opinião.”

Gertrude Stein (de cabelo preso à direita) e sua companheira Alice Toklas na casa de Paris em 1923

Duas visões sobre “Meia noite em Paris”, de Woody Allen

Assim que o novo filme de Woody Allen estreou no Brasil, na última sexta-feira, dia 17 de junho, corremos para as salas de cinema mais próximas para conferir o que prometia ser mais uma obra-prima de um dos nossos cineastas preferidos. E, mais uma vez, ele não decepcionou!

O editor Ivan Pinheiro Machado e a editora de vídeos da WebTV, Laura Linn, compartilham a seguir suas impressões sobre o filme.

Meia Noite em Paris: Cinema e literatura como metáfora

Por Ivan Pinheiro Machado

Digamos que você não seja um cinéfilo, um especialista em cinema. Mas mesmo assim gosta muito de cinema e procura acompanhar os lançamentos, vez que outra se aventura num filme de arte, mas também não despreza uma comédia romântica. Eu sou mais ou menos assim. Como, aliás, todo mundo. Adoro cinema. Afora os filmes violentos demais, com tiros demais, que eu abandonei definitivamente, eu vejo tudo.

E ontem vi um filme extraordinário: Meia noite em Paris, de Woody Allen. O filme é um tributo a duas coisas que são caras à muita gente: literatura e Paris.

Woody Allen, o velho bruxo, foi para frente do seu caldeirão fumegante e começou a desfiar seus sortilégios. Uma trama simples, descomplicada, vai tomando corpo tendo como pano de fundo uma cidade-espetáculo e a mitologia cultural gerada pelos anos 20.

Se você leu Autobiografia de Alice B. Toklas de Gertrude Stein (L&PM Pocket), então você é um privilegiado. Se também leu Salvador Dali (Coleção Pocket Plus), Jean Cocteau, se viu Belle de Jour, de Buñuel, se leu Grande Gatsby, de Fitzgerald e O Sol também se levanta, de Ernest Hemngway, se leu os poemas de T. S. Elliot e os livros do próprio Woody Allen publicados na coleção L&PM Pocket como Cuca Fundida, Sem Plumas, Adultérios, Que Loucura, se ouviu Cole Porter, se curte Picasso, Maitisse, Modigliani, então melhor ainda.

A maestria de Woody Allen faz com que os delírios de Gil, o escritor americano semi-frustrado de férias em Paris, fiquem absolutamente naturais. Mas eu não vou contar o filme. Vá ao cinema mais próximo e delicie-se com um mergulho nos velhos e bons tempos. Ajude a aquecer a doce lenda de que Paris foi e sempre será uma festa. E veja um Woody Allen puro sangue, daqueles em que ele acerta a mão e que dá vontade de aplaudir quando o filme acaba.

Meia noite em Paris, um hino de amor à Cidade Luz

Por Laura Linn*

Woody Allen revela todo o encanto da Cidade Luz, em seu novo filme, Meia noite em Paris, enfocando a magia, o charme e a beleza da eterna capital do romantismo. Um homem comum, despretencioso, que sonha em ser escritor e morar em uma Paris chuvosa dos anos 20, onde viveram grandes artistas e escritores como Ernest Hemingway, Gertrude Stein e Pablo Picasso. Allen homenageia a cidade utilizando o nonsense e o realismo fantástico que prende a atenção do espectador do começo ao fim. Une-se a fantasia à realidade, o passado ao presente com o desejo que as pessoas possuem de viver uma realidade diferente da sua.

Nos últimos anos, o diretor deixou sua amada Nova York e migrou para a Europa, realizando filmes maravilhosos como Match Point, Scoop, Vicky Cristina Barcelona, entre outros. Com diálogos divertidos, Woody Allen nos leva pelas ruas da cidade, mostrando o charme de Paris ao dia e a tranformação da cidade ao soar da meia noite. O espectador viaja no tempo, junto ao personagem, aos “loucos anos 20″e à “Belle Époque”, duas das mais marcantes décadas da capital francesa. A câmera passeia pela típica noite parisiense da época com seus cafés e bordéis, mulheres belíssimas e sedutoras, ao mesmo tempo em que encontra subitamente os maiores intelectuais da época, passando a conviver com ídolos na cidade de seus sonhos. Assim, vão desfilando a sua frente, Hemingway, Buñuel, Zelda e Scott Fitzgerald, Cole Porter e Salvador Dali. Sente-se uma vontade de viver aquela mesma história, encontrar esses grandes personagens da literatura, da música e das artes, apaixonar-se novamente.

Meia noite em Paris

Allen não é apenas um grande diretor, mas também um grande roteirista. São mais de 40 anos como cineasta e praticamente um filme realizado por ano. O que fascina nos filmes do diretor novaiorquino são os diálogos, a interpretação dos atores e a forma como ele mostra o cotidiano e o comportamento do ser humano na sociedade com romantismo, humor e drama. Meia noite em Paris é perpassado por um olhar crítico sobre a insatisfação das pessoas com a sua realidade. Com as belas paisagens de Paris, como pano de fundo, um humor sutil e atuações incríveis como de Marion Cottilard – que já ganhou um Oscar de Melhor Atriz como Piaf – o filme é um verdadeiro hino de amor à cidade.

*Laura Linn é editora de vídeos da L&PM WebTV e formada em Cinema pela PUC-RS.