Arquivo da tag: Jack Kerouac

Os escritores e suas modalidades olímpicas

As Olimpíadas seguem a mil pelo Japão. Enquanto isso, entramos no clima e apresentamos algumas modalidades nas quais alguns autores do nosso catálogo eram campeões.

Modalidade levantamento de copo. Jack Kerouac foi atleta de verdade e fazia parte do time de futebol americano da sua universidade. Mas  por problemas no joelho acabou tendo que largar a vida esportiva. Costumava ser bom em levantamento de copo e corrida na estrada sem obstáculos.

Modalidade levantamento de copo

Modalidade lançamento de livro à distância. Agatha Christie chegou a surfar no Havaí, mas acabou percebendo que se dava melhor com os papéis do que com as pranchas. Tornou-se uma das maiores lançadoras e vendedoras de livro do planeta e foi traduzida para 45 línguas.

Modalidade lançamento de livro à distância

Modalidade revezamento de personalidade. Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernando Soares. Ninguém praticava revezamento de heterônimos com tanta habilidade como Fernando Pessoa. Ele não era um escritor, era uma equipe completa.

Modalidade revezamento de personalidade

Modalidade agarramento de mulheres. Charles Bukowski era um excelente levantador de copos e empinador de garrafas – provavelmente melhor do que Kerouac – mas dizem que ele também era um exímio atleta sexual e campeão de agarramento de mulheres.

Modalidade salto sobre mulheres

O tema geral da cerimônia de abertura será a história do povo brasileiro.

Meio século sem Jack Kerouac

Na data de hoje, cinquenta anos atrás, Jack Kerouac falecia em São Petersburgo, na Flórida. Doze anos antes, seu livro On the road era lançado para se tornar uma das mais significativas e influentes obras da literatura norte-americana. Kerouac estava no epicentro da Geração Beat, mas não gostava de ser chamado de “o rei dos beats”. Ao contrário: a súbita fama que acompanhou a publicação de On the road lançou-o em uma espiral de autodestruição que culminaria em uma morte precoce aos 47 anos.

Embora seu primeiro romance, Cidade pequena, cidade grande (The town and the city), tenha sido escrito de um modo bastante tradicional, foi por ter inventado a “prosa espontânea”, supostamente sem revisão, que Kerouac gravou seu nome para sempre na história da literatura americana e mudou o cenário cultural a partir de On the road.

Toda a obra de Kerouac é uma obra autobiográfica, cujos personagens foram as pessoas que entraram e saíram de sua vida. Não é nenhum segredo que Sal Paradise, de On the road, é o próprio Jack Kerouac, enquanto seu amigo e companheiro de estrada Neal Cassady é o famoso Dean Moriarty.

Depois de uma juventude selvagem e produtiva, Kerouac mergulhou na bebida e recuou para o lado de sua mãe. Ele passou a não sair mais de casa, ficou amargurado com a recepção crítica de muitos de seus livros que vieram depois, rejeitou completamente a contracultura que ele ajudara a criar e terminou como um alcoólatra clássico, morrendo de cirrose hemorrágica.

Mas não precisamos pensar nele assim. Para os fãs de On the Road, a imagem que fica é a de um Kerouac atlético, aventureiro, apaixonado pela poeira da estrada e pelas águas do mar. Um Jack Kerouac eternamente Sal Paradise.

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Peter Greenaway planeja mega instalação inspirada em “On the Road”

O cineasta e artista multimídia britânico Peter Greenaway, de 76 anos, é uma viagem. Criador de filmes considerados vanguardistas, ele acaba de anunciar que está trabalhando na obra mais ambiciosa de sua carreira: uma instalação faraônica em forma de uma vasta pista de corrida que presta homenagem ao clássico livro de Jack Kerouac. O objetivo é transpor o espírito de On the road para o século 21, além de levantar questões sobre “o futuro de nossa aventura” e refletir sobre como serão as nossas estradas e como vamos usá-las. “Quero que a instalação faça pensar a respeito da maneira como estamos cobrindo o mundo com quilômetros e quilômetros de rodovias” disse ele ao jornal britânico The Guardian.

Devido ao tamanho e ao elevado custo, a ideia é erguer a obra nos Emirados Árabes para depois levá-la à Europa. Ele prevê colocar carros sem motoristas e outros veículos futuristas que andem por pistas de corrida e que atravessem prédios em tamanho real. “Essas coisas exigem muita organização e muito dinheiro”, disse Greenaway. “Vai ser muito caro. É provavelmente por isso que o nome Dubai surgiu nas mentes de todos os produtores que estão interessados ​​no projeto. Os potenciais financiadores de lá são fascinados pelo projeto”, afirmou ele.

A instalação inspirada no livro de Kerouac está nos estágios iniciais de planejamento, mas o cineasta já apresentou alguns esboços, mostrando carros entrando e saindo de prédios.

Esboço feito por Peter Greenaway

Esboço feito por Peter Greenaway

Esboço feito por Peter Greenaway

Esboço feito por Peter Greenaway

O cineasta ainda não sabe se a instalação será apenas para ser observada de fora — como uma pista de Fórmula 1 — ou se será interativa, com a possibilidade de percorrê-la dentro dos veículos. Ele também não descartou a ideia de que a instalação vire uma obra permanente. Na entrevista, ele  lembrou a Torre Eiffel, em Paris, construída em 1889 para, a princípio, ser uma estrutura provisória.

O que Kerouac acharia disso é o que ficamos aqui pensando.

Escritores em ritmo de jazz

30 de abril é Dia Internacional do Jazz. E para homenagear este gênero musical tão espacial, postamos aqui a foto de três dos nossos escritores que tiveram suas vidas e obras intimamente influenciadas pelo jazz.

Jack Kerouac, cujo estilo de escrita tem a batida do jazz

Jack Kerouac, cujo estilo de escrita tem a batida do jazz

Julio Cortázar era exímio trompetista

Julio Cortázar era exímio trompetista

Woody Allen tem uma banda de jazz em Nova York

Woody Allen tem uma banda de jazz em Nova York

Leia abaixo a mensagem da diretora-geral da UNESCO, por ocasião do Dia Internacional do Jazz, 30 de abril de 2018

A UNESCO tem o orgulho de comemorar o 7o Dia Internacional do Jazz, em 30 de abril de 2018. Este é um dia para homenagear o jazz e seu legado duradouro, assim como para reconhecer o poder que esse gênero musical tem para unir as pessoas. O jazz tem suas raízes na luta por liberdade e na resistência contra a opressão. Esse gênero musical, com seus vários estilos, foi abraçado e integrado a inúmeras culturas, transformando-se em novas formas de expressão, ressoando infinitamente com a diversidade de canções e sons ao redor do mundo. A multiplicidade das formas por meio das quais o jazz foi costurado no tecido de culturas locais, nacionais e indígenas demonstra a sua eminência e a sua relevância. Ele falou, e continua a falar, para pessoas de todas as origens linguísticas, políticas e econômicas, ao seguir sua trajetória original de expressar a liberdade, a dignidade e os direitos humanos. A mensagem pela liberdade está enraizada no coração desse gênero, que é definido pela improvisação. A habilidade de os músicos se reunirem e escutarem, tocarem e promoverem o intercâmbio artístico por meio dessa expressão de livre fluxo reflete o espírito dos movimentos de libertação em todo o mundo. Como diz com frequência o grande saxofonista Wayne Shorter: “No jazz, acontece como na vida: não é possível ensaiar o desconhecido”. O jazz destaca a beleza de se viver o momento, de ter coragem de correr riscos, não apenas individual, mas coletivamente, de explorar o indefinido, muitas vezes as águas escuras do que é possível ou mesmo inimaginável, por uma pessoa ou um grupo. Hoje, o Dia Internacional do Jazz será celebrado em mais de 190 países. Músicos, promotores de eventos, professores, estudantes e fãs do jazz serão mobilizados em todo o mundo com eventos que vão desde pequenos concertos a performances que irão durar vários dias. As atividades serão realizadas em escolas, museus, centros comunitários, universidades, cafés e clubes de jazz. Este ano, a cidade de São Petersburgo será a Cidade Anfitriã Mundial. Foi lá que, no início dos anos 1920, surgiu o jazz russo, com as universidades e as principais instituições políticas e econômicas abraçando o gênero desde o início, o que levou ao estabelecimento da primeira Sala Filarmônica de Jazz do país. Em São Petersburgo, serão realizadas oficinas, aulas-mestras, exibições de filmes, performances e concertos com estudantes russos de todo o país. O All-Star Global Concert reunirá artistas de toda a Rússia, da região e do mundo, criando uma mistura única de música que certamente irá contribuir para um evento memorável, com a participação de lendas como o Embaixador da Boa Vontade da UNESCO, Herbie Hancock, e do jazzista russo Igor Butman. A UNESCO tem o prazer de colaborar com o Instituto de Jazz Thelonious Monk, com a cidade de São Petersburgo e com a Fundação Igor Butman para a comemoração do Dia Internacional do Jazz de 2018. É o meu desejo que você possa se juntar a nós para que, juntos, possamos celebrar este importante dia, que pode nos aproximar um pouco mais.

Meio século da morte de um beat hippie

NEAL CASSADY CERVEJA E CIGARRO

Há 50 anos, em 4 de fevereiro de 1968, morria Neal Cassady. Escritor que, em 1947, acompanhou Jack Kerouac em sua viagem estrada aforaAbaixo, um texto homenagem a Neal escrito por Eduardo Bueno, tradutor de On the Roadpublicado originalmente no jornal Zero Hora em 2 de fevereiro:

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Os escritores e seus pais

Louis, pai de Allen Ginsberg:

Allen aponta para Louis em 1969

Allen aponta para Louis em 1969

Frederick, pai de Agatha Christie:

A jovem Agatha joga um jogo de tabuleiro com seu pai no jardim de casa

Agatha joga um jogo de tabuleiro com seu pai no jardim da casa

Heinrich, pai de Charles Bukowski:

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O jovem Charles posa ao lado da mãe e do pai

Carl, pai de Charles Schulz (com o neto no colo):

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Três gerações: Charles Schulz, criador de Peanuts, com seu filho e seu pai

Leo, pai de Jack Kerouac:

O pequeno Jack Kerouac com seu pai Léo e sua mãe Gabrielle

O pequeno Jack Kerouac com seu pai Léo e sua mãe Gabrielle

Charles, pai de Arthur Conan Doyle:

O garotinho é Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, aos seis anos de idade

O garotinho é Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, aos seis anos de idade

 

Vamos a la playa

Tempo de praia, tempo de ler, tempo de descobrir que algumas personalidades que fazem parte da Série Biografias L&PM também adoravam ficar perto do mar, como mostram as fotos abaixo, aqui acompanhadas de pequenos trechos dos livros de cada um dos biografados.

“Os ‘recém casados´ não vivem por muito tempo a nova vida conjugal em La Californie. A urbanização dos altos de Cannes retirou-lhe o encanto. Como não considera instalar-se inteiramente em Vauvenargues e como as finanças não são um problema, Picasso compra uma outra propriedade, sem desfazer-se da precedente, em Mougins, onde passou vários verões com Dora e Éluard.” (Picasso, de Gilles Plazy)

Picasso em pose “ser ou não ser…” na praia de Cannes em 1965

“No começo de 1949, a única luz para a moça é sua convocação para ensaiar uma ponta no próximo filme dos Irmãos Marx. Desprovida de seus rendimentos mensais, ela vive unicamente das fotos que eventualmente lhe propõem, aceita o que der e vier, exibições de maiô ou sobre esquis (ou os dois ao mesmo tempo).” (Marilyn Monroe, de Anne Plantagent)

A jovem Marilyn toma banho de mar em 1949

 “Pela primeira vez na vida, ele tem a impressão de estar rico (o que é relativo), mas continua avarento – adia a devolução a Ginsberg dos duzentos dólares que ele lhe emprestou para que pudesse ir a Tânger e se recusa a emprestar vinte dólares a Hunckle.” (Kerouac, de Yves Buin)

Jack Kerouac, em Tânger, Marrocos, fotografado por Allen Ginsberg

Durante esses dois anos, Einstein dedica-se a conceitualizar as matérias de termodinâmica estatística e de eletrodinâmica dos corpos em movimento, bem como publica diversos artigos e exposições. Esses anos são a antecâmara da inacreditável eclosão, verdadeiro fogo de artifício criativo que está por vir.” (Albert Einstein, de Laurent Seksik)

Estaria Einstein tão tranquilo em 1945?

“Em 1966, os estúdios Warhol realizam The Chelsea Girls, que marcou uma virada, em particular, porque teve algum sucesso. Trata-se de um retrato íntimo das superstars da Factory do momento, que são filmadas em vários quartos de um hotel nova-iorquino, o Chelsea-Hotel, pelo qual muitas superstars haviam passado.” (Andy Warhol, Mériam Korichi).

Andy Warhol na praia. Ok, ela é Cannes e aqui ele está com as garotas de seu filme, “Chelsea Girls”

A grande exposição dos beats na Europa

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“Beat Generation”, a primeira grande retrospectiva sobre o tema na Europa está aberta desde 22 de junho do Centro Pompidou em Paris. Concebida e apresentada pelo próprio centro, é considerada uma mostra sem precedentes que enfatiza o movimento que marcou profundamente a cena criativa contemporânea.

Nômade, a exposição vai além de Paris para aportar em Nova York e San Francisco, Cidade do México e Tânger. E mostrar que o movimento beat também passa pela música, cinema, fotografia e artes plásticas.

O rolo do manuscrito original de “On the Road” está lá, claro, desenrolando-se na semi escuridão para que assim não sofra com a luz e siga preservado para as próximas gerações… beats.

SERVIÇO

O que: Exposição Beat Generation, curadoria de Philippe-Alain Michaud e Jean-Jacques Lebel
Quando: Até 3 de outubro de 2016
Onde: Centro Pompidou, Galeria 1, Nível 6, 75191 Paris Cedex 04: 01 44 78 12 33. Metro Hotel de Ville Rambuteau. Aberto das 11 às 21h, todos os dias excepto às terças-feiras, 14 ou 11 €. Válida no dia para o museu nacional de arte moderna e todas as exposições.

Assista ao vídeo oficial da exposição:

A L&PM tem uma série inteira dedicada aos beats.

Programação de julho do canal Philos terá Beats e Leonardo Da Vinci

Philos é um canal que apresenta ótimos documentários. São produções de alta qualidade sobre arte, ciência, história, música e cultura em geral. Todo conteúdo é em HD e ser acessado pelo www.philos.com. A partir de 1°  julho, o Philos vai apresentar dez produções do acervo do canal Mais Globosat e  a programação abre nesta sexta-feira, às 13h, com “A influência da Geração Beat”, seguido de “A alimentação de Da Vinci”.

“A influência da Geração Beat” é um documentário focado nas figuras de Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs. Já “A alimentação de Da Vinci” é uma produção baseada na descoberta da lista de compras de mercado do grande pintor, feita pelo casal Won-jin e Song Eun-jung, mostrando as prováveis receitas que ele talvez tenha criado.

Beat Generation filme

A L&PM Editores tem uma série inteira dedicada aos beats e publica a biografia de Leonardo da Vinci.

Há 90 anos, nascia o beat Allen Ginsberg

No dia 3 de junho de 1926, Naomi Ginsberg deu à luz seu segundo filho. Irwin Allen Ginsberg veio ao mundo com cinco anos de diferença do irmão, Eugene. Seu pai, Louis, era um poeta modesto, mas relativamente bem sucedido, um judeu socialista democrático que dava aulas no ensino médio. Já Naomi simpatizava com o comunismo, mas, com o passar dos anos, acabaria sofrendo de surtos paranóicos que levariam a matriarca a internações em clínicas psiquiátricas e tentativas de suicídio.

Foi em meio a esse lar nada comum, em uma casa da Rua Quitman, em Newark, Nova Jersey, que o pequeno Allen cresceu. Ouvindo, desde muito pequeno, o pai recitar Shelley, Dickinson, Keats, Poe e Milton.

Não foi acaso que, aos onze anos, começou a escrever seus primeiros textos em um diário. E que logo decidiu o que queria ser: poeta.

Allen Ginsberg aos 10 anos (centro). Com ele estão, seu tio Mendel, seu irmão Eugene, sua mãe Naomi e seu pai Louis.

Allen Ginsberg aos 10 anos (centro). Com ele estão, seu tio Mendel, seu irmão Eugene, sua mãe Naomi e seu pai Louis.

Allen Ginsberg, autor de “Uivo”, foi o grande poeta da geração beat. Conheceu Jack Kerouac na Columbia University e a amizade dos dois atravessou décadas.

Allen Ginsberg por Andy Warhol

Allen Ginsberg por Andy Warhol

Caminhei pela beira do cais de bananas e latarias e me sentei à sombra enorme de uma locomotiva da Southern Pacific para olhar o sol que se punha entre as colinas de casas como caixotes e chorar.

Jack Kerouac sentou-se ao meu lado sobre um poste de ferro quebrado e enferrujado, companheiro, pensávamos os mesmos pensamentos da alma, chapados e de olhos tristes, cercados pelas retorcidas raízes de aço das árvores da maquinaria.

A água oleosa do rio refletia o rubro céu, o sol naufragava nos cumes dos últimos morros de Frisco, nenhum peixe nessas águas, nenhum ermitão nessas montanhas, só nós dois com nossos olhos embaçados e ressaca de velhos vagabundos à beira-rio, malandros cansados.

Olha o Girassol, disse ele, lá estava a sombra cinzenta e morta contra o céu, do tamanho de um homem, encostada ressecada no topo do montão de serragem velha –

Ergui-me encantado – meu primeiro girassol, recordações de Blake – minhas visões – Harlem (…)

(Trecho inicial do poema “Sutra do girassol” , de Allen Ginsberg, tradução de Claudio Willer – do livro Uivo, Kaddish e outros poemas)