Há 90 anos, nascia o beat Allen Ginsberg

No dia 3 de junho de 1926, Naomi Ginsberg deu à luz seu segundo filho. Irwin Allen Ginsberg veio ao mundo com cinco anos de diferença do irmão, Eugene. Seu pai, Louis, era um poeta modesto, mas relativamente bem sucedido, um judeu socialista democrático que dava aulas no ensino médio. Já Naomi simpatizava com o comunismo, mas, com o passar dos anos, acabaria sofrendo de surtos paranóicos que levariam a matriarca a internações em clínicas psiquiátricas e tentativas de suicídio.

Foi em meio a esse lar nada comum, em uma casa da Rua Quitman, em Newark, Nova Jersey, que o pequeno Allen cresceu. Ouvindo, desde muito pequeno, o pai recitar Shelley, Dickinson, Keats, Poe e Milton.

Não foi acaso que, aos onze anos, começou a escrever seus primeiros textos em um diário. E que logo decidiu o que queria ser: poeta.

Allen Ginsberg aos 10 anos (centro). Com ele estão, seu tio Mendel, seu irmão Eugene, sua mãe Naomi e seu pai Louis.

Allen Ginsberg aos 10 anos (centro). Com ele estão, seu tio Mendel, seu irmão Eugene, sua mãe Naomi e seu pai Louis.

Allen Ginsberg, autor de “Uivo”, foi o grande poeta da geração beat. Conheceu Jack Kerouac na Columbia University e a amizade dos dois atravessou décadas.

Allen Ginsberg por Andy Warhol

Allen Ginsberg por Andy Warhol

Caminhei pela beira do cais de bananas e latarias e me sentei à sombra enorme de uma locomotiva da Southern Pacific para olhar o sol que se punha entre as colinas de casas como caixotes e chorar.

Jack Kerouac sentou-se ao meu lado sobre um poste de ferro quebrado e enferrujado, companheiro, pensávamos os mesmos pensamentos da alma, chapados e de olhos tristes, cercados pelas retorcidas raízes de aço das árvores da maquinaria.

A água oleosa do rio refletia o rubro céu, o sol naufragava nos cumes dos últimos morros de Frisco, nenhum peixe nessas águas, nenhum ermitão nessas montanhas, só nós dois com nossos olhos embaçados e ressaca de velhos vagabundos à beira-rio, malandros cansados.

Olha o Girassol, disse ele, lá estava a sombra cinzenta e morta contra o céu, do tamanho de um homem, encostada ressecada no topo do montão de serragem velha –

Ergui-me encantado – meu primeiro girassol, recordações de Blake – minhas visões – Harlem (…)

(Trecho inicial do poema “Sutra do girassol” , de Allen Ginsberg, tradução de Claudio Willer – do livro Uivo, Kaddish e outros poemas)

 

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