Arquivo mensais:dezembro 2011

Desventuras do mês de janeiro quando
o indiferente
meio-dia estabelece sua equação no céu,
um ouro duro como o vinho de uma taça repleta
satura a terra até seus limites azuis.

Desventuras deste tempo semelhantes a uvas
pequenas que agruparam verde amargo,
confusas, escondidas lágrimas dos dias,
até que a intempérie publicou seus cachos.

Sim, germes, dores, tudo o que palpita
aterrado, à luz crepitante de janeiro,
madurará, arderá como arderam os frutos.

Divididos serão os pesares: a alma
dará um golpe de vento, e a morada
ficará limpa como o pão novo na mesa.

(De Pablo Neruda em Cem Sonetos de Amor tradução de Carlos Nejar)

Enquanto isso, na terra de Hagar…

Nos trópicos é champanhe bem geladinha. Mas lá onde a neve cai gelando até a alma, o pessoal têm o costume de preparar o “Glögg” em suas festas de final de ano. E essa tradição não é de hoje nos países nórdicos da Europa. Já nos tempos de Hagar, o Horrível, a bebida era servida quente ou, para os mais calorentos, na temperatura ambiente. As receitas variam, mas normalmente levam vinho tinto, açúcar, canela em pau, cravo da índia, semente de cardamomo e casca de laranja. No final é só “completar” com vinho do porto, conhaque ou vodka. Qual dessas três você acha que Hagar colocou no seu Glögg?

As tirinhas acima foram tiradas de O melhor de Hagar, o horrível vol. 2.

Rilke, poesia e morte

Em 29 de dezembro de 1926, há exatos 85 anos, morria Rainer Maria Rilke, um dos maiores poetas de língua alemã do século 20. Nascido em Praga em 1851, Rilke escreveu versos que inspiraram poetas em todo o mundo, como os brasileiros Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Augusto de Campos.

Mas nem só de versos se faz um grande poeta. A intensa correspondência que Rilke manteve ao longo de toda a vida com artistas e intelectuais de vários países também carrega a marca de sua poesia. No livro Cartas a um jovem poeta, publicado postumamente em 1929, ele dá conselhos ao jovem Franz Kappus, que aspira tornar-se poeta. Muito mais do que responder aos questionamentos do rapaz, Rilke deixa registradas nestas cartas as suas impressões e opiniões sobre a vida, a humanidade, a religião, o sexo e a arte de escrever numa prosa intensa e essencialmente poética. Em uma das cartas, datada de 17 de fevereiro de 1903, ele escreveu:

O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha pra fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever.

Além das cartas e dos poemas, Rilke escreveu apenas um romance. Publicado em 1910, Os cadernos de Malte Laurids Grigge é uma novela autobiográfica, escrita no período em que o escritor viveu em Paris. Sob influência de Nietzsche, ele aborda temas que são recorrentes em romances de formação, como a busca pela própria individualidade, a tentativa de compreender o significado da morte e o questionamento dos dogmas da religião.

Como não podia deixar de ser, Rilke foi o autor de seu próprio epitáfio: “Rose, oh reiner Widerspruch, Lust, / Niemandes Schalaf zu sein unter soviel /Lidern” (Rosa, ó pura contradição, alegria / de ser o sono de ninguém sob tantas / pálpebras”). Ele foi enterrado no cemitério de Viège, na Suiça, em 2 de janeiro de 1927.

Perspectiva: os destaques de 2012

Já fizemos aqui neste blog a Retrospectiva 2011, com alguns livros que chamaram a atenção durante o ano que está chegando ao fim. Mas agora chegou a hora de olhar para frente e fazer a Perspectiva 2012. Com alguns dos destaques que estão programados para o ano que vem. Dê uma olhada no prólogo dos lançamentos:

1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares. Quando o Movimento da Legalidade eclodiu no sul do país, Flávio foi o enviado especial do Jornal Última Hora ao centro de operações do movimento e acabou atuando como um porta-voz informal de Brizola. O que ele viu e viveu agora chegará em um livro que, além de ser um documento histórico, é uma aventura eletrizante.

Peanuts Completo – O volume 5 de Peanuts Completo chegará no início do ano, trazendo as tiras de Charles Schulz que vão de 1959 a 1960. Novamente em uma edição de luxo com capa dura.

Andy Warhol – Primeiro, será lançado Andy Warhol na Série Biografias. Depois, chegará Os diários de Andy Warhol em dois volumes na Coleção L&PM POCKET. E para meados de 2012 está prevista a chegada de América, livro de fotos do papa do pop.

Simon´s Cat – O fofo e faminto gato de Simon (o desenhista Simon Tofield), famoso na França não apenas nos livros, mas também na TV, chegará ao Brasil com o selo L&PM. Livros apaixonantes que vão deixar os leitores sem palavras.

Liu Xiaobo – com título provisório “Monólogos de um sobrevivente do dia do juízo final: textos escolhidos”, vem aí o livro de Liu Xiaobo, Prêmio Nobel que encontra-se preso pela China comunista. O livro terá textos sobre a China e, também, poesias de autoria de Xiaobo.

Los hijos de los días – Este é o título original do novo livro de Eduardo Galeano que está sendo traduzido por Eric Nepomuceno. Em sua nova obra, Galeano traça uma pequena história para cada dia do ano, sempre centrada em um fato real que aconteceu naquela data.

Cartas: Kerouac/Ginsberg – Livro que traz a correspondência trocada entre os escritores beats durante mais de duas décadas. Os editores Bill Morgan e David Stanford foram os responsáveis por organizar essa correspondência, dois terços da qual nunca havia sido publicada antes.

História Secreta da Costaguana – De Juan Gabriel Vásquez, autor de Os informantes, já publicado pela L&PM, chegará História secreta de Costaguana, que rendeu ao escritor o prêmio Qwerty de melhor romance espanhol (Barcelona) e o prêmio Fundación Libros & Letras (Bogotá).

À sombra da Rota da Seda – Para viajar (e escrever) sobre a Rota da Seda, a maior rota terrestre do planeta, o escritor britânico Colin Thubron percorreu este caminho de ônibus, caminhão, carro, carroça e camelo, durante oito meses. Foi do coração da China às montanhas da Ásia Central, andou pelo norte do Afeganistão e percorreu as planícies do Irã, chegando à Turquia. O resultado, você poderá ler em 2012.

O canto da planície de Nancy Huston – Da mesma autora de Marcas de Nascença, Dolce Agonia e A espécie fabuladora, será lançado este que é um dos livros mais famosos livros da premiada escritora canadense radicada nos EUA, Nancy Huston.

A interpretação dos sonhos – Este livro que é considerado uma das mais famosas obras de Sigmund Freud agora fará parte da Coleção L&PM Pocket. Em seguida, será lançado, também do pai da psicanálise, Moisés e o monoteísmo. Ambos com tradução do alemão, feita por Renato Zwick.

Roberto Freire – O bestseller Roberto Freire, sucesso nos anos 80 e 90 com livros como Sem tesão não há solução, chega na Coleção L&PM Pocket com dois títulos: Cleo e Daniel (adaptada para cinema e TV) e Ame e dê vexame.

E ainda vem Virginia Woolf, Jane Austen, James Joyce, Lawrence Ferlinghetti, Luigi Pirandello e mais Agatha Christie e Simenon. E também novos títulos na Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos, o volume 2 da HQ Aya, novidades na Série Encyclopaedia e nomes como Jesus, Buda, James Dean e Pasolini na Série Biografias. Ou seja:  motivos para aguardar um ótimo ano novo não faltam. Feliz 2012!

Com champanhe na ponta da língua

Em seu livro, Etiqueta Século XXI, a jornalista e expert em etiqueta Célia Ribeiro dedica um capítulo inteiro a festas. E é lá que a gente descobre como não fazer feio na hora de falar (e de servir) a bebida que é símbolo do Ano Novo: o champanhe. Ou seria melhor dizer champanha? Célia Ribeiro esclarece:

A palavra champanhe deriva-se de Champagne, a região da França que deu nome à bebida e que hoje detém a exclusividade do nome. Assim, na Espanha, é cava, na Alemanha, sekt e em português se diz espumante. A palavra foi abrasileirada para champanha, mas ambas são corretas. Estranho é dizer um champanha, guardando a concordância com a palavra oculta vinho, porque champagne é masculino. Doutores em Letras, como o professor Cláudio Moreno, acham que em pleno século XXI não tem sentido fazer uma exceção da palavra terminada em a, de gênero sempre feminino, ao se referir ao champanhe. Mais fácil é falar em champanhe com o artigo masculino, sem quebrar regras e ferir os ouvidos.

Vale servir na garrafa com canudinho? A garrafinha representa a democratização da bebida nobre, industrializada. O champanhe para ser tomado com canudinho transforma um encontro feliz na praia em celebração e é viável servi-lo numa reunião descontraída ou em ambiente sem recursos para o serviço convencional de taças.

Retrospectiva: os destaques L&PM de 2011

2011 está na porta de saída. E como não poderia deixar de ser, a despedida do ano que termina vem com olhares para trás. A retrospectiva, afinal, faz parte do adeus e uma lista de “melhores do ano” acaba sendo tão tradicional quanto preparar o champanhe, a roupa branca e os fogos de artifício para o réveillon. Ao pensarmos no ano que chega ao fim (e em tudo que lançamos ao longo dele), fica bem difícil escolhermos os 10 livros mais marcantes. Porque foram vários e todos eles especiais. Acabamos levando em conta os títulos que tiveram mais destaque nas redes sociais e na mídia. E aqui estão eles no nosso “Top Ten L&PM 2011”.

A entrevista de Millôr Fernandes – Lançado em fevereiro de 2011, o livro apresentou aos leitores a mais longa e reveladora entrevista do grande Millôr, realizada no início dos anos 80 para a Revista Oitenta, então editada pela L&PM. É um intenso e bem-humorado depoimento que revela todas as faces de um dos maiores intelectuais do Brasil.

Biografia de Marilyn Monroe – Em março, Marilyn Monroe chegou à série Biografias L&PM. Um livro que revelou ser como sua personagem: a partir da primeira linha, impossível tirar os olhos dele. A família, os amores, os filmes, os dramas, tudo está aqui em frases que soam como o sussurro de uma diva.

Mulheres – Depois de anos esgotado no Brasil, Mulheres, um dos livros mais cultuados de Charles Bukowski, chegou à Coleção L&PM Pocket em meados de 2011. Também não dá para deixar de citar Cartas na Rua, o primeiro romance escrito por Bukowski e que, lançado em setembro, fez com que todos os romances do velho Buk agora estejam aqui. 

Os Smurfs – Aqui não vale a pena citar apenas um título dos Smurfs, mas dois: “O Smurf Repórter” e “O bebê Smurf” que, lançados em álbuns coloridos e em versão pocket, smurfaram por todas as livrarias e bancas do país. Lançados na mesma época do filme, fizeram tanto sucesso que ganharam até uma fan page especial no Facebook.  

Caixa Russa – Este não é exatamente um livro, mas uma caixa inteira. Mas é impossível não dar destaque para ela, pois além de ter chamado atenção, virou objeto de desejo de muita gente, com seus sete títulos que juntam duas obras de Gogol, duas de Tolstói, duas de Tchékhov e uma de Dostoiévski.

Feliz por nada – Apesar do título do livro de Martha Medeiros, motivos para ficar feliz não faltaram com as crônicas de Feliz por nada. Lançado em julho de 2011, ele logo foi parar na lista de mais vendidos de Veja, Época e O Globo e fecha o ano como um dos maiores sucessos literários do Brasil em 2011.

Atado de Ervas – O primeiro romance escrito por Ana Mariano foi a revelação do ano. Sucesso de público e crítica, ele levou a autora a concorrer ao Prêmio Fato Literário, promovido durante a Feira do Livro de Porto Alegre em 2011. Em suas 400 páginas, o livro monta um grande mosaico da vida no interior do Rio Grande do Sul.

Enciclopédia dos Quadrinhos – Revisada, atualizada e ampliada, a nova edição da Enciclopédia dos Quadrinhos, organizada e escrita por Goida e André Kleinert, foi lançada em outubro para alegria dos fãs de HQs. Ela traz referências inéditas a pesquisadores, fanzineiros e editores da área.

A vida segundo Peanuts – O destaque aqui poderia ser para o volume 4 de Peanuts completo, lançado em março. Ou para o belo O Natal de Charlie Brown. Mas A vida segundo Peanuts, que chegou em novembro, merece estar aqui por sua simplicidade e por ser um “gift book” muito fofo, livro perfeito para virar presente (até porque custa apenas 15 reais!).

Mangás – Aqui o destaque é para uma série. Quando os mangás chegaram à Coleção L&PM Pocket, em novembro, o alvoroço foi grande, pois os fãs do gênero não deixaram de se manifestar positivamente. Primeiro vieram Solanin 1, de Inio Asano, e Aventuras de Menino, de Mitsuru Adachi. Em dezembro, foi lançado Solanin 2.

60. Sou o marinheiro Popeye

O blog da L&PM Editores concedeu férias ao editor Ivan Pinheiro Machado*. Sendo assim, o “Era uma vez… uma editora”, série de posts assinados por ele – e publicados neste espaço todas as terças-feiras -, será um pouco diferente até o final de janeiro. Neste período, mostraremos alguns livros que fazem parte da memória da editora. Como “Popeye”, que pertencia à antiga Coleção Quadrinhos L&PM e cuja edição era comemorativa aos 60 anos do marinheiro viciado em espinafre.

Publicado na primavera de 1989, “Popeye” tinha formato 27,5cm x 21cm e trazia duas histórias: “O Rei da Nazília” e “Popeye, Rei da Popilândia”. Com tiras desenhadas por Segar entre janeiro e março de 1933, o livro tinha prefácio de Goida, um dos autores da Enciclopédia dos Quadrinhos, relançada este ano pela L&PM.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o sexagésimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Poesia para vestir

Em parceria com uma empresa especializada em produtos de papel, a estilista Sylvia Heisel desenvolveu um vestido que é pura poesia. Totalmente feito de papelão reaproveitado, cada parte do vestido tem gravado um trecho da obra de grandes escritores como Oscar Wilde, Virginia Woolf, Charles Dickens, Andy Warhol, Lewis Carrol, entre outros.

Conforme o uso, o papel vai se desgastando e o texto vai aparecendo. Falando assim, parece uma roupa frágil, mas a estilista garante que a peça pode até ser lavada e tem a mesma durabilidade de um vestido de tecido delicado, como a seda, por exemplo. O papel é tratado para se tornar mais resistente e não rasgar e é aquecido para ficar mais maleável, como se fosse mesmo um tecido com a textura de um couro mais fino e aveludado. Olha só o resultado:

Eduardo Galeano abrirá prêmio Casa das Américas 2012 em Cuba

O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano abrirá o Prêmio Literário Casa das Américas 2012, que será realizado no próximo dia 16 de janeiro, em Havana, informou neste domingo a imprensa local.

Galeano, que manteve um longo vínculo com a Casa das Américas, será uma espécie de convidado especial da 53º edição da premiação criada em 1959, anunciaram fontes da instituição cultural cubana.

O escritor uruguaio já recebeu três prêmios do festival literário de Havana, com: A Canção de Nós (1975) e Dias e Noites de Amor e de Guerra (1978). Na edição deste ano, o escritor recebeu o prêmio extraordinário de narrativa “José María Arguedas” com o título Espelhos – Uma História Quase Universal.

Na edição de 2012, o júri do Prêmio Casa avaliará as obras nas categorias: teatro, literatura para crianças e jovens, literatura brasileira e literatura caribenha em francês e crioulo.

A programação do festival, que será realizado durante dez dias, incluirá painéis de intelectuais, conferências e a apresentação das obras ganhadoras de 2011, entre elas A Bota Sobre o Touro Morto, do cubano Emerio Medina Peña (conto) e Seu Passo, do argentino Carlos Enrique Bischoff (literatura testemunhal).

Desde sua criação em 1959, após o triunfo da revolução liderada pelo agora ex-presidente cubano Fidel Castro, o Prêmio Casa é considerado um dos prêmios com maior história e prestígio da literatura.

*Texto publicado originalmente no site Folha.com em 25/12/2011. Em 2012, a L&PM vai publicar um novo livro de Eduardo Galeano, “Los hijos de los días”.