Arquivo mensais:agosto 2013

Exposição em Veneza desvenda o mestre Leonardo da Vinci

Está em cartaz na Academia de Veneza uma exposição com 52 desenhos de Leonardo da Vinci, feitos no período entre 1478 e 1516. As imagens foram cedidas por importantes museus italianos e por prestigiosas coleções privadas, entre elas a da família real britânica Windsor, do Ashmolean Museum, do British Museum e do Louvre de Paris.

Pela primeira vez em 30 anos, o público poderá admirar o célebre desenho do “Homem Vitruviano”, com notas anatômicas escritas por Leonardo, que preenchia cadernos com múltiplas observações, escrevia cartas, elaborava croquis e cópias de obras consultadas nas bibliotecas das cidades que visitava. Ao toto, são 25 desenhos que nunca haviam sido expostos desde 1980. A exposição “Leonardo da Vinci: o Homem Universal” é uma ocasião única para admirá-los todos juntos.

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“Os desenhos foram expostos de maneira que possam ser observados dos dois lados, algo muito raro. É como folhear seu diário íntimo, entrever seu pensamento e seu modo de trabalhar”, declarou a curadora da exposição, Annalisa Perissa, em entrevista à AFP.

Para saber mais sobre a vida e a obra de um dos maiores mestres das artes visuais e da ciência, leia Leonardo da Vinci da Série Biografias L&PM.

via Folha de S. Paulo

Galeano e os desaparecidos

O dia 30 de agosto foi o escolhido para ser o Dia Internacional dos Desaparecidos, uma data para lembrar o desaparecimento de pessoas pelo mundo logo após conflitos armados ou desastres naturais. Nas Américas, estima-se que, entre 1966 e 1986, 90 mil pessoas “desapareceram” forçosamente em países como Guatemala, El Salvador, Honduras, México, Colômbia, Peru, Bolívia, Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Haiti.

Eduardo Galeano jamais deixaria a data passa em branco em seu livro Os filhos dos dias:

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Direto da Bienal do Rio

Fernanda Scherer*

Bienal é algo que acontece de dois em dois anos, mas pra gente Bienal é todo ano: anos pares em São Paulo e anos ímpares no Rio de Janeiro – sem contar as Bienais pelo Brasil em que estamos presentes com o apoio de parceiros locais em Fortaleza, Pernambuco, Minas…

Ontem foi a abertura oficial da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Às 12h, quando abriu para o público, todos nós estávamos a postos e aguardando com ansiedade os primeiros leitores que chegariam até o Pavilhão Verde do RioCentro, até o nosso estande! Será que eles gostariam dos lançamentos que arrumamos com cuidado em cima da mesa ou iriam direto para o seu autor preferido em uma das paredes com Agatha Christie, Bukowski, Shakespeare e tantos outros grandes escritores. Será que a partir de um título descoberto ali, naquele espaço, surgirá um novo amor, um novo leitor?

Para tudo estar ali, arrumadinho, ordenado por tema e por autor, o nosso trabalho começou ainda em 2012, quando reservamos um espaço na feira. De lá pra cá, além de todo o trabalho editorial para a preparação dos livros, o departamento de marketing e vendas trabalhou muito. Começando pela arquitetura do estande, buscando o melhor jeito de expor os milhares de livros da Editora de forma que o leitor se sinta “em casa”. A separação dos livros no depósito – mais de 300 caixas e 23 mil livros, um caminhão inteiro! Documentação, programação visual, treinamento dos vendedores que vão atender ao público, uniformes, convites, crachás, brindes, marcadores, expositores, fotos… Ufa. São muitos detalhes.

A gente faz tudo isso com muito carinho, tudo isso pra vocês.

*Fernanda Scherer é Supervisora de Marketing da L&PM Editores e está na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

Parte da equipe no estande da L&PM Editores na Bienal do Livro do Rio

Fernanda Scherer (de camisa azul clara) e parte da equipe

O estande no início da arrumação

O estande no início da arrumação

E já aberto no primeiro dia de Bienal

E já aberto no primeiro dia de Bienal

Novos territórios em mangás

Por Alexandre Boide*

Em novembro de 2008, começou a circular na imprensa internacional a notícia de que uma adaptação em mangá de O capital, de Karl Marx, seria lançada por uma editora japonesa, a East Press, e com a expectativa de que se tornasse um best-seller. A justificativa: o Japão estava mergulhado em uma recessão profunda, o Partido Comunista local vivia um ressurgimento e a literatura anticapitalista vinha em alta no país. Uma indicação clara nesse sentido era a de que o campeão de vendas da coleção em que Das Kapital seria publicado era Kanikōsen, que narra o sofrimento da tripulação de um barco de pesca de caranguejos sob a exploração implacável da indústria capitalista. Faltou dizer, porém, que a coleção incluía também adaptações de obras muito anteriores à própria existência do capitalismo (como Rei Lear e A divina comédia) e escritos de cunho político que de forma nenhuma se identificavam com a literatura de esquerda (como o manual de conduta marcial Bushidō: A alma do Japão e Mein Kampf, o manifesto nazista de Adolf Hitler). Portanto, era de se esperar que houvesse outras razões por trás do esperado sucesso do lançamento que viria (sucesso, aliás, que acabou se confirmando e gerando uma pequena corrida pelo licenciamento dos títulos em diversos países e idiomas).

De fato, a coleção Manga de Dokuha (em uma adaptação livre, algo com o sentido de “Aprendendo em mangá”) tem características bastante peculiares. A primeira delas é ser uma empreitada coletiva, centrada na figura de seu editor, Kasuke Maruo. É ele quem supervisiona um a um os roteiros (que já ultrapassaram a marca das cem HQs lançadas), que mais tarde são encaminhados para um estúdio terceirizado (Variety Artworks), que faz todo o trabalho de arte. É por isso que os títulos não trazem créditos de roteirista e desenhista responsáveis pela adaptação, apenas o nome do autor do original — a propriedade intelectual de todos os mangás é da East Press. Por outro lado, isso não significa de maneira nenhuma menos liberdade artística. Como toda adaptação que se preze, os mangás da coleção são obras com identidade própria — ainda que derivadas —, e portanto devem ser lidas e compreendidas de acordo com seus próprios termos, e não como simples espelhos do original. Assim, o milenar manual de estratégia militar A arte da guerra se torna a história de uma grande guerra entre os Sete Reinos da China medieval, em que o general Sun Tzu vai elaborando suas táticas geniais à medida que a ação acontece. O Manifesto do Partido Comunista, por sua vez, se transforma na saga de um grupo de trabalhadores que tenta se livrar da exploração patronal, o que serve como pano de fundo para expor a teoria e os fatos por trás da proposta ideológica de Marx e Engels. Em Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche, o protagonista vive no século XIX, e é criado dentro dos preceitos cristãos antes de sair propagando a ideia de que Deus está morto. E nem mesmo as obras de ficção precisam se limitar aos elementos contidos no original: em A metamorfose, por exemplo, passagens da biografia do autor, Franz Kafka, são incorporadas à história do personagem Gregor Samsa.

Se de fato cada contato com uma grande obra abre novos territórios e horizontes mentais para os leitores, os mangás desta coleção são uma prova do quanto essas incursões podem ser variadas. Alguns deles são como um voo panorâmico, que delineia os contornos gerais e as paisagens do local que está sendo visitado. Outros são como expedições noturnas lideradas por um guia, em que o facho de luz se concentra com mais ênfase em determinados aspectos, e a impressão que se tem do todo é inevitavelmente filtrada pelos olhos de quem segura a lanterna. Outros, ainda, são como picadas abertas a golpes de faca ao rés-do-chão — só depois de muito explorar é possível ter uma visão aproximada do todo. Seja como for, mesmo com toda sua pluralidade de abordagens, os mangás da East Press nunca deixam de se guiar por um preceito fundamental a qualquer coleção que se pretenda verdadeiramente universal: a livre exploração de pensamentos e ideias.

* Alexandre Boide é tradutor e responsável pela preparação dos títulos dos Clássicos em Mangás (da East Press) que estão sendo publicados na Coleção L&PM Pocket.

A arte da guerra, Hamlet, O grande Gatsby e Assim falou Zaratustra em mangá já chegaram. Os próximos títulos a serem lançados são O contrato social, A metamorfose, Manifesto do partido comunista, Em busca do tempo perdido e Ulisses.

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Os clássicos em mangás que já estão disponíveis

Sarau para Cortázar em Porto Alegre

Nesta quarta-feira, dia 28 de agosto, será realizado um sarau em homenagem a Julio Cortázar em Porto Alegre, na Palavraria Livros & Cafés a partir das 19h. Um dos convidados para o encontro é o organizador da coletânea A autoestrada do sul e outras histórias, Sérgio Karam, ao lado de Lígia Sávio, Jeferson Tenório e Gabriela Silva.

Assista à entrevista que Sérgio Karam concedeu à L&PM WebTV:

 

Tudo pronto para a Bienal do Livro do Rio de Janeiro

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Começa na tarde de quinta-feira, 29 de agosto, e vai até 8 de setembro, a XVI Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. O evento, que teve início em 1983, está comemorando seus 30 anos.

 A L&PM Editores vem marcando presença desde a Bienal número 1 e, este ano, novamente preparou um grande estande onde poderão ser encontrados cerca de 23 mil livros.

Sabe aquele título que você anda procurando e está difícil de encontrar? Ou o lançamento que já anunciamos, mas não chegou na livraria? É muito provável que ele esteja na Bienal.

Durante toda a semana, a equipe da L&PM preparou o espaço que, a partir de amanhã, receberá os leitores com uma festa de livros. Ele fica no Pavilhão Verde entre as ruas O 06 e P 06, ao lado do “Acampamento na Bienal”. 

Arrumação do estande da L&PM Editores na Bienal do Rio

Arrumação do estande da L&PM Editores na Bienal do Rio

Vai ter pockets para todos os gostos

Vai ter pockets para todos os gostos

Todas as novidades de Martha Medeiros vão estar nessa Bienal

Todas as novidades de Martha Medeiros vão estar nessa Bienal

SERVIÇO

De 29 de agosto a 08 de setembro de 2013

Horário
Dia 29 de Agosto: 13h às 22h
Dias de semana: 9h às 22h
Fins de semana: 10h às 22h

Local do Evento
Riocentro – Av. Salvador Allende, 6555 – Barra da Tijuca�
22780-160 – Rio de Janeiro – RJ

Valor do Ingresso
Inteira R$ 14,00
Meia-Entrada R$ 7,00

Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente ou durante o evento, nas bilheterias do Riocentro. Os pontos de venda indicados abaixo ficam localizados em lojas, postos de gasolina e agências de turismo. Cada pessoa (um único CPF) pode comprar no máximo 5 (cinco) ingressos. Agências de viagens podem adquirir até 30 ingressos. Também é possível realizar a compra pela internet, por meio do site www.ingressomais.com.br, onde é necessário efetuar um cadastro.

Venda antecipada de ingressos já está disponível para o público através do site www.ingressomais.com.br.

Shakespeare no cinemas: uma nova versão para “Muito barulho por nada”

“Muito barulho por nada”, de Shakespeare, é uma peça centrada em dois personagens: Beatriz e Benedicto. Inteligentes, bem articulados, espirituosos, eles são alérgicos ao casamento e rápidos em construir respostas espertas para todo o tipo de afirmação ou pergunta.  E é justamente isso que faz com que essa seja uma das mais engraçadas obras de Shakespeare.

Pois eis que na sexta-feira, 23 de agosto, estreou nos cinemas brasileiros uma moderna releitura de “Muito barulho por nada” adaptada e dirigida por Joss Whedon, o mesmo de “Os Vingadores” (The Avengers – 2012). Mas antes que o leitor torça o nariz por achar que um fã do universo Marvel não pode adentrar o mundo de Shakespeare, é bom avisar: Whedon tem o hábito de reunir os amigos em sua casa para leituras descompromissadas das obras de Shakespeare. Aliás, a ideia de fazer o filme surgiu em um desses encontros.

Na nova releitura de “Muito Barulho por Nada” (Much Ado About Nothing – 2012), o cineasta optou por ambientar a história de Beatriz, Benedicto e seus amigos nos tempos atuais, mas mantendo o texto clássico de Shakespeare. O filme é todo em preto e branco e foi rodado em apenas 12 dias na casa de Whedon. Já a edição começou nos intervalos de almoço e finais de semana durante a filmagem de “Os Vingadores”.

Assista ao trailer:

A L&PM publica “Muito barulho por nada” com tradução de Beatriz Viégas-Faria e também em Shakespeare – Obras escolhidas“, volume da Série Ouro que traz 12 peças shakespearianas.

J.D. Salinger tem textos inéditos no prelo

MICHEL CIEPLY JULIE BOSMAN DO “NEW YORK TIMES” – Tradução de Thales de Menezes para a Folha de S. Paulo

As obras completas de J.D. Salinger ainda não foram publicadas, segundo um filme e um livro que serão lançados na próxima semana.

Salinger, que morreu em 2010, aos 91 anos, ficou conhecido por uma obra literária aclamada, porém escassa, ofuscada pelo livro que lançou em 1951, “O Apanhador no Campo de Centeio”.

Um documentário prestes a ser lançado, acompanhado de um livro que reproduz e complementa o roteiro, ambos com o título “Salinger”, afirma com detalhes que o escritor deixou instruções para os responsáveis por sua obra para que publicassem pelo menos cinco livros adicionais –alguns inteiramente inéditos, alguns que ampliam textos já publicados–, numa sequência que deve começar no início de 2015.

Os novos livros e contos foram escritos muito antes de Salinger assinar essa declaração de intenções em 2008, e vão expandir bastante o legado do autor.

Uma coletânea, que será chamada “The Family Glass”, vai somar cinco novas histórias a um lista de já publicadas sobre a fictícia família Glass, que surgiu no livro “Franny e Zooey”.

Outra deverá incluir uma retrabalhada versão de uma história de Salinger já conhecida mas nunca publicada, “The Last and the Best of Peter Pans”, que será reunida a histórias novas ou já editadas da família Caulfield, entre elas “O Apanhador no Campo de Centeio”.

Salinger nasceu em 1919 e morreu em 2010

Salinger nasceu em 1919 e morreu em 2010

FILOSOFIA E GUERRA

Os trabalhos inéditos devem incluir um manual romanceado da filosofia hinduísta Vedanta, com a qual Salinger se envolveu, uma novela baseada em seu primeiro casamento e passada durante a Segunda Guerra Mundial, e uma outra novela, inspirada em suas próprias experiências na guerra.

Por décadas, pessoas próximas a Salinger disseram que ele continuou escrevendo assiduamente, embora tenha parado de publicar desde a novela “Hapworth 16, 1924”, que saiu na revista “The New Yorker” em 1965. Mas só agora são revelados tantos detalhado dos planos de publicações póstumas.

Matthew Salinger, filho e controlador do legado do escritor ao lado de sua viúva, não quis discutir os planos do pai como o documentarista. Foi a mesma posição da editora de “Apanhador no Campo de Centeio”, Little, Brown and Company.

O documentário, que será lançado no dia 6 de setembro, é dirigido por Shane Salermo, um cineasta que passou nove anos pesquisando e filmando material. O livro sobre o filme, escrito por Salermo e David Shields, será lançado pela Simon & Schuster no dia 3.

Dando entrevista em seu escritório em Los Angeles, Salermo apontou para mesas e gavetas lotadas de fotos nunca publicadas, centenas de cartas e até um diário manuscrito da Segunda Guerra que pertenceu a um dos mais antigos amigos de Salinger, um soldado chamado Paul Fitzgerald, já morto.

A descoberta dos planos de publicação, segundo Salermo, tomou forma na parte final de suas pesquisas. Ele credita os detalhes do acordo a duas fontes anônimas, descritas no livro como “independentes e sem ligação uma com a outra”. Salermo diz que são pessoas que nunca se falaram, mas ambas sabiam dos planos.

O livro e o filme estão sendo promovidos com a promessa de revelações sobre Salinger, que fez da busca por privacidade sua marca registrada. A campanha promocional inclui um pôster com a imagem de Salinger com o dedo na frente dos lábios, com a inscrição: “Descubra o mistério, mas não revele os segredos”.

DUAS MULHERES

O livro, com 698 páginas, viaja pela vida do escritor que participou do desembarque aliado na Normandia na Segunda Guerra Mundial e voltou aos EUA casado com uma alemã, Sylvia Welter. O livro traz detalhes sob a suspeita de que ela era, na verdade, uma informante da Gestapo. Depois de poucas semanas, Salinger deixou no prato dela, servido para o café da manhã, uma passagem aérea para a Alemanha.

Outro relacionamento descrito no livro vai intrigar os seguidores de Salinger. Logo após a guerra, ele teria conhecido uma garota de 14 anos, Jean Miller, em um resort na Flórida. Por anos, eles trocaram cartas, passaram períodos juntos em Nova York e teriam tido uma única relação sexual. Segundo depoimento de Miller no filme/livro, ele a abandonou no dia seguinte a essa relação. Segundo ela, um de seus contos foi inspirado por ela: “For Esmé – With Love and Squalor”.

Para Salermo, livro e filme concluem uma busca que acompanhou seu trabalho de roteirista em Hollywood, de filmes como “Os Selvagens” e a ainda inédita continuação de “Avatar”.

“Salinger está prestes a ter um segundo ato em sua vida, como nenhum outro escritor na história”, diz Salermo. “Não há precedentes.”

Assista ao trailer do documentário:

De J. D. Salinger, a L&PM publica Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira & Seymour, uma apresentação.

Cortázar antes de Cortázar

Os mistérios começam com a dúvida a respeito do dia exato de seu nascimento: 24 ou 26 agosto?  Bem, até que alguém desencave a certidão de nascimento do cidadão, o que temos é que Julio Florencio Cortázar nasceu em fins de agosto de 1914, em Ixelles, um subúrbio de Bruxelas, na Bélgica, em pleno início de um conflito sangrento que ficaria conhecido como a Primeira Guerra Mundial. Ao contrário do que habitualmente se lê nos resumos biográficos do autor, seu nascimento naquele país nada teve de acidental: seus pais, os argentinos Julio José Cortázar e María Herminia Descotte de Cortázar, junto com a avó materna do futuro escritor, Victoria Gabel, haviam chegado ali um ano antes, numa tentativa de se estabelecer na Europa. O fato é que Julio José havia sido convidado pelo sogro para administrar em Bruxelas a filial de sua firma de importação de móveis de luxo, um trabalho que não tinha nada a ver com qualquer missão comercial associada aos meios diplomáticos argentinos, outro mito repetido à exaustão na maioria das biografias de Cortázar.

Com o prosseguimento da guerra, e com a  Bélgica ocupada pelas tropas alemãs, o plano acabou não dando certo: buscando refúgio num país neutro, a família, com María Herminia grávida de Ofelia, chega a Zurique, na Suíça, em outubro de 1915. Menos de dois anos depois, em junho de 1917, os Cortázar abandonam a Suíça, estabelecendo-se por algum tempo em Barcelona, de onde finalmente regressam à Argentina, em algum momento entre 1918 e 1920, quando a Grande Guerra já havia terminado. Aqui, mais um mistério (ou dois): não se conhece nem a data exata do regresso da família a Buenos Aires, nem se sabe se o pai de Cortázar ainda fazia parte do grupo familiar.

O certo é que, já sem a presença de Julio José Cortázar, a partir de 1920 a família se instala no subúrbio de Bánfield, a mais de quinze quilômetros do centro de Buenos Aires, numa casa comprada por Victoria Gabel, a matriarca da família. É nesta casa que Julio Cortázar vai passar toda a infância e a adolescência, sempre rodeado de mulheres: a avó, a mãe, a irmã Ofelia e, por algum tempo, uma prima de sua mãe, Etelvina. Este ambiente sobrecarregado da presença feminina será recordado mais tarde em contos como “Os venenos, de Final de jogo, e em muitos outros. (…)

O pequeno Julio Cortázar com sua irmã Ofelia

O ainda pequeno Julio Cortázar com sua irmã Ofelia

Julio Cortázar e sua mãe

Julio Cortázar e sua mãe

Trecho inicial da apresentação de Sérgio Karam para A autoestrada do sul & outras histórias, de Julio Cortázar (1914-1984). Karam também foi responsável por selecionar os contos do livro.

Dose dupla de Kafka no teatro em São Paulo

Estreiam neste fim de semana, em São Paulo, dois espetáculos sobre o universo de Franz Kafka. Em um deles, Denise Stoklos transforma o clássico Carta ao pai numa metáfora sobre a relação entre o povo brasileiro e seus governantes. No texto, Kafka faz uma espécie de acerto de contas com o pai tirano por meio de uma carta que nunca chegou a seu destinatário. No palco, Denise projeta na figura do pai opressor a figura dos nossos governantes, enquanto o filho oprimido torna-se o brasileiro que anseia por melhores condições de vida.

Outra interpretação possível para a montagem de “Carta ao Pai” feita por Denise Stoklos é a relação entre instituições governamentais e classe teatral, que, segundo ela, está fadada a não crescer pelas condições que lhe são impostas. “Represento a classe teatral em cena e faço uma denúncia ao apontar as opressões vindas de órgãos como o MinC, a Secretaria de Cultura e a Funarte, que deveriam dar todas as condições aos criadores de teatro, mas não dão. Não sei como os grupos resistem, meu Deus”, desabafou em entrevista à Folha de S. Paulo.

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Denise Stoklos em “Carta ao pai”

A segunda estreia kafkiana do fim de semana é da Cia Pau D’arco de Teatro com direção de Bia Szvat: “Expresso K” também se baseia na obra epistolar de Kafka e busca reconstituir, de forma não linear, os últimos 5 dias de vida do autor tcheco. “Trazemos ao público uma faceta menos conhecida de Kafka, seu lado mais doce e amoroso, além de sua dor e de seus delírios, causados pela alta febre”, contou a diretora.

SERVIÇO:

“Carta ao pai”
Quando: sexta às 21h, sábado às 20h, domingo às 18h (de 23/8 até 29/9)
Onde: Sesc Consolação – Teatro Anchieta (Rua Dr. Vila Nova, 245, tel. 011 3258 3830)
Quanto: de R$ 6,40 a R$ 32
Classificação 18 anos

“Expresso K”
Quando: sábado às 21h; domingo às 20h (de 24/8 a 27/10)
Onde: Espaço da Cia do Feijão (Rua Dr. Teodoro Baima, 68, tel. 011 3259 9086)
GRÁTIS
Classificação 14 anos

E por falar em Kafka, acaba de chegar à Série Ouro L&PM, o grande livro Franz Kafka: Obras Escolhidas que reúne nove textos do escritor, entre eles Carta ao pai Metamorfose.