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Apontamentos sobre uma semana passada em Buenos Aires #1

Por Caroline Chang*

Na semana passada, participei da VIIIa. Semana TyPA de Editores en Buenos Aires, a convite da Fundación TyPA – uma instituição privada e sem fins lucrativos – e da Embaixada Brasileira na Argentina. A ideia é promover, in situ, a literatura argentina, proporcionando encontros entre os editores estrangeiros participantes e argentinos, também encontros com agentes literários, palestras e outras atividades. Segue abaixo um pouco do que vi, senti e pensei.

– Chegando aqui, descobri que a Fundación TyPA foi fundada em seguida à e em função da crise que castigou a Argentina em 2001. Para combater o cenário de desastre econômico, juntos, agentes de várias áreas da cultura – literatura, patrimônio, cinema e artes plásticas – se juntaram para pensar maneiras de promover os distintos setores culturais e ajudá-los a contornar a crise. Não pude deixar de admirar a iniciativa, tomada em um contexto que faria muitos povos se entregarem à prostração. Também não pude deixar de invejar esse temperamento portenho e de pensar que não por acaso a Argentina conquistou sua Independência à unha, e não no canetaço (aliás, o país se prepara para festejar, em maio próximo, seus 200 anos de independência).

– Impressionante o número, a variedade e a qualidade das editoras pequenas e independentes da Argentina. Fiquei me perguntando se no Brasil não há tantas, proporcionalmente, ou se eu é que não as conheço. A Libre, claro, é referência aqui, e os hermanos admiram a iniciativa brasileira tanto quanto nós as deles. Talvez uma diferença importante esteja no fato de que uma pequena editora argentina, se fizer direitinho o seu trabalho, encontrar seu nicho e perseverar – e se encontrar um bom distribuidor nos outros países de fala hispânica, inclusive na Espanha –, tem mais chances de multiplicar suas vendas. Entendo que para as pequenas editoras brasileiras tal expansão comercial é bem mais difícil, senão impossível (alguém conhece algum editor que venda livros para Moçambique?).

– Apesar da pujança portenha, me parece que os livros brasileiros, de um modo geral, são mais modernos e arrojados, em termos de capa e design, do que as edições que se vê nas livrarias argentinas. Há, é claro, a bela coleção de traduções da Adriana Hidalgo, os bonitos livros da HUM e os lindíssimos livros da pequena Tamarisco – todas editoras independentes –, mas creio que, no geral, as capas de livros brasileiras são mais modernas, quiçá menos figurativas e mais limpas.

– Invejável a quantidade e a qualidade das livrarias de Buenos Aires. Se são em maior número do que todas as livrarias do Brasil, não sei, mas eu bem que não me importaria em morar em uma cidade em que se pode sair de uma festa à meia-noite e meia, voltar a pé para casa pela Corrientes, sem medo de assalto e, de quebra, parar no caminho na Livraria Edipo para comprar um livro, como eu fiz. Destaque para a relativamente nova livraria Eterna Cadencia (www.eternacadencia.com – ver foto), em Palermo, e também para a Libros Del Pasaje (www.librosdelpasaje.com.ar ), também em Palermo.

*Caroline é editora da L&PM
**Nota do editor: amanhã, neste mesmo blog, a continuação dos apontamentos sobre a semana TyPA de Editores em Buenos Aires.