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Top 10 L&PM, os destaques do ano

Todo ano que se preze termina com listas de “melhores”, “mais lembrados”, “mais influentes”,  “mais importantes”… A restrospectiva faz parte do encerramento em grande estilo. Para nós, aqui da L&PM, foi bem difícil pensar nos 10 livros que marcaram o ano. Porque foram vários e todos eles, especiais. Mas também não vamos negar que alguns se destacaram e chamaram mais atenção dos leitores e da mídia. E são eles, agora, que (re)apresentamos aqui como sendo o “Top Ten L&PM 2010”:

1. Freud traduzido direto do alemãoO ano começou com duas novas traduções das obras de Freud: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, traduzidos direto do alemão por Renato Zwick. São dois livros, mas concluimos que eles são um único destaque.

2. Os informantes – lançado em março,  marcou a estreia do escritor Juan Grabriel Vásquez no Brasil. O romance retrata a conturbada relação entre pai e filho a partir de uma parte esquecida da história da Colômbia.

3. Peanuts Completo – Este ano foram mais dois volumes de Peanuts Completo, a primorosa edição de luxo, com capa dura, que traz tiras dos anos 50 de Charlie Brown e sua turma. Em 2011 tem mais!

4. Surdo Mundo – Comovente e irônico, o romance do inglês David Lodge foi inspirado na própria surdez do escritor e conquistou leitores e críticos de todo o Brasil.

5. Anjos da Desolação – O romance de Jack Kerouac nunca antes traduzido e publicado no Brasil foi lançado no mês de agosto. Diretamente transcrito dos diários de Kerouac, a edição é complementada pela apresentação de Seymour Krim, escritor e crítico literário que participou da geração beat.

6. Pedaços de um caderno manchados de vinho – O livro de Charles Bukowski que apresenta uma seleção de contos e ensaios que ainda não haviam sido reunidos ou publicados. Contém, inclusive, o primeiro e o último contos escritos por Buk.

7. Agatha Christie em Quadrinhos – No ano dos seus 120 anos, Agatha Christie teve destaque na L&PM e ganhou até um Hotsite. Mas foram os HQ que mais chamaram a atenção. O primeiro volume foi lançado em agosto: trouxe Assassinato no Expresso Oriente, seguido de Morte no Nilo. Em outubro, chegou Morte na Mesopotâmia, seguido do Caso dos Dez Negrinhos.

8. As veias abertas da América Latina – O clássico de Eduardo Galeano ganhou nova tradução de Sérgio Faraco e foi lançado, ao mesmo tempo, em formato convencional e pocket. Para completar, ganhou índice analítico.

9. Série Encyclopaedia – Aqui, o destaque foi para uma série. Em 2010, a Série Encyclopaedia L&PM entrou em uma nova fase, com títulos da britânica Oxford University Press e livros trazendo ilustrações, fotos e mapas.

10. WaldenLançado em novembro, o clássico de Thoreau ganhou apresentação de Eduardo Bueno e elogiada tradução de Denise Bottmann.

A bizarra lista da Feira do Livro

Juremir Machado da Silva*

Saiu a lista dos livros mais vendidos da Feira de Porto Alegre, que a Câmara do Livro chama de lista dos “mais comprados”. Uma turma de alunos da Ufrgs foi encarregada de entrevistar 600 pessoas. Eles pediram a cada entrevistado para citar dez livros adquiridos na Feira. A lista é cômica. A Câmara do Livro poderia simplesmente perguntar em cada banca o que foi mais vendido. Não faz isso por não acreditar nos vendedores. Acha que eles mentem para tentar induzir a saída de determinado livro. O novo sistema de pesquisa é pior. Vou dar alguns exemplos contundentes. Autografei na Feira “1930” e “História regional da infâmia”. Fiquei mais de hora e meia assinando cada um deles para leitores. Ao longo dos 15 dias da Feira, autografei sem parar esses dois livros. Nenhum deles apareceu na lista. Por quê?
A Sulina fez três promoções sugeridas por mim: “Raízes do mal”, de Maurice Dantec, a minha “Trilogia de Palomas” e “Partículas elementares”, de Michel Houellebecq. Dantec vendeu os 591 exemplares disponíveis. A trilogia vendeu 617 livros. Saíram 118 “Partículas”. Nenhum deles entrou na lista dos 35 “mais comprados”. Curiosamente um livro meu apareceu nessa lista: “Getúlio”, romance de 2004, que não teve sessão de autógrafos e não estava em foco. Liguei para Osvaldo Santucci, distribuidor da Record no Rio Grande do Sul e livreiro na Feira. Ele foi sincero: vendeu 30 exemplares de “Getúlio” na Feira. Era tudo o que tinha no estoque. Uau! De “1930”, estima ter vendido mais de 800. Vamos recapitular? Dantec, Houellebecq e eu mesmo, com vendas de 120 a 800 exemplares, perdemos para “Getúlio”, com 30.

A assessoria prestada pelos alunos da Ufrgs pretende ter feito uma pesquisa científica. Os aluninhos merecem todos fazer novamente a disciplina. Estão reprovados. Santucci, pela sua experiência, garante que, em média, o livro mais vendido da Feira anda pelos 1.500 exemplares. Num caso excepcional esse número teria chegado a oito mil. Se o primeiro vendeu 1.500, poderia um livro com 800 exemplares vendidos não ficar entre 35 mais comprados? O bom livro “Havana”, de Airton Ortiz, aparece em décimo na lista da Feira. Segundo Santucci, também seu distribuidor, foi menos vendido por ele do que “1930”. O inacreditável “A Batalha do apocalipse” aparece um sétimo. Santucci conta que havia pedido um grande número de exemplares, prevendo uma vendagem excepcional. Foi, segundo ele, um dos seus maiores fracassos. Nem falei ainda de “História regional da infâmia”. Aí é que pega.
“História regional da infâmia” estava à venda em 30 bancas. Poucos livros tiveram tantos pontos de venda. Só na da L&PM, editora do livro, vendeu 150. Todas as outras bancas pediram reposição mais de uma vez. A editora terá os dados exatos na próxima semana. Pode-se especular uma vendagem de mil exemplares. Isso é que dá ser escritor maldito. É sina. Eu me orgulho. Sempre na contramão. Numa coisa, ao menos, a Feira do Livro é coerente com o seu imaginário: a sua lista de “mais comprados” é de ficção.

*O texto acima foi originalmente publicado no jornal Correio do Povo em 19 de novembro de 2010