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36. De Corto Maltese aos Mangás: as HQs no DNA da L&PM

Por Ivan Pinheiro Machado*

No post da semana passada da série Era uma vez… uma editora, a Paula Taitelbaum, que coordena o núcleo de comunicação da L&PM, na minha ausência, iniciou um assunto que tem muito a ver com a história da editora: a coleção Quadrinhos L&PM. Tão importante são os quadrinhos para nós (o primeiro livro da editora foi o Rango 1, de Edgar Vasques, um livro de tiras de humor), que eu vou me estender neste assunto. Foi assim:

Em 1980 nós decidimos fazer uma coleção de quadrinhos nos moldes europeus. Nosso modelo era a extinta editora francesa Futurópolis, que resgatava e reconstituía os originais das primeiras histórias dos clássicos americanos e as editoras Castermann, Glennat e Dargaud. Ficávamos fascinados quando íamos a Paris e víamos, nas livrarias Fnac, numa grande sala destinada somente aos quadrinhos, dezenas de jovens sentados no chão lendo belos álbuns por horas a fio.

No Brasil, embora em declínio, havia a histórica editora EBAL que publicava os clássicos em edições luxuosas. Os quadrinhos mais populares, os tradicionais gibis, com os personagens americanos da Marvel e da DC Comics em suas novas versões requentadas, eram vendidos somente em bancas de jornais. Nossa idéia era publicar os álbuns nos modelos europeus, no formato 28 cm x 21 cm, papel de alta qualidade, edições costuradas, quase luxuosas e colocar os quadrinhos nas livrarias. O preço seria uma média entre as edições luxuosas do Príncipe Valente, por exemplo, e os gibis vendidos em banca.

Quando adolescente, meu pai foi para o exílio fugindo das perseguições da ditadura militar que imperava (literalmente) no Brasil. Toda a minha família foi para Roma. Foi lá que conheci um dos grandes personagens dos quadrinhos europeus na época, Corto Maltese, o fascinante marujo criado por Hugo Pratt (1927-1995). Eu e meu irmão éramos fãs de Corto e líamos avidamente todos os dias a tira que saía no jornal Corriere de la Sera. Aos domingos era publicada a sequência da história em meia página (8 tiras) formato standard (tipo Estadão).

"A Balada do Mar Salgado" foi primeira aventura de Corto Maltese publicada em livro

Quando projetamos a coleção de quadrinhos em 1980, escolhemos como primeiro título – numa homenagem à nossa estadia romana – o “romance gráfico” de Hugo Pratt, A Balada do Mar Salgado, primeira aventura publicada de Corto Maltese em livro. Uma longa história em quadrinhos de 200 páginas, onde Corto vive as mais variadas aventuras pelos mares do Sul entre piratas, bandidos e nativos das ilhas. Calado, bonitão, desiludido da vida, Corto é uma espécie de herói romântico, sentimental e duro, quando é preciso ser duro. Na sequência, publicamos outro italiano lendário, Guido Crepax (1933 – 2003), que fazia também enorme sucesso na Europa com sua lânguida, misteriosa e “gostosíssima” personagem Valentina. Depois, decidimos seguir “apresentando” os grandes quadrinistas internacionais ao público brasileiro; publicamos Moebius, Altan, Wolinski, Pichard, Jean Claude-Claeys, Quino (os cartuns), Fontanarrosa, Mathias Schulteiss, Rotundo, Magnus, Manara. Todos estes autores, com exceção de Manara e Quino, foram editados pela primeira vez no Brasil pela coleção Quadrinhos L&PM. Também publicamos de forma pioneira os autores underground Robert Crumb e Gilbert Shelton (Os Freak Brothers).

"Valentina" de Guido Crepax

Num trabalho de “reconstituição histórica” das HQs americanas, resgatamos as primeira histórias de Batman de Bob Cane, Superman de Jerome Segel e Joe Shuster, Fantasma de Lee Falk e Ray more, Dick Tracy de Chester Gould, Mandrake de Lee Falk e Phil Davis, Flash Gordon de Dan Barry, Spirit de Will Eisner, Popeye de E. Segar, Steve Canyon de Milton Cannif, Cisco Kid de J. Salinas entre muitos outros. Publicamos também na coleção de quadrinhos vários autores brasileiros como Caulos, Miguel Paiva, Chico Caruso, Paulo Caruso, Edgar Vasques, Luis Fernando Veríssimo, Mauricio de Sousa e Flavio Collin. Enfim, foram 123 álbuns em grande formato lançados num período 8 anos. Até que fomos fulminados pela concorrência das grandes editoras de revistas. Começavam a surgir as famosas “grafic novels” lideradas por Frank Miller e seu Batman futurista. Ali começou o fim da nossa coleção, pois no dinheiro de hoje, os nossos álbuns custariam entre R$ 25,00 e R$ 30,00. Nossa concorrência apresentava maravilhosas histórias inteiramente a cores (95% dos nossos álbuns eram em branco e preto, conforme as histórias originais). As grandes tiragens, a forte (e cara) propaganda e a distribuição em milhares de bancas faziam com que estas “grafic novels” chegassem ao consumidor por menos de R$ 10,00. O remédio foi honrosamente encerrar a coleção.

Mas quase como um vício, esta idéia dos quadrinhos sempre rondou a L&PM. Seguidamente temos recaídas. E desde o ano 2000 temos retomado a publicação eventual de histórias em quadrinhos. Destaque para a série de histórias de Agatha Christie, a história que, filmada, quase ganhou o Oscar de filme estrangeiro de 2009, Valsa com Bashir de Ari Folman, Aya de Yopougon de Margarite Abouet (álbuns coloridos) e a grande série das obras completas de Shulz, Peanuts que chega ao seu quarto volume em luxuosas edições em capa dura. A L&PM está lançando também, ainda em 2011, uma grande série de clássicos internacionais adaptados aos quadrinhos.

Tanto está no DNA desta casa, que os quadrinhos estão também magnificamente representados na maior coleção de livros de bolso do país que é, justamente a Coleção L&PM POCKET; lá estão Hagar, Garfield, Dilbert, Recruta Zero, Peanuts, Snoopy, Smurfs e grandes autores brasileiros como Laerte, Angeli, Glauco, Adão Iturrusgarai, Edgar Vasques, Iotti, Santiago, Mauricio de Sousa entre outros.

Para encerrar, aguarde a grande novidade, também para 2011: antes do Natal você vai ter na Coleção L&PM Pocket várias séries dos melhores Mangás japoneses. Evidentemente, para ler de trás pra diante…

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo-sexto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Já tem companhia para o feriado?

Um chocolate quente, um pijama confortável, música suave em um ambiente silencioso. O dia de hoje pede exatamente isso. Afinal, feriados são pequenos hiatos em meio a uma atribulada rotina e devem ser desfrutados ao máximo. Servem para pensar na vida, passear com um amigo, fazer um programinha romântico ou mesmo ficar deitado deixando-se inundar pelo sol invernal. Outra ideia para quem quer aproveitar o feriado é escolher um companheiro. De Machado de Assis a Raymond Chandler, de Bukowski a Anaís Nïn, de Allen Ginsberg a Agatha Christie.

Já pensou em passar o feriado com eles em um dos ambientes a seguir? 🙂

Biblioteca da Delft University, na Holanda.

Sala de leitura da Biblioteca do Parlamento em Ottawa, no Canadá

Österreichische Nationalbibliothek (The Austrian National Library) em Vienna

Para quem gosta de bibliotecas, este site fez uma seleção de fotos de algumas das mais lindas do mundo!

O dia de Poirot, Maigret, Padre Brown e Sherlock Holmes

O que seria de um boa história de mistério sem eles? Aquela pista que ninguém viu, aquele personagem que ninguém desconfiou, aquele motivo que ninguém suspeitou… Só eles são capazes de chegar ao verdadeiro veredicto, à resposta elementar, ao assassino frio e calculista. Seguindo não apenas as pistas, mas principalmente suas deduções precisas, os detetives são o grande trunfo dos livros da sessão policial. Tanto é assim que os mais famosos nunca aparecem em uma única história.   

Por que esse papo todo hoje? Porque ontem, 15 de maio, foi o Dia do Detetive. E nada mais justo do que  prestarmos uma homenagem aos nossos velhos conhecidos detetives da literatura: Poirot, Maigret, Padre Brown e Sherlock Holmes. Cada um deles tem a sua própria personalidade, construida com muito esmero por seus “pais”. Ou melhor, pelos escritores que os criaram. 

O ator David Suchet como Hercule Poirot

Hercule Poirot Agatha Christie descreve seu mais célebre personagem: “Altura, um metro e sessenta e dois; a cabeça, do formato de um ovo, ligeiramente inclinada para um lado; olhos de um verde brilhante quando excitado; espesso bigode hirsuto como costumam usar os oficiais do Exército; e uma pose de grande dignidade.” 

Para Poirot, é possível resolver um crime estando “apenas sentado na sua poltrona”, pois, ao contrário dos outros detetives que buscam pistas no local do crime, Poirot utiliza como principal método a psique humana. Não é um detetive de ação, mas de dedução. 

Rupert Davies como Jules Maigret

Jules Maigret O comissário Jules Maigret, criado por Georges Simenon, é, sem dúvida, um dos grandes personagens da literatura moderna. Mas antes de ser um detetive, é um verdadeiro estudioso da natureza humana. Um homem sensível às fraquezas de seus semelhantes. Sua argúcia está ligada, menos à genialidade dedutiva, do que a uma profunda capacidade de compreender a alma de suspeitos e vítimas. 

Maigret nos comove exatamente por isso. Pelo paradoxo que se estabelece quando temos um policial generoso, capaz de sofrer pela sorte de culpados e inocentes. 

Alec Guinness como Padre Brown

Padre Brown Criado pelo escritor britânico G. K. Chesterton, Padre Brown está entre os gandes detetives da literatura. Suas reflexões filosóficas pontuam a ficção de Chesterton e a escolha do método humanístico da intuição em detrimento da dedução garantiram a ele um lugar junto aos grandes. 

“A literatura é uma das formas de felicidade; talvez nenhum outro escritor tenha me proporcionado tantas horas felizes como Chesterton”, disse Jorge Luis Borges. 

Robert Downey Jr. como Sherlock Holmes

Sherlock Holmes – Ele é sem dúvida o maior de todos. Ao lado de seu fiel amigo, o Dr. Watson, Sherlock Holmes não aceita estar errado. Normalmente, porque ele sempre está… certo. Ao contrário do comissário Maigret, Holmes não demonstra muitos traços de sentimentalismo, preferindo o lado racional de ser. Sir Arthur Conan Doyle, seu criador, até tentou matar a criatura em um dos seus livros. Mas foi obrigado a ressucitá-lo devido aos protestos de leitores do mundo inteiro.

Sherlock Holmes domina incrivelmente uma vasta quantidade de assuntos do conhecimento humano, como história, química, geologia, línguas, anatomia e literatura.

Mãe de escritor só tem uma

No clima do Dia das Mães, aí vai uma homenagem a mulheres sem as quais algumas das pessoas mais admiráveis do mundo não existiriam: 

Gabrielle, mãe de Jack Kerouac

Clara, mãe de Agatha Christie

Amalie, mãe de Freud

Jane, mãe de Mark Twain

Clélia, mãe de Castro Alves

Maria Magdalena, mãe de Fernando Pessoa

Katharina, mãe de Charles Bukowski

Agatha Christie tinha outra por dentro

Agatha também era Mary. Não apenas Agatha Mary Clarissa Miller (que ao casar tornou-se “Christie”), mas também Mary Westmacott. Esse foi o pseudônimo escolhido para seus livros não policiais. Um nome que, aliás, Agatha nunca explicou exatamente de onde veio. O Mary é seu segundo nome. Mas e o Westmacott? Seria o sobrenome uma homenagem a Richard Westmacott, o famoso escultor britânico, autor do Vaso Waterloo que encontra-se no Palácio de Buckingham? Ela nunca deixou muito claro… Agatha escreveu seis romances sob esse pseudônimo (estreou como Mary em 1930), os primeiros livros sem que ninguém soubesse que era ela. Em sua autobiografia, a escritora falou sobre isso:

O que eu gostaria de fazer, agora, seria escrever um livro que não fosse policial. De modo que, com certo sentimento de culpa, diverti-me escrevendo um romance chamado Entre dois amores [Giant´s Bread]. Era sobretudo a respeito de música, e desvendava, aqui e ali, que eu possuía alguns conhecimentos técnicos no assunto. A crítica foi boa e vendeu-se razoavelmente para o que era considerado “primeiro livro”. Usava o pseudônimo de Mary Westmacott e ninguém sabia que o livro fora escrito por mim. Consegui conservar esse fato por 15 anos.

Escrevi outro livro sob o mesmo pseudônimo, um ou dois anos mais tarde, chamado Retrato inacabado  publicará este livro com o título de O retrato inacabado]. Só uma pessoa suspeitou de meu segredo: Nan Watts – agora Nan Kon. Nan possuía boa memória, e alguma frase que eu empregara acerca de umas crianças e um poema no primeiro livro atraíram sua atenção. Imediatamente disse para consigo “Tenho certeza de que foi Agatha quem escreveu isto.”

Um dia, cutucou-me as costelas e disse, num tom de voz levemente afetado: “Outro dia li um livro seu de que gostei muito; agora, deixe-me ver – como era mesmo o título? O Sangue dos amores, é isso, sim!” E piscou o olho para mim da maneira mais maliciosa. Quando a levei para casa, disse-lhe: “Conte-me agora – como foi que você descobriu a respeito de Entre dois amores?”

“É claro que eu sabia que foi você. Conheço sua maneira de falar”, disse Nan.

De tempos em tempos, eu escrevia canções, baladas sobretudo – mas não fazia a menor ideia de que teria a sorte estupenda de entrar em outro setor da arte literária inteiramente diferente e de que o iria fazer, ademais, numa idade em que já não é fácil empreender novas aventuras.

A Coleção L&PM Pocket publica todos os seis títulos de Agatha Christie como Mary Westmacott: Ausência da Primavera (um dos livros preferidos de Agatha sob o pseudônimo de Mary); Filha é filha (que, segundo sua única filha, Rosalind, foi baseado na relação entre ela e sua mãe); Retrato inacabado; O fardo; O conflito e Entre dois amores.

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Livros versus ovos de Páscoa

Ainda não comprou os ovos de Páscoa? Então pense bem: quem sabe, este ano, pra variar, você não troca o chocolate pelos livros? Não tem certeza? Então dá uma olhada nos doze motivos que listamos para tentar convencer você:

1. Enquanto, ao ser levado na bolsa, o chocolate do ovo de Páscoa tem grande chance de derreter, escapar do papel e melecar tudo, um livro pode ficar ali quanto tempo você quiser. De preferência, até o dia que de você termine de lê-lo, é claro.

2. Um ovo de Páscoa de 300g tem em média 1.600 calorias (alguns até mais)! Em contrapartida, segundo uma pesquisa da cadeia de livrarias britânica Borders, livros de ação fazem a gente gastar duas calorias por minuto, pois suas histórias levam o corpo a produzir mais adrenalina. Agatha Christie e Conan Doyle são, portanto, emagrecedores!

3. O ovo de Páscoa pode durar de alguns minutos a semanas, enquanto o livro vai durar até a próxima Páscoa. Ou melhor: pode ficar com você por toda vida. Quem sabe até passar pra seus filhos, seu netos, bisnetos…

4. Um ovo de Páscoa pode ser dividido (apesar de muita gente preferir comer tudo sozinho), mas compartilhar um livro é espalhar conhecimento e emoção…

5. Livros, apesar de serem feitos de papel, podem ser considerados mais ecológicos, pois não produzem lixo. Já os ovos são embalados em papel alumínio e papel celofane, vem com fita, adesivo, embalagem do recheio…

6. Você já ouviu falar de alguém que tenha alergia ou intolerância a livros?

7. Enquanto os ovos de chocolate têm apenas opções do tipo “ao leite”, “meio amargo”, “amargo”, “branco” e “com flocos”, livros oferecem uma gama enorme de gêneros que vão dos romances aos quadrinhos.

8. Em caso de compras de última hora, ao optar por livros, você não vai precisar entrar em fila, ficar com os “restos” ou brigar com aquela senhora que insiste que o último ovo da Barbie é dela e não seu.

9. Livros vêm com mais surpresas do que um ovo de Páscoa. Pode ter certeza.

10. O livro pode ir junto pra cama e, mesmo no caso do sono se abater sobre você, ele não vai sujar o seu lençol. Ah, você também não precisa escovar os dentes depois.

11. Livros em excesso não fazem mal à saúde. Muito pelo contrário. Já os ovos…

12. Os livros da Coleção L&PM POCKET custam mais barato do que a maioria dos ovos de Páscoa.

Se mesmo com tudo isso, você ainda insistir nos ovos de Páscoa, a gente entende, afinal, eles são o símbolo da Páscoa. Mas quem sabe você também não coloca um livro no ninho?

Digressões de uma amante de livrarias físicas ou Uma nova forma de vender livros

Por Caroline Chang*

Começou mal a minha última viagem a San Francisco, uns dez dias atrás: nosso hotel ficava perto da Union Square e, a fim de reconhecer o terreno, para lá nos tocamos. Grandes butiques de marcas caras espalhadas ao redor da praça e, numa das esquinas, uma grande loja da Borders, em cujas vitrines faixas e cartazes anunciavam: “Closing sale”, “Everything must go”. A gigantesca rede de livrarias americanas, que já teve 1.329 estabelecimentos no país, há algumas semanas pediu falência e mesmo antes disso já vinha fechando filiais. Eu e meu marido, que trabalhou décadas no mercado editorial e teve sua própria editora, resolvemos entrar e pagar nossos respeitosos tributos à moribunda livraria. Por “everything” era isso mesmo o que eles queriam dizer: até mesmo apetrechos de cozinha outrora usados na cafeteria estavam à venda (pratos, canecas, medidores, etc). O desconto para alguns livros chegava a 60% sobre o preço normal. Um sentimento meio irracional tomou conta de mim e saí à cata de algum título que me interessasse, como que a transmitir meus pêsames ao familiar enlutado de alguém há pouco falecido. Percorri duas, três vezes as prateleiras de ficção, e a verdade é que havia muito pouca coisa sendo oferecida. Alguns livros do Dickens (que eu já tinha) e Jane Austen (idem) misturados com mancheias de romances comerciais de gosto duvidoso. Quando me dei conta de que o setor de FICÇÃO não contava sequer com uma subdivisão do tipo “Literatura de língua inglesa” e “Literatura estrangeira”, me ocorreu: talvez aquela livraria merecesse fechar, mesmo.

Para não dizer que não comprei nada, adquiri uma edição de bolso de Winesburg, Ohio, do Sherwood Anderson, por US$ 3,57.

A Border e suas ofertas / Foto: Sérgio Ludke

Dois ou três dias depois estávamos nós em North Beach, que vem a ser o bairro de imigração italiana de Frisco cujo ponto alto, para mim, foi a City Lights, livraria e sede da editora de mesmo nome de Lawrence Ferlinghetti (empresário, poeta e remanescente da geração beat que há pouco completou 92 anos e mora em cima do estabelecimento – que não tem filiais). Foi lá que Ginsberg fez a leitura do seu poema “Uivo”, publicado em 1956 pela City Lights no volume Howl and Other Poems (cuja edição brasileira, em tradução do Cláudio Willer, a L&PM Editores tem a honra de publicar). Eu achava que conhecia a City Lights da outra vez em que estivera na cidade, mas me enganara: eu jamais teria esquecido se tivesse ido àquela livraria.

Os cartazes escritos à mão são outro diferencial da City Lights / Foto: Caroline Chang

O lugar, por si só, já é fascinante e aconchegante: três andares de corredores estreitos, pé-direito alto e simpáticos cartazes humanistas ao estilo contra-tudo-isso-que-está-aí, como “People are not corporations”. Mas a cereja no sundae é a seleção de livros. Havia uma subdivisão de literatura européia! E parecia que de fato alguém havia… lido os livros e os estava recomendando para nós, leitores! Nada de rebotalho, apenas ótimos nomes e livros de autores desconhecidos porém provocadores. Num espaço várias vezes menor do que qualquer livraria de rede americana, Seu Ferlinghetti e equipe conseguem oferecer uma quantidade muitas vezes maior de boas e instigantes opções de leitura. Na City Lights, é claro, o exercício foi o contrário: tive que me segurar para não sair de lá com duas sacolas cheias. Comprei só dois livros: Merchants of Culture: The Publishing Business in the Twenty-First Century, de John B. Thompson (Polity Press, 2010) e The New York Stories of Henry James, com seleção e introdução de Colm Tóibín. E um bumper sticker da City Lights, pois já estou na idade em que a pessoa se torna carente de heróis.

Tudo convida à leitura na City Lights / Foto: Caroline Chang

Breve, a L&PM começará a vender seus e-books (e-Pub) por meio da Distribuidora de Livros Digitais. E-books de títulos clássicos e contemporâneos, como romances da Agatha Christie, Jack Kerouac e livros de crônicas da Martha Medeiros serão oferecidos ao leitor primeiramente no site das livrarias Saraiva, posteriormente em sites de outras lojas.

É só um primeiro passo, claro, que apenas pode ser dado após muitos meses de trabalho. Será que no futuro difuso as livrarias “em papel” vão acabar? Espero que não, pois sou do tipo que gosta de sobrecarregar sua mala com brochuras. Mas sei que o que eu, individualmente, gosto ou deixo de gostar não vai ter peso no desenrolar das coisas, no grande esquema da história. Ecoando o Hobsbawm, serão tempos interessantes para os leitores. Que venham.

PS – Enquanto o difuso futuro ainda não tomou inteiramente parte do presente, aproveitemos as nossas boas livrarias. Blog imperdível para quem gosta de conhecer os melhores estabelecimentos do tipo em todo o mundo: http://www.bookstoreguide.org/

PS2 – A quem interessar possa, a L&PM Editores também tem a honra de publicar Um parque de diversões da cabeça, do Ferlinghetti (long live!), em tradução de Eduardo Bueno e Leonardo Fróes.

*Jornalista e Editora da L&PM 

Música com inspiração literária

Quem é fã, acaba se tornando especialista sobre o ídolo. Vive à caça de referências, obras raras e informações e, sempre que possível, não poupa homenagens: dá o nome do ídolo a animais de estimação, objetos, filhos e – por que não? – projetos profissionais. É o caso dos integrantes da banda russa Agatha Christie:

No site oficial da banda, todas as músicas estão disponíveis para streaming em vídeo.

Além da Rainha do Crime, o autor de On the road também ganhou versão musical: a banda inglesa Kerouac lançou no ano passado o EP Cold and Distant, Not Loving.

Para completar o setlist literário, aí vai uma sugestão para quem gosta de rock inglês dos anos 80: Virgínia Wolf (assim mesmo, com apenas um “o”). Veja o clipe oficial da música Waiting for your love, do álbum Push (1987):

Um mergulho no universo de Júlio Verne

No dia do aniversário do autor de A volta ao mundo em 80 dias, o Google fez uma homenagem diferente do convencional em sua página. O doodle (como são chamados os logos comemorativos do Google) de hoje é animado e simula uma viagem de submarino ao fundo do mar, em que é possível escolher a direção da navegação. Mesmo quem não é ligado em datas acaba entrando na brincadeira e no universo do de Júlio Verne.

Sempre que o logotipo da empresa aparece diferente do tradicional, basta clicar sobre o desenho ou animação para descobrir quem é o homenageado ou qual o fato importante do dia. De Einstein a Asterix, passando por Tom Jobim, H. G. Wells e John F. Kennedy, diversos cientistas, artistas e personalidades foram lembrados pelo gigante da internet, como a nossa querida Agatha Christie no dia de seu aniversário:

Doodle em homenagem a Agatha Christie

Júlio Verne nasceu em Nantes, na França, em 8 de fevereiro de 1828. Por suas predições sobre submarinos e máquinas voadoras e até menções a uma viagem à Lua, ele é considerado um dos precursores do gênero de ficção científica. Morreu em 1905, aos 77 anos, deixando um legado de quase 50 obras. Três delas fazem parte da Coleção L&PM Pocket: A volta ao mundo em 80 dias, Viagem ao centro da terra e Os conquistadores.

Top 10 L&PM, os destaques do ano

Todo ano que se preze termina com listas de “melhores”, “mais lembrados”, “mais influentes”,  “mais importantes”… A restrospectiva faz parte do encerramento em grande estilo. Para nós, aqui da L&PM, foi bem difícil pensar nos 10 livros que marcaram o ano. Porque foram vários e todos eles, especiais. Mas também não vamos negar que alguns se destacaram e chamaram mais atenção dos leitores e da mídia. E são eles, agora, que (re)apresentamos aqui como sendo o “Top Ten L&PM 2010”:

1. Freud traduzido direto do alemãoO ano começou com duas novas traduções das obras de Freud: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, traduzidos direto do alemão por Renato Zwick. São dois livros, mas concluimos que eles são um único destaque.

2. Os informantes – lançado em março,  marcou a estreia do escritor Juan Grabriel Vásquez no Brasil. O romance retrata a conturbada relação entre pai e filho a partir de uma parte esquecida da história da Colômbia.

3. Peanuts Completo – Este ano foram mais dois volumes de Peanuts Completo, a primorosa edição de luxo, com capa dura, que traz tiras dos anos 50 de Charlie Brown e sua turma. Em 2011 tem mais!

4. Surdo Mundo – Comovente e irônico, o romance do inglês David Lodge foi inspirado na própria surdez do escritor e conquistou leitores e críticos de todo o Brasil.

5. Anjos da Desolação – O romance de Jack Kerouac nunca antes traduzido e publicado no Brasil foi lançado no mês de agosto. Diretamente transcrito dos diários de Kerouac, a edição é complementada pela apresentação de Seymour Krim, escritor e crítico literário que participou da geração beat.

6. Pedaços de um caderno manchados de vinho – O livro de Charles Bukowski que apresenta uma seleção de contos e ensaios que ainda não haviam sido reunidos ou publicados. Contém, inclusive, o primeiro e o último contos escritos por Buk.

7. Agatha Christie em Quadrinhos – No ano dos seus 120 anos, Agatha Christie teve destaque na L&PM e ganhou até um Hotsite. Mas foram os HQ que mais chamaram a atenção. O primeiro volume foi lançado em agosto: trouxe Assassinato no Expresso Oriente, seguido de Morte no Nilo. Em outubro, chegou Morte na Mesopotâmia, seguido do Caso dos Dez Negrinhos.

8. As veias abertas da América Latina – O clássico de Eduardo Galeano ganhou nova tradução de Sérgio Faraco e foi lançado, ao mesmo tempo, em formato convencional e pocket. Para completar, ganhou índice analítico.

9. Série Encyclopaedia – Aqui, o destaque foi para uma série. Em 2010, a Série Encyclopaedia L&PM entrou em uma nova fase, com títulos da britânica Oxford University Press e livros trazendo ilustrações, fotos e mapas.

10. WaldenLançado em novembro, o clássico de Thoreau ganhou apresentação de Eduardo Bueno e elogiada tradução de Denise Bottmann.