O homem que amava as mulheres

Por Ivan Pinheiro Machado

Para desespero de madame Balzac, Laure de Berny tinha 45 anos, era casada com um conde e tinha nove filhos. E foi o primeiro e maior amor de seu filho mais velho, Honoré.

Dela, ele recebeu o carinho que a mãe havia lhe negado e a definitiva iniciação sexual. Balzac era um menino do interior, tinha 22 anos. Laure excitava a imaginação do jovem Honoré, tão chegado no brilho da aristocracia. Afinal – prato cheio para um futuro romancista – Mme. de Berny traía um conde, e seus pais foram íntimos dos reis decapitados; a mãe foi dama de companhia de Maria Antonieta e o pai, harpista de Luis XVI… Não era pouca coisa. E o que no começo foi um escândalo provinciano, acabou por se transformar em uma amizade para toda a vida. Laure também foi decisiva na execução e concepção do grande projeto da Comédia Humana.

Zulma Carraud foi outra paixão da juventude. Casada com um militar, ela foi sua confidente, leitora e orientadora. Mas para desespero do escritor, jamais houve sexo entre eles.

Especialista no chamado “roman a clef” Balzac usava os livros para acertar contas e  concentrava o fogo de sua fúria nos homens. Já para as mulheres, dedicava toda a sua compreensão e tolerância. Como toda a regra tem exceção, seu belo romance “A Condessa de Langeais”, teria sido uma espécie de vingança ao desprezo da Marquesa de Castries, cuja mão foi recusada ao escritor. Mas, ao ler este livro pertencente à magnífica trilogia “História dos treze”, você verá que a marquesa não tinha nada do que reclamar, pois a condessa é um dos grandes personagens de Balzac.

Era conhecido nos ambientes mundanos como grande “causer” ou homem de excelente conversa. George Sand disse numa carta, “Quando entrava num salão, imediatamente o enchia”. No começo da década de 1830, principalmente depois do enorme sucesso de A pele de Onagro, ele já era um personagem célebre e colecionava “casos”, embora perseguisse obstinadamente um “bom casamento”, de preferência com uma condessa rica e viúva. Como Laure D’Abrantés, que foi sua amante por um breve tempo e, além de condessa, era viúva do célebre Marechal Junot, conquistador do Egito com Napoleão.

A celebridade em Paris da Restauração, como de resto em todas as épocas e em todo o mundo, atraía belas mulheres. Balzac recebia dezenas de cartas perfumadas e “diariamente, lindas desconhecidas batiam à sua porta”. Circulava entre os dândis “confirmados” de Paris. Um dos pontos altos da Comédia é a descrição das cortesãs. São várias, todas lindas e inteligentes como Josepha, Esther, Valeria, entre tantas outras que adoravam desfilar nos camarotes da Opéra com os garotos endinheirados. As descrições são tão verossímeis que pressupõe uma familiaridade que ele realmente teve na vida real.  Uma de suas prediletas foi a “demi-mondaine” Olympie Pélisser, uma das mulheres mais lindas de Paris por quem teve uma rápida paixão que custou até um pedido de casamento, por sinal, negado. Olympie foi amante do músico Rossini e do escritor de folhetins, famoso na época, e rival literário de Balzac, Eugène Sue. Dizia-se que a bela cortesã teria sido modelo para a deslumbrante e insensível Foedora de “A pele de Onagro”.

Mas entre as muitas mulheres que passaram pela sua vida, a que mais o marcou foi Eveline Hanska, condessa polonesa, leitora de Balzac que aproximou-se dele através de uma carta anônima. Balzac já era o escritor mais lido na Europa e nesta carta a condessa declarava sua admiração. Balzac investigou muito, acabou descobrindo a sua identidade e foi encontrá-la numa viagem a Suíça. Imediatamente tornaram-se amantes. A correspondência entre os dois é imensa e as cartas de Balzac para a “estrangeira” são a principal fonte de seus biógrafos. Já as cartas de Eveline para Balzac são raríssimas e supõe-se que Balzac as tenha destruído pois, afinal, ela era uma senhora casada. Esta ligação de duas décadas só consumou-se seis anos depois que a condessa enviuvou. E aos 50 anos, cansado e doente, Honoré de Balzac atingiu o sonho da vida inteira que era casar com uma condessa de verdade. Morreria seis meses mais tarde.

Leia também:

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O monumento chamado Comédia Humana
Balzac: o homem de (maus) negócios
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Ouro e prazer
Balzac e as balzaquianas
O poder das mulheres na Comédia humana

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O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia

Escreveu Nelson Rodrigues que “a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana”. Mas Nelson não foi o único a reunir, no mesmo campo, a literatura e o futebol. A lista de escritores que usaram a bola, os clubes e os times futebolísticos como tema é bastante extensa. Em Millôr definitivo – a Bíblia do caos, que a L&PM publica em formato especial, o genial Millôr Fernandes transcorre seus pensamentos sobre os mais variados assuntos, entre eles, claro, o futebol. Vamos combinar que, em tempos de Copa do Mundo, essa é uma leitura perfeita.  Basta ver algumas das frases que estão no livro para concordar com isso:

“O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”

“E no oitavo dia Deus fez o Milagre Brasileiro: um país todo de jogadores e técnicos de futebol.”

“Há muito tempo me desinteressei pelo futebol. Foi quando comecei a ver aqueles latagões, ganhando fortunas e tratados como odaliscas, não conseguirem dar um passe certo no meio do campo – sem qualquer pressão do adversário. Como artista plástico, tratado daquele jeito, eu morreria de vergonha se não pintasse uma capela Sistina por semana.”

“Futebol, o pio do povo!”

“A vida é igualzinha ao futebol. Mas o campo não é demarcado, vale impedimento, a canelada marca ponto a favor, a bola é quadrada, o gol não tem rede e o Supremo Juiz é um ladrão que expulsa do jogo quem bem entende, sem qualquer explicação.”

Charge de Millôr Fernandes

Uma Polaroid famosa na parede de casa

Que tal ter uma foto de Truman Capote em casa? Ou então um autorretrato de Andy Warhol no álbum de família? E já pensou se não for uma simples cópia fotográfica, mas uma Polaroid única e exclusiva? Não será o máximo?

Pois agora é a sua chance. Para saldar suas dívidas, a Polaroid teve que colocar suas relíquias na roda: foi ordenado o leilão dos seus mais famosos instantâneos. O evento – porque será um evento – está marcado para segunda e terça da próxima semana.

De passagem marcada para Nova York? Com alguns US$ 30 mil sobrando? Então não perca essa. Nós aqui da L&PM adoraríamos adquirir algumas dessas preciosidades, mas esse é um luxo que não poderemos nos dar no momento (se formos para a Big Apple, quem vai atualizar o blog?). Abaixo, algumas das imagens que, breve, alguém terá em casa. Quem sabe não será você?

Paris tem mania de Rimbaud

Por Paula Taitelbaum

Rimbaud é pop. E em Paris está mais na moda do que nunca. O belo rosto do poeta que cantou o inferno estampa lambretas, camisetas, vitrines de livrarias e, até o dia 1º de outubro, é exibido na exposição RIMBAUDMANIA. Em cartaz na “Galeria des Bibliothéques, Ville de Paris”, a mostra pode ser vista a partir de uma singela entrada de quatro euros que permite um passeio pelos manuscritos originais do autor, fotos, desenhos, capas de livros e muita memorabília. “O que é este mistério e como ele se tornou tão grande? Por que sua imagem consegue se renovar a cada geração? Rimbaud viveu todas as nossas tristezas, nossos fracassos, nossos sonhos? O que é esse sol que nele brilha e que tanto nos atrai? Será que o que mais nos intriga é o fato de ter escrito tão bem ou ter parado de escrever tão cedo? Ou será que é sua imagem que faz com que o acolhamos como uma espécie de irmão? Não há nenhuma resposta objetiva. Arthur Rimbaud manterá para sempre o seu enigma. RIMBAUDMANIA narra o advento dos heróis da mitologia moderna, e torna tangível a extensão desse mito. Rimbaud sobrevive graças à esperança e à fé na capacidade do homem para ‘mudar a vida'”, diz o texto de apresentação do curador Claude Jeancolas que está no site oficial da mostra. É lá também que você poderá saber mais detalhes e assistir um vídeo sobre a exposição. As fotos abaixo foram tiradas recentemente nas ruas de Paris.

 De Rimbaud, a Coleção L&PM Pocket publicou Uma temporada no inferno. Leia mais sobre o poeta no post Arthur Rimbaud: a tragédia, o charme e o mito.

Surdo mundo mostra que nem a surdez livra você das vuvuzelas

Se você, em um momento de raiva, desejou ser surdo para não ouvir nem Galvão Bueno e nem as vuvuzelas, saiba: não vai adiantar.

Desmond Bates, o protagonista de Surdo mundo – mais recente lançamento da L&PM –, descobriu que estava ficando surdo, e foi a um otorrinolaringologista:

“Ele me mostrou os gráficos que o audiólogo tinha feito, um para cada ouvido. Eles pareciam aqueles mapas celestes, cheios de constelações, com linhas retas que uniam os bipes, representados por pequenas cruzes. O desenho era praticamente igual para as duas orelhas. Hopwood [o médico] me explicou que eu sofria de surdez de alta freqüência, a forma mais comum da surdez adquirida (para distingui-la da surdez congênita), causada pela perda acelerada das células capilares do ouvido interno que convertem as ondas sonoras em mensagens ao cérebro”.

Pois as vuvuzelas, como explicou a revista Superinteressante (@revistasuper), soam em baixa freqüência – 253 Hz – o que faz com que Desmond Bates ainda consiga ouvi-las. Se bem que, ao menos, ao que tudo indica, ele estaria livre do Galvão…

O Brasil saiu na frente da França

E não estamos falando de Copa do Mundo.

On the Road – o manuscrito original, de Jack Kerouac, acaba de ser lançado na França pela editora Gallimard – como mostra o anúncio veiculado no jornal Liberación na última sexta-feira, 11 de junho. O livro foi publicado pela L&PM em 2008, o que demonstra que, pelo menos dessa vez, os brasileiros leram antes dos franceses. E olha que o saldo de leitura deles é bem maior do que o nosso.

As crianças da China e a Turma da Mônica

Se eu vi muitas crianças na China? Sim, vi. E a maioria dos chinezinhos que tive contato estavam concentrados em duas escolas que visitei em Wenzhou, cidade no sudeste da China. Cercada por montanhas – e antigamente por belos canais cristalinos que não existem mais -, o lugar mantém-se envolto por brumas, não de Avalon, mas de poluição. Nas escolas de Wenzhou, todas públicas como no restante do país, os pequenos obedecem a uma rotina não muito diferente das escolas ocidentais: estudam, brincam, lancham, fazem amigos. Mas as semelhanças parecem parar por aí. Todos os alunos usam lenços vermelhos no pescoço, voltam-se para a bandeira do comunismo em dias de festa e fazem a saudação ao camarada Mao (levantando o braço vigorosamente). Na escola localizada na periferia da cidade, eu me senti em um quartel, pois as crianças, enfileiradas no pátio, entoaram cânticos que soavam como hinos.

Já na escola que fica em um bairro relativamente mais nobre, mesmo com os lenços vermelhos, as crianças pareciam mais soltas, muitas sabiam falar um pouco de inglês e algumas contaram seus planos de estudar em Harvard.

E é nesse tipo de escola que a Turma da Mônica se prepara para entrar. Mauricio de Sousa esteve em Pequim no início de maio para tratar da negociação e da criação de gibis da Turma como material de apoio para a educação de 180 milhões de crianças chinesas. As primeiras revistinhas escritas em chinês já foram feitas, em parceria com a editora Online Education China. Mauricio disse em recente entrevista que acredita que a Turma da Mônica foi escolhida por ter “mensagens universais”.

Para assistir à entrevista exclusiva de Mauricio de Sousa na L&PM WebTV, clique aqui, e para relembrar a visita de Paula ao estúdio do criador da Turma da Mônica, aqui.

 Leia os posts anteriores:
Um jantar cheio de vida na China
Será que alguém lê livros na China?
A escrita chinesa e a arte de desenhar ideias
Enquanto isso, na China milenar, a Expo continua a mil
A Expo é um parque de diversões na cabeça
A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
Xangai é um barato

A palavra do homem que soube comandar outros homens

Ivan Pinheiro Machado

No dia 5 de maio, eu escrevi um texto sobre o aniversário da morte de Napoleão. Coincidentemente, poucos mais de um mês depois, estamos lançando Manual do líder, um livro especialíssimo, preparado por um grande estudioso da história francesa da primeira metade do século XIX, Jules Bertaut (1877-1959). O livro traz frases e aforismos de Napoleão Bonaparte recolhidos de toda a bibliografia existente a seu respeito. Estadista, político e estrategista genial, Napoleão é um personagem grande demais, polêmico demais, fascinante demais a ponto de render milhares de livros, lendas e filmes. Foi comparado aos grandes conquistadores como Julio César, Alexandre, o Grande e Átila, o Huno. Foi endeusado por sua coragem pessoal em episódios como a famosa passagem sobre a ponte de Arcole, na Itália, quando assumiu a vanguarda de suas tropas e enfrentou a metralha austríaca. Chefiou campanhas memoráveis, como Rivoli, Austerlitz, Marengo entre tantas batalhas célebres. Fez tremer todas as monarquias européias e o sólido reino da Rússia e seu Tzar. Este corso audacioso e pobre que lia dois livros por dia, consumindo dezenas de velas nas madrugadas parisienses, soube utilizar sua carreira militar meteórica (com 26 anos era comandante em chefe do Grande Exército francês) e sua inteligência prodigiosa para fechar o ciclo da Revolução Francesa, com o golpe do 18 Brumário em 1799 quando assumiu o poder. Sua ambição territorial e militar é polêmica, mas seu talento como administrador é inquestionável. Ele nomeou-se imperador, mas nunca abandonou os princípios da Revolução que ajudara a consolidar. A França saiu do feudalismo e do atraso com a Revolução e com Napoleão. Ele transformou em leis os princípios de proteção ao cidadão. Ele lançou os preceitos da educação para todos, criou os códigos civil e penal, organizou a administração pública e modernizou o estado francês. Consequentemente, do mundo. Por tudo isso, esse Manual do líder é um lançamento imperdível. Não apenas para entender melhor o pensamento deste homem que soube como ninguém comandar outros homens, mas também um exemplo para aqueles que buscam estimular seu espírito de comando e liderança.

Para entrar ainda mais no clima do Manual do líder, assista à cena de um filme que mostra o emocionante retorno de Napoleão da Ilha de Elba.

Em tempos de Copa do Mundo…

… a camiseta da seleção da Eslovênia não parece familiar para vocês?

Olhem bem, mais de perto agora:

Adivinhou quem concluiu que a Nike evidentemente se inspirou no nosso querido amigo, o bom e velho Charlie Brown:

Vai dizer que a camiseta não é igualzinha? Quem matou a charada foi o Tiago Leifert, ontem, durante a transmissão do grande jogo entre Eslovênia e Argélia. Mas enquanto buscávamos imagens para ilustrar o post, descobrimos que o blog De olho no Brasil já tinha notado a semelhança em maio.

Snoopy, o presente perfeito para o dia 12

Ainda não sabe o que dar de presente para a sua metade da laranja amanhã? Pois então temos a honra de apresentar a solução dos seus problemas:

Snoopy 2 – Feliz Dia dos Namorados! é o presente ideal para namoradas (“aaaai, que fofo”) e namorados, que certamente darão muita risada com as cartas de amor do mascote do Charlie Brown, como essa aqui: