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O sucesso de Claudio Willer em São Paulo

O lançamento de Os Rebeldes – Geração Beat e anarquismo místico, novo livro de Claudio Willer,  reuniu dezenas de pessoas na noite da quinta-feira, 3 de julho, na livraria Martins Fontes em São Paulo. A sessão de autógrafos estava marcada para começar às 19h, mas às 18h30 a fila já se estendia pelos corredores da livraria e se estendeu até às 23h.

Claudio Willer

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Em seu novo livro, Willer revela a história de personagens-personalidades que transcenderam os próprios limites e os de sua época. Inspirados nos escritos de William Blake, Arthur Rimbaud e W.B. Yeats, os beats fundamentaram sua ideologia em tradições religiosas, as mais variadas, e assim constituíram a base para uma nova filosofia de vida e de arte, além de abrir mil e uma estradas que não cessam de ser percorridas, uma geração após a outra. Familiarizado há décadas com a geração beat, o autor dedica maior parte de seu trabalho a Kerouac. Explora, entre outros, o anarquismo místico, as religiões beat, as viagens e o tempo.

O livro já disponível nas principais livrarias por R$ 34,90.

Nós e “As veias abertas…”

Por Ivan Pinheiro Machado 

Conheci Eduardo Galeano na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, em 1976. Era minha primeira vez em um evento como este e eu, muito jovem, representava uma editora que tinha apenas um livro. Lembro que Millôr Fernandes me levou ao aeroporto do Galeão e disse: “o Gasparian vai estar neste vôo”. Fernando Gasparian, que faleceu em 2006, era o dono da Editora Paz e Terra e foi, além de uma extraordinária figura humana, um dos maiores editores do Brasil. Seu lugar na história das lutas democráticas nos anos 70 está garantido. Além de editor de livros, Gasparian foi dono do célebre jornal “Opinião” e um dos donos do não menos célebre “O Pasquim”. Pois bem, encontrei Gasparian no avião, me apresentei e conversamos durante muitas horas até que, quando chegamos a Frankfurt, fomos juntos procurar um hotel. Instalados, nos encontramos na Feira, onde Fernando me apresentou Eduardo Galeano. Naquele ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt se posicionava politicamente ao homenagear a literatura Latino-americana – época em que a América do Sul era 100% tomada por ditaduras militares. Todos os grandes autores, com exceção de Jorge Luis Borges, estavam lá: o colombiano Gabriel García Marquez, o peruano Mario Vargas Llosa, o paraguaio Augusto Roa Bastos, o argentino Julio Cortázar, o chileno José Donoso, os uruguaios Eduardo Galeano e Mario Benedetti, os brasileiros Jorge Amado, Thiago de Mello e muitos outros. Houve várias manifestações e uma histórica mesa redonda com todos os escritores importantes num auditório lotado por mais de 2.000 pessoas. 

Hoje, primeiro de outubro, a L&PM está lançando uma nova edição de “As veias abertas da América Latina”. Com nova capa, nova tradução e índice analítico, “As veias abertas…” vem juntar-se à totalidade da obra de Eduardo Galeano editada pela L&PM. 

Estamos muito orgulhosos. “As veias abertas da América Latina” vendeu milhares de exemplares em todo mundo. Líamos este livro na década de 70, em espanhol, pois esteve quase 10 anos proibido no Brasil. É um inventário da espoliação, da colonização e da predação europeia e norte-americana na América Latina. Em seu prefácio, escrito especialmente para esta edição, Galeano diz, em 2010, que lamenta que o livro não tenha perdido a atualidade… Apesar destes tempos neoliberais, “As veias abertas…” segue tendo muitos leitores. Afinal, as novas gerações querem conhecer este clássico e este lado sombrio da nossa história. 

O tradutor de "As veias abertas..." Sergio Faraco, Eduardo Galeano e os editores da L&PM Ivan Pinheiro Machado e Paulo de Almeida Lima

 

Uma biografia recheada de ficções

Hoje pedimos licença para publicar no blog uma pequena biografia. Em agosto, será lançado A espécie fabuladora, terceiro livro de Nancy Huston pela L&PM. A espécie… é um conjunto de ensaios sobre a necessidade dos seres humanos de encontrar um Sentido (assim, com S maiúsculo) para tudo e a consequente habilidade de formular histórias (já que todo Sentido encontrado é, na verdade, uma ficção criada por nós mesmos). E um nome insiste em aparecer em quase todos os ensaios do livro: Romain Gary, o nosso “biografado”. As inúmeras menções a ele nos deixaram curiosos, fomos pesquisar a respeito e agora dividimos nossas descobertas com vocês. É dele também a citação usada na abertura do livro de Nancy: “Nada é humano sem aspirar ao imaginário”.

Pois Romain Gary é, na verdade, Roman Kacew, um escritor russo (embora não se saiba se realmente nasceu em Moscou), filho de judeus e que cresceu na Lituânia. Nunca conheceu o pai, o sobrenome foi herdado do segundo casamento da mãe. Aos 11 anos, viu o padrasto deixar a família e, aos 14, foi morar na França com a mãe. Abandonou o “Kacew” e adotou o “Gary” quando escapou da França ocupada por tropas estrangeiras para se juntar ao exército inglês e lutar contra a Alemanha na 2ª Guerra.

Seu primeiro romance foi lançado em 1945 e ele acabou se tornando um dos escritores mais populares da França, tendo publicado inclusive alguns livros sob o pseudônimo de Émile Ajar, além de um como Fosco Sinibaldi e outro como Shatan Bogat. E é justamente a esse amontoado de pseudônimos que Gary deve a honra de ter sido o único escritor a receber duas vezes o prêmio Goncourt, concedido anualmente ao autor do melhor livro de língua francesa. Ele ganhou pela primeira vez por Les racines du ciel, e pela segunda com La vie devant soi, publicado sob pseudônimo de Émile Ajar. A Academia concedeu o segundo prêmio sem saber a verdadeira identidade do autor e boatos sobre o caso começaram a circular. O mais famoso atribuía a autoria de La vie… a um primo de Gary. A verdade só apareceu no póstumo Vida e morte de Émile Ajar.

Romain Gary e a segunda esposa, a atriz americana Jean Seberg

Gary casou e separou duas vezes, primeiro com Lesley Blanch, editora da Vogue, e depois com a atriz americana Jean Seberg. O relacionamento com Jean quase rende uma novela: quando ela engravidou, circularam boatos de que estava tendo um caso um dos integrantes dos Panteras Negras e que o filho não seria de Gary. Jean tentou o suicídio e foi encontrada quase morta em uma praia. Quando a criança nasceu, ela e Gary já haviam concordado em se separar. Alguns meses antes, ele havia descoberto que ela estava tendo um caso, na verdade, com o galã hollywoodiano Clint Eastwood.

Depois do suicídio de Jean (na segunda tentativa ela conseguiu), Gary  também matou-se com um tiro de espingarda em 1980, mas fez questão de deixar um bilhete dizendo que sua morte nada tinha a ver com o suicídio da ex-esposa e  confirmou  que ele era mesmo Émile Ajar. A nota  terminava  assim: “Me renovar, renascer, ser outra pessoa, foi sempre a grande tentação da minha existência”.

Última máquina de escrever de Kerouac será leiloada

Essa é para mexer com o coração – e com o bolso – dos fãs da geração beat: a última máquina de escrever usada por Jack Kerouac, esse modelo Hermes vintage verde da foto, está sendo leiloada pela Christie’s. Foi nela que Kerouac escreveu as novelas Vanity e Pic (além de algumas cartas de cobrança para seu agente), entre 1966 e 1969. Para quem se interessou, o ideal é já começar a fazer as contas: os lances devem ficar entre US$ 20 mil e US$ 30 mil.

A palavra do homem que soube comandar outros homens

Ivan Pinheiro Machado

No dia 5 de maio, eu escrevi um texto sobre o aniversário da morte de Napoleão. Coincidentemente, poucos mais de um mês depois, estamos lançando Manual do líder, um livro especialíssimo, preparado por um grande estudioso da história francesa da primeira metade do século XIX, Jules Bertaut (1877-1959). O livro traz frases e aforismos de Napoleão Bonaparte recolhidos de toda a bibliografia existente a seu respeito. Estadista, político e estrategista genial, Napoleão é um personagem grande demais, polêmico demais, fascinante demais a ponto de render milhares de livros, lendas e filmes. Foi comparado aos grandes conquistadores como Julio César, Alexandre, o Grande e Átila, o Huno. Foi endeusado por sua coragem pessoal em episódios como a famosa passagem sobre a ponte de Arcole, na Itália, quando assumiu a vanguarda de suas tropas e enfrentou a metralha austríaca. Chefiou campanhas memoráveis, como Rivoli, Austerlitz, Marengo entre tantas batalhas célebres. Fez tremer todas as monarquias européias e o sólido reino da Rússia e seu Tzar. Este corso audacioso e pobre que lia dois livros por dia, consumindo dezenas de velas nas madrugadas parisienses, soube utilizar sua carreira militar meteórica (com 26 anos era comandante em chefe do Grande Exército francês) e sua inteligência prodigiosa para fechar o ciclo da Revolução Francesa, com o golpe do 18 Brumário em 1799 quando assumiu o poder. Sua ambição territorial e militar é polêmica, mas seu talento como administrador é inquestionável. Ele nomeou-se imperador, mas nunca abandonou os princípios da Revolução que ajudara a consolidar. A França saiu do feudalismo e do atraso com a Revolução e com Napoleão. Ele transformou em leis os princípios de proteção ao cidadão. Ele lançou os preceitos da educação para todos, criou os códigos civil e penal, organizou a administração pública e modernizou o estado francês. Consequentemente, do mundo. Por tudo isso, esse Manual do líder é um lançamento imperdível. Não apenas para entender melhor o pensamento deste homem que soube como ninguém comandar outros homens, mas também um exemplo para aqueles que buscam estimular seu espírito de comando e liderança.

Para entrar ainda mais no clima do Manual do líder, assista à cena de um filme que mostra o emocionante retorno de Napoleão da Ilha de Elba.

O que há em Hunter Thompson?

A L&PM acaba de lançar na coleção de bolso Medo e delírio em Las Vegas,  marco do gonzo jornalismo. Para falar sobre o autor do livro, Hunter Thompson, convidamos o jornalista André Czarnobai, o Cardoso*.

“Na semana que seguiu o domingo trágico em que o escritor norte-americano Hunter Thompson encerrou sua trajetória alucinada enfiando uma bala na cabeça aos 67 anos de idade, o que mais
surpreendeu foi o destaque que a notícia recebeu na imprensa brasileira. É, para dizer o mínimo, curioso, que um autor estrangeiro que foi praticamente ignorado pelas editoras durante tantos anos tenha arrebanhado um número tão expressivo de fãs e merecido tamanha comoção, especialmente quando o próprio mercado faz estimativas nada animadoras do número potencial de leitores existentes no país. O fenômeno reforça a pergunta levantada na época pelo jornalista Pedro Doria, em artigo publicado no site No Mínimo. Afinal de contas, o que há em Hunter Thompson?

Nascido durante a depressão norte-americana no estado sulista do Kentucky, Hunter Stockton Thompson desenvolveu sua obra em torno de algumas das obsessões mais familiares ao yankee médio. Bebedor inveterado e usuário das mais variadas substâncias ilícitas, Thompson tinha fortes convicções políticas e era um aficionado por armas e esportes. Crítico contumaz dos maus costumes e vícios de sua própria sociedade, ele era acima de tudo um reprodutor eficiente dos mesmos defeitos que apontava, misturando de forma quase indissociável o crítico e o objeto da crítica, o que lhe garantiu uma espécie de imunidade soberana na terra do Tio Sam.

Se fosse apenas isso, certamente Thompson não encontraria admiradores além dos limites dos 50 estados da grande nação do norte, mas, a seu favor, ele ainda possuía um grande trunfo, comum a todo grande artista da palavra: Thompson tinha estilo. Tão peculiar que foi o principal (senão único) responsável pelo surgimento do seu culto, dentro e fora dos Estados Unidos.

Como muitos escritores de sua geração, Thompson iniciou a carreira escrevendo para jornais e revistas na década de 60. Enquanto Wolfe e Talese deliciavam-se com as liberdades ilusórias propostas pelo Novo Jornalismo e Burroughs e Kerouac estreitavam os limites entre a poesia e a prosa em suas pessoalíssimas narrativas beatniks, Thompson surgiu como o elo entre os dois mundos, criando, quase por acidente, o que se convencionou chamar de gonzo jornalismo. O termo designa um estilo de grande reportagem cuja captação de informações é feita de forma participativa, e cuja redação é apresentada em primeira pessoa, com largo uso de digressões e sarcasmo, e na qual é muito difícil discernir a ficção da realidade.

Se os praticantes do Novo Jornalismo seguiam uma série de regras e se mantinham fiéis ao mais elementar dos paradigmas jornalísticos (a distância entre o observador e o que é observado), Thompson queria transpor a barreira essencial que o separava da ficção: o compromisso com a verdade. Também chamado de jornalismo fora-da-lei, jornalismo alternativo e cubismo literário, o gênero inventado por Thompson tinha sua força baseada na desobediência de padrões e no desrespeito das normas estabelecidas, o que contribuiu para que o seu criador logo se tornasse um dos principais ícones da contracultura. Enquanto Truman Capote esmiuçava os mais secretos pormenores de um assassinato com pretensa neutralidade, Thompson foi morar durante dezoito meses com os Hell’s Angels para fazer de sua própria experiência um raio-x preciso de uma das mais perigosas gangues de motoqueiros dos Estados Unidos.

Foi o jornalista Bill Cardoso quem cunhou o termo gonzo em uma carta que escreveu ao amigo: “Eu não sei que porra você está fazendo, mas você mudou tudo. É totalmente gonzo”. Segundo Cardoso, a palavra originou-se da gíria franco-canadense gonzeaux, que significaria algo como “caminho iluminado”. Thompson adota o termo pouco antes de aceitar o convite de cobrir a Mint 400, uma corrida de motos no deserto de Nevada, para a Sports Illustrated. Na companhia de um amigo advogado, ele parte em direção a Las Vegas, mas logo deixa de lado a corrida para concentrar-se em uma profunda análise sociológica dos viciados em jogo e drogas e todo o tipo de degenerado que se reúne em volta dos cassinos. O artigo é recusado pela Sports Illustrated, mas ganha destaque em duas edições da Rolling Stone, em novembro de 1971. Logo, é editado como livro e transforma-se em sua principal obra, sob o título de Fear and Loathing in Las Vegas: A Savage Journey to the Heart of the American Dream. Sua popularidade é tamanha que, em 1998, a história ganha as telas de cinema com Johnny Depp no papel principal.

Traduzido para o português pela Brasiliense em meados dos anos 80 sob o título Las Vegas na Cabeça, o livro não atrai muitas atenções e logo acaba saindo de catálogo. Sua obra amargaria cerca de vinte anos de ostracismo para, somente em 2004, voltar ao mercado brasileiro através da Conrad, atendendo uma demanda crescente de leitores, em sua grande maioria muito jovens, nas faixas inferiores aos 30 anos. Mas como esse público foi formado? O que explica esse fascínio pela obra de Thompson entre os leitores brasileiros?

Em primeiro lugar, não é toda a sua obra que convence os leitores tupiniquins. Na verdade, apenas seus primeiros livros, escritos há mais de 30 anos, em pleno auge da contracultura, cativam as atenções abaixo do Equador. Por estar tão associado ao nome do autor, gonzo jornalismo virou sinônimo de relatos inconseqüentes de grandes excessos – comportamento errático, desobediência, descrição extrema dos efeitos dos mais variados tipos de entorpecentes. É uma literatura confessional e sem censura, que fala a um público mais jovem, ainda respirando os nervosismos e os brios adolescentes – e que combina perfeitamente com as linguagens praticadas atualmente na Internet, onde o gonzo encontra maior respaldo. Outra possível explicação para a popularidade tardia do autor está diretamente ligada ao momento cultural que vive não só o Brasil como o mundo, e que podemos definir como a voyeurização da realidade. Numa sociedade em que os paparazzi, reality shows e weblogs são vistos como ícones representativos, não é de se estranhar que um estilo narrativo que ponha em primeiro lugar a experiência pessoal do seu autor seja sucesso. Mas, sobretudo, Thompson era, como dizia George Plimpton, uma “persona literária”, alguém dotado de um inegável carisma, e com uma grande capacidade de seduzir seus leitores.

O que há, portanto, em Hunter Thompson? Para o público brasileiro, não muito além da figura que representa a  quintessência do gonzo, esta forma malcriada de falar sobre tudo, direto de nossos umbigos, sem precisar se preocupar em levar nada muito a sério – e olha que isso não é assim tão pouca coisa.”

* Se você ainda quer saber mais sobre o Cardoso, clique aqui para ver a página pessoal dele e aqui para asssitir uma entrevista ao programa Lado C na L&PM WebTV.

Juan Gabriel Vásquez, muito prazer

Chegou às livrarias Os informantes, primeiro romance do colombiano Juan Gabriel Vásquez publicado no Brasil. Mas Vásquez é estreante apenas por aqui. Além de Os informantes, ele é autor de outros três livros que, juntos, foram publicados em mais de dez países. E como nós aqui do blog somos muito educados, resolvemos fazer as honras e apresentá-lo a vocês. Abaixo, seguem dois vídeos: o primeiro, um perfil de Vásquez produzido pelo programa colombiano Cultura Capital, e o segundo, uma entrevista feita em Barcelona, onde mora.