Lá fora, a voz do vento ulule rouca!
Tu, a cabeça no meu ombro inclina,
E essa boca vermelha e pequenina
Aproxima, a sorrir, de minha boca!Que eu a fronte repouse ansiosa e louca
Em teu seio, mais alvo que a neblina
Que, mas manhãs hiemais, úmida e fina,
Da serra as grimpas verdejantes touca!Solta as tranças agora, como um manto!
Canta! Embala-me o sono com teu canto!
E eu, aos raios tranquilos desse olhar,Possa dormir sereno, como o rio
Que, em noites calmas, sossegado e frio,
Dorme aos raios de prata do luar!…De Olavo Bilac, Antologia Poética
Sérgio Capparelli é homenageado na Feira de Bolonha
Sérgio Capparelli, autor de Os meninos da Rua da Praia e 111 poemas para crianças, é o homenageado deste ano na Feira do Livro de Bolonha, na Itália, um dos eventos sobre livros infantis mais importantes do mundo. A honraria é um oferecimento da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil da Itália (FNLIJ), que divulgou nesta semana as obras selecionadas para o catálogo da entidade. Capparelli, que é mineiro, mas fez toda a sua carreira literária no Rio Grande do Sul, teve seu livro A lua dentro do coco incluído na seleta Lista de Honra da FNLIJ. Outra brasileira que ganhou destaque no evento é a gaúcha Lygia Bojunga, que comemora 30 anos de carreira este ano.
Não há dúvidas de que a homenagem ao grande Capparelli na Feira do Livro de Bolonha é mais do que merecida. Além da literatura infantil, Sérgio Capparelli é um grande conhecedor da literatura chinesa e organizou, em parceria com Márcia Schmaltz, os livros Contos sobrenaturais chineses e Fábulas da China fabulosa. Para abril, está prevista a chegada do livro Poemas clássicos chineses, organizado por ele e Sun Yuqi.
Além de Capparelli, a L&PM marca presença com outro autor: A. S. Franchini, que teve o seu As 100 melhores lendas do folclore brasileiro entre os escolhidos para compor o catálogo da FNLIJ.
Dicas de leitura no Dia do Repórter
Além de Hunter Thompson, que já foi citado por aqui hoje, no Dia do Repórter, temos outras dicas de leituras para quem curte uma reportagem emocionante com clima de aventura. Dá só uma olhada:
1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares – Testemunha e participante do Movimento da Legalidade, o jornalista Flávio Tavares escreveu este belo romance reportagem, onde a memória é o fio condutor que desnuda detalhes e revela a face oculta de tudo, com uma surpresa a cada passo. Colunista político nos anos 1960 da Última Hora, do Rio de Janeiro, Flávio foi preso e banido do Brasil pela ditadura em 1969. Á volta do exílio, trabalhou nos maiores jornais do país e publicou, antes do recém lançado “1961”, os livros Memórias do Esquecimento e o Dia em que Getúlio matou Allende.
10 dias que abalaram o mundo, de John Reed – Considerada a primeira grande reportagem moderna, este livro é uma minuciosa descrição da revolução comunista de 1917 na Rússia. Em 1914, John Reed, um norte-americano do Oregon foi para a Europa cobrir, pela Metropolitan Magazine, a Primeira Grande Guerra, recém iniciada. Ele e a esposa acabaram chegando em Moscou no auge do movimento revolucionário. Em 1981, Warren Beatty dirigiu e estrelou “Reds” como Reeds.
Um trem para a Suíça, de David Coimbra – Repórter esportivo, David Coimbra escreve no jornal com a mesma paixão que dedica a seus romances e novelas. Este livro reúnem crônicas e relatos de viagens. A Olimpíada da China e três Copas do mundo são o pano de fundo para histórias em países como Coreia, Japão, China, Malásia, África do Sul, Bolívia, Venezuela, Alemanha e Suíça. Entre as histórias/reportagens está um perigoso contato com os guerrilheiros das Farc nas selvas bolivianas.
Operação Condor: o seqüestro dos uruguaios, de Luiz Cláudio Cunha – O sequestro de um casal de uruguaios, em 1978, numa ação dos órgãos de repressão do Uruguai e do Brasil, expôs as vísceras da sinistra Operação Condor à opinião pública brasileira e internacional. Alertados por um telefonema anônimo, o repórter Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo J.B. Scalco foram conduzidos até um apartamento em Porto Alegre, onde surpreenderam militares uruguaios e policiais brasileiros na fase final do sequestro do casal. Pela primeira vez no continente, jornalistas testemunhavam a Condor em pleno vôo.
O Smurf Repórter, de Peyo – Ok, este não é exatamente um livro sério e de reportagem como os outros que indicamos. Mas para quem quer descobrir, de forma divertida e colorida, um pouco mais sobre a vida do repórter, tá valendo. Fica a dica para as crianças. Em formato convencional e pocket.
Um repórter como nenhum outro
No dia do Repórter, 16 de fevereiro, lembramos de Hunter Thompson, jornalista cujas matérias deram origem ao gonzo jornalismo. Norte-americano nascido em Kentucky, Hunter Stockton Thompson inovou na forma e no conteúdo de suas reportagens. Mergulhando dentro de cada uma de suas pautas, acompanhado de muito álcool e turbinado por alguma substância ilícita, ele criou um jeito próprio de escrever que o elevou à categoria de celebridade “Cult”.
A criação do estilo gonzo aconteceu quase que por acidente, numa tentativa de orbitar entre o mundo do novo jornalismo de Tom Wolfe e Gay Talese e as liberdades ilusórias poéticas de William Burroughs e Jack Kerouac. Gonzo designa um estilo de grande reportagem marcada pela participação do jornalista no âmago da reportagem, cuja redação é feita em primeira pessoa, com uso de sarcasmo e digressões, onde é muito difícil diferenciar ficção e realidade.
“Se os praticantes do Novo Jornalismo seguiam uma série de regras e se mantinham fiéis ao mais elementar dos paradigmas jornalísticos (a distância entre o observador e o que é observado), Thompson queria transpor a barreira essencial que o separava da ficção: o compromisso com a verdade. Também chamado de jornalismo fora-da-lei, jornalismo alternativo e cubismo literário, o gênero inventado por Thompson tinha sua força baseada na desobediência de padrões e no desrespeito das normas estabelecidas, o que contribuiu para que o seu criador logo se tornasse um dos principais ícones da contracultura. Enquanto Truman Capote esmiuçava os mais secretos pormenores de um assassinato com pretensa neutralidade, Thompson foi morar durante dezoito meses com os Hell’s Angels para fazer de sua própria experiência um raio-x preciso de uma das mais perigosas gangues de motoqueiros dos Estados Unidos. Foi o jornalista Bill Cardoso quem cunhou o termo gonzo em uma carta que escreveu ao amigo: ‘Eu não sei que porra você está fazendo, mas você mudou tudo. É totalmente gonzo’. Segundo Cardoso, a palavra originou-se da gíria franco-canadense gonzeaux, que significaria algo como ‘caminho iluminado.’.” escreveu sobre Hunter Thompson o jornalista André Czarnobai, o Cardoso.
Hunter Thompson incorporou e adotou o termo gonzo pouco antes de aceitar cobrir uma corrida no deserto de Nevada, para a revista Sports Illustrated. Em um conversível vermelho, ele partiu para Las Vegas na companhia de seu advogado, um samoano nada confiável. O resultado dessa aventura cercada de viagens alucinantes e alucinógenas acabou virando seu principal livro: Medo e Delírio em Las Vegas.
Dele, a Coleção L&PM Pocket publica ainda Rum – Diário de um jornalista bêbado, seu único livro de ficção. Mas que, claro, é baseado na sua própria experiência como jornalista e… bêbado.
Marilyn Monroe por Cartier-Bresson
No set de filmagem de Os desajustados (The misfits), em 1960, as lentes do fotógrafo Henri Cartier-Bresson flagraram uma moça de ar melancólico e olhar distante. Cabisbaixa, nem parecia a estonteante musa do cinema, que despertava a cobiça dos homens mais poderosos do mundo com sua beleza irresistível. Altiva, nunca decepcionou diante das câmeras. Mas os instantes precisos capturados pelo mestre da fotografia deixam transparecer uma Marilyn Monroe que poucos conheciam. Seu brilho radiante era, às vezes, só uma fachada para o público quando, na verdade, seu estado de espírito era sombrio.
Em Cartier-Bresson: o olhar do século, o biógrafo Pierre Assouline comenta este episódio da gravação de Os desajustados:
Mesmo ao cobrir um evento muito bem organizado, também acompanhado por vários colegas, Cartier-Bresson sempre consegue tirar pelo menos uma foto com a sua marca pessoal. É o que acontece em 1960, quando John Huston filma “Os desajustados”, e seus fotógrafos da Magnum revezam-se nas filmagens, dois a dois. Apesar do excesso e da superabundância de imagens, tanto em qualidade quanto em quantidade, ele consegue tirar uma foto de Marilyn sob os olhares dos demais, única por sua composição, sua ironia e sua ternura. Talvez a atriz não estivesse totalmente alheia à magia do momento. Durante o jantar da equipe, o fotógrafo coloca sua Leica sobre uma cadeira vazia à sua direita. A atriz chega atrasada. Um olhar à máquina, outro a Cartier-Bresson, o tempo de associar um ao outro e ele já tira proveito da ocasião:
– Você gostaria de conceder-lhe sua bênção?
Ela faz que senta sobre a Leica, roça-a de leve com as nádegas, esboça um sorriso malicioso e pronto…
As fotos de Cartier-Bresson e sua Leica “abençoada” fazem parte da exposição “Quero ser Marilyn Monroe” que entra em cartaz na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a partir de 04 março. Serão 125 obras de 50 artistas distribuídas nos 500 m² da mostra. Uma oportunidade imperdível para ver de perto, além das fotografias de Cartier-Bresson, o trabalho de artistas como Andy Warhol, Douglas Kirkland, Cecil Beaton, Milton H. Greene, Richard Lindner, Kim Dong-Yoo, entre outros.
Rimbaud: o enigma de um drama
A visão que o mundo tem de Rimbaud é um caleidoscópio. Ela muda de cor, de forma, se transforma e nunca é definitiva. Não é concreta, não é real. A lenda tomou conta da biografia e o mito soterrou o homem. Os poemas são poderosos fragmentos biográficos, embora eles não concluam, não desenhem um Rimbaud preciso. Seus delírios, suas alucinações, suas iluminações e temporadas no inferno, às vezes indicam traços do poeta. Mas a poesia acabou quando ele estava saindo da adolescência, aos 19 anos. Aí começa a saga mítica-rimbaldiana que não deixou versos, mas quase se sobrepõe ao poeta. Porque se tem indícios, mas na verdade, se sabe muito pouco. Seu périplo africano já foi objeto de milhares de livros. Sua fuga para o nada. De que fugia o poeta? Tudo é mistério, vestígios vagos, traços, aquarelas esmaecidas, retratos imprecisos. Enfim, cada um tem o “seu” Rimbaud. Jack Kerouac, Gide, Alain Borer, Proust, Verlaine, Charles Nichol, Allen Ginsberg, Henry Miller etc. etc. Jean Nicholas Arthur Rimbaud nasceu em 20 de outubro de 1854 e morreu de câncer em 10 de novembro de 1891, aos 37 anos, em Marselha. No entanto, no seu dramático final, tinha a cabeça de um velho ranzinza e a alma torturada pelo martírio escaldante na África Oriental. Mutilado pela doença, martirizava-se nas profundezas do inverno que ele criou para si mesmo. Seu gênio, seus versos magníficos ficaram para trás. Sobrou apenas o sofrimento, a amargura. E nunca ninguém conseguiu explicar precisamente por quê. (Ivan Pinheiro Machado)
Leia mais sobre o poeta “maldito” em Rimbaud, série biografias.
67. As diferentes leituras de Casanova

Hoje, Dia de São Valentim (o Dia dos Namorados gringo), nada melhor do que relembrar o aventureiro Casanova, famoso, entre outras, pela arte da sedução. “Era um criador de brincadeiras, jogos, ideias brilhantes e inconsistentes, e divagações sexuais. Falava longamento com suas amantes. Não tinha perversidades, nem sadomasoquismos. (…) Acho que ele sabia acariciar as mulheres com a mesma delicadeza com que as mulheres se acariciavam entre elas” escreveu Giovanni Mariotti na introdução de “Casanova”, livro da Coleção Quadrinhos L&PM que foi lançado em 1988. “Casanova” reunia grandes desenhistas numa publicação dedicada à Casanova. Dino Battaglia apresentava uma HQ cujo título era “Um velho bibliotecário”. Em seguida, vinha “O castrado”, de Miguel Paiva. Depois, “De maroto à rapazola”, de Altan. Mais adiante, “Um jovem brilhante e despreocupado”, de Oski. Por fim, para fechar com chave de ouro, “A freira” do mestre Guido Crepax. A capa apresentava um desenho de Miguel Paiva que também foi o responsável por todas as traduções.
Toda terça-feira, resgatamos histórias que aconteceram em quase quatro décadas de L&PM. Este é o sexagésimo sétimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.
O nada romântico Andy Warhol
Terça-feira, 14 de fevereiro, 1978. Eu não podia acreditar em quantas pessoas estavam na rua este ano comemorando o Valentine´s Day. Era realmente uma comemoração, um grande feriado. (…) Fui apanhar Catherine para ir à festa de Valentine de Vitas no Le Club. Catherine estava com suas botas (táxi $3). Peter Beard e Tom Sullivan chegaram. Tom e Catherine fizeram um pacto e cada um pode ir onde quiser e fazer o que quiser com outras pessoas, e aí ele estava com uma modelo estonteantemente bela de dezesseis anos e ela estava (risos) comigo. Jerry Hall estava lá e disse que está procurando uma casa para Mick e que ela e ele vão morar juntos por seis meses. Acho que mais tarde eu disse isso para um repórter, mas não me importo. Ninguém gosta de Jerry Hall, todo mundo acha que ela é de plástico. Mas eu gosto dela. Ela é uma graça. Fomos ao Studio 54 e quase todo mundo estava lá.
O papa do pop não parecia ser muito romântico, como bem mostra o trecho acima, que faz parte do volume 1 de “Diários de Andy Warhol“, o número 1000 da Série L&PM Pocket. Para este livro, que vem em uma caixa especial, a L&PM WebTV produziu um vídeo especial:
Santo dia do amor
Hoje é Dia de São Valentim, dia internacional do amor, dia dos namorados em grande parte do mundo ocidental. A origem desta data, no entanto, tem diferentes versões. Que vai de um santo apaixonado à fertilidade dos pássaros.
São Valentim, o santo casamenteiro
Reza a lenda que Valentim era um sacerdote romano que viveu no século III. Quando o imperador Claudius II decidiu que os homens deveriam permanecer solteiros porque assim eram melhores soldados, o casamento foi proibido. Mas Valentim desafiou Claudius e continuou celebrando casamentos de jovens amantes em segredos. Ao ser descoberto, foi condenado à morte. Na prisão, enquanto esperava pela execução, apaixonou-se pela filha cega do carcereiro. Depois de escrever um bilhete para ela, o sacerdote assinou “De seu Valentim”, tornando a frase sinônimo para “Seu namorado”. A moça, então, teria recuperado à visão graças ao milagre de seu amor. E assim, 14 de fevereiro, seria depois considerado o Dia de São Valentim. Pra virar Dia dos Namorados foi só uma questão de tempo.
A festa pagã da fertilidade
Mas enquanto alguns acreditam que 14 de fevereiro é a data da morte do mais romântico de todos os santos, outros preferem crer que a data foi escolhida pela Igreja Católica para abafar uma antiga festa chamada Lupercália. Durante o festival era organizada a passeata da fertilidade e também uma espécie de jogo em que todas as jovens solteiras de Roma colocavam seus nomes em uma grande urna para que os homens, ao retirar um papel, escolhessem assim sua mulher. A Lupercália sobreviveu à ascensão inicial do cristianismo, mas foi considerada “não-cristã” no final do século V, quando o Papa declarou que o dia 14 de fevereiro era Dia de São Valentim.
Porque os pássaros também amam
Para completar, na Idade Média, dizia-se que 14 de fevereiro era o primeiro dia de acasalamento dos pássaros e que, por isso, os namorados deixavam mensagens de amor na soleira da porta de seus amados. Bonitinho, não?
Como dá pra ver, motivos para este dia ser apaixonante não faltam! Nem livros que falam de amor…
As primeiras edições de bolso de Maigret
Para comemorar o aniversário de 109 anos de Georges Simenon, compartilhamos aqui e agora algumas capas das primeiras edições em pocket das histórias do Comissário Maigret. Elas foram publicadas nos anos 1940 nos EUA e, hoje, continuam fazendo sucesso na Coleção L&PM Pocket. Sinal de que Simenon não envelhece nunca…

"Um crime na Holanda" chegou em 30 de novembro de 1941

"Maigret e os flamengos", lançado em 15 de março de 1942










