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A língua portuguesa de Olavo Bilac

Em 18 de dezembro de 1918 morria o poeta Olavo Bilac. E mesmo depois de deixar este mundo, ele continuou dividindo opiniões sobre sua obra, como narra Paulo Hecker Filho, organizador da Antologia Poética de Bilac da Coleção L&PM Pocket, no texto de apresentação:

Quando veio o Modernismo na década de 20, uma tomada de consciência, enfronhada da modernidade europeia, do papel do escritor enquanto cidadão e artista, Bilac passa a ser alvo de desprezos fáceis. Mas o líder do Modernismo, seu cérebro estético, Mario de Andrade, não deixou de reconhecer nele o homem sincero e o artista inigualável. Realmente, ninguém tem na língua verso mais plástico e musical.

O poema “Língua portuguesa”, um dos mais célebres de Olavo Bilac, faz parte desta Antologia Poética:

(clique na imagem para ampliar)

Quando o anjo modernista voou

(…) em novembro de 1914, Orris Soares e Heitor Lima encontraram-se com Olavo Bilac e o informaram do prematuro falecimento de Augusto. “E quem é esse Augusto?”, perguntou Bilac. Um grande poeta, responderam-lhe, e Heitor Lima recitou o soneto Versos a um coveiro. Bilac sorriu superiormente e comentou: “Fez bem em morrer, não se perde grande coisa”. Bilac não viveu o bastante para perceber que se enganara. Os anos da guerra modificavam o gosto dos leitores e a literatura excedia o frívolo tropo de “sorriso da sociedade”. Da terceira edição de Eu, em 1928, venderam-se 5.500 exemplares em dois meses, os primeiros 3.000 em apenas quinze dias. Era o começo da longa e acidentada via de reconhecimento público, que faria de Augusto o que ele é hoje, um dos mais admirados poetas brasileiros e, por certo, o mais original. (Trecho da introdução de Eu e outras poesias, de Augusto dos Anjos – Coleção L&PM Pocket).

O paraibano Augusto dos Anjos morreu precocemente de pneumonia aos 30 anos em 12 de novembro de 1914. Poeta que costumava compor “de cabeça”, enquanto gesticulava e pronunciava os versos de forma excêntrica para só depois transcrever suas palavras para o papel, Augusto publicou apenas um livro em vida: Eu. Após sua morte, o amigo Orris Soares organizou uma edição chamada Eu e Outras Poesias que incluiu poemas até então inéditos para o público, entre eles Versos a um coveiro. Este belíssimo soneto que, naquela época, era moderno demais para parnasianos como Olavo Bilac. 

VERSOS A UM COVEIRO

Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
– Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!

Um, dois, três, quatro, cinco… Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!

Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!

Dia nacional de declamar poemas

Rebramam os ventos… Da negra tormenta
Nos montes de nuvens galopa o corcel…
Relincha – troveja… galgando no espaço
Mil raios desperta co´as patas revel.

É noite de horrores… nas grunas celestes,
Nas naves etéreas o vento gemeu…
E os astros fugiram, qual bando de garças
Das águas revoltas do lago do céu.

(…)

(Trecho do poema “Pedro Ivo”, do livro “Espumas flutuantes”, de Castro Alves)

Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847. E é em homenagem ao “Poeta dos Escravos” que este dia foi escolhido como o Dia Nacional da Poesia. Além do autor de Espumas flutuantesestão entre os poetas brasileiros da casa Olavo Bilac, Mario Quintana, Millôr Fernandes, Martha MedeirosPaula Taitelbaum e Affonso Romano de Sant’Anna.

Já os poetas de longe a gente deixa para homenagear na próxima quarta-feira, 21 de março, quando comemoramos o Dia Internacional da Poesia.

Lá fora, a voz do vento ulule rouca!
Tu, a cabeça no meu ombro inclina,
E essa boca vermelha e pequenina
Aproxima, a sorrir, de minha boca!

Que eu a fronte repouse ansiosa e louca
Em teu seio, mais alvo que a neblina
Que, mas manhãs hiemais, úmida e fina,
Da serra as grimpas verdejantes touca!

Solta as tranças agora, como um manto!
Canta! Embala-me o sono com teu canto!
E eu, aos raios tranquilos desse olhar,

Possa dormir sereno, como o rio
Que, em noites calmas, sossegado e frio,
Dorme aos raios de prata do luar!…

De Olavo Bilac, Antologia Poética

Nossa estante de poesia

O dia do aniversário de Castro Alves, 14 de março, é também o Dia Nacional da Poesia no Brasil. O autor de Espumas flutuantes e Os escravos divide não só o aniversário, mas também a nossa estante de poesia com diversos outros autores do gênero como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Olavo Bilac, Mario Quintana, Millôr Fernandes, Martha MedeirosPaula Taitelbaum e Affonso Romano de Sant’Anna.

Junto com os brasileiros, os portugueses Fernando Pessoa e Florbela Espanca e o chileno Pablo Neruda também marcam presença. Mas estes a gente deixa pra homenagear na próxima segunda, 21 de março, quando comemoramos o Dia Internacional da Poesia.