Todos eles estiveram juntos no “Conversa com Bial” que foi ao ar no dia 22 de novembro. Vale a pena assistir a entrevista sobre o livro “As três mortes de Che Guevara”, de Flávio Tavares. Em outubro deste ano completou-se 50 anos da morte de Che:
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L&PM na Feira do Livro de Porto Alegre
Há 60 anos, Getúlio saía da vida e entrava na História
Quando beijou-lhe o rosto a Alzirinha ou despediu-se de Luthero e Maneco, ou (tantos “ou” existiram naqueles rápidos – longos momentos) quando ouviu as bisbilhotices novidadeiras do irmão “Bejo” contadas ao pé da cama, Getúlio já tinha decidido. Não precisou de nada disso para disparar o revólver.
Antes de tudo, no entanto, quis descansar. Dormir. Não sairia acuado da Presidência. Muito menos sairia acuado da vida, enxotado como um cão cansado que se espanta do quintal. “Não sou covarde”, tinha dito na reunião ministerial.
Mais importante do que demonstrar à nação ou aos outros, era provar a si mesmo que não era covarde. Por isso, quis dormir. Descansar, dormir e levantar-se e, aí sim, “sair da vida para entrar na História”.
Mas ele é que iria dispor o momento e determinar a hora, descansadamente. Depois de dormir.
Às 8h25 da manhã ouviu-se o disparo. Era 24 de agosto de 1954.
(Trecho da crônica “GETÚLIO: Rio, Mar e Lama”, do livro “O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder“, de Flávio Tavares)
1º de abril de 1964: Jango deixa o Rio e parte para o RS
Os acontecimento do dia 1º de abril de 1964 são rememorados em detalhes pelo jornalista Flavio Tavares no livro 1964 – O Golpe. Leia um trecho:
Ao chegar no meio da tarde de 1º de abril, Jango foi direto ao Palácio do Planalto, reuniu-se com o chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro, combinou um encontro com os líderes do governo no Congresso e conversou com o general Ladário e com Brizola, em Porto Alegre, pela radiofonia da Casa Militar. Telefonou a Maria Thereza para que preparasse as crianças e as malas para viajar urgente ao Sul. Tudo tão rápido que ela não entendeu nem percebeu que saía para jamais voltar e mandou arrumar poucas mudas de roupa.
Brasília é o terceiro movimento, ou o terceiro compasso de algo que já é quase uma dança macabra.
O cabeleireiro Virgílio chegava nesse exato momento para penteá-la e ela o dispensou. Ele insistiu, com aqueles trejeitos teimosos em que imitava as birras ou denguices das artistas de cinema, com os quais costumava dobrar a primeira-dama. Ofereceu-se para penteá-la no Sul e pediu carona no avião da Presidência da República. E, sem saber que a passagem era só de ida, embarcou no Avro turboélice, que decolou dali mesmo, do campinho da residência presidencial. Quatro passageiros apenas: Maria Thereza, as duas crianças e o cabeleireiro. A ordem de Jango fora terminante: ela viajara de imediato, para que ele se reunisse em intimidade com os mais achegados lá mesmo, na Granja do Torto, evitando o palácio.
1º de abril de 1964
No Palácio das Laranjeiras, Jango merece a confirmação de que, em São Paulo, seu compadre, o general Amaury Kruel, aderiu à revolta. Com isso, também o governador Adhemar de Barros se pronuncia “a favor de Minas Gerais e contra o comunismo”. Na manhã de 1º de abril, tudo é rápido e muda em minutos. O coronel Rui Moreira Lima, comandante da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, também poderia ter mudado tudo em minutos. Após vencer a tempestade e a chuva, localizou os revoltosos de Mourão na estrada e fez um voo rasante sobre eles, de segundos, com seu jatinho desarmado.
(…)
No Rio, o brigadeiro Francisco Teixeira, comandante da III Zona Aérea, insiste em resistir, mas precisa de “ordem superior”. No início da tarde de 1º de abril, o ministro da Aeronáutica reúne seus principais comandados e dá a notícia:
– Tristonho, o ministro nos informou que tudo tinha terminado. ‘O presidente saiu do Rio, onde tinha nosso apoio, foi para Brasília e de lá irá a Porto Alegre. Disse que não quer derramamento de sangue e que tudo está terminado. Vamos voltar para nossos portos e entregá-los a quem nos suceda.’ E assim foi feito! – recordou o então comandante da Base Aérea de Santa Cruz, Rui Moreira Lima, 46 anos depois.
A situação se repetiu no Exército e na Marinha.
Por que Jango deixou o Rio assim tão inesperadamente? Só muitas décadas após 1964 – com a difusão da documentação secreta dos EUA sobre o golpe no Brasil – aparece um detalhe que ajuda a explicar muito do que esteve oculto naqueles dias. Uma mensagem “urgente” do embaixador Gordon a Washington, expedida às 12 horas de 1º de abril, informa que “o ministro da Guerra Jair Dantas Ribeiro, notificou o presidente Goulart que sua colaboração constante e direta com os sindicatos e com os comunistas é insuportável.”
(trecho do livro 1964: O Golpe, de Flávio Tavares)
Há 50 anos, os militares davam início à ditadura no Brasil
Na manhã do dia 31 de março, um furioso editorial de primeira página do Correio da Manhã, do Rio, é a senha que alerta os conspiradores comandados por Castello Branco, que ainda não tinham data para se rebelar: “Basta!” é o título. “Até que ponto e até quando o presidente da República abusará da paciência da nação?” – pergunta-se no texto, imitando o discurso de Cícero contra Catilina no Senado romano – a “Catilinária”, que passou à História como símbolo do poder violento e persuasivo da oratória e que o jornal carioca adotava em suas páginas. A grande imprensa do Rio e São Paulo atira-se contra Jango, participando assim da revolta de Mourão. A única exceção é Última Hora, com edições em seis capitais estaduais, mas solidária na oposição ao golpe. (1964 – O Golpe, de Flávio Tavares)
* * *
No dia 31 de março, o general Amauri Kruel dirigiu-se ao QG do 2º Exército, às primeiras horas da manhã, como de costume. Seriam 7 horas quando o general Linfoldo Ferraz, em gozo de férias na estância mineira de São Lourenço, telefonou-lhe para anunciar movimento anormal de tropas e a saída do Batalhão da Polícia Militar, sediado naquela cidade. Kruel compreendeu que o movimento revolucionário, em Minas Gerais, fora antecipado. (…) Ainda na manhã de 31, o comando do 2º Exército enviou à Guanabara um oficial com a missão de informar aos comandantes dos 5º e 6º Regimentos de Infantaria, localizados no Vale do Paraíba, o levante de Minas. Deveriam, tão somente, receber ordens dele, comandante do 2º Exército e nas forças sob seu comando, no sentido de enfraquecer ou fazer abortar a revolução. Não foi possível ao chefe da nação localizar o general Kruel em suas primeiras tentativas. Atendendo afinal ao chamado, aquele militar apelou para o presidente como seu amigo pessoal e repetindo advertências anteriores, para que se libertasse do cerco das forças populares. Essas ponderações não encontraram acolhida. (1964: Golpe ou Contragolpe?, de Hélio Silva)
Washington e o golpe
O jornal Zero Hora publicou uma matéria sobre o livro 1964: O Golpe de Flavio Tavares, que será lançado nesta quinta-feira, 27 de março, na livraria Saraiva do Moinhos Shopping, em Porto Alegre.
A seguir o texto de Carlos Andre Moreira na íntegra:
Em “1964: o Golpe”, Flávio Tavares disseca influência americana na queda de Jango
Dentre os lançamentos para marcar os 50 anos do golpe que derrubou Jango, 1964: o Golpe, de Flávio Tavares, é o que apresenta as provas mais recentes para a tese mais antiga. No livro, com sessão de autógrafos nesta quinta-feira, às 19h, na Livraria Saraiva do Moinhos Shopping, o jornalista apresenta documentos obtidos nos Estados Unidos que detalham o envolvimento dos EUA desde pelo menos 1962 em um projeto de desestabilização do governo.
A reportagem 1964: o Golpe é uma espécie de fruto paralelo da pesquisa que Tavares realizou, com o filho Camilo, no documentário O Dia que Durou 21 Anos, exibido nos cinemas em 2013. Alguns achados são comuns às duas obras, principalmente a sistematização das informações que comprovam que os Estados Unidos, mais do que ter interesse na queda de João Goulart, estavam ativamente envolvidos na criação do “clima de medo” que ajudaria a derrubar seu já instável governo.
– Transcrevo no livro as gravações feitas no gabinete do presidente americano quando ele e Lincoln Gordon acertam a necessidade de intervenção militar no Brasil. Mesmo que essas gravações ainda contenham muitos segundos sob censura, o que está ali já apresenta a dimensão real da participação – diz o autor.
Os americanos enviaram ao Brasil um adido militar com trânsito no exército, Vernon Walters, que conheceu oficiais brasileiros na campanha da FEB na Itália. Mas foram além. Aceitaram oferecer ajuda material e militar, enviando uma esquadra naval para apoiar uma sublevação, a conhecida Operação Brother Sam.
– Muitos dizem que os americanos não chegaria aqui a tempo do golpe, então o objetivo não seria esse, mas quem fala isso ignora que nem os americanos, nem os militares esperavam que o general Olympio Mourão agisse tão cedo. Ele se antecipou, e por isso o auxílio americano chegou atrasado – comenta o jornalista.
Tavares também recupera os bastidores do golpe no Brasil com o olhar de testemunha. À época colunista político do Última Hora, Tavares entrevistou ou conversou com os grandes personagens políticos do período.
1964: O Golpe – Flávio Tavares
Reportagem. L&PM, 320 páginas, R$ 44,90.
Sessão de autógrafos quinta, às 19h.
Livraria Saraiva do Moinhos Shopping (Rua Olavo Barreto Viana, 36 ), fone (51) 3222-7595.
O livro: Flávio Tavares reconta, em um misto de reportagem e memória, os bastidores do golpe que instaurou a ditadura militar em 1964 no Brasil, com ênfase na participação norte-americana na conspiração.
Lançamento nacional de “1964: O Golpe” em Porto Alegre
Nesta quinta-feira, dia 27 de março, acontece o lançamento nacional do livro 1964: O Golpe, de Flávio Tavares, em Porto Alegre, na Livraria Saraiva do Moinhos Shopping, a partir das 19h.
O livro conta a história do golpe que derrubou o presidente João Goulart e instaurou a ditadura militar no Brasil, em 31 de março de 1964. Flávio Tavares é, ao mesmo tempo, autor e personagem desta história. Como jornalista político em Brasília nos anos 60, acompanhou passo a passo os acertos e desacertos do governo de Jango e conviveu com os principais personagens civis e militares da época. No dia 1º de abril de 1964, no Palácio do Planalto, testemunhou os derradeiros momentos do presidente em fuga e, agora, revela segredos guardados durante meio século. Mais ainda: 1964: O Golpe reconstrói tudo em minúcias e revela como os Estados Unidos financiaram e apoiaram a conspiração.
1964: Jango e o Comício da Central
Entre os fatos que antecederam o famigerado golpe militar de 1964, tem destaque o célebre “Comício da Central” realizado no dia 13 de março na cidade do Rio de Janeiro, na Praça da República, situada em frente à Estação da Central do Brasil. Cerca de 150 mil pessoas se reuniram sob a proteção de tropas do Exército, unidades da Marinha e Polícia, para ouvir a palavra do presidente João Goulart e do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. As bandeiras vermelhas que pediam a legalização do Partido Comunista Brasileiro e as faixas que exigiam a reforma agrária foram vistas pela televisão, causando arrepios nos meios conservadores.
O jornalista Flávio Tavares, que acompanhou todas as movimentações de perto, narra os fatos deste dia no livro 1964 – o golpe:
Naquela noite de sexta-feira 13 de março, o conciliador Jango transmutou-se e decidiu disputar abertamente a liderança da “área popular” (ou da esquerda) com Brizola e Arraes, usando para isso o poder presidencial. À tardinha, sentiu palpitações cardíacas com queda da pressão arterial, que solucionou com algumas doses de Whisky, mas deixou Maria Thereza preocupada. E a “primeira-dama”, que pouco aparecia em público e não ia a comícios, resolveu acompanhá-lo. Não sabia que, além dos dois decretos, sua presença ajudaria a inclinar emocionalmente a balança da “área popular” a favor do marido.
O comício fora organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI), ligada ao presidente, com a colaboração de outros sindicatos e da União Nacional dos Estudantes (UNE), com a ideia de que só discursassem representantes desses organismos, além do próprio Jango, no encerramento.
– O presidente não queria que nenhum dirigente político falasse, menos ainda o Arraes e o Brizola, pois o ato era dos trabalhadores da UNE. Ao mesmo tempo, me pediu que excluísse os comunistas da lista de oradores – contou-me 45 anos depois o principal organizador da manifestação, Clodsmith Riani, presidente da CNTI e um dos homens em que Jango se apoiava na área sindical. “Um pelego”, como depreciativamente dizia a gíria dos opositores.
Arraes e Brizola reagiram e houve um duelo verbal nos bastidores da “área popular” e pela imprensa. Por fim, ambos acabaram discursando, mas no início do comício, antes ainda de que a Avenida Presidente Vargas se transformasse em maré humana.
Eles já haviam discursado quando Jango lá chegou, no momento em que o presidente da UNE, o jovem José Serra, começava a falar “selando a unidade de estudantes e trabalhadores pelas reformas de base, para libertar o Brasil da dependência de do imperialismo”. Em contraste com o traje escuro de Jango, o vestido creme-claro de Maria Thereza dava ao palanque iluminado na penumbra da praça a decoração de um cenário festivo. Já não era só o cenário de guerra – trabalhadores da Petrobras com tochas iluminando a noite, protegidos pelos tanques do Exército, que ali estavam para evitar represálias por parte da truculenta polícia do governador estadual Carlos Lacerda, que durante a semana ameaçava veladamente intervir no comício ou, até, dissolvê-lo.
O comício levou João Goulart a vencer a batalha (ora em surdina, ora aberta e ruidosa) pela liderança da “área popular”. Agora, ele se convencera de que já não dependia mais de Brizola nem, muito menos, de Arraes. E mais facilmente poderia manobrar Luiz Carlos Prestes e os comunistas, sem ter de evitá-los num lado ou de açodá-los em ouro. Essa visão de triunfo fez com que não desse maior importância ao 19 de março em São Paulo, em que a direita conservadora organiza a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, em protesto contra “a penetração comunista no governo e no Brasil” que reúne caudal similar ao do comício no Rio. Ou, talvez, superior até. O governo estadual paulista e a ultramontana TFP, Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, estão na crista da manifestação, à qual se somam o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e dezenas de organismos estilo “cruzada”, na maioria femininos, desfraldando faixas “contra o comunismo” e aos gritos de “um, dois, três, Brizola no xadrez” ou “um, dois, três, Goulart não tem vez”.
Com o Comício da Central, as ideias de Jango foram decisivamente vinculadas pelos setores conservadores à República Sindicalista e ao Comunismo. Dias depois, uma rebelião de marinheiros no Rio de Janeiro foi mais um grave incidente, mas que desta vez atingiu diretamente a hierarquia e a disciplina militares. João Goulart, como forma de solucionar o conflito, anistiou os revoltosos. Contudo, para o setor golpista, a ação de Jango era uma clara demonstração de desrespeito com as Forças Armadas. A saída para tanto foi o Golpe de 1964, em 31 de março de 1964, que culminou com a instalação do Regime Militar no Brasil e, por consequência, com a renúncia do presidente.
Novo livro de Flávio Tavares é destaque no Estadão
No ano que marca os 50 anos do golpe militar no Brasil, vários livros sobre o assunto chegam às livrarias. Entre eles, o livro 1964 – o golpe, de Flávio Tavares, que acaba de ser lançado pela L&PM, ganhou destaque na matéria de Luiz Zanin Oricchio publicada no jornal O Estado de S. Paulo no dia 7 de março:
A participação norte-americana no golpe é um dos destaques do livro de [Flávio] Tavares, o único que se ocupa exclusivamente da deposição de Goulart. Todos os outros – e Gaspari em quatro volumes – avançam pelo período da ditadura em suas diferentes fases e presidentes – Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. De uma primeira fase, do golpe em 1964 a 1968, quando se decreta o AI-5 e a ditadura se escancara. Das trevas de1968 até 1978, quando os atos institucionais são revogados, vem a Anistia e a transição para a democracia, que para alguns se encerra em 1985, com o primeiro governo civil, e para outros se estende até 1988, com a Assembleia Constituinte.
Por concentrada, a narrativa de Tavares é trepidante. Recria o período tenso vivido pelo País desde a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, passando pela posse do vice, Goulart, e seu governo atribulado e esgarçado por demandas e pressões à esquerda e à direita.
Tavares, na época, era colunista do jornal Última Hora e privava da intimidade de políticos e gabinetes de Brasília. Foi testemunha dos fatos, o que empresta ao seu relato caráter diferenciado.
Tavares destaca como Washington logo entrou no jogo da deposição de Jango pelo embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, e, mais adiante, com colaboração do seu adido militar, Vernon Walters, que deixou sua missão na Itália para conspirar contra o governo brasileiro. Detecta também a enxurrada de dólares despejada no Brasil após a reunião entre Kennedy e na Casa Branca em 1962. O dinheiro entrava pelo Royal Bank do Canadá e não pelo Bank of America para não despertar suspeitas. De acordo com o autor, mais de 200 candidatos ao Senado, Câmara Federal e Assembleias Estaduais, considerados amigos dos EUA e inimigos dos comunistas, foram beneficiados com verba generosa. Além disso, financiavam-se institutos como o IPÊS e o IBAD, que tinham função de propagar o receio ao “perigo vermelho” e preparar o clima do golpe. O fundamental era disseminar o medo, inclusive pelos filmes alarmistas.