Quando beijou-lhe o rosto a Alzirinha ou despediu-se de Luthero e Maneco, ou (tantos “ou” existiram naqueles rápidos – longos momentos) quando ouviu as bisbilhotices novidadeiras do irmão “Bejo” contadas ao pé da cama, Getúlio já tinha decidido. Não precisou de nada disso para disparar o revólver.
Antes de tudo, no entanto, quis descansar. Dormir. Não sairia acuado da Presidência. Muito menos sairia acuado da vida, enxotado como um cão cansado que se espanta do quintal. “Não sou covarde”, tinha dito na reunião ministerial.
Mais importante do que demonstrar à nação ou aos outros, era provar a si mesmo que não era covarde. Por isso, quis dormir. Descansar, dormir e levantar-se e, aí sim, “sair da vida para entrar na História”.
Mas ele é que iria dispor o momento e determinar a hora, descansadamente. Depois de dormir.
Às 8h25 da manhã ouviu-se o disparo. Era 24 de agosto de 1954.
(Trecho da crônica “GETÚLIO: Rio, Mar e Lama”, do livro “O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder“, de Flávio Tavares)
Há 60 anos, Getúlio saía da vida e entrava na História
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