“Cândido” de luxo e ilustrado

Uma das sátiras mais famosas da literatura mundial, escrita em 1759 pelo filósofo francês Voltaire, ganhou uma edição limitada de luxo digna de colecionador. A editora The Folio Society fez uma tiragem de apenas 1.000 exemplares de Cândido ou O otimismo ilustrada com cerca de 50 desenhos de Quentin Blake, autor e ilustrador de mais de 300 livros infantis.

Todos os livros trazem a assinatura original do artista, que conseguiu captar o espírito horrível e, ao mesmo tempo, cômico da obra de Voltaire e traduzi-lo em desenhos.

E é claro que isso tudo tem um preço: cada exemplar é vendido a 195 libras! Achou meio salgado? A edição de Cândido ou O otimismo da Coleção L&PM Pocket custa apenas R$11 ou R$ 10 na versão digital.

Autor de hoje: Raymond Chandler

Illinois, EUA, 1888 –  † Los Angeles, EUA, 1959

Depois do divórcio dos pais, em 1896, Raymond Chandler foi morar com a mãe em Londres. Jamais voltou a ver o pai. Criado na Inglaterra, seguiu sendo cidadão americano, embora sua mãe tenha se naturalizado inglesa. Voltou para os Estados Unidos em 1912 e durante a Primeira Guerra Mundial serviu nas forças canadenses e na britânica Royal Air Force. Tentou ser jornalista, empresário, detetive e até executivo de uma companhia de petróleo. Desenvolveu o gosto pela literatura e devorou livros durante a vida inteira. Em 1933, com 45 anos, conseguiu publicar seu primeiro conto na célebre revista Black Mask, da qual Dashiell Hammett era um dos donos. Imediatamente foi considerado um bom escritor, e seus contos passaram a fazer muito sucesso entre os iniciados na literatura noir. Seu primeiro livro, O sono eterno, foi publicado em 1939. Nele o protagonista já era Philip Marlowe, cujo caráter e personalidade foram desenvolvidos sob várias identidades em seus contos. A seguir publicou os romances Adeus minha adorada Janela para a morte, A dama do lago, A irmãzinha, O longo adeus e Playback. Deixou inacabada a novela Amor e morte em Poodle Springs, que foi concluída pelo escritor Robert Parker com a permissão da família e publicada em 1989. Seus contos foram recolhidos e publicados em dois grandes volumes: A difícil arte de matar e Um assassino na chuva. Escreveu roteiros para Hollywood e teve todos os seus livros adaptados  para o cinema, em filmes nos quais trabalharam grandes astros e estrelas de Hollywood, como Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Robert Mitchum, Charlotte Rampling, James Stewart, Robert Montgomery, James Gardner, Elliot Gould, entre muitos outros. Tornou-se alcoólatra após a morte de sua mulher, em 1956, e morreu em Los Angeles, em 1959, consagrado com um dos maiores escritores americanos de todos os tempos.

OBRAS PRINCIPAIS: O sono eterno, 1939; Adeus, minha adorada, 1940; Janela para a morte, 1942; A dama do lago, 1943; A irmãzinha, 1949; O longo adeus, 1953; Playback, 1958

 RAYMOND CHANDLER por Ivan Pinheiro Machado

Raymond Chandler foi uma das grandes personalidades da literatura americana do século XX. Pontificou no gênero policial noir, uma vertente, digamos assim, mais intimista e realista do que aquele tipo de literatura de “crime e mistério” que surgiu com Poe, Conan Doyle e Chesterton e que teve seguidores célebres como Agatha Christie, Ruth Rendell, Rex Stout e, de certa forma, Georges Simenon. Chandler e seu mestre Dashiell Hammett desprezavam essa comparação. Seus romances não tinham como elemento-chave o investigador superarguto e suas deduções geniais. Em vez de um elegante Hercule Poirot, de um curioso Padre Brown, de um impressionante Sherlock ou de seu pai literário, o inspetor Dupin, de Poe, encontramos homens comuns (ou quase) tentando ganhar a vida trabalhando por “25 dólares por dia mais despesas”.

Philip Marlowe, o fascinante detetive de Chandler, figurou em oito romances como protagonista de tramas complicadas, numa época difícil, nos Estados Unidos em plena pós-recessão, um país marcado por incertezas e por uma legião de losers andando pelas ruas em busca de um meio para sobreviver. Philip Marlowe, como o detetive Sam Spade, de Hammett, é fruto desse país em crise, onde a construção da futura maior nação capitalista do mundo convivia com hordas de desempregados e aventureiros lutando pela vida. São homens da cidade, habituados a tensões e violência. Seus clientes seguidamente freqüentam o mesmo círculo social, e sua atuação nada tem de “genial” no que diz respeito à sagacidade e à técnica investigativa. Marlowe é um cara durão. Aliás, essa tradução de tough guy é um achado dos primeiros tradutores de Chandler, Hammett e seus companheiros da literatura noir. E tornou-se comum a todos os romances, sendo quase uma marca registrada do gênero. Os “durões” agüentavam porrada, toda a sorte de enrascadas, mas, no fundo, eram uns sentimentais. E, além disso, conviviam mal com os tiras que estavam sempre no seu pé. No magnífico O longo adeus, obra-prima de Chandler, o detetive Marlowe finaliza dizendo que “só os tiras não dizem adeus”. Eles estão sempre lá, às vezes de favor, mas quase sempre prontos para impedir ou prejudicar as investigações privadas. Tiras não gostam de detetives particulares.

Parafraseando Nelson Rodrigues, pode-se dizer que nesses romances está “a vida como ela é”. Os crimes, quando existem, são tão factíveis que nos dão a impressão de que são tirados dos tablóides populares. Ou seja, são fruto do lado obscuro do cotidiano em que vivemos. E os personagens andam no limiar daquilo que é legalmente aceitável. No caso de Chandler, temos um interessante retrato da Califórnia em meados do século XX. Los Angeles já é a meca do cinema, e freqüentemente atores de segunda categoria, assim como produtores fracassados, convivem com gângsteres, prostitutas de luxo, tiras corruptos, atrizes decadentes e figurões em busca de uma oportunidade para ganhar um bom dinheiro, seja limpo ou não. Se em O longo adeus temos um inesquecível livro sobre a amizade e a lealdade, em Adeus, minha adorada, A dama do lago e A irmãzinha, temos mulheres que acenam com histórias impossíveis, mas que geralmente balançam o melancólico Marlowe, homem de coração endurecido e esperanças roubadas pelas vicissitudes da vida. Sempre há uma mansão em Palm Beach ou Malibu. Sempre há um cliente recusado que volta uma, duas vezes, até que convence o sentimental Marlowe a aceitar o caso. E ele sempre pensa “eu não devia fazer isso”. E sempre acaba se arrependendo. Irônico, homem de poucas palavras, como convém a um tough guy, o cínico Marlowe vai recolhendo material para desacreditar do gênero humano. E o fascinante é que ele sempre tem uma recaída. Chandler consegue deixar uma fresta de humanismo que faz com seu detetive cure a ressaca de gimlet ou bourbon, faça a barba a contragosto e volte para seu poeirento e antiquado escritório, onde o telefone toca muito raramente.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Merluza com laranja

O inverno chegou, mas nem por isso devemos abandonar a vida saudável. Uma das formas de alimentação mais apetitosas e equilibradas é a Dieta Mediterrânea. Dr Fernando Lucchese e Anonymus Gourmet, no livro Dieta Mediterrânea com sabor brasileiro, dão as dicas e os segredos da dieta da longa vida. A receita de hoje é um delicioso peixe Merluza com suco de laranja. Imperdível!

MERLUZA COM LARANJA

Ingredientes:

8 filés de merluza; 2 dentes de alho; ½ xícara de amêndoas sem pele; 4 colheres de casca de laranja em tirinhas, sem a parte branca; 1 copo de suco de laranja; ½kg de batata bolinha; 4 cenouras.

Como preparar: 

Tempere os filés de merluza com o alho socado, sal e pimenta. Espalhe sobre cada um as amêndoas picadas e as tirinhas de casca de laranja. Enrole os filés e arrume-os um ao lado do outro numa travessa refratária. Regue-os com o azeite e o suco de laranja. Reserve. Descasque as batatinhas e dê  uma rápida fervida nelas. Faça o mesmo com a cenoura cortada em pedaços grandes. Escorra-as e coloque-as na travessa junto com os filés. Leve ao forno médio durante 30 minutos, regando de vez em quando com o caldo formado na assadeira. Se secar muito, colocar um pouco mais de suco de laranja.

  • Dica do Anonymus: Quanto mais tempo o peixe ficar no tempero, melhor. O ideal é deixá-lo na geladeira de um dia para o outro.
  • Pílula do doutor: Os peixes do Mediterrâneo não são exata,mente os mesmos que os nossos. Minha sugestão é que vá ao mercado fazer um curso sore peixes do nosso mar, como é o caso da merluza.

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM.

Smurfs no livro dos recordes

O mundo nunca viu tantos Smurfs juntos! Em 25 de junho, dia do aniversário do desenhista Peyo, o criador das adoráveis criaturinhas, 4.891 pessoas pintadas de azul da cabeça aos pés saíram às ruas para homenageá-lo e também para comemorar o Dia Mundial dos Smurfs. Era tanta, mas TANTA gente reunida que a mobilização chamou a atenção do Guiness World que registrou um novo recorde: o de maior número de pessoas vestidas de Smurfs durante 24h no mundo.

Smurfs em Londres no dia 25 de junho. Foto: Guiness World Records

A mobilização no Reino Unido foi intensa! Foto: Guiness World Records

Smurfs na Bélgica, terra natal de Peyo. Foto: Guiness World Records

E o Brasil não fica fora dessa festa! Até o fim de julho, a L&PM lança o álbum O Smurf Repórter, que conta a história do pequeno Smurf que decide abrir um jornal. Não dá pra perder 🙂

Woody Allen à moda italiana

Antes do seu encontro com os estudantes, Woody Allen posa ao lado da foto da atriz italiana Anna Magnani

Depois de Paris, a Itália é o próximo destino de Woody Allen. “Bop Decameron” começa a ser filmado no dia 11 de julho em Roma e Lazio. Para alegria dos fãs, o diretor fará novamente parte do seu próprio elenco e atuará ao lado de nomes como Ellen Page (de Juno), Jesse Eisenberg (de Facebook), Alec Baldwin, Penélope Cruz e os italianos Roberto Benigni e Ornella Muti. Semana passada, vestindo calça bege e chapeuzinho verde, junto com uma pequena equipe de colaboradores, Allen percorreu alguns pontos turísticos para escolher as locações do filme. Segundo a imprensa italiana, ele ficou bastante interessado no Capitólio e em um “gueto judeu” localizado no centro de Roma. Como o título indica, “Bop Decameron” será livremente inspirado em “Decamerão” de Boccaccio. Woody Allen ficará na Itália até o final de agosto quando as filmagens serão concluídas. Há uma semana atrás, ele visitou o Centro Experimental de Cinematografia, onde aconselhou os jovens alunos a deixarem de lado as regras e seguirem seu instinto. Mas parece que, em “Bop Decameron”, além do “feeling”, Allen também usará sua vontade de prestar uma homenagem a Fellini e outros grande diretores italianos. Pelo menos foi isso o que ele falou há um tempo atrás.

Mas enquanto o novo filme não chega, além de assistir a “Meia-noite em Paris” (em cartaz em todo os Brasil), os amantes da sétima arte “woodyalleniana” podem aproveitar seu estilo nos livros da Coleção L&PM POCKET.

Baker Street, 221b

Por Paula Taitelbaum

Se você sabe um pouco sobre Sherlock Holmes, já deve ter ouvido falar no endereço Baker Street, 221b em Londres. Criado por Sir Arhur Conan Doyle, o número da morada do grande detetive e de seu fiel amigo Dr. Watson era, em princípio, fictício. A rua Baker era real, mas o 221b tinha sido inteiramente criado por ele. No entanto, tudo mudou em 27 de março de 1990 quando então o número passou a existir de verdade. Neste dia, o endereço mundialmente conhecido foi inaugurado em uma casa construida em 1815 para abrigar um museu que quer mostrar a casa de Sherlock Holmes exatamente como ela é descrita nos livros de Conan Doyle. Até os 17 degraus que levam ao piso superior estão lá.

Segundo manda a cartilha de Sherlock Holmes, ele e Watson viveram entre 1881 e 1904 no andar de cima da residência vitoriana que pertencia à Sra. Hudson. Hoje, os dois continuam lá em forma de esculturas, bonecos, souvenires e até de um ator que representa Holmes – e que concede a cada visitante uma conversa de cinco minutos. Pena que o ator, no caso, não é o Robert Downey Jr., mas nem tudo é perfeito, meu caro…

Vale dizer ainda que Sherlock Holmes não está apenas na sua casa, mas subindo pelas paredes da estação de metrô Baker Street (os azulejos têm a silhueta dele!), em uma estátua de bronze em frente à estação e também nos corações de seus tantos fãs, é claro. E por falar em fãs, no museu, você recebe um panfleto onde está escrito “antes de entrar na casa, pergunte-se em qual dessas categorias de visitante você se enquadra: a) Você já ouviu falar sobre Sherlock Holmes e já asssitiu um ou dois filmes sobre suas façanhas, mas ainda sabe muito pouco sobre o grande detetive. Você está visitando a casa por curiosidade. b) Você sabe muito sobre Sherlock Holmes! Você leu a maioria das histórias, viu todos os seus filmes na TV e é um admirador do famoso detetive. Você gostaria de visitar os aposentos para ver se eles são como você imaginou. c) Você é um perito – uma autoridade sherlockiana absoluta! Você pode discutir e debater sobre ele, pois leu e releu todas as sessenta histórias originais escritas por Sir Arthur Conan Doyle e aquelas escritas por outras pessoas – você inclusive pode ter escrito uma história de Sherlock.

Em qual destas categoria você se encaixa? Independente dela, o museu avisa que a visita será memorável e que é permitido tirar fotografias. A seguir, portanto, um álbum com as fotos que fizemos por lá. Entre nele e fique à vontade (e o melhor é que você nem precisará pagar os 6 pounds do museu por esta visita).

A L&PM publica quinze livros com a histórias do detetive Sherlock Holmes.

“Matadouro 5”: a trágica comédia da guerra sem glamour

Matadouro 5” de Kurt Vonnegut é um clássico. Antes de ser um livro “pacifista”, ele é um livro engraçado e sobretudo dolorido, muito longe da glamourização da guerra feita por Hollywood. O centro de tudo é a desastrada participação de Billy Pilgrin na guerra. Foi para o combate, acabou preso pelos alemães e foi testemunha – desde o porão numero 5 de um matadouro – do pior bombardeio da Segunda Guerra; a destruição da bela cidade de Dresden pela força aérea norte-americana. Foi lá que os aliados resolveram fazer uma “operação exemplar” contra os alemães. O resultado foi a morte de 135 mil pessoas, a esmagadora maioria mulheres, velhos e crianças. Havia poucos soldados em Dresden, pois era tida como “cidade aberta”, nome que se dava às cidades que, pelos seus tesouros arquitetônicos, os dois lados concordavam em não bombardear. Mas mesmo assim ela ficou igual à superfície da lua. Afinal, a guerra não tem regulamento, não tem dó nem piedade. Em “Matadouro 5” o gênio de Vonnegut faz com que a história fuja sempre do melodrama. Ele é irônico, tragicômico, satírico e delirante. Seu personagem voa pelo tempo, circula pela guerra, pelo american way of life e pelo planeta de Tralfamador que fica a 717.960.000.000.000.000 km da Terra. A maestria narrativa de Vonnegut põe o leitor em alerta máximo permanente. A morte circunda a história até quase perder a importância. O livro é inundado pela doentia solidão de Billy Pilgrin, o homem que estava em Dresden. Coisas da vida, como ele costuma dizer no livro, sempre que fala da morte.

Quando se chega ao fim, temos a noção muito clara do que é a grande literatura. Sob o clima satírico, quase humorístico, tudo é amargo. E Vonnegut chega à dolorosa conclusão de que o ser humano é inviável e não há heróis quando se matam pessoas. Não importa o lado em que elas estejam. (Ivan Pinheiro Machado)

Em 1972, “Matadouro 5” – cujo título original é Slaughterhouse-Five – foi adaptado para o cinema com direção de George Roy Hill (o mesmo de “Butch Cassidy an the Sundance Kid”) e ganhou três Globos de Ouro na época. Veja o trailer:

O ardente The Globe

Por Paula Taitelbaum

Era verão e o público lotava  o The Globe naquela noite de 29 de junho de 1613 para mais uma estreia de Shakespeare. O céu estava limpo e, sob ele, a maioria dos espectadores permanecia em pé aguardando o início de “Henrique VIII”. Eles eram os chamados “groudlings” e se amontoavam em volta do palco, ao ar livre, em pé ou sentados no chão. No The Globe, uma construção octogonal de madeira, era possível acomodar até três mil pessoas e os que tinham mais recursos sentavam-se nos bancos cobertos. Sob o palco, alguns alçapões guardavam surpresas para durante a encenação. Sobre o tablado, havia uma galeria para ser usada em cenas de varanda, saídas e entradas dos atores ou para os músicos entoarem as canções da peça. 

O espetáculo então teve início e, mais uma vez, ele parecia mostrar que o texto de Shakespeare seria um sucesso. Envolvido nas tramas e dramas do monarca Henrique, o público estava concentrado quando soou o tiro de canhão de uma das cenas. O susto foi grande. Além do estrondo, ele acabou atingindo o telhado do lugar. O fogo espalhou-se rapidamente. E assim, em menos de uma hora, há exatos 398 anos atrás, o The Globe, popular teatro de Londres, foi totalmente consumido pelas chamas. Ninguém se feriu e a maioria dos figurinos e adereços das peças de Shakespeare conseguiram ser resgatados do incêndio.

Apesar do incidente, o teatro que era chão de Shakespeare foi logo reconstruído. Mas em 1642, com os puritanos no poder –  e franzindo a testa para qualquer tipo de entretenimento – o governo ordenou que todos os teatros locais fossem fechados. Desta vez, o The Globe não resistiu às fúria flamejante de gente como Oliver Cromwell, líder da Guerra Civil Inglesa, e sucumbiu, sendo demolido em 1644. Felizmente, Shakespeare, que morrera em 1616, não assistiu a esta triste cena.

Foi só a partir de 1970 que começou-se a falar novamente no The Globe e na possibilidade de uma reentrada dele nos circuito de teatros londrinos, com uma campanha liderada pelo ator e diretor britânico Sam Wanamaker. Anos depois, tiveram início as pesquisas arqueológicas para encontrar o local aproximado do The Globe original e uma réplica do antigo teatro começou a ser erguida em 1989, num terreno que, tudo indica, fica a 100 metros de onde estava o antigo. 

Em 1999, o Shakespeare´s Globe Theatre foi inaugurado, mantendo exatamente as mesmas características daquele erguido à beira do Tâmisa em 1542. A peça que abriu a temporada do novo teatro foi justamente uma das primeiras de Shakespeare a ser encenada no velho The Globe: “Henrique V“.

O Shakespeare Globe na beira do Tâmisa

Hoje, lá está ele imponente em seu estilo “retrô”. E basta pagar uma bagatela de 5 libras para sentir-se um verdadeiro “groudling” dos tempos shakespearianos. Foi o que eu fiz há cinco dias atrás. A tarde estava linda e, sob o céu azul, comprei ingresso para um espetáculo que começava às 14h (há sessões às 14h e às 19h30min). A única ironia é que, justamente naquele dia, a peça em cartaz não era assinada pelo do dono da casa, mas por seu maior concorrente: Christopher Marlowe. Mesmo assim, valeu assistir a “Doctor Faustus” à beira de um palco que, naquele momento, fiingi ser o mesmo em torno do qual Shakespeare orbitava.

Consegui um bom lugar na beira do palco - Foto: Eduardo Bueno

Às 14h em ponto os músicos se acomodaram na galeria - Foto: Paula Taitelbaum

Queria ver Shakespeare, mas era dia de Marlowe - Foto: Paula Taitelbaum

 O Shakespeare´s Globe tem uma lojinha ótima. E o melhor é que dá pra comprar pela internet. Dá uma olhada.

E se David Lynch filmasse “A metamorfose”

Tem livros cujas histórias são tão bem contadas e cheias de detalhes que chegam a ser visuais. Não é a toa que inúmeros diretores já se inspiraram em histórias da literatura para fazer seus filmes como Pedro Almodóvar em Carne Trêmula, Marc Foster no Em busca da terra do nunca e Tim Burton em Alice no país das maravilhas, só pra citar alguns.

Já tentou imaginar como você faria um filme a partir do seu livro preferido? O vídeo abaixo propõem um exercício interessante para estudantes de artes gráficas e cinematográficas: criar uma abertura para um filme (que ainda não foi feito) baseado na história de um livro sob a batuta de determinado diretor, tudo de faz-de-conta. Se David Lynch filmasse A metamorfose, de Franz Kafka, por exemplo, o resultado poderia ser algo mais ou menos assim:

Note que os créditos trazem nomes de pessoas “de verdade” como David Lynch e Meryl Streep, mas é só um exercício. No post Livros reais, filmes imaginários, do jornalista Almir de Freitas no site da revista Bravo!, há outros vídeos inspirados em livros ainda não filmados como O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger e outros.

34. A história dos quadrinhos

O “Era uma vez… uma editora” de hoje está um pouco diferente. Como Ivan Pinheiro Machado está viajando, o post está menos autoral (mas nem por isso menos histórico). Semana que vem Ivan está de volta.

Tudo começou com um quadrinho: Rango, lançado pela L&PM em 1974. Dois anos depois, foi a vez de um álbum do cartunista e pintor Caulos, Só dói quando eu respiro, considerado o primeiro livro brasileiro de um autor importante que denunciava, através do cartum, a devastação ecológica. Em 1980, vieram os álbuns de luxo europeus clássicos, como os quadrinhos eróticos de Guido Crepax, entre eles História de O e vários títulos de Valentina e Anita.

 

Em meados da década de 80, começaram a ser publicados os álbuns clássicos de autores americanos, com destaque para Spirit, de Will Eisner, Fantasma, de Lee Falk, Batman de Bob Cane e Dick Tracy de Chester Gould.

Mais no final dos anos 1980, chegaram os quadrinhos undergrounds americanos como Freak Brothers de Gilbert Shelton e títulos de Crumb como Minhas mulheres. No meio de tudo isso, Moebius, Dik Browne, Quino, Jules Feiffer, Wolinski, Milton Caniff e outros grandes autores nacionais e internacionais que, juntos, somaram 120 títulos.

Esta coleção durou até os anos 90, mas deixou sua marca, cuja linha editorial serviu de inspiração para novas editoras. A tradição em publicar quadrinhos, no entanto, não se esgotou. Prova disso é que os títulos continuam chegando e fazendo parte do catálogo da editora. A partir de setembro deste ano, terá início a série Clássicos em HQ que somará oito títulos publicados em dez volumes. O primeiro deles será Robinson Crusoé. Depois virão A volta ao mundo em 80 dias, Dom Quixote, A ilha do tesouro, Um conto de natal, Os miseráveis, As histórias das mil e uma noites, Guerra e Paz e Odisseia.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo quarto post da Série “Era uma vez… uma editora“.