Marilyn e “O príncipe encantado”

No dia 9 de fevereiro de 1956, os jornalistas acorreram em massa à nova coletiva de imprensa convocada pela divina loura ao lado de um convidado prestigioso: Laurence Olivier. Milton Greene convenceu o grande ator inglês a levar para a tela a peça que ele realizara com sucesso junto com sua mulher, Vivien Leight, The Sleeping Prince (O príncipe encantado), e substituir esta última no cinema por Marilyn. A brithish distinction diante da american sex symbol. Shakespeare contra Barbie. Um duo impossível; um duelo que parece inevitável. Depois de algumas negociações, com seu nome em destaque no cartaz, sir Laurence se deixa tentar pela aventura. Curioso, impaciente, vem em pessoa a Nova York se encontrar com Marilyn e anunciar publicamente que ele mesmo dirigirá O príncipe encantado (…)

O trecho acima está na imperdível biografia que leva o nome da diva: Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet (Coleção L&PM Pocket). O livro conta ainda como, no final de julho daquele ano, as filmagens de O princípe encantado começaram em Londres, num momento em que, apesar de seguir linda e aparentemente eufórica, ressoava dentro de Marilyn “o eco de coisas quebradas”.  

“Sete dias com Marilyn” (My week with Marilyn), filme que tem estreia prevista no Brasil para o dia 10 de fevereiro, mostra justamente esta época e está centrado na passagem da beldade pela Inglaterra, aos olhos de Colin Clark, o jovem assistente de Laurence Olivier. Clark ficou encarregado de guiar a atriz durante uma semana pelas terras da Rainha e todo o enredo está baseado em suas memórias, publicadas em um livro.

O filme já tem três indicações ao Globo de Ouro (incluindo melhor atriz para Michelle Williams), e os cartazes brasileiros já foram divulgados:

Verbete de hoje: Hayao Miyazaki

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o japonês Hayao Miyazaki (1941)

O grande público brasileiro conhecia Hayao Miyazaki pelos desenhos animados de longa-metragem A viagem de Chihiro (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2003) e O castelo animado. Antes desses, ele já havia trabalhado em Heidi, Dos Apeninos aos Andes, Ana dos cabelos ruivos e Conan – O garoto do futuro, onde debutou como diretor, Lupin III e Sherlock Holmes. Paralela a essa carreira, cultivou o mangá, a partir de 1969, com O povo do deserto e O gato de botas. Sua consagração nas HQs veio com Nausicäa, que foi publicada pela Conrad (em sete volumes). A ação se passa num futuro distante, mil anos depois de um cataclismo chamado Sete Dias de Fogo. O desenhista francês Jean Giraud (veja em G) afirmou que Nausicäa é o seu mangá preferido.

O Sherlock Holmes de Hayao Miyazaki

Jardim de verão

Quero ver as rosas neste jardim único
onde uma grade se ergue sem igual,

onde as estátuas me recordam jovem
e delas me lembro sob as águas do Nevá.

Das tílias no silêncio perfumado
imagino o rangido dos mastros dos navios,

e o cisne, como antes, vaga através dos séculos,
admirando o esplendor de sua imagem.

Lá, para sempre, os passos se calaram,
amados, odiados, odiados ou amados.

E o desfilar das sombras não tem fim,
do vaso de granito ao portal do palácio.

Lá minhas noites em claro murmuram bem baixinho
cantando um amor secreto, misterioso.

Jade e madrepérola em tudo se irradiam,
mas a secreta fonte de luz fica escondida.

 Da Antologia Poética de Anna Akhmátova

Antunes Filho leva seu Policarpo para TV

Três espetáculos do CPT (Centro de Pesquisa Teatral), a companhia do diretor Antunes Filho, serão exibidos em janeiro pelo canal SescTV. Entre eles, sua adaptação para Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. A peça, que entrou em cartaz em 2010, conta a história criada por Lima Barreto há cem anos atrás, mas que permanece atual até hoje. Nela, o Major Policarpo Quaresma, visionário e patriota, encarna a luta pela grandeza do país e esbarra na burocracia das repartições públicas, no clientelismo, na bajulação e na injustiça social. Qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência.

“Policarpo Quaresma”, a peça, vai ao ar no dia 22 de janeiro às 22h. Os outros espetáculos serão “Foi Carmen” que será exibido no dia 8 de janeiro às 22h e “Lamartine Babo” no dia 15 de janeiro também às 22h. Para saber como acessar o canal do SescTV na sua cidade , clique aqui. Abaixo, o vídeo promocional do projeto chamado “Dramaturgia: Antunes Filho em três atos”:

Três reis magos e o soberano do teatro

6 de janeiro é conhecido como Dia de Reis, celebrado pelos cristãos como a data da chegada de “alguns magos do Oriente” ao local do nascimento do menino Jesus. Reza a lenda que os reis Baltasar, Gaspar e Belchior chegaram em plena madrugada (Noite de Reis) trazendo mirra, incenso e ouro de presente ao recém-nascido. A data também marca o fim dos festejos natalinos: é hora de desmontar o pinheirinho, guardar os enfeites e dar férias para o Papai Noel. Na Inglaterra, o dia 6 de janeiro é tão importante que virou até feriado e inspirou William Shakespeare a escrever a comédia Noite de Reis, cujo título original é Twelfth Night, uma alusão à décima segunda noite depois do Natal.

Divertimento era a palavra de ordem na Inglaterra de Shakespeare. Talvez por isso suas comédias faziam tanto sucesso. Em Noite de Reis, um grupo arma uma cilada para tirar uma onda com a cara de Malvólio, já que ele não sabe se divertir e muito menos aceitar a diversão dos outros. No prefácio do livro, a tradutora Beatriz Viéga-Farias alerta que a brincadeira armada para “obrigar” Malvólio a se divertir pode nos causar certo estranhamento: “aos nossos olhos, acostumados ao ‘politicamente correto’ deste século XXI, pode parecer cruel demais – mas esta é uma peça escrita na primeira década do século XVII, quando então amarrar um urso vivo a um poste e soltar cachorros ferozes contra ele era um entretenimento popular”.

E como não podia faltar numa peça de Shakespeare, há também amores não correspondidos, afetos impossíveis e identidades falseadas. Mais ou menos assim: Olívia está de luto pela morte do irmão, mas seu mundo volta a ter cor quando ela conhece Cesário – que na verdade é Viola disfarçada de homem. Sem saber do disfarce, Olívia se apaixona, mas Cesário, sendo Viola, se interessa por Orsino, que, por sua vez, usa Cesário para se aproximar de Olívia. E pra completar a quadrilha, surge Sebastião, o irmão gêmeo de Viola, aquela que se traveste de Cesário e por aí vai… Só lendo a peça pra saber como isso termina!

Além de Noite de Reis, a L&PM publica outras 20 peças de William Shakespeare na Coleção L&PM Pocket.

Alain de Botton e a filosofia na favela

O filósofo suíço Alain de Botton esteve no Brasil em novembro e se encantou pelo Rio de Janeiro. Mas não da forma convencional, como a maioria dos turistas que visita as praias ou o Cristo Redentor. O autor de Ensaios de Amor preferiu um roteiro alternativo e foi até o Complexo do Alemão, pacificado há um ano. Lá, ele conheceu uma realidade totalmente nova e teve certeza de ter encontrado o lugar ideal para instalar a filial brasileira da School of Life, criada por ele em 2008 com sede Londres.

A School of Life de Alain de Botton tem um objetivo ambicioso: mudar o mundo! Só que por um caminho diferente dos que já tentamos como a política, a arte ou a guerra. Na School of Life, mudar o mundo significa mudar o seu próprio mundo, por meio de “aulas” com temas que vão de “como ser cool” até “como dosar trabalho e vida”, passando por “como fazer o amor durar”. A proposta é simplificar as lições da filosofia e trazê-las para a vida das pessoas.

Segundo Botton, a filial que será instalada no Complexo do Alemão tem uma missão especial: “Além de ser importante para os moradores da comunidade, que estão mudando os paradigmas da própria vida depois desta retomada do controle, seria uma forma de fazer com que as pessoas de outras zonas da cidade viessem para cá, conhecessem este lado da cidade”, disse ele em entrevista ao Jornal O Globo.

Alain de Botton no Complexo do Alemão, no Rio

E por falar em filosofia, este ano chega mais um livro de Alain de Botton à Coleção L&PM Pocket: Consolações da filosofia, com lançamento previsto para maio.

Freneticamente vingativas

Por isso eu sou vingativa, o mais recente livro de Claudia Tajes, já está em sua terceira edição. Para comemorar, nada melhor do que ouvir uma música que As Frenéticas cantavam lá nos anos 70 e que inspirou a escritora a dar nome à história de Sara que, por falta de ter o que fazer, resolve se vingar de oito ex-namorados. A música, chamada “Vingativa”, foi resgatada há poucos anos por Rita Lee que a incluiu em seu show. E também fazia parte da abertura do musical “As malvadas“, de 1997, uma espécie de cover bem humorado de “Chicago”. 

Para os que querem cantar junto com As Frenéticas, segue a letra:

Você fez de mim uma hipócrita
Você fez de mim uma cínica
Você fez de mim uma mulher sem lar, uma malvada!

(repete)

Por isso eu sou vingativa, vingativa, vingativa
Por isso eu sou vingativa, tenho até asco de você

Você me trata como um ser qualquer
Ah! Não me quer bem! Não me tem amor! Não me faz carinho! Não me dá uma flor!

Por isso eu sou vingativa, vingativa, vingativa
Por isso eu sou vingativa, tenho até asco de você

Fotos que nem Freud explica

Cá entre nós: depois da invenção do Photoshop, a imaginação nunca mais foi a mesma. Afinal, o que antes só existia no reino dos sonhos e da fantasia, passou a ser mais real do que nunca. Hoje em dia, basta ter um pouco de criatividade e um tanto de habilidade para, por exemplo, juntar Freud e Jung em situações que nem eles conseguiriam imaginar. As fotos abaixo circulam pela internet como uma brincadeira (que um desavisado pode achar que é verdade) e ganharam até legenda com local e data. Como a cena em que os dois psicanalistas estão juntos no Pólo Norte e que vem acompanhada da seguinte descrição: “Freud e Jung posando para foto durante uma malfadada expedição ao Ártico, em 1912. Um homem e três cães morreram durante esta jornada. Este traumático episódio acabou colocando uma grande pressão sobre o relacionamento entre os dois.” Já é uma teoria e tanto…

Será que a relação deles era tão gélida assim?

Aqui, Jung não parece muito animado com o banho turco...

O que Freud estará levando nas costas? O peso da existência?

Essa é a legítima "história de pescador"

E por falar em Freud e Jung, além do filme sobre a relação dos dois, “Um método perigoso”,  que tem estreia prevista para breve, a Coleção L&PM Pocket vai lançar no primeiro semestre de 2012: Jung na Série Encyclopaedia e uma nova tradução de A interpretação dos sonhos, de Freud. Para meados do ano, estão previstos mais títulos de Freud: Totem e tabuMoisés e o monoteísmo. Do pai da psicanálise, a L&PM já publica sua vida na Série Biografias e seu pensamento na Série Encyclopaedia, além dos seus livros O futuro de uma ilusão e O mal estar na cultura.

Depois da meia-noite em Paris

A sala é escura, gelada e repleta de sombras que pendem pelas paredes. Um clima que ajuda a fazer com que a viagem até a noturna Paris dos anos 30 seja instantânea. Ao entrar na exposição “Paris la nuit – Brassaï”, os mais sensíveis sentem um arrepio. E não é de frio. Na mostra de fotos deste que revelou a Cidade Luz em seus momentos menos iluminados, o preto e branco oferece tons que vão do dramático ao fantástico. Há mulheres despidas e árvores nuas. Há a névoa que desce do céu e a fumaça dos cigarros vagabundos. Há uma prostituta que espera na esquina e outras três que se exibem no bordel. Há espelhos absortos em paixão. Retratos embebidos em absinto.  

Madame Bijou

Brassaï, nome arstístico do húngaro Julius Halas, foi muito mais do que um fotógrafo. Se é possível capturar a alma em foto, ele o fez. Nascido em 1899, Brassaï chegou em Paris em 1924. Virou amigo de André Kertés, Salvador Dali, Kiki, Henry Miller e Picasso. Em 1929, ao vagar insone pelas ruas, criou o projeto “Paris à noite”, com fotografias que demonstravam seu amor pelo surrealismo das relações. Brassaï caçou, na luz noturna de Paris, o insólito, o desconhecido, o que é desprezado. Valorizou as prostitutas, os delinquentes, os trabalhadores noturnos. E transformou a arquitetura parisiense em personagem de seu delírio: silhuetas de sonhos.  

Solitária, uma das pontes de Paris

Na exposição, além das ruas, está a casa de Madame Suzy, os bares frequentados por transexuais, a porta dos mictórios públicos, os cafés com aromas de beijos proibidos. São estes os cenários que encontramos. As madrugadas parisienses com suas penumbras, seus faróis, sua amoralidade, seu jogo de luz, sombra, ação e reação. O que Brassaï conseguiu capturar com suas lentes, é algo que não se pode deixar de descobrir. A viagem, pelo menos aqui, é de graça. (Paula Taitelbaum*)    

Assim era Brassaï

*Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM. No início de janeiro de 2012, ela visitou a mostra “Paris la nuit – Brassaï”. Exposição que, a partir de 18 de janeiro, está em Belo Horizonte e, em abril, integrará a programação do FestFotoPOA em Porto Alegre.

SERVIÇO – BELO HORIZONTE

Quando: de 18 de janeiro a 1 de abril de 2012

Onde: Espaço Oi Futuro

Av. Afonso Pena, 4001

Quanto: Grátis

Nos anos 1980, a L&PM publicou o livro Dias de Clichy, de Henry Miller, em que o escritor cita Brassaï.

Exposição em Londres marca o bicentenário de Charles Dickens

Com a virada do ano, as comemorações do bicentenário do escritor Charles Dickens ganharam força total. Nascido em 7 de fevereiro de 1812, em Portsmouth, no condado de Hampshire na Inglaterra, Dickens viveu a maior parte da vida em Londres e deixou um legado tão importante e expressivo para a literatura mundial que, mais de um ano antes da data oficial de seu bicentenário, leitores e entidades de todo o mundo já começavam as homenagens.

O Museum Of London aproveitou a oportunidade para explorar a influência da vida na metrópole na obra do escritor e inaugurou em dezembro a exposição Dickens and London, que recria a atmosfera da Londres vitoriana do século 19 através de sons, projeções e objetos. Quem visita a exposição é conduzido por uma jornada fascinante pela cidade que inspirou alguns dos maiores clássicos da literatura mundial.

Passagens da vida do escritor também foram reconstruidas, como a época em que, ainda menino, trabalhou numa fábrica de graxa para ajudar a família que vivia encarcerada numa prisão especial para devedores. A influência desta experiência na crítica social presente em suas novelas é inegável. Dickens usou seus romances escritos ao longo do século 19 para retratar as mudanças e as contradições da sociedade inglesa durante a revolução industrial.

Pinturas, fotografias, trajes e objetos também fazem parte da ambientação, com destaque para os originais escritos a próprio punho do livro Great Expectations, de 1860, considerada uma das principais obras do autor. A exposição fica no Museum of London até 10 de junho de 2012.

Detalhe do manuscrito de "Great Expectations" em exibição na mostra

E pra quem não está em Londres e nem tem planos de ir à Europa, o Museu criou um applicativo gratuito da exposição para iPad, que permite conhecer “the dark side of Charles Dickens’ London” e seguir o escritor em seus costumeiros passeios noturnos, quando ele conhecia lugares e pessoas que lhe inspiravam cenas e personagens.

Tela inicial do aplicativo

Um mapa da Londres de 1868 sobreposto por um mapa de satélite dos dias de hoje (Google Maps) ajuda o visitante a se localizar no passeio, que é ambientado por meio de uma graphic novel interativa, com sons, narração e efeitos pensados especialmente para reconstruir o clima da época.

O mapa de Londres em 1862 e a opção de visualizar o mapa de hoje