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Depois da meia-noite em Paris

A sala é escura, gelada e repleta de sombras que pendem pelas paredes. Um clima que ajuda a fazer com que a viagem até a noturna Paris dos anos 30 seja instantânea. Ao entrar na exposição “Paris la nuit – Brassaï”, os mais sensíveis sentem um arrepio. E não é de frio. Na mostra de fotos deste que revelou a Cidade Luz em seus momentos menos iluminados, o preto e branco oferece tons que vão do dramático ao fantástico. Há mulheres despidas e árvores nuas. Há a névoa que desce do céu e a fumaça dos cigarros vagabundos. Há uma prostituta que espera na esquina e outras três que se exibem no bordel. Há espelhos absortos em paixão. Retratos embebidos em absinto.  

Madame Bijou

Brassaï, nome arstístico do húngaro Julius Halas, foi muito mais do que um fotógrafo. Se é possível capturar a alma em foto, ele o fez. Nascido em 1899, Brassaï chegou em Paris em 1924. Virou amigo de André Kertés, Salvador Dali, Kiki, Henry Miller e Picasso. Em 1929, ao vagar insone pelas ruas, criou o projeto “Paris à noite”, com fotografias que demonstravam seu amor pelo surrealismo das relações. Brassaï caçou, na luz noturna de Paris, o insólito, o desconhecido, o que é desprezado. Valorizou as prostitutas, os delinquentes, os trabalhadores noturnos. E transformou a arquitetura parisiense em personagem de seu delírio: silhuetas de sonhos.  

Solitária, uma das pontes de Paris

Na exposição, além das ruas, está a casa de Madame Suzy, os bares frequentados por transexuais, a porta dos mictórios públicos, os cafés com aromas de beijos proibidos. São estes os cenários que encontramos. As madrugadas parisienses com suas penumbras, seus faróis, sua amoralidade, seu jogo de luz, sombra, ação e reação. O que Brassaï conseguiu capturar com suas lentes, é algo que não se pode deixar de descobrir. A viagem, pelo menos aqui, é de graça. (Paula Taitelbaum*)    

Assim era Brassaï

*Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM. No início de janeiro de 2012, ela visitou a mostra “Paris la nuit – Brassaï”. Exposição que, a partir de 18 de janeiro, está em Belo Horizonte e, em abril, integrará a programação do FestFotoPOA em Porto Alegre.

SERVIÇO – BELO HORIZONTE

Quando: de 18 de janeiro a 1 de abril de 2012

Onde: Espaço Oi Futuro

Av. Afonso Pena, 4001

Quanto: Grátis

Nos anos 1980, a L&PM publicou o livro Dias de Clichy, de Henry Miller, em que o escritor cita Brassaï.