J.D. Salinger tem textos inéditos no prelo

MICHEL CIEPLY JULIE BOSMAN DO “NEW YORK TIMES” – Tradução de Thales de Menezes para a Folha de S. Paulo

As obras completas de J.D. Salinger ainda não foram publicadas, segundo um filme e um livro que serão lançados na próxima semana.

Salinger, que morreu em 2010, aos 91 anos, ficou conhecido por uma obra literária aclamada, porém escassa, ofuscada pelo livro que lançou em 1951, “O Apanhador no Campo de Centeio”.

Um documentário prestes a ser lançado, acompanhado de um livro que reproduz e complementa o roteiro, ambos com o título “Salinger”, afirma com detalhes que o escritor deixou instruções para os responsáveis por sua obra para que publicassem pelo menos cinco livros adicionais –alguns inteiramente inéditos, alguns que ampliam textos já publicados–, numa sequência que deve começar no início de 2015.

Os novos livros e contos foram escritos muito antes de Salinger assinar essa declaração de intenções em 2008, e vão expandir bastante o legado do autor.

Uma coletânea, que será chamada “The Family Glass”, vai somar cinco novas histórias a um lista de já publicadas sobre a fictícia família Glass, que surgiu no livro “Franny e Zooey”.

Outra deverá incluir uma retrabalhada versão de uma história de Salinger já conhecida mas nunca publicada, “The Last and the Best of Peter Pans”, que será reunida a histórias novas ou já editadas da família Caulfield, entre elas “O Apanhador no Campo de Centeio”.

Salinger nasceu em 1919 e morreu em 2010

Salinger nasceu em 1919 e morreu em 2010

FILOSOFIA E GUERRA

Os trabalhos inéditos devem incluir um manual romanceado da filosofia hinduísta Vedanta, com a qual Salinger se envolveu, uma novela baseada em seu primeiro casamento e passada durante a Segunda Guerra Mundial, e uma outra novela, inspirada em suas próprias experiências na guerra.

Por décadas, pessoas próximas a Salinger disseram que ele continuou escrevendo assiduamente, embora tenha parado de publicar desde a novela “Hapworth 16, 1924”, que saiu na revista “The New Yorker” em 1965. Mas só agora são revelados tantos detalhado dos planos de publicações póstumas.

Matthew Salinger, filho e controlador do legado do escritor ao lado de sua viúva, não quis discutir os planos do pai como o documentarista. Foi a mesma posição da editora de “Apanhador no Campo de Centeio”, Little, Brown and Company.

O documentário, que será lançado no dia 6 de setembro, é dirigido por Shane Salermo, um cineasta que passou nove anos pesquisando e filmando material. O livro sobre o filme, escrito por Salermo e David Shields, será lançado pela Simon & Schuster no dia 3.

Dando entrevista em seu escritório em Los Angeles, Salermo apontou para mesas e gavetas lotadas de fotos nunca publicadas, centenas de cartas e até um diário manuscrito da Segunda Guerra que pertenceu a um dos mais antigos amigos de Salinger, um soldado chamado Paul Fitzgerald, já morto.

A descoberta dos planos de publicação, segundo Salermo, tomou forma na parte final de suas pesquisas. Ele credita os detalhes do acordo a duas fontes anônimas, descritas no livro como “independentes e sem ligação uma com a outra”. Salermo diz que são pessoas que nunca se falaram, mas ambas sabiam dos planos.

O livro e o filme estão sendo promovidos com a promessa de revelações sobre Salinger, que fez da busca por privacidade sua marca registrada. A campanha promocional inclui um pôster com a imagem de Salinger com o dedo na frente dos lábios, com a inscrição: “Descubra o mistério, mas não revele os segredos”.

DUAS MULHERES

O livro, com 698 páginas, viaja pela vida do escritor que participou do desembarque aliado na Normandia na Segunda Guerra Mundial e voltou aos EUA casado com uma alemã, Sylvia Welter. O livro traz detalhes sob a suspeita de que ela era, na verdade, uma informante da Gestapo. Depois de poucas semanas, Salinger deixou no prato dela, servido para o café da manhã, uma passagem aérea para a Alemanha.

Outro relacionamento descrito no livro vai intrigar os seguidores de Salinger. Logo após a guerra, ele teria conhecido uma garota de 14 anos, Jean Miller, em um resort na Flórida. Por anos, eles trocaram cartas, passaram períodos juntos em Nova York e teriam tido uma única relação sexual. Segundo depoimento de Miller no filme/livro, ele a abandonou no dia seguinte a essa relação. Segundo ela, um de seus contos foi inspirado por ela: “For Esmé – With Love and Squalor”.

Para Salermo, livro e filme concluem uma busca que acompanhou seu trabalho de roteirista em Hollywood, de filmes como “Os Selvagens” e a ainda inédita continuação de “Avatar”.

“Salinger está prestes a ter um segundo ato em sua vida, como nenhum outro escritor na história”, diz Salermo. “Não há precedentes.”

Assista ao trailer do documentário:

De J. D. Salinger, a L&PM publica Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira & Seymour, uma apresentação.

Cortázar antes de Cortázar

Os mistérios começam com a dúvida a respeito do dia exato de seu nascimento: 24 ou 26 agosto?  Bem, até que alguém desencave a certidão de nascimento do cidadão, o que temos é que Julio Florencio Cortázar nasceu em fins de agosto de 1914, em Ixelles, um subúrbio de Bruxelas, na Bélgica, em pleno início de um conflito sangrento que ficaria conhecido como a Primeira Guerra Mundial. Ao contrário do que habitualmente se lê nos resumos biográficos do autor, seu nascimento naquele país nada teve de acidental: seus pais, os argentinos Julio José Cortázar e María Herminia Descotte de Cortázar, junto com a avó materna do futuro escritor, Victoria Gabel, haviam chegado ali um ano antes, numa tentativa de se estabelecer na Europa. O fato é que Julio José havia sido convidado pelo sogro para administrar em Bruxelas a filial de sua firma de importação de móveis de luxo, um trabalho que não tinha nada a ver com qualquer missão comercial associada aos meios diplomáticos argentinos, outro mito repetido à exaustão na maioria das biografias de Cortázar.

Com o prosseguimento da guerra, e com a  Bélgica ocupada pelas tropas alemãs, o plano acabou não dando certo: buscando refúgio num país neutro, a família, com María Herminia grávida de Ofelia, chega a Zurique, na Suíça, em outubro de 1915. Menos de dois anos depois, em junho de 1917, os Cortázar abandonam a Suíça, estabelecendo-se por algum tempo em Barcelona, de onde finalmente regressam à Argentina, em algum momento entre 1918 e 1920, quando a Grande Guerra já havia terminado. Aqui, mais um mistério (ou dois): não se conhece nem a data exata do regresso da família a Buenos Aires, nem se sabe se o pai de Cortázar ainda fazia parte do grupo familiar.

O certo é que, já sem a presença de Julio José Cortázar, a partir de 1920 a família se instala no subúrbio de Bánfield, a mais de quinze quilômetros do centro de Buenos Aires, numa casa comprada por Victoria Gabel, a matriarca da família. É nesta casa que Julio Cortázar vai passar toda a infância e a adolescência, sempre rodeado de mulheres: a avó, a mãe, a irmã Ofelia e, por algum tempo, uma prima de sua mãe, Etelvina. Este ambiente sobrecarregado da presença feminina será recordado mais tarde em contos como “Os venenos, de Final de jogo, e em muitos outros. (…)

O pequeno Julio Cortázar com sua irmã Ofelia

O ainda pequeno Julio Cortázar com sua irmã Ofelia

Julio Cortázar e sua mãe

Julio Cortázar e sua mãe

Trecho inicial da apresentação de Sérgio Karam para A autoestrada do sul & outras histórias, de Julio Cortázar (1914-1984). Karam também foi responsável por selecionar os contos do livro.

Dose dupla de Kafka no teatro em São Paulo

Estreiam neste fim de semana, em São Paulo, dois espetáculos sobre o universo de Franz Kafka. Em um deles, Denise Stoklos transforma o clássico Carta ao pai numa metáfora sobre a relação entre o povo brasileiro e seus governantes. No texto, Kafka faz uma espécie de acerto de contas com o pai tirano por meio de uma carta que nunca chegou a seu destinatário. No palco, Denise projeta na figura do pai opressor a figura dos nossos governantes, enquanto o filho oprimido torna-se o brasileiro que anseia por melhores condições de vida.

Outra interpretação possível para a montagem de “Carta ao Pai” feita por Denise Stoklos é a relação entre instituições governamentais e classe teatral, que, segundo ela, está fadada a não crescer pelas condições que lhe são impostas. “Represento a classe teatral em cena e faço uma denúncia ao apontar as opressões vindas de órgãos como o MinC, a Secretaria de Cultura e a Funarte, que deveriam dar todas as condições aos criadores de teatro, mas não dão. Não sei como os grupos resistem, meu Deus”, desabafou em entrevista à Folha de S. Paulo.

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Denise Stoklos em “Carta ao pai”

A segunda estreia kafkiana do fim de semana é da Cia Pau D’arco de Teatro com direção de Bia Szvat: “Expresso K” também se baseia na obra epistolar de Kafka e busca reconstituir, de forma não linear, os últimos 5 dias de vida do autor tcheco. “Trazemos ao público uma faceta menos conhecida de Kafka, seu lado mais doce e amoroso, além de sua dor e de seus delírios, causados pela alta febre”, contou a diretora.

SERVIÇO:

“Carta ao pai”
Quando: sexta às 21h, sábado às 20h, domingo às 18h (de 23/8 até 29/9)
Onde: Sesc Consolação – Teatro Anchieta (Rua Dr. Vila Nova, 245, tel. 011 3258 3830)
Quanto: de R$ 6,40 a R$ 32
Classificação 18 anos

“Expresso K”
Quando: sábado às 21h; domingo às 20h (de 24/8 a 27/10)
Onde: Espaço da Cia do Feijão (Rua Dr. Teodoro Baima, 68, tel. 011 3259 9086)
GRÁTIS
Classificação 14 anos

E por falar em Kafka, acaba de chegar à Série Ouro L&PM, o grande livro Franz Kafka: Obras Escolhidas que reúne nove textos do escritor, entre eles Carta ao pai Metamorfose.

Exumação de Jango terá maquete em 3D

Jornal Zero Hora – 22/08/2013 – Por Carlos Rollsing – São Borja

Escalado para investigar a morte de um ícone da história política do Brasil, um time de cinco peritos analisou o jazigo do ex-presidente João Goulart, em São Borja. Para facilitar a retirada dos ossos e o traslado para Brasília – o que deverá ocorrer até o final do ano –, foram feitas medições e fotos de vários ângulos. A partir das imagens, um programa de computador construirá uma maquete em 3D da sepultura, elemento que contribuirá no planejamento da remoção.

Ortiz explicou que os restos mortais de Jango estão inseridos em uma gaveta de tijolo maciço, do lado direito do jazigo, sendo a segunda de cima para baixo. Sob o mesmo mármore negro, também repousam outros oito corpos, entre eles o do ex-governador Leonel Brizola. Amaury ficou satisfeito com o resultado do trabalho, concebido para desvendar se Jango realmente sofreu morte natural em dezembro de 1976, como constam nos registros oficiais, ou foi envenenado pelas ditaduras do Cone Sul no contexto da Operação Condor.

Uma reunião, em 17 de setembro, poderá apontar o dia da exumação. A PF adiantou que, na data, a sepultura será cercada por tapumes para impedir a exposição de imagens que possam consternar a família.

Durante a perícia, alguns são-borjenses reclamavam. Pediam que deixassem o ex-presidente em paz. Outros simplesmente observavam. Artur Dorneles, um senhor de mãos engraxadas, se aproximou da grade do cemitério e, por cerca de 10 minutos, recordou o passado.

Quando Jango estava exilado na Argentina, onde morreu, Dorneles era encarregado de levar-lhe dinheiro e documentos. Ele sustentou uma tese que já gerou um livro: Jango não teria sido morto pelas ditaduras, mas por empregados que o traíram por interesse no seu dinheiro. O homem, depois de falar e se emocionar por três vezes, saiu andando e foi embora. A vida e a morte do ex-líder trabalhista mexem com as emoções da cidade.

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No cemitério em São Borja, perito da Polícia Federal mede o jazigo de Jango para que seja feita maquete 3D

O livro Jango, a vida e a morte no exílio, de Juremir Machado da Silva, reconstitui os últimos anos do ex-presidente João Goulart e trata de como foram construídos o imaginário favorável ao golpe e as narrativas sobre o possível assassinato do presidente deposto em 1964.

Agende-se: Palestra sobre Jango com Juremir Machado da Silva e Christopher Goulart (neto de Jango) na Feira do Livro de Porto Alegre  em 14 de novembro às 17h.

Agatha Christie e o farmacêutico que inspirou “O Cavalo Amarelo”

Antes de virar a mais publicada e traduzida escritora policial de todos os tempos, Agatha Christie trabalhou como enfermeira. Cerca de um ano antes da I Guerra Mundial começar – sem saber que o século XX entraria em um conflito sem precedentes – ela matriculou-se em um dos populares cursos de enfermagem para moças que existia na época. No curso, teve contato com alguns venenos que, mais tarde, fariam parte de seus romances. Um deles, chamado curare, foi apresentado à jovem Agatha pelo Sr. P (modo como a escritora se refere a ele em sua autobiografia). O Sr. P era um famoso farmacêutico da cidade que foi professor de Agatha Christie e uma espécie de inspiração para que ela criasse, em 1961, O Cavalo Amarelo, considerado seu livro mais forte e que já está na Coleção L&PM Pocket.

O Sr. P era um homem estranho. Um dia, procurando talvez impressionar-me, tirou do bolso um pedaço de uma matéria escura e mostrou-me dizendo:

“Sabe o que é isso?”

“Não.”

“É curare. Sabe o que é curare?”

Respondi que já lera algo a respeito.

“Interessante. Muito interessante. Tomado pela boca, é totalmente inofensivo. Se entrar, porém, na circulação sanguínea paralisa e mata. É o que certas tribos usam para envenenar as setas. Sabe por que trago isso em meu bolso?”

“Não. Não faço a menor ideia.” Parecia-me uma bobagem total carregar curare no bolso, mas isso eu não acrescentei.

“Pois bem, vou dizer-lhe”, continuou ele, pensativamente, “é porque faz com que eu me sinta poderoso.”

Então, nesse momento, olhei para ele. Era um homenzinho com uma aparência esquisita, muito redondo, fazendo lembrar um pintaroxo, com seu simpático rosto rosado. Todo ele ressumava um infantil ar de satisfação.

Pouco tempo depois terminei meu curso; continuei a pensar muitas vezes no Sr. P. Impressionara-me, porque achei que, a despeito de seu rosto de querubim, era homem potencialmente perigoso. A recordação dele perdurou em mim tanto tempo que ainda estava em minha memória, à espera, quando primeiro concebi a ideia de escrever meu livro O Cavalo Amarelo – pelo menos 50 anos depois.

(Trecho da Autobiografia de Agatha Christie)

Agatha Christie no tempo em que era enfermeira e fez muitas descobertas sobre venenos

Agatha Christie no tempo em que era enfermeira e fez muitas descobertas sobre venenos

Os girassóis perdidos de Andy Warhol

Chega ao Brasil a exposição “Lost then Found” com uma série de 15 retratos até então inéditos de Andy Warhol feitos pelo fotógrafo Steve Wood em 1981. Os negativos originais ficaram esquecidos no armário de Wood durante mais de 30 anos e foram encontrados durante uma faxina em seu escritório. Na época, ele trabalhava no jornal britânico The Daily Express e encontrou Warhol durante a cobertura do Deauville American Film Festival daquele ano, na França. Uma amiga em comum sugeriu que Wood fotografasse o artista, mas as fotos de Andy Warhol não entraram na matéria que ele entregou ao jornal e ficaram de lado até serem realmente esquecidas.

Em algumas imagens, Warhol aparece segurando um girassol, que é símbolo da felicidade – o que contrasta com sua tradicional expressão sisuda.

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Outras, no entanto, revelam instantes raros do rei da pop art, revelando até certa doçura (quase inédita!) em seu olhar.

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Depois daquela sessão de fotos, Wood nunca mais encontrou Warhol, que morreu anos depois, em 1987. A exposição “Lost then Found“, que faz curta temporada no Brasil de 5 a 8 de setembro no Pier Mauá, no Rio, estreou em maio deste ano em Nova York.

Euclides está em casa

Euclides viveu há cerca de 2.300 anos na Grécia e foi quem lançou as bases da geometria. Coincidentemente, ele está em dois livros que acabam de chegar na casa. O primeiro é o infantojuvenil A casa de Euclides em que Sergio Capparelli, acompanhado de ilustrações de Ana Gruszynski, explora em versos a natureza das formas geométricas:

Festa na casa de Euclides

O triângulo escaleno
Tirou a linha para dançar.
Pra quê? Foi o sinal
Para o baile começar.

Com dois catetos,
A hipotenusa e a bissetriz
Dançaram, dançaram
E no fim pediram bis.

Vinte quadriláteros
Desengonçados
Entraram em fila
Para uma quadrilha.

Tangentes tangiam,
Secantes secavam,
Pentágonos espiavam,
Cilindros corriam.

Orquestra animada,
Até o nascer do dia:
Um baile jamais visto
No país da geometria.

O outro livro é A Teoria da Relatividade, em que Albert Einstein explica para leigos os princípios básicos da sua mais famosa teoria, e cita Euclides logo no início do primeiro capítulo:

É bem provável que na escola o caro leitor ou leitora tenha travado conhecimento com o imponente edifício que é a geometria de Euclides e que se lembre, talvez com mais respeito do que afeição, das inúmeras horas gastas sob a tutela de professores conscienciosos na ascensão das altas escadarias desse imponente prédio.

"Euclid of Megare", pintura de Justus of Ghent, datada de cerca de 1474

“Euclid of Megare”, pintura de Justus of Ghent, datada de cerca de 1474

Woody Allen no Rio de Janeiro?

Se depender do prefeito Eduardo Paes, sim. Ele disse, em entrevista ao jornal O Globo, que está disposto a pagar o que for preciso para convencer Woody Allen a filmar seu próximo longa no Rio de Janeiro. A declaração foi notícia também no jornal inglês The Guardian, um dos maiores do mundo.

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(montagem feita pelo site adorocinema.com)

O principal interesse, segundo Paes, é a movimentação turística nas cidades onde Woody Allen ambienta seus filmes. Atualmente, ele está filmando seu próximo longa no sul da França com Colin Firth e Emma Stone no elenco. O filme anterior, “Blue Jasmine”, que já estreou nos Estados Unidos, foi filmado em São Francisco e em Nova York. Além disso, Paes está interessado também em ter o nome da cidade maravilhosa no título do filme, como foi o caso dos com os recentes “Meia-noite em Paris” e “Para Roma, com amor”, que foram grandes sucessos de bilheteria.

“Eu quero muito que ele venha! Já fiz de tudo. Falei com a irmã dele, mandei bilhete via (o arquiteto Santiago) Calatrava, que é vizinho dele em Nova York, e pago o que for para que ele venha filmar aqui. (…) Eu pago 100% da produção”, disse o prefeito.

 

Trio de ouro

Chegaram mais três títulos da Série Ouro que reúne luxuosas edições com antologias e obras de grandes autores da literatura universal.  Jane Austen tem 768 páginas e traz os romances A abadia de Northanger, Razão e sentimento e Orgulho e preconceito. Franz Kafka, em suas 520 páginas, oferece os principais livros do escritor tcheco, entre eles A metamorfose e Cartas ao pai. Para completar, Memória do fogo oferece a monumental trilogia em que Eduardo Galeano conta a história da América Latina em 856 páginas.

Entre os próximos lançamentos da Série Ouro estão obras reunidas de Nietzsche, Oscar Wilde e Fernando Pessoa, além da Odisseia em edição bilíngue (português/grego) com tradução de Donaldo Schüler e mais um volume com histórias de Sherlock Holmes.

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Alberto Marsicano – 31 de janeiro de 1952, 18 de agosto de 2013

Por Claudio Willer*

Mais um que se foi. Soube há pouco, mas estava no hospital desde segunda-feira, desmaiado, com crise de asma.

Verbete dele na Wikipedia, já atualizado pela morte, dá bibliografia e discografia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Marsicano

Levar uma vida livre – ‘experimental’, teria dito Roberto Piva – não o impediu de produzir copiosamente. Rimbaud por ele mesmo, em parceria com Daniel Fresnot, livro certo na editora errada. Preciso e informativo. Que seja reeditado. Usei em palestras e ensaios.

Traduções preciosas – sobre William Blake, recorria preferencialmente a seu O Casamento do Céu e do Inferno & outros escritos, L&PM Pocket. Os Keats (Iluminuras), Wordsworth e Shelley (Ateliê), em parceria com John Milton, dificílimas, precisas. O que fez sobre Bashô e haicais, luminoso. Reli recentemente, complementando traduzir os haicais de Kerouac.

Crônicas marsicanas (L&PM) mostra a verve como narrador. Combinou – fazia isso ao vivo – mirabolantes histórias reais, e invenções, frutos de sua imaginação fervilhante. Por exemplo, no episódio de São Luiz do Paraitinga, do qual participo, fundiu duas histórias: aconteceu tudo aquilo e mais, completado por um belíssimo fim de tarde com ele tocando cítara no alto de um morro; mas a leitura de Piva, também real, foi em outra ocasião, no SESC-Interlagos, com ele também tocando. Livro ainda tem belas passagens de prosa poética e reflexão filosófica.

Além de escritor, Alberto Marsicano era músico e introduziu a cítara indiana no Brasil

Além de escritor, Alberto Marsicano era músico e introduziu a cítara indiana no Brasil

Místico desregrado, adepto n’yngma, a loucura sagrada tibetana; e do candomblé / umbanda – espírito sincrético. Às vezes o via na Avenida Paulista, fones de ouvido, olhos fechados, imerso em êxtase, inteiramente alheio ao que se passava ao redor – feliz.

Generoso. Comparecia, prestigiava amigos. Tocar cítara no Viva Piva, a foto circula na internet, foi uma das inumeráveis ocasiões. Quando fiz Artaud para a L&PM, presenteou-me com a edição norte-americana preparada por Susan Sontag, ajudou-me enormemente. Enquanto escrevia Um obscuro encanto, deu-me o livro sobre alquimia em Rimbaud de Daniel Guerdon; e me passou os arquivos em word da nova edição de Blake, ainda no prelo. Sou-lhe devedor.

Trechos de Crônicas marsicanas que Elizabeth Lorenzotti postou em minha pg de Facebook:

cronicas_marsicanas“Num transatlântico espanhol, sob o olhar pasmo dos passageiros, arranquei as folhas de Paranoia (obra prima de Piva), coloquei cada uma delas numa garrafa (que arrumei na cozinha) e arrojei-as ao alto mar, proferindo a conjuração poética: ‘O pensamento profético de Piva singrará os Sete Mares’.”

“Estava numa gélida madrugada esperando o primeiro metro perto do Tamisa em Londres. Numa cena vitoriana, um vulto emerge entre o fog cambaleante me entrega um livro e esvai-se na névoa. Eram os ‘Selected Poems’ de Blake que posteriormente verteria ao português”

 

 

 

* Claudio Willer é poeta, ensaísta e tradutor. O texto acima foi publicado originalmente em seu Blog no dia 18 de agosto de 2013.