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Alberto Marsicano – 31 de janeiro de 1952, 18 de agosto de 2013

Por Claudio Willer*

Mais um que se foi. Soube há pouco, mas estava no hospital desde segunda-feira, desmaiado, com crise de asma.

Verbete dele na Wikipedia, já atualizado pela morte, dá bibliografia e discografia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Marsicano

Levar uma vida livre – ‘experimental’, teria dito Roberto Piva – não o impediu de produzir copiosamente. Rimbaud por ele mesmo, em parceria com Daniel Fresnot, livro certo na editora errada. Preciso e informativo. Que seja reeditado. Usei em palestras e ensaios.

Traduções preciosas – sobre William Blake, recorria preferencialmente a seu O Casamento do Céu e do Inferno & outros escritos, L&PM Pocket. Os Keats (Iluminuras), Wordsworth e Shelley (Ateliê), em parceria com John Milton, dificílimas, precisas. O que fez sobre Bashô e haicais, luminoso. Reli recentemente, complementando traduzir os haicais de Kerouac.

Crônicas marsicanas (L&PM) mostra a verve como narrador. Combinou – fazia isso ao vivo – mirabolantes histórias reais, e invenções, frutos de sua imaginação fervilhante. Por exemplo, no episódio de São Luiz do Paraitinga, do qual participo, fundiu duas histórias: aconteceu tudo aquilo e mais, completado por um belíssimo fim de tarde com ele tocando cítara no alto de um morro; mas a leitura de Piva, também real, foi em outra ocasião, no SESC-Interlagos, com ele também tocando. Livro ainda tem belas passagens de prosa poética e reflexão filosófica.

Além de escritor, Alberto Marsicano era músico e introduziu a cítara indiana no Brasil

Além de escritor, Alberto Marsicano era músico e introduziu a cítara indiana no Brasil

Místico desregrado, adepto n’yngma, a loucura sagrada tibetana; e do candomblé / umbanda – espírito sincrético. Às vezes o via na Avenida Paulista, fones de ouvido, olhos fechados, imerso em êxtase, inteiramente alheio ao que se passava ao redor – feliz.

Generoso. Comparecia, prestigiava amigos. Tocar cítara no Viva Piva, a foto circula na internet, foi uma das inumeráveis ocasiões. Quando fiz Artaud para a L&PM, presenteou-me com a edição norte-americana preparada por Susan Sontag, ajudou-me enormemente. Enquanto escrevia Um obscuro encanto, deu-me o livro sobre alquimia em Rimbaud de Daniel Guerdon; e me passou os arquivos em word da nova edição de Blake, ainda no prelo. Sou-lhe devedor.

Trechos de Crônicas marsicanas que Elizabeth Lorenzotti postou em minha pg de Facebook:

cronicas_marsicanas“Num transatlântico espanhol, sob o olhar pasmo dos passageiros, arranquei as folhas de Paranoia (obra prima de Piva), coloquei cada uma delas numa garrafa (que arrumei na cozinha) e arrojei-as ao alto mar, proferindo a conjuração poética: ‘O pensamento profético de Piva singrará os Sete Mares’.”

“Estava numa gélida madrugada esperando o primeiro metro perto do Tamisa em Londres. Numa cena vitoriana, um vulto emerge entre o fog cambaleante me entrega um livro e esvai-se na névoa. Eram os ‘Selected Poems’ de Blake que posteriormente verteria ao português”

 

 

 

* Claudio Willer é poeta, ensaísta e tradutor. O texto acima foi publicado originalmente em seu Blog no dia 18 de agosto de 2013.