Arquivo mensais:julho 2011

36. De Corto Maltese aos Mangás: as HQs no DNA da L&PM

Por Ivan Pinheiro Machado*

No post da semana passada da série Era uma vez… uma editora, a Paula Taitelbaum, que coordena o núcleo de comunicação da L&PM, na minha ausência, iniciou um assunto que tem muito a ver com a história da editora: a coleção Quadrinhos L&PM. Tão importante são os quadrinhos para nós (o primeiro livro da editora foi o Rango 1, de Edgar Vasques, um livro de tiras de humor), que eu vou me estender neste assunto. Foi assim:

Em 1980 nós decidimos fazer uma coleção de quadrinhos nos moldes europeus. Nosso modelo era a extinta editora francesa Futurópolis, que resgatava e reconstituía os originais das primeiras histórias dos clássicos americanos e as editoras Castermann, Glennat e Dargaud. Ficávamos fascinados quando íamos a Paris e víamos, nas livrarias Fnac, numa grande sala destinada somente aos quadrinhos, dezenas de jovens sentados no chão lendo belos álbuns por horas a fio.

No Brasil, embora em declínio, havia a histórica editora EBAL que publicava os clássicos em edições luxuosas. Os quadrinhos mais populares, os tradicionais gibis, com os personagens americanos da Marvel e da DC Comics em suas novas versões requentadas, eram vendidos somente em bancas de jornais. Nossa idéia era publicar os álbuns nos modelos europeus, no formato 28 cm x 21 cm, papel de alta qualidade, edições costuradas, quase luxuosas e colocar os quadrinhos nas livrarias. O preço seria uma média entre as edições luxuosas do Príncipe Valente, por exemplo, e os gibis vendidos em banca.

Quando adolescente, meu pai foi para o exílio fugindo das perseguições da ditadura militar que imperava (literalmente) no Brasil. Toda a minha família foi para Roma. Foi lá que conheci um dos grandes personagens dos quadrinhos europeus na época, Corto Maltese, o fascinante marujo criado por Hugo Pratt (1927-1995). Eu e meu irmão éramos fãs de Corto e líamos avidamente todos os dias a tira que saía no jornal Corriere de la Sera. Aos domingos era publicada a sequência da história em meia página (8 tiras) formato standard (tipo Estadão).

"A Balada do Mar Salgado" foi primeira aventura de Corto Maltese publicada em livro

Quando projetamos a coleção de quadrinhos em 1980, escolhemos como primeiro título – numa homenagem à nossa estadia romana – o “romance gráfico” de Hugo Pratt, A Balada do Mar Salgado, primeira aventura publicada de Corto Maltese em livro. Uma longa história em quadrinhos de 200 páginas, onde Corto vive as mais variadas aventuras pelos mares do Sul entre piratas, bandidos e nativos das ilhas. Calado, bonitão, desiludido da vida, Corto é uma espécie de herói romântico, sentimental e duro, quando é preciso ser duro. Na sequência, publicamos outro italiano lendário, Guido Crepax (1933 – 2003), que fazia também enorme sucesso na Europa com sua lânguida, misteriosa e “gostosíssima” personagem Valentina. Depois, decidimos seguir “apresentando” os grandes quadrinistas internacionais ao público brasileiro; publicamos Moebius, Altan, Wolinski, Pichard, Jean Claude-Claeys, Quino (os cartuns), Fontanarrosa, Mathias Schulteiss, Rotundo, Magnus, Manara. Todos estes autores, com exceção de Manara e Quino, foram editados pela primeira vez no Brasil pela coleção Quadrinhos L&PM. Também publicamos de forma pioneira os autores underground Robert Crumb e Gilbert Shelton (Os Freak Brothers).

"Valentina" de Guido Crepax

Num trabalho de “reconstituição histórica” das HQs americanas, resgatamos as primeira histórias de Batman de Bob Cane, Superman de Jerome Segel e Joe Shuster, Fantasma de Lee Falk e Ray more, Dick Tracy de Chester Gould, Mandrake de Lee Falk e Phil Davis, Flash Gordon de Dan Barry, Spirit de Will Eisner, Popeye de E. Segar, Steve Canyon de Milton Cannif, Cisco Kid de J. Salinas entre muitos outros. Publicamos também na coleção de quadrinhos vários autores brasileiros como Caulos, Miguel Paiva, Chico Caruso, Paulo Caruso, Edgar Vasques, Luis Fernando Veríssimo, Mauricio de Sousa e Flavio Collin. Enfim, foram 123 álbuns em grande formato lançados num período 8 anos. Até que fomos fulminados pela concorrência das grandes editoras de revistas. Começavam a surgir as famosas “grafic novels” lideradas por Frank Miller e seu Batman futurista. Ali começou o fim da nossa coleção, pois no dinheiro de hoje, os nossos álbuns custariam entre R$ 25,00 e R$ 30,00. Nossa concorrência apresentava maravilhosas histórias inteiramente a cores (95% dos nossos álbuns eram em branco e preto, conforme as histórias originais). As grandes tiragens, a forte (e cara) propaganda e a distribuição em milhares de bancas faziam com que estas “grafic novels” chegassem ao consumidor por menos de R$ 10,00. O remédio foi honrosamente encerrar a coleção.

Mas quase como um vício, esta idéia dos quadrinhos sempre rondou a L&PM. Seguidamente temos recaídas. E desde o ano 2000 temos retomado a publicação eventual de histórias em quadrinhos. Destaque para a série de histórias de Agatha Christie, a história que, filmada, quase ganhou o Oscar de filme estrangeiro de 2009, Valsa com Bashir de Ari Folman, Aya de Yopougon de Margarite Abouet (álbuns coloridos) e a grande série das obras completas de Shulz, Peanuts que chega ao seu quarto volume em luxuosas edições em capa dura. A L&PM está lançando também, ainda em 2011, uma grande série de clássicos internacionais adaptados aos quadrinhos.

Tanto está no DNA desta casa, que os quadrinhos estão também magnificamente representados na maior coleção de livros de bolso do país que é, justamente a Coleção L&PM POCKET; lá estão Hagar, Garfield, Dilbert, Recruta Zero, Peanuts, Snoopy, Smurfs e grandes autores brasileiros como Laerte, Angeli, Glauco, Adão Iturrusgarai, Edgar Vasques, Iotti, Santiago, Mauricio de Sousa entre outros.

Para encerrar, aguarde a grande novidade, também para 2011: antes do Natal você vai ter na Coleção L&PM Pocket várias séries dos melhores Mangás japoneses. Evidentemente, para ler de trás pra diante…

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo-sexto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Caio Fernando Abreu e Millôr Fernandes falam de Martha Medeiros

Martha Medeiros – a poeta – teve dois padrinhos de respeito: Caio Fernando Abreu e Millôr Fernandes. Curiosamente ela foi se consagrar, popularmente, no texto. A crônica e a ficção fizeram de Martha uma “celebridade” literária. Seu livro Doidas e Santas, lançado em 2009, até hoje é um fenômeno de vendas. O Divã rendeu um filme muito elogiado e a peça baseada em Doidas e Santas está em cartaz até hoje e sempre  lotada. A poesia de Martha está disponível nos livros Poesia reunida e Cartas extraviadas. Vale a pena. Poesia é um gênero que não vai para a lista dos bestsellers. Mas ler a boa poesia é uma emoção inesquecível. No caso de Martha, os  fãs que não conhecem sua poesia, não sabem o que estão perdendo. Millôr e Caio que o digam! (IPM)

A poesia de Martha é de câmara. A poesia de Martha é mínima, como é mínimo o eu contemporâneo, confundido em sua identidade com memórias de filmes noir, reflexos luminosos de neon, cores de out-door, velocidade de videocassete – repertório romântico retirado mais da enorme adega do imaginário coletivo do que da própria vida. Nesse sentido, ela consegue dar voz a uma geração inteira – essa que se movimenta, mais do que entre verdadeiras emoções, entre os clichês das emoções de um tempo, que pode tanto refletir os anos 40 quanto um futuro mais parecido com histórias em quadrinhos do que com sua possibilidade real.

Entre Casablanca, Ingrid Bergman ao som de As Times Goes Bye, e Harrison Ford caçando replicantes em Blade Runner, é que acontece essa poesia. Nos tempos de agora, plenos anos 80, onde o jantar à luz de velas foi preparado num forno microondas, a gardênia de Billie Holiday convive em paz com o disco-laser e o vestido longo de seda para dançar cheek to cheek foi comprado num bom free-shop da moda. Com seu dom para recriar lugares-comuns, numa poesia que frequentemente gira em torno de frases feitas reelaboradas, neste Meia-noite e um Quarto, seu segundo livro, Martha Medeiros assume uma identidade inconfundível na poesia brasileira seguindo, à sua maneira, a trilha aberta por Ana Cristina César.

Extremamente sintética (quase nunca seus poemas ultrapassam poucos versos), com delicadeza, ironia e sofisticação, ela passeia pelas carências, relações e fantasias de um momento histórico que, por incluir nele mesmo vários outros tempos passados, não dispõe ainda de uma face própria. Se é verdade que a boa literatura sempre tem a função de ajudar a definir melhor a face do tempo em que foi escrita, não tenho a menor dúvida ao afirmar que a literatura de Martha, portanto, é da melhor qualidade. Mas essa qualidade – a dos dias de hoje, pós-modernos -, longe das sinfonias grandiloqüentes, está mais próxima de um solo de sax, um gemido de guitarra elétrica, dedilhar rápido de piano ou sopro em flauta-doce. Que, talvez por esta singeleza e despretensão tiponew-bossa, imediatamente cria no leitor a magia rara da identificação.

A poesia de Martha acontece o tempo todo, do lado de dentro ou de fora da gente. Por ser poeta, ela consegue captá-la e dar-lhe a mais sensível e conemporânea das formas. Então comove. E segue o baile.

Caio Fernando Abreu
Menino Deus, outubro de 1987

Martha, Ô Martha

Millôr Fernandes

Martha Medeiros vem de novo, um terceiro livro. Gostei do anterior, uma revelação, próxima disso que o pessoal tem por bem chamar minimalista. Neste, Persona Non Grata, Martha repete a dose, nem melhor nem pior, apenas excelente.

É do tipo poesia sincera, a dela. Quero dizer, não inventada, mas feita de impressões existenciais, pessoais, sentimentos que às vezes nem se realizam senão no ato da apreensão, e crescem no ato do registro. Isso mesmo, como num instantâneo fotográfico. O mocroinstante registrado na velocidade química de 1600 ASA (*) nunca existiu na realidade que vivemos, nunca o vimos, mas é o que permanece como (nossa) eternidade, guardada no fundo da gaveta.

Tem mais; brincando, brincando, o que Martha mais faz é poesia de amor. Tem mais ainda – é absolutamente compreensível, sobretudo para quem compreende.

O que tem a dizer no fundo? Acho que é – quem de nós poderá escolher alternativa, já nascido?

Em resumo, antes que te chateie – das duas uma; ou a poesia morreu, ou a poesia e isso.

E, claro, aquilo. João Cabral, Paulo Mendes Campos e Manoel de Barros estão aí mesmo e não me deixam mentir.

* Pros ignorantes de fotografia: índice numérico de exposição de um filme no sistema adotado pela American Standards Association , usado para indicar a sensibilidade à luz  da emulsão do filme. Millôr é cultura!

Acaba de chegar o novo livro de crônicas de Martha Medeiros: Feliz por nada

Novo filme de Sherlock Holmes já tem cartaz

Aí vai uma ótima novidade para os fãs de Sherlock Holmes, o personagem mais célebre das histórias de Sir Arthur Conan Doyle: o novo filme sobre o detetive mais famoso da literatura, Sherlock Holmes – A game of shadows, já tem cartaz oficial! Ou melhor, DOIS cartazes oficiais:

Há rumores de que o trailer oficial do filme, que tem estreia prevista para dezembro, deve sair esta semana. Estamos aguardando ansiosos!

Via Omelete.

Martha Medeiros e as coisas simples da vida

O novo livro de crônicas de Martha Medeiros já chegou dizendo a que veio: ser Feliz por nada, segundo a própria autora, “é fazer a opção por uma vida conscientemente vívida, mais leve e nem por isso menos visceral”. Nesta coletânea de mais de 80 crônicas, Martha aborda temas muito diversos e, ao mesmo tempo, extremamente próximos de cada um de nós, relacionando o cotidiano muitas vezes banal e fugidio com temas universais como o amor, a família e a amizade. Em resumo: Feliz por nada é um livro imperdível para aqueles que apreciam as coisas simples da vida.

Quem lê a cronista e colunista Martha Medeiros em alguns dos jornais mais importantes do país talvez não conheça sua outra face: a poeta. Em 1985, Martha publicou seu primeiro livro de poemas chamado Strip-tease e, em 1987, lançou pela L&PM a coletânea Meia-noite e um Quarto, cuja orelha é assinada por Caio Fernando Abreu.

Em sua participação no quadro Palavra de Escritor da L&PM WebTV, Martha relembra o início da carreira de escritora e a honra de ter sido recomendada por Millôr Fernandes, comenta passagens de sua infância e fala sobre a relação com o público, entre outros assuntos. Veja o vídeo completo na WebTV (para os fãs, serão 30 minutos muito bem empregados!) ou assista ao teaser abaixo para ter um gostinho 🙂

Autor de hoje: Marcel Proust

Paris, França, 1871 – † Paris, França, 1922

Filho de médico, passou sua infância em Paris, em Champs-Elysées, e as férias de verão em Illiers, sob os cuidados da família. Estudou Direito em Paris, onde fundou a revista O Banquete, na qual publicou suas primeiras experiências literárias. Freqüentou os salões da época, inspirando-se na alta burguesia e na aristocracia francesa para compor seus romances. Após a morte dos pais, dedicou-se à redação do romance Em busca do tempo perdido, publicado entre 1913 e 1927, composto de sete partes. Opondo-se à temática realista, a obra de Proust registra a evocação da memória, capaz de reunir presente e passado em uma mesma sensação. Relatada em primeira pessoa, ultrapassa a narrativa tradicional e realista através da introspecção e da observação. Nela o autor procura demonstrar que o tempo da vida, que parece irremediavelmente perdido, se recupera por meio da obra de arte. Sua obra ampliou os rumos da literatura, contrariando o pensamento positivista dominante na passagem do século.

OBRAS PRINCIPAIS: No caminho de Swann, 1913; À sombra das raparigas em flor, 1919; O caminho de Guermantes I, 1914; O caminho de Guermantes II, 1922; Sodoma e Gomorra, 1922; A prisioneira, 1923; A fugitiva, 1925; O tempo redescoberto, 1927

MARCEL PROUST por Tatata Pimentel

Marcel Proust nasceu em 10 de julho de 1871 em Auteuil, arredores de Paris, em família fugida das turbulências revolucionárias do centro da cidade. Filho de mãe judia, milionária e possessiva, Jeanne Weil, e de pai médico, famoso e autoritário, Adrian Proust. Supõe-se que, em função dos traumas sofridos pela mãe durante a gestação e o parto, a criança tenha nascido com uma asma incurável – tanto física quanto psíquica. Essa doença perseguirá Proust até a sua morte, em 18 de novembro de 1922. Portanto, a sua vida coincide com o painel histórico narrado, que tem por título geral Em busca do tempo perdido.

Proust consegue publicar em vida: No caminho de Swann, em 1913; O caminho de Guermantes I, em 1914; À sombra das raparigas em flor, em 1919; O caminho de Guermantes II, Sodoma e Gomorra, ambos em 1922. Neste mesmo, sai Sodoma e Gomorra II. Após a morte de Proust, seu irmão, Robert, tenta organizar seus cadernos de rascunhos e decifrar os bilhetes, colados nas folhas e contendo as idéias de Proust para os volumes seguintes. Com esta tentativa, publicam-se: A prisioneira, em 1923; A fugitiva, em 1925; e, finalmente, em 1927, O tempo redescoberto. O infindável trabalho para se chegar a um texto final de todos os romances que compõem Em busca do tempo perdido só termina com a edição definitiva, na coleção Pléiade, organizada por Jean-Yves Tadié, em quatro volumes, em 1987 – desautorizando todas as versões anteriores da obra máxima de Proust. Obra esta interminada e interminável. Quando Proust coloca a palavra fim, o faz durante a escritura do romance, e não ao finalizá-lo. Essa narrativa é um imenso painel da sociedade francesa que coincide com a vida do autor. Guerras, revoluções, manifestações artísticas e, principalmente, o fim de uma aristocracia, paralelo ao surgimento de uma burguesia ostensiva. Emergidas exclusivamente através da memória involuntária do autor, com um gole de chá de tília e uma madeleine prensada contra o palato.

Essas memórias saem, grosso modo, de três grupos sociais: o círculo Guermantes, dos aristocratas, a ascensão da burguesa madame Verdurin e as recordações da infância em Combray. Com a famosa frase: “Durante muito tempo, deitava- me cedo”, o autor deslancha a recuperação do passado, das fobias da solidão e da expectativa do beijo da mãe antes do adormecer – na casa de sua tia-avó em Combray. A justificativa de um caminho que leva à casa de Swann e outro que leva ao castelo dos Guermantes deve-se ao fato de que, saindo pela porta de frente da casa da tia, ia-se para a casa de Swann; saindo-se pelo portão dos fundos, ia-se em direção aos Guermantes. Essa oposição geográfica se realizará na obra de Proust quando a burguesia casa-se com a aristocracia. Os primeiros volumes de Em busca do tempo perdido são os mais lidos; há muito leitor derrotado pelas imensas descrições de sensações do narrador, ao fio de todo o romance. Mas o princípio é extremamente fácil, saboroso e divertido. Em busca é o maior desafio para leitor de todas as épocas, que só se interessa por conhecer “a historinha do livro” – hábito que se formou contemporaneamente com a vitória do best-seller, cuja preocupação única é o mito da narrativa e o final da trama. Em busca do tempo perdido é um romance de sensações. O gosto da madeleine no palato com chá de tília e as receitas fabulosas da velha empregada Françoise. O sentimento de ser ou não traído por Albertine, a frase musical que consagra o amor de Albertine e do narrador e a sexualidade dos amigos íntimos. Nada é confirmado nos romances, e sim deixado na dúvida, pois toda a obra é escrita em primeira pessoa. O que o narrador sabe, ele viu ou lhe foi relatado. Ele não é onipresente nem onisciente, como no romance tradicional.

Os grandes painéis da obra: a reunião da família durante as férias do narrador em Combray, com a imortal figura de Françoise; a carência do amor da mãe e a doença de tia Léonie; a beleza de À sombra das raparigas em flor, que se passa na praia atlântica de Cabourg, no litoral francês, e os lazeres da burguesia e da aristocracia; o Caso Dreyfus, discutido nos salões da sociedade parisiense; o anti-semitismo posto em questão; a pintura infernal da Primeira Guerra em Paris; a descoberta da homossexualidade dos vários amigos do narrador; a descrição de uma descida ao inferno dantesco, num bordel masculino parisiense, durante o bombardeio da cidade. E, por fim, a chave de ouro da obra, com a festa na casa dos Guermantes, onde finalmente o narrador constata a decadência física, moral e intelectual dos milhares de personagens que habitam as páginas de Em busca do tempo perdido. O tempo passou para aquela fatia da sociedade parisiense do fim de século. Alguns, criação literária. Outros, personagens reais da época, como a atriz Sarah Bernhardt.

Ler essa obra é tão difícil quanto ler qualquer obra-prima da humanidade, pela sua extensão, pela quantidade de personagens e por sua mobilidade social: uma madame que vira duquesa e tem outro nome; uma prostituta que vira princesa e também muda de nome. É impossível estabelecer uma geografia na obra e uma genealogia. São essas mutações da sociedade e suas ideologias que a tornam o maior painel literário da passagem do século. Exclusivamente pela sensibilidade do narrador: as pesquisas do autor com as minúcias de moda, penteado e chapéu. Enfim, a transmutação de uma sociedade arcaica francesa rumo à França contemporânea.

Para quem pretende enfrentar Proust no original: Bibliothèque de La Pléiade, quatro volumes, Paris, 1987. Para quem deseja ler em português: tradução de Fernando Py, publicada pela Ediouro, e tradução de Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Lucia Miguel Pereira, publicada pela Globo. Os estudos sobre a obra de Proust pululam, desde Deleuze até Julia Kristeva.

Biografia: A Monumental e Definitiva, de Painter. Mas nada subsiste sem a leitura da obra. Difícil e monumental. Longa e eterna, como qualquer obra de arte.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Marcel Proust é o autor escolhido deste Domingo porque hoje, 10 de julho, é seu aniversário!

Para comemorar o Dia da Pizza

Desde 1985, 10 de julho é o Dia da Pizza em São Paulo. A data foi instituída pelo então secretário de turismo, Caio Luís de Carvalho, porque esta foi a data de encerramento de um concurso que elegeu as 10 melhores receitas de pizza mussarela e margherita da cidade. Ou seja: hoje, mesmo que você não seja um paulista da gema, é dia de lembrar desta companheira de todas as horas, deste que é o cardápio preferido das noites de Domingo (e de muitas outras também). A receita de hoje começa e termina em pizza. Mas é uma versão daquelas bem tradicionais, com o sabor da pizza caseira que você comia quando era criança. Ela está no livro Voltaremos! – Receitas e conversas de forno e fogão, de Anonymus Gourmet.

PIZZA CERTA

1/2 kg de farinha de trigo; 1 pitada de sal; 2 envelopes de fermento biológico seco instantâneo; 1/2 litro de água morna; 1 lata e 1/2 de molho de tomate; 3 latas de atum.

Utensílios para a receita. Uma panela, uma peneira e uma forma para pizza.

Organize os ingredientes. Comece preparando a massa

1- Misture a farinha peneirada com o fermento e o sal.

2- Aos poucos, vá colocando a água morna.

3- Misture bem até a massa ficar homogênea.

4- Se precisar, coloque mais um pouco de farinha.

5- Coloque a massa em cima da mesa e sove-a bem com a ajuda de mais farinha de trigo, para não grudar a massa na mesa e nas mãos.

6- Depois, com um rolo, abra a massa.

7- Coloque-a na forma para pizza e deixe dobrar de tamanho.

8- Enquanto isso, faça o recheio misturando o molho de tomate com o atum.

9- Refogue bem em fogo baixo.

10- Tempere com sal e pimenta e coloque-o sobre a pizza já crescida.

11- Cubra tudo com fatias de queijo e rodelas de tomate. Leve ao forno preaquecido até derreter bem o queijo e cozinhar a massa.

12- Por mais ou menos 30 minutos.

Dica do Anonymus. Você pode substituir o atum por sardinha em lata.

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM.

Peça “Adultérios”, de Woody Allen, estreia hoje em São Paulo

A cortina sobe num dia cinzento em Nova York. Pode haver até um pouco de nevoeiro. O ambiente sugere um ponto isolado próximo das margens do rio Hudson, onde as pessoas podem se apoiar sobre o parapeito, observar os barcos e ver a praia de New Jersey. Provavelmente entre as ruas 70 e 80 Oeste. Jim Swain, escritor, com idade entre quarenta e cinquenta anos, está esperando nervoso, conferindo o relógio, andando de um lado para outro, tentando ligar para um número no celular, sem resposta. Está claramente esperando por alguém. Esfrega as mãos, confere se está chovendo e talvez puxe a gola do casaco um pouco para cima ao sentir ao menos uma névoa úmida. Em seguida, um homem grande, sem-teto, com barba por fazer, um morador de rua mais ou menos da idade de Jim, passa meio que de olho nele. Seu nome é Fred. Fred acaba se aproximando de Jim, que está cada vez mais consciente da presença dele e que, embora não esteja exatamente com medo, fica desconfiado por estar numa região erma com um sujeito grande e mal-encarado. Acrescente-se a isso o fato de Jim querer que seu encontro com quem quer que ele esteja esperando seja muito em particular. Afinal, Fred puxa conversa.

Assim começa a primeira peça de Adultérios, livro de Woody Allen que apresenta três deliciosas e divertidas histórias que se passam em Nova York e seus arredores e trazem os mais legítimos personagens de Allen. Pois, hoje, 08 de julho,  estreia em São Paulo a montagem de Adultérios (cujo título original é Central Park West). É a primeira vez que este texto de Woody Allen é adaptado aos palcos brasileiros e marca o retorno de Fabio Assunção ao teatro. Além dele, estão no elenco Norival Rizzo e Carol Mariottini. O diretor Alexandre Reinecke optou por alternar Fábio Assunção e Norival Rizzo nos papéis do mendigo Fred e do escritor Jim Swain que, no início da peça, espera sua amante com a intenção de terminar o relacionamento com ela. Fred, esquizofrênico e inteligente, puxa conversa com ele e, lá pelas tantas, acusa Jim de ter roubado sua história para escrever o roteiro de seu filme (que é sucesso de bilheteria). Como essa história termina? Bom, nesse caso, só leia o livro e assistindo à peça. Ou melhor: fazendo os dois.

Os três atores de "Adultérios" em cena / Foto de divulgação

ADULTÉRIOS
Estréia:
8 de julho, sexta-feira, 21h30
Local: Teatro Shopping Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569 – 6º Andar)
Horários: Sextas, às 21h30 – Sábados, às 20h e às 22h – Domingos, às 19h.
Temporada: De 8 de julho a 25 de setembro de 2011
Preços: Sextas: R$ 50,00 – Sábados: R$ 70,00 – Domingos: R$ 60,00.
Duração: 60 minutos
Lotação: 600 lugares
Classificação Etária: 12 anos
Horário de funcionamento da bilheteria: terça à quinta, no 6º andar, das 13h às 19h; de sexta a domingo, no 6º andar, das 13h até o início dos espetáculos. Telefones da bilheteria: 3472.2229 e 3472.2230
Vendas pela Internet: www.ingressorapido.com.br e 11.4003.1212

Cara a cara com os maiores escritores do mundo

Por Paula Taitelbaum*

Sou um gênio. Tive uma ideia de roteiro para um filme. Vou vender para Hollywood. Não, pensando bem, vou oferecer a Woody Allen. De graça. O storyline é o seguinte: a moça vai visitar a National Portrait Gallery, em Londres, e, de repente, todos os escritores que estão nas telas, pintados em diferentes épocas, ganham vida e se misturam. Como assim isso não passa de um misto de “Uma noite no museu” com “Meia noite em Paris”? Ok, você venceu, sou um fracasso como roteirista…

Brincadeiras à parte, esta ideia é meio inevitável quando se visita a National Portrait Gallery, um museu único e exclusivamente dedicado a retratos. Lá, estão os originais de muitas das imagens que conhecemos – e outras que não são tão populares assim. Telas com imagens de Shakespeare, das irmãs Brontë, de Robert Louis Stevenson, de Jane Austen, de Charles Dickens, de Lord Byron, de Jonathan Swift. As fotos (e não as reproduções) de Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Virginia Woolf, James Joyce, Beatrix Potter… Imagina se eles se descolassem dali!

Só os escritores entrariam no meu filme, mas claro que não são apenas eles que estão pelas paredes. Há reis, rainhas, nobres, pintores, músicos, políticos, celebridades, cientistas (o portrait de Darwin é impressionante!), inventores, roqueiros e ricos das mais variadas espécies. Há pinceladas de todos os famosos que o Reino Unido já viu e produziu.

Vá a Londres, visite a National Portrait Gallery. E depois me diga se o meu roteiro, mesmo que óbvio, não seria um sucesso…

Eu e Shakespeare, feitos um para o outro

Eduardo Bueno e Robert Louis Stevenson

Eu e as irmãs Brontë, na tela sozinha está Emily Brontë, autora do "O morro dos ventos uivantes"

Jane Austen, desenhada por sua irmã (e eu no reflexo)

Charles Dickens era lindo!

Mas Lord Byron era mais lindo ainda!

 *Paula Taitelbaum e Eduardo Bueno visitaram a National Portrait Gallery no final de junho.

O primeiro manuscrito de Shakespeare

O americano Henry Clay Folger (1857 – 1930) adquiriu seu primeiro original de Shakespeare em 1893. É isso mesmo, você não leu errado: estamos falando dos manuscritos originais das peças de um dos maiores dramaturgos de todos os tempos! Depois de ter em mãos o primeiro, conseguir os outros virou obsessão. Durante 35 anos, Folger conseguiu juntar cerca de 82 originais dos 232 que se tem notícia, e agora eles estão em exposição na Folger Shakespeare Library, espaço fundado por ele em Washington para abrigar suas relíquias.

Sala de leitura da Folger Shakespeare Library

O curador Owen Williams examina os demais manuscritos guardados em um cofre no subsolo da Folger Shakespeare Library

Além dos 82 originais de Folger (entre eles o primeiríssimo fólio de Shakespeare), outras 10 peças originais que pertencem a outro colecionador também fazem parte da exposição Fame, Fortune & Theft: The Shakespeare First Folio, que vai até o dia 3 de setembro.

O primeiro fólio de Shakespeare em exibição

Não fosse por estes colecionadores ávidos como Henry Clay Folger e outros que o antecederam, talvez não conheceríamos hoje obras como A tempestade, Macbeth, Noite de Reis e Júlio César.

Leia mais sobre o acervo e outros detalhes da exposição no jornal The New York Times.

“Gre-Nal é Gre-Nal”, uma minissérie baseada nos textos de David Coimbra

Por Ivan Pinheiro Machado

Você que é brasileiro e curte futebol, obviamente já ouviu falar em Gre-Nal. É o chamado “clássico local”, que reúne – numa histórica rivalidade – os dois maiores times do Rio Grande do Sul, o Grêmio Futebol Portoalegrense e o Esporte Clube Internacional. Há alguns gaúchos que dizem que é a maior rivalidade do Brasil. Na minha opinião isto é apenas um bairrismo a mais. A rivalidade entre os dois times é do tamanho das rivalidades entre Bahia e Vitória, Figueirense e Avaí, Coritiba e Atlético Paranaense, São Paulo e Corinthians, Palmeiras e Corinthians, São Paulo e Palmeiras, Vasco e Flamengo, Flamengo e Fluminense, Goiás e Atlético, Atlético e Cruzeiro, Santa Cruz e Náutico, Remo e Paissandu, CSA e CRB e por aí vai. Portanto, os seguidores deste blog dos mais distantes quadrantes deste país entendem o que é um Gre- Nal.

David Coimbra é um jornalista gaúcho que é também um grande escritor brasileiro. Seus livros “Cris, a fera”, “Jogo de Damas”, “Pistoleiros também mandam flores”, “A cantada infalível / A mulher do centroavante”, “Canibais”, entre outros, são apreciados em todo o Brasil. Toda a sua obra é publicada pela L&PM Editores nos formatos convencional e em pocket. Seu texto é tido pela crítica especializada como um dos melhores do país. Ele escreve tanto romance histórico, como novelas de mistério, amor e sexo. Ironia, bom humor e contundência são as marcas do escritor. A sua atividade jornalísitica, rendeu vários livros de reportagem e, juntamente com Nico Noronha, Carlos André Moreira e Mário Marcos, escreveu a história do clássico gaúcho no livro “A história dos Grenais“.

Pois a RBS TV, que retransmite a TV Globo no Rio Grande do Sul, começará a exibir neste sábado, 09 de julho, depois do programa Jornal do Almoço, uma minissérie em quatro capítulos chamada “Gre-Nal é Gre-Nal” que, de forma muito bem-humorada, tratará desta rivalidade futebolística. O roteiro será baseado nos textos que David Coimbra escreveu sobre futebol em livros e no jornal Zero Hora.

Pra sentir o clima, veja um dos teasers que estão sendo exibidos: