Arquivo mensais:junho 2011

Pé-de-moleque junino

O Brasil está em clima de Festa Junina. Como manda a tradição, não há nada melhor do que comemorar a data festiva com as comidinhas típicas. A receita deste sábado é pé-de-moleque, um doce delicioso e tradicional da data. A dica é do livro Receitas de família, de Anonymus Gourmet. Os desenhos que ilustram as páginas do livro são do Iotti.

PÉ-DE-MOLEQUE

Ingredientes:
3 xícaras de amendoim (sem pele, sem sal e torrado), 3 xícaras de açúcar mascavo, 1 pitada de sal, 1 xícara de leite.

Como preparar:
1 – Leve o açúcar mascavo em uma panela grande ao fogo baixo. Misture sempre e adicione também o sal. Mexa até obter uma calda grossa. Leva uns 15 minutos, mais ou menos. Mexendo sempre.

2 – Quando estiver uma calda e escura, acrescente o amendoim. Misture sempre até desgrudar da panela.

3 – Unte uma tábua de madeira com um pouco de manteiga. Com ajuda de uma colher faça os pés-de-moleque. Faça quando desejar. Deixe-o secar, de preferência de um dia para o outro.
Dica do Anonymus: Torre o amendoim em casa. Arrume-os em uma forma, com as cascas, e leve ao forno quente. Cuide para ver quando estiverem torrados, mas não queimados. Coloque-os dentro de um saco plástico ou pano de prato e mexa bem para retirar as cascas.

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM.

Snoopy, o primeiro cão a pisar na Lua

Se você é fã de Peanuts e achou que estava por dentro de todas as peripécias de Snoopy, Charlie Brown e sua turma, saiba que o simpático cãozinho foi o primeiro beagle a pisar na Lua. Isso mesmo! Está tudo “documentado” numa série de seis tirinhas publicadas por Charles Schulz em 1969, em que o próprio Snoopy aparece comemorando o feito:

E ele não estava brincando: Charlie Brown e Snoopy foram os mascotes da tripulação da Apollo 10, missão realizada em maio de 1969 que “preparou o terreno” para a Apollo 11, que voaria rumo ao espaço dois meses depois, sob o comando de Neil Armstrong. Enquanto o astronauta John Young se aproximava da superfície da Lua a bordo do “módulo lunar Snoopy”, seu colega de tripulação, Tom Stafford, o observava de longe a bordo do “módulo de comando Charlie Brown”.

Portanto, pode-se dizer que foi graças à ajuda de Snoopy e Charlie Brown na missão Apollo 10 que Neil Armstrong pisou na Lua em 20 de julho de 1969 🙂

Já tem companhia para o feriado?

Um chocolate quente, um pijama confortável, música suave em um ambiente silencioso. O dia de hoje pede exatamente isso. Afinal, feriados são pequenos hiatos em meio a uma atribulada rotina e devem ser desfrutados ao máximo. Servem para pensar na vida, passear com um amigo, fazer um programinha romântico ou mesmo ficar deitado deixando-se inundar pelo sol invernal. Outra ideia para quem quer aproveitar o feriado é escolher um companheiro. De Machado de Assis a Raymond Chandler, de Bukowski a Anaís Nïn, de Allen Ginsberg a Agatha Christie.

Já pensou em passar o feriado com eles em um dos ambientes a seguir? 🙂

Biblioteca da Delft University, na Holanda.

Sala de leitura da Biblioteca do Parlamento em Ottawa, no Canadá

Österreichische Nationalbibliothek (The Austrian National Library) em Vienna

Para quem gosta de bibliotecas, este site fez uma seleção de fotos de algumas das mais lindas do mundo!

O sonho de consumo do tradutor de “On the road”

Foi ao entrar na famosa e tradicional livraria londrina Foyles que Eduardo Bueno, o tradutor de On the road, viu seu lado consumista ser consumido pelo desejo. Lá estava uma linha inteira de acessórios para quem quer colocar o pé na estrada junto com Jack Kerouac: agenda, capa de passaporte, garrafa térmica, caderno, eco bag, chaveiro, identificador de bagagem e necessaire de On the road.

Kit completo da Penguin para quem quer colocar o pé na estrada.

Obviamente, Eduardo não se conteve e comprou cinco dos itens oferecidos:

Eduardo Bueno e seus objetos de desejo.

Os objetos são um oferecimento da editora Penguin e ocupam um canto inteiro da Foyles, livraria que tem tudo a ver com o livro de Kerouac, já que tem a maior sessão de livros e de literatura de viagem do Reino Unido. A Foyles ocupa cinco andares de um prédio de tijolos à vista na Charing Cross Road, rua que foi eternizada no filme Nunca te vi, sempre te amei (cujo título original é 84 Charing Cross Road).

Mas é bom dizer que a rua e a região inteira sofreram o impacto da chegada dos e-books e as pequenas livrarias estão todas fechando suas portas. Felizmente, a Foyles persiste e resiste no mesmo endereço desde 1903, no número 121 e, em 2010, foi eleita a melhor livraria da Inglaterra. (Paula Taitelbaum, direto da Charing Cross Road)

Duas visões sobre “Meia noite em Paris”, de Woody Allen

Assim que o novo filme de Woody Allen estreou no Brasil, na última sexta-feira, dia 17 de junho, corremos para as salas de cinema mais próximas para conferir o que prometia ser mais uma obra-prima de um dos nossos cineastas preferidos. E, mais uma vez, ele não decepcionou!

O editor Ivan Pinheiro Machado e a editora de vídeos da WebTV, Laura Linn, compartilham a seguir suas impressões sobre o filme.

Meia Noite em Paris: Cinema e literatura como metáfora

Por Ivan Pinheiro Machado

Digamos que você não seja um cinéfilo, um especialista em cinema. Mas mesmo assim gosta muito de cinema e procura acompanhar os lançamentos, vez que outra se aventura num filme de arte, mas também não despreza uma comédia romântica. Eu sou mais ou menos assim. Como, aliás, todo mundo. Adoro cinema. Afora os filmes violentos demais, com tiros demais, que eu abandonei definitivamente, eu vejo tudo.

E ontem vi um filme extraordinário: Meia noite em Paris, de Woody Allen. O filme é um tributo a duas coisas que são caras à muita gente: literatura e Paris.

Woody Allen, o velho bruxo, foi para frente do seu caldeirão fumegante e começou a desfiar seus sortilégios. Uma trama simples, descomplicada, vai tomando corpo tendo como pano de fundo uma cidade-espetáculo e a mitologia cultural gerada pelos anos 20.

Se você leu Autobiografia de Alice B. Toklas de Gertrude Stein (L&PM Pocket), então você é um privilegiado. Se também leu Salvador Dali (Coleção Pocket Plus), Jean Cocteau, se viu Belle de Jour, de Buñuel, se leu Grande Gatsby, de Fitzgerald e O Sol também se levanta, de Ernest Hemngway, se leu os poemas de T. S. Elliot e os livros do próprio Woody Allen publicados na coleção L&PM Pocket como Cuca Fundida, Sem Plumas, Adultérios, Que Loucura, se ouviu Cole Porter, se curte Picasso, Maitisse, Modigliani, então melhor ainda.

A maestria de Woody Allen faz com que os delírios de Gil, o escritor americano semi-frustrado de férias em Paris, fiquem absolutamente naturais. Mas eu não vou contar o filme. Vá ao cinema mais próximo e delicie-se com um mergulho nos velhos e bons tempos. Ajude a aquecer a doce lenda de que Paris foi e sempre será uma festa. E veja um Woody Allen puro sangue, daqueles em que ele acerta a mão e que dá vontade de aplaudir quando o filme acaba.

Meia noite em Paris, um hino de amor à Cidade Luz

Por Laura Linn*

Woody Allen revela todo o encanto da Cidade Luz, em seu novo filme, Meia noite em Paris, enfocando a magia, o charme e a beleza da eterna capital do romantismo. Um homem comum, despretencioso, que sonha em ser escritor e morar em uma Paris chuvosa dos anos 20, onde viveram grandes artistas e escritores como Ernest Hemingway, Gertrude Stein e Pablo Picasso. Allen homenageia a cidade utilizando o nonsense e o realismo fantástico que prende a atenção do espectador do começo ao fim. Une-se a fantasia à realidade, o passado ao presente com o desejo que as pessoas possuem de viver uma realidade diferente da sua.

Nos últimos anos, o diretor deixou sua amada Nova York e migrou para a Europa, realizando filmes maravilhosos como Match Point, Scoop, Vicky Cristina Barcelona, entre outros. Com diálogos divertidos, Woody Allen nos leva pelas ruas da cidade, mostrando o charme de Paris ao dia e a tranformação da cidade ao soar da meia noite. O espectador viaja no tempo, junto ao personagem, aos “loucos anos 20″e à “Belle Époque”, duas das mais marcantes décadas da capital francesa. A câmera passeia pela típica noite parisiense da época com seus cafés e bordéis, mulheres belíssimas e sedutoras, ao mesmo tempo em que encontra subitamente os maiores intelectuais da época, passando a conviver com ídolos na cidade de seus sonhos. Assim, vão desfilando a sua frente, Hemingway, Buñuel, Zelda e Scott Fitzgerald, Cole Porter e Salvador Dali. Sente-se uma vontade de viver aquela mesma história, encontrar esses grandes personagens da literatura, da música e das artes, apaixonar-se novamente.

Meia noite em Paris

Allen não é apenas um grande diretor, mas também um grande roteirista. São mais de 40 anos como cineasta e praticamente um filme realizado por ano. O que fascina nos filmes do diretor novaiorquino são os diálogos, a interpretação dos atores e a forma como ele mostra o cotidiano e o comportamento do ser humano na sociedade com romantismo, humor e drama. Meia noite em Paris é perpassado por um olhar crítico sobre a insatisfação das pessoas com a sua realidade. Com as belas paisagens de Paris, como pano de fundo, um humor sutil e atuações incríveis como de Marion Cottilard – que já ganhou um Oscar de Melhor Atriz como Piaf – o filme é um verdadeiro hino de amor à cidade.

*Laura Linn é editora de vídeos da L&PM WebTV e formada em Cinema pela PUC-RS.

Sartre: o rosto misterioso de um irmão

Hoje seria o aniversário de Jean-Paul Sartre (1905-1980). Poucos intelectuais encarnaram seu tempo como ele. Poucos filósofos esquadrinharam com tanta profundidade os abismos do ser humano. Filosofia que ele levou para a ficção com a coletânea de contos O muro, a trilogia Os Caminhos da Liberdade (A idade da razão, Náusea e Sursis) ou clássicos da dramaturgia como A prostituta respeitosa, Entre quatro paredes, A mosca entre muitos outros.

E se muitos de seus estudos filosóficos são de extrema complexidade e sofisticação, se a sua biografia de Flaubert, O Idiota da família, ficou inconclusa com pouco menos de quatro mil páginas (e isto é só a metade do que seria), o “outro” Sartre é pop. Coerente com sua vida e suas idéias, recebeu e recusou o Prêmio Nobel de Literatura de 1964. Cabeça privilegiada, soube, no ocaso de sua vida, ser um dos principais interlocutores da juventude rebelde que sacudiu Paris e o mundo em maio de 1968, transformando as ruas do Quartier Latin num campo de batalha. Foi engajado com as causas da esquerda, alinhou-se com Cuba e a URSS num determinado momento, mas mais tarde atacou o cerceamento às liberdades individuais. Sua visão da sociedade e dos homens era generosa e ao mesmo tempo utópica. Nunca perdeu a fé em um mundo mais justo, que fosse um lugar melhor para passar por esta efêmera experiência de existir. Ele mesmo dizia que o grande fracasso do ser humano era a existência da morte. E ao morrer, em abril de 1980, mais de 50 mil pessoas acompanharam seu funeral. Sobre este grande ato de despedida, o jornalista e intelectual francês Gilles Lapouge escreveu um belo texto que foi publicado no Brasil pelo O Estado de S. Paulo. Ele conclui assim:

“(…) é preciso não esquecer que as idéias de Sartre, por mais luminosas e fecundas que sejam, não passariam de um sistema a mais, se não tivessem sido expressas numa das linguagens mais límpidas e mais belas que existem. Sobretudo porque cada uma dessas idéias foi afiançada, garantida, por um homem que ao longo de toda a sua vida, mas principalmente na claridade descorada da morte, tinha o rosto misterioso de um irmão”.

(Ivan Pinheiro Machado)

A L&PM publica a grande biografia de Sartre, escrita por Annie Cohen-Solal, e as obras Esboço para uma teoria das emoções, da Série Pocket Plus, e A imaginação, ambas na Coleção L&PM Pocket.

33. A Biografia dos “Mamonas Assassinas”

Por Ivan Pinheiro Machado*

Provavelmente nunca mais haverá um fenômeno de massa, mídia e comportamento como foi a meteórica passagem dos Mamonas Assassinas pelo universo midiático brasileiro. Luan Santana, só para citar um super-astro do momento, com seu rostinho de classe média bem-comportado, não representa 1% do “estouro” que foram os Mamonas. Os jovens de todo o Brasil  com 4, 5, 15, 18 anos cantavam cândida e animadamente: “neste raio de suruba/ já me passaram a mão na bunda/ e eu não comi ninguém…

Isso mesmo! O rádio tocava insistentemente clássicos como Pelados em Santos (“minha Brasília amarela, tá de portas abertas”, quem não lembra?), Vira-Vira (a música da suruba cantada em sotaque lusitano, imitando o “Vira” do folclore português), Chopis Centis (“A felicidade é um crediário nas Casas Bahia”), Mundo animal (“Comer tatu é bom, pena que dá dor nas costas”…), Robocop gay (“Faça bem a barba,/ arranque seu bigode/ gaúcho também pode/ não tem que disfarçar”…), Bois don’t cry (“Soy um hombre conformado/ escuto a voz do coração/ sou um corno apaixonado/sei que já fui chifrado/ o mas o que vale é o tesão) e muitos outros. Ninguém explicava o fenômeno. Havia teses e mais teses, mas a verdade é que no final de sua curta vida, os shows dos Mamonas aconteciam em lugares imensos para 30, 40 e até 70 mil pessoas).

Tudo isto acabou em uma das maiores tragédias da história da música popular brasileira. Os cinco jovens que fascinaram e divertiram o Brasil durante menos de dois anos e bateram todos os recordes de venda de CDs de uma banda nacional morreram  no dia 2 de março de 1996. O jatinho que os trazia de um show em Brasília espatifou-se contra a serra da Cantareira em São Paulo.

Cerca de um mês depois da tragédia que comoveu e parou o país, Paulo Lima, o “L” da L&PM, caminhava pela Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, quando seu celular tocou. Fugindo do barulho ensurdecedor dos ônibus e carros, Lima entrou numa farmácia para atender a ligação de um número desconhecido com prefixo de São Paulo. Era Rick Bonadio, o produtor dos Mamonas e representante das famílias dos rapazes depois do acidente. Ele havia pego o telefone do Lima em nosso escritório em São Paulo e convidava a L&PM para participar de uma concorrência para produzir e editar uma “biografia” da banda. Outros editores seriam ouvidos também. A concorrência levaria em conta a proposta em dinheiro e a qualidade do projeto apresentado.

Resumindo: fizemos uma oferta razoável e propusemos o Eduardo “Peninha” Bueno como autor. Fomos a São Paulo no estúdio do produtor dos Mamonas, levamos o Peninha a tiracolo e apresentamos o projeto. Rick ficou fascinado pelo discurso pop de Eduardo Bueno, o amigo de Bob Dylan, e depois de ouvir os outros “concorrentes” decidiu-se por fazer o contrato com a L&PM.

Peninha “mudou-se” para São Paulo e depois de 2 meses passados na sua maior parte nos subúrbios cinzentos de Guarulhos, o livro estava pronto. Fora um doloroso périplo entrevistando as famílias e amigos dos cinco jovens. O resultado foi um livro extraordinário, em que o texto límpido e emocionado de Eduardo Bueno conseguiu captar sem melodramas aquela impressionante e dramática história brasileira. Uma história de suburbanos que despontaram para a fama e a glória e fizeram cantar um país inteiro de norte a sul, pobres e ricos de todas as idades. Esta foi a grande mágica dos Mamonas Assassinas. Foi um sucesso quase instantâneo e avassalador. Uma história muito curta, mas que deixou no seu rastro recordes e mais recordes de público, vendas de discos e exposição na mídia.

Blá Blá Blá - a biografia autorizada dos Mamonas AssassinasO livro saiu 3 meses depois da tragédia. Um recorde no gênero que os ingleses batizaram de “instant books”. Blá, blá, blá – a biografia autorizada dos Mamonas Assassinas vendeu exatos 90 mil exemplares, uma grande venda, mas aquém do que esperávamos. Procuramos, na época, uma explicação para o fato do livro não ter reprisado o imenso sucesso dos discos. O livro era leve, informativo, extremamente bem escrito, ilustrado belissimamente com histórias em quadrinhos, fotos a cores e fora distribuído, além das livrarias, também nas bancas de jornais. Nunca obtivemos uma resposta convincente. Havia sido uma boa venda, mas, como tudo na meteórica passagem dos Mamonas sobre a terra tinha sido exageradamente grande, ficamos frustrados com os números finais. Foram muitas as teses procurando explicar o “fenômeno”. Mas, como se sabe, teses não mudam destinos. Principalmente de coisas que já aconteceram.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo terceiro post da Série “Era uma vez… uma editora“.

“On the road” no iPad

A editora Penguin Classics lançou neste fim de semana uma edição ampliada do clássico On the road, de Jack Kerouac, para iPad. Além do texto integral da obra (na versão original, em inglês), o aplicativo traz diversas notas históricas e biográficas, mapas interativos com três rotas possíveis para a road trip de Sal Paradise e Dean Moriarty, links externos com informações sobre os lugares por onde a história passa, além de fotos inéditas, gravações raras em áudio do próprio Kerouac lendo alguns trechos e documentos intactos até então.

Screenshots da versão ampliada de "On the Road"

Screenshots da versão ampliada de "On the Road", da Penguin Classics

E para reafirmar a gradiosidade deste clássico que nunca perde a majestade e nem espaço na lista de desejos dos amantes da literatura de todo o mundo, o aplicativo traz um slideshow com as capas de On the road em diversos países, da Argentina à China – juntando com as imagens deste post, dá pra ter uma visão bem completa do caráter universal da obra mais célebre da literatura beat. O aplicativo está à venda na App Store da Apple por US$ 12,99.

Mas se você ainda não leu On the road, sempre é tempo: a L&PM publica no Brasil a tradução de Eduardo Peninha Bueno em formato pocket.

Londres tem sangue azul

Alguém duvida de que Londres tem sangue azul? Pois eis que as ilhas de Shakespeare, Conan Doyle, Oscar Wilde, J. M. Barrie, Agatha Christie, Jane Austen e tantos outros soberanos literatos tem sido invadida por belgas, que são mais azulados do que o sangue real que corre nas veias da rainha Elizabeth. Neste final de semana, tanto na vitrine de uma loja em Notting Hill como numa banquinha de quinquilharias da Feira de Brick Laine, lá estavam eles: os Smurfs.

Smurfs na vitrine de uma loja em Notting Hill (clique para ampliar)

Smurfs na banquinha de quinquilharias da Feira de Brick Laine (clique para ampliar)

Criados pelo cartunista Peyo (Pierre Culliford) em 1958, essa parece ser a prova de que os pequenos seres azuis parecem ter mesmo voltado à moda. Isso que o filme deles ainda não estreou e o livro da L&PM ainda nem chegou. (Paula Taitelbaum, diretamente de Londres)

Autor de hoje: Mark Twain

Flórida, EUA, 1835 – † Redding, EUA, 1910

Mark Twain, pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens, passou a infância às margens do Mississipi, entre barqueiros, missionários, aventureiros e artistas ambulantes. Subindo e descendo o rio, ouviu lendas e histórias, assim como conheceu diferentes tipos humanos e costumes da região. Com a morte do pai, em 1847, abandonou os estudos e empregou-se como aprendiz de tipógrafo. Após a Guerra Civil de 1861, atraído pela corrida do ouro, foi para a Califórnia, atuando como jornalista e escritor. Destacam-se entre seus livros As aventuras de Tom Sawyer, reconstituição da infância do autor e resposta aos livros moralistas da época, Vida no Mississipi e As aventuras de Huckleberry Finn, sua obra mais conhecida. Considerado precursor da literatura autenticamente americana, Mark Twain não se deixou influenciar pela entonação européia e escreveu no linguajar e na gíria de seu país.

Obras principais: As aventuras de Tom Sawyer, 1876; O príncipe e o mendigo, 1882; Vida no Mississipi, 1883; As aventuras de Huckleberry Finn, 1884

MARK TWAIN por Fernando Neubarth

Há uma história por trás do pseudônimo usado por Samuel Langhorne Clemens. Mark Twain é uma expressão que aprendera a usar nas suas viagens fluviais pelo Mississipi, uma medida de profundidade do rio. Para nós, interessaria medir essa profundidade? Importa é que designa o marco exato de uma linha. Do cotidiano de personagens como Tom Sawyer e Huckleberry Finn, soube mostrar o interior de um país que é também o interior de cada um. Em um relato aparentemente singelo, subjacente a aventuras infanto-juvenis, guarda mostras da hipocrisia que veste a sociedade e críticas à igreja e aos políticos. Suas histórias, a partir do sucesso do conto “A célebre rã saltadora do Condado de Calaveras”, transformaram a literatura americana, tornando-o um clássico universal.

 Ao destacar os valores humanos mais importantes, aqueles que se moldam na infância, Mark Twain deu voz ao que a América tem de melhor. Não a América imperialista, expansionista, mas uma nação que valoriza pequenas grandes histórias, lembranças da gente interiorana, dos bairros, dos subúrbios; sagas de sofrimento e superação, de diferenças étnicas, sociais e econômicas, a base do american way of life e de sua inegável, embora nem sempre verdadeira e concreta, obsessão por justiça. Assim, os relatos de Twain podem ser considerados o início de uma cultura que se difundiu nas letras e talvez ainda mais no cinema. E isso também se deve ao seu humor, muitas vezes incisivo, que provoca ainda hoje discordâncias entre os críticos. Quanto ao seu papel na literatura, Twain dizia que os grandes livros são como o vinho; os dele, como água: as pessoas tomam quando estão realmente com sede.

Voltando ao início, em tudo parece preciso, desde a escolha do pseudônimo. A marca certa, nem maior nem menor em sua profundidade. Um termo que designava duas ondas, duas medidas abaixo da superfície. Uma marca n’água. Na água de um rio que é símbolo, artéria vital de um país que influencia há muito a história do mundo. Sua vida foi trajetória de uma estrela, o espaço entre dois momentos, à semelhança de todas as nossas vidas, início e fim. No caso de Twain, o ciclo de um cometa. Ele escreveu em 1909, um tanto desesperançado, após a perda da esposa e de três dos quatro filhos: “Eu cheguei com o cometa Halley em 1835. Ele vai voltar ano que vem, e eu espero que me leve junto”. O Halley estava visível em 30 de novembro de 1835 quando Twain nasceu e também em 21 de abril de 1910 quando ele morreu. A literatura e o mundo não foram mais os mesmos depois dessa passagem.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.