Arquivo mensais:maio 2011

Parabéns Monsieur Balzac

Por Ivan Pinheiro Machado

Eu já escrevi neste blog sobre “eu e Balzac”. Sobre como me tornei – sem querer – um “especialista amador” no legendário romancista. Volto ao assunto porque hoje é o aniversário de Balzac. Ele nasceu em 20 de maio de 1799, portanto, se vivo fosse, tipo um personagem bíblico, teria 212 anos.

Na sua torturada biografia, Balzac debateu-se várias vezes com o fracasso, tanto como homem de negócios, como na vida amorosa e, principalmente, como homem de letras. Embora tenha atingido grande sucesso de público, foi preterido frequentemente pela “inteligentzia” parisiense. Concorreu várias vezes a uma cadeira na Academia Francesa e foi sistematicamente recusado. Mas a vida sempre foi assim. Muitos daqueles que desfrutaram em sua época o tão sonhado “prestígio literário”, hoje ninguém sabe quem são. Nem se houve falar. Ficaram perdidos nas profundezas do tempo que engole implacavelmente as mediocridades. E, no entanto, dois séculos depois, estamos falando de Balzac. O grande maluco. O autor de mais de 200 romances, novelas e contos, dos quais assinou somente 100 com o seu nome. Justamente as que compõem o maior monumento da literatura ocidental, a “A Comédia Humana”.

Eu redescobri, e fui obrigado a ler Balzac, porque decidimos, aqui na L&PM, editar o mais importante da Comédia Humana e fui encarregado de capitanear este projeto. Balzac foi uma das maiores descobertas literárias da minha vida. Comecei lendo para cumprir uma tarefa. Acabei mergulhando num mundo que me fascinou e me fascina até hoje. Balzac jamais decepciona. É diversão garantida. E a obra que ele escreveu em menos de 20 anos é suficientemente imensa para abastecer uma vida inteira de fabulosos romances. Uma obra que atravessa os tempos com a mágica e o encanto intactos. E isto é o que se chama de clássico. Parabéns, monsieur Honoré de Balzac.

Observação: no blog da L&PM você encontra a “Série Balzac” com textos sobre sua vida e a sua obra. E clique aqui para ver os romances de Balzac publicados pela L&PM Editores em papel e em e-book.

O misterioso “teaser poster” de On the road

Por Paula Taitelbaum

No início desta semana, blogs do mundo inteiro começaram a divulgar o cartaz abaixo como sendo o “teaser poster” de On the road, o esperado filme dirigido por Walter Salles. Diziam que ele teria sido fotografado durante o Festival de Cannes 2011. A partir daí, alguns jornais também deram a notícia, chamando para “O primeiro cartaz do filme On the road“.

Eu só vi a foto desse poster hoje. E tudo nele me pareceu muito estranho. 

O "teaser poster" que teria sido fotografado numa parede do Festival de Cannes. Clique para aumentar

Achei muito esquisito o cartaz não ter o nome da produtora do filme. Fiquei pensando que Walter Salles não é do tipo que queira se promover sozinho. Defendi aqui na editora que um “teaser poster” é algo comercial (ainda mais se estiver em Cannes) e que por isso seria sem sentido não mostrar os atores. Pra completar, fiquei com a impressão de que, além da estética não ter nada a ver com as fotos já divulgadas do filme, esse cartaz estava parecendo um trabalho de alunos de alguma faculdade de design.

Como a L&PM publica On the road, seria bom se também déssemos a notícia do “primeiro cartaz do filme” aqui no blog. Mas antes de fazer isso, resolvi verificar se ele era mesmo verdadeiro. Pra ter certeza de que se tratava (ou não) de um poster original, enviei um email para o produtor do filme, Charles Gillibert, da Produtora MK2 de Paris. O título da minha mensagem era: “teaser poster on the road? is it true?”. Coloquei a foto em anexo. A resposta de Charles veio alguns minutos depois: “Dear Paula, It is absolutely not the OTR poster even not a teaser…” (Cara Paula, não é absolutamente o cartaz de OTR nem mesmo um teaser).

Agradeci a atenção dele e fiquei pensando que alguém deve estar muito feliz a essa hora. Contente por ter criado um  cartaz que ficou famoso. Um poster que nada mais é do que… fake. Tentei achar onde a notícia começou e os primeiros blogs que divulgaram a imagem no Brasil dizem que a informação veio do site “The Play List“. Mas basta entrar lá para ver que o último post é de Outubro de 2010. 

Resumo da ópera: o cartaz acima é uma fabulação, uma brincadeira, uma invenção. Um viral que foi, rapidamente, passando de blog em blog até chegar nos jornais. Não há dúvida de que a internet facilitou a vida dos jornalistas. Mas, às vezes, tenho a impressão de que essa facilidade faz com que eles esqueçam que nem tudo o que cai na rede é… peixe. Ou verdade.

Peanuts Completo na Galeria Melissa

Ninguém pode negar: Snoopy é completamente irresistível. Seja nos livros, seja estampando uma Melissa. E o que dizer quando alguém resolve juntar o mundo das tirinhas com o mundo fashion? Pois foi exatamente o que fez a Galeria Melissa da Oscar Freire, em São Paulo. O mundo maravilhoso dos sapatos plásticos usou a Coleção Peanuts Completo da L&PM para decorar a vitrine e o interior da loja. Não foi uma combinação perfeita?

Batizados de Melissa Wanting + Snoopy, estes modelos chegaram às lojas no mês passado. Mas, segundo a Grendene, a procura é tão grande que tem até lista de espera.

O maior colecionador de pockets da L&PM

Há quem escreva por amor, pelo prazer de presenciar o encontro das palavras, por obrigação, ou mesmo porque nasceu para isso. Luiz Fernando Koch, irmão do famoso ex-tenista e campeão mundial Thomaz Koch, ao longo de sua vida, escreveu muito. Em todos os anos em que foi juiz, foram inúmeros referendos, notas, sentenças e tratados. Incontáveis as páginas. “Na verdade, sou um escritor anônimo”, brinca.  Luiz Fernando escreveu tanto que não teve tempo suficiente para ler tudo o que gostaria. Até que resolveu “recuperar o tempo perdido” e foi atrás de todos os livros que pudesse degustar, como se cada um deles fosse realmente uma saborosa refeição.

Koch, como um bom e determinado homem da lei, resolveu entrar de cabeça nesta missão. Uma dúzia de livros não foi o suficiente. Resolveu comprar logo a Coleção inteirinha da L&PM POCKET. “Não tenho a pretensão de ler todos estes livros”, diz ele em seu escritório, diante de uma parede repleta de coloridos e recheados livros. Mas prometeu que leria tudo o que conseguisse. “Queria comprar a coleção também para o meu neto e minhas filhas”, confessou Koch, que teve de adaptar o escritório para receber os novos moradores – que chegaram em 10 volumosas caixas. “Comprei há muito pouco tempo, mas é possível que meu escritório seja bem mais visitado agora por parentes e amigos”, diverte-se o maior colecionador de pockets L&PM que temos notícia.

Há quem diga que são os livros que fazem de uma casa um lar. Neste caso, não há dúvidas de que o escritório de Luiz Fernando Koch, em Porto Alegre, tenha ficado muito mais acolhedor quando quase mil histórias começaram a habitar o lugar. O escritor anônimo transformou-se em um conhecido leitor – e invejado por muita gente! Afinal, quem não gostaria de ter quase mil livros em sua sala?

Gostou? Então aguarde para ver na WebTV a entrevista que fizemos com Luiz Fernando Koch, em seu escritório, diante das centenas de livros da L&PM Editores.

As mulheres de Bukowski estão em casa

A capa de "Mulheres" que breve estará na Coleção L&PM POCKET

“Mulheres” e “Cartas na rua” são dois clássicos de Charles Bukowski (1920 – 1994) que foram contratados pela L&PM depois de vários anos de tentativas. Livros mais antigos, já publicados por outros editores, às vezes caem num “limbo” onde, por questões legais, deixam de ser publicados. Ou seja: por melhores e mais vendáveis que eles sejam, acabam não sendo recontratados porque envolvem filhos, netos, sobrinhos, mulheres, ex-mulheres… E por aqui não foi diferente. Mas finalmente conseguimos e, para completar os 16 títulos de Bukowski já publicados nesta casa, o romance “Mulheres” chegará em junho e “Cartas na rua” entre julho e agosto.  

Charles Bukowski representa o lado sombrio do “sonho americano”. Filho de pai americano de origem alemã e de mãe alemã, sua infância foi marcada pela violenta repressão familiar. Em 1923, o casal Bukowski estabeleceu-se nos EUA. Charles cresceu tímido, anti-social e complexado devido à acne que devastou seu rosto. Na adolescência, descobriu que o álcool fazia com que se comunicasse com o mundo. Mais tarde ele escreveria que a origem de seu alcoolismo era de que “ele havia descoberto no álcool uma forma de suportar a vida”. Curiosamente, antes de ser famoso nos EUA, foi best seller na Itália. Sua editora italiana, SugarCo, lançava os livros ao mesmo tempo em que saiam nos EUA.  Bukowski escreveu muito – mais de 50 livros – e por toda a vida foi fiel a sua editora Black Sparrow que acabou sendo vendida para a gigante Harper Collins.

Transgressor nato, poeta e ficcionista de enorme talento, seus livros são verdadeiros clássicos da contra-cultura. Sua prosa espanta, paradoxalmente, pelo lirismo e pela violência. Mais do que um autor pós beat, Bukowski é único e sua obra é um longo e poderoso grito de dor. O romance “Mulheres” foi lançado originalmente em 1978 e, depois de ser publicado pela primeira vez no Brasil em 1984, ficou décadas fora do mercado. Felizmente, agora ele está de volta.

Conheça aqui outras “Mulheres” de Bukowski que estão (ou estiveram) espalhadas pelo mundo:

A primeira edição, publicada pela Black Sparrow

Uma das edições da Itália, país que sempre acolheu Bukowski

A edição francesa manteve o nome original

Aprenda: "Kobiety" quer dizer "Mulheres" em polonês

A Alemanha mudou o nome para algo como "A vida amorosa de Hyäne"

"Mujeres" também fez sucesso na Espanha

28. O segredo de polichinelo

Por Ivan Pinheiro Machado*

Em 1985, depois de cair enfermo na véspera da posse, o primeiro presidente civil pós-golpe de 1964, Tancredo Neves, morreu 39 dias depois, emblematicamente no dia de Tiradentes, 21 de abril de 1985. Pelo seu estilo afável, conciliador, ideais democráticos, oratória impecável – e por ser o presidente que levaria o Brasil definitivamente à democracia – Tancredo Neves era admirado pelo povo brasileiro. A partir de sua doença, ele passou a ser cultuado e amado como um super pop star. Uma agonia que foi acompanhada minuto a minuto pela TV e trouxe junto para o panteão das celebridades o seu porta-voz: Antônio Britto. Britto era o homem que, com ar compungido e espessa barba escura, comunicava diariamente a 120 milhões de brasileiros, o estado de saúde do presidente que não conseguira assumir. Britto e Tancredo se confundiam no imaginário do povo. Competente como jornalista, Britto passou pelos principais jornais do Rio Grande do Sul e chegou a ser o mais respeitável repórter da TV Globo. Tancredo convidou-o para ser seu porta-voz. Com a morte do presidente, Britto iniciou brilhante carreira política. Foi o deputado mais votado no Rio Grande, Ministro da Previdência e depois Governador do Estado. No século 21, abandonou a política e hoje é um vitorioso empresário.

Pois bem. Quando morreu Tancredo, assumiu José Sarney, o vice. Com a Nação paralisada, através de meu irmão, José Antonio, contatamos Britto que estava escondido em algum lugar da serra gaúcha. Éramos todos ex-colegas de jornal, tanto no Correio do Povo, como na Zero Hora. Utilizando uma operação de inteligência sofisticadíssima, secretíssima e impecável, conseguimos descobrir onde estava Antônio Britto. E numa noite de neblina espessa, num hotel nos arredores de Gramado, combinamos que Britto juntamente com o jornalista Luis Cláudio Cunha, faria o livro contando tudo sobre a agonia e morte de Tancredo Neves. Uma verdadeira bomba (do bem) editorial estava nas nossas mãos. Acertamos todos os detalhes e, excitadíssimos com a novidade, descemos a serra em condições precaríssimas, já que um fog praticamente intransponível e característico do outono gaúcho tomava conta da estrada sinuosa e perigosa.

O Dudu Guimarães era um personagem folclórico entre o meio jornalístico. No legendário bar do IAB, ele sempre estava lá, rodando de mesa em mesa, sabendo de tudo que acontecia. Ele falava com todo mundo e acabava sempre sentado na mesa do cineasta Jorge Furtado, de quem antevia o futuro brilhante. Mas se chegasse no bar, por exemplo, o Chico Buarque, Caetano Veloso ou algum outro músico da moda, ou quem sabe um filósofo famoso ou um escritor célebre, em poucos instantes o Dudu abandonava a mesa de Jorge Furtado e se aboletava na mesa do ídolo.

Mas voltemos a 24 de abril de 1985, dia em que contratamos o grande bestseller do ano. Conseguimos transpor a neblina da serra, chegamos a Porto Alegre e logo o Eduardo “Peninha” Bueno, que trabalhava na L&PM, quis saber o motivo de tanta alegria. Eu e o Lima dissemos que não podíamos contar. Ele insistiu. Falamos que ele era boca grande demais. Ele continuou insistindo para saber o que estava acontecendo. Até que diante de tantos pedidos (e do juramento de que se aquela notícia vazasse ele seria demitido) contamos para o Peninha que o Britto escreveria o livro. Ele era a quarta pessoa a saber e jurou não contar nada. Juntos, decidimos comemorar nosso enorme segredo numa festa que se realizava todos os anos no antigo cinema Castelo no bairro da Azenha em Porto Alegre. O Troféu Scalp. Uma espécie de sacanagem ao Oscar, onde o Scalp, um grande salão de cabelereiros, oferecia um troféu estranhíssimo aos destaques do ano na área cultural. Na verdade, a entrega dos troféus era pretexto para um grande e imperdível baile pop. Saímos direto da editora para lá.

Ninguém, na imprensa brasileira sabia onde estava Britto. Todos queriam o seu depoimento e caçavam o porta-voz de Tancredo em Minas, Rio, São Paulo, Bahia. Uma complexa operação que envolveu até vôo privado, levara Britto em segredo para longe do mundo, oculto na neblina da serra gaúcha. Juramos que não falaríamos nada para ninguém. Nem do seu paradeiro, nem do livro. Éramos quatro cúmplices de um mesmo segredo.

Horas depois deste solene pacto, entramos lépidos e saltitantes, o Peninha e eu no cinema Castelo, já sonhando com o futuro super-betseller. Pois o Dudu Guimarães estava presente na festa (óbvio). Levantou-se subitamente da mesa do Jorge Furtado, onde havia ancorado – como sempre – e veio em nossa direção. Sorria – como sempre também – por trás de seus óculos de lentes espessas e embaçadas. Deu um abraço apertado no Peninha e perguntou:

– Vão lançar o livro do Britto, hein?!

Foi então que nosso mundo caiu.

P.S.:  nosso sonho de bestseller se concretizou 30 dias mais tarde, quando o livro “Assim morreu Tancredo” estourou no Brasil vendendo mais de 200 mil exemplares. E nunca ficamos sabendo quem contou para o Dudu.

A capa de "Assim morreu Tancredo", de Antônio Britto

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o vigésimo oitavo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

A fantasia de Salvador Dalí e Walt Disney

As obras de Walt Disney e Salvador Dalí tinham em comum a fantasia. Mas quando se conheceram e começaram a trabalhar juntos, em 1945, constataram na prática suas divergências artísticas. O curta-metragem de animação Destino tinha tudo para ser uma das obras-primas do século, aliando o traço surrealista do pintor catalão à expertise dos estúdios Walt Disney. No entanto, oito meses depois do início dos trabalhos, Disney pulou fora alegando problemas financeiros. Mas na verdade, o real motivo da ruptura teria sido a falta de acordo entre os dois sobre o que, de fato, seria o filme. De um lado, Dalí o definia como “uma exposição mágica da problemática da vida no labirinto do tempo”, enquanto o norte-americano queria fazer “uma história simples sobre uma garota em busca do amor verdadeiro”.

A ideia ficou guardada por quase 60 anos, até que, em 2003, o sobrinho de Walt, Roy Disney, resgatou os desenhos originais e fez a animação com base nas instruções deixadas pelo assistente de Dalí na época, John Hench. O resultado você pode conferir a seguir:

Para quem gosta da obra do pintor catalão, acontece em Porto Alegre até o dia 6 de junho a exposição Cavalos Dalinianos, com litografias feitas por Salvador Dalí. E para conhecer melhor o pensamento do mestre surrealista, vale ler Libelo contra a arte moderna, da Coleção L&PM Pocket Plus.

via Zupi

O dia de Poirot, Maigret, Padre Brown e Sherlock Holmes

O que seria de um boa história de mistério sem eles? Aquela pista que ninguém viu, aquele personagem que ninguém desconfiou, aquele motivo que ninguém suspeitou… Só eles são capazes de chegar ao verdadeiro veredicto, à resposta elementar, ao assassino frio e calculista. Seguindo não apenas as pistas, mas principalmente suas deduções precisas, os detetives são o grande trunfo dos livros da sessão policial. Tanto é assim que os mais famosos nunca aparecem em uma única história.   

Por que esse papo todo hoje? Porque ontem, 15 de maio, foi o Dia do Detetive. E nada mais justo do que  prestarmos uma homenagem aos nossos velhos conhecidos detetives da literatura: Poirot, Maigret, Padre Brown e Sherlock Holmes. Cada um deles tem a sua própria personalidade, construida com muito esmero por seus “pais”. Ou melhor, pelos escritores que os criaram. 

O ator David Suchet como Hercule Poirot

Hercule Poirot Agatha Christie descreve seu mais célebre personagem: “Altura, um metro e sessenta e dois; a cabeça, do formato de um ovo, ligeiramente inclinada para um lado; olhos de um verde brilhante quando excitado; espesso bigode hirsuto como costumam usar os oficiais do Exército; e uma pose de grande dignidade.” 

Para Poirot, é possível resolver um crime estando “apenas sentado na sua poltrona”, pois, ao contrário dos outros detetives que buscam pistas no local do crime, Poirot utiliza como principal método a psique humana. Não é um detetive de ação, mas de dedução. 

Rupert Davies como Jules Maigret

Jules Maigret O comissário Jules Maigret, criado por Georges Simenon, é, sem dúvida, um dos grandes personagens da literatura moderna. Mas antes de ser um detetive, é um verdadeiro estudioso da natureza humana. Um homem sensível às fraquezas de seus semelhantes. Sua argúcia está ligada, menos à genialidade dedutiva, do que a uma profunda capacidade de compreender a alma de suspeitos e vítimas. 

Maigret nos comove exatamente por isso. Pelo paradoxo que se estabelece quando temos um policial generoso, capaz de sofrer pela sorte de culpados e inocentes. 

Alec Guinness como Padre Brown

Padre Brown Criado pelo escritor britânico G. K. Chesterton, Padre Brown está entre os gandes detetives da literatura. Suas reflexões filosóficas pontuam a ficção de Chesterton e a escolha do método humanístico da intuição em detrimento da dedução garantiram a ele um lugar junto aos grandes. 

“A literatura é uma das formas de felicidade; talvez nenhum outro escritor tenha me proporcionado tantas horas felizes como Chesterton”, disse Jorge Luis Borges. 

Robert Downey Jr. como Sherlock Holmes

Sherlock Holmes – Ele é sem dúvida o maior de todos. Ao lado de seu fiel amigo, o Dr. Watson, Sherlock Holmes não aceita estar errado. Normalmente, porque ele sempre está… certo. Ao contrário do comissário Maigret, Holmes não demonstra muitos traços de sentimentalismo, preferindo o lado racional de ser. Sir Arthur Conan Doyle, seu criador, até tentou matar a criatura em um dos seus livros. Mas foi obrigado a ressucitá-lo devido aos protestos de leitores do mundo inteiro.

Sherlock Holmes domina incrivelmente uma vasta quantidade de assuntos do conhecimento humano, como história, química, geologia, línguas, anatomia e literatura.

Última chamada para embarque no Titanic

Meu nome é Elizabeth Catherine Ford. Tenho 40 anos e sou esposa de Thomas W. S. Brown. Estou acompanhada de Thomas William Solomon Brown, meu marido, e de Edith E. Brown, minha filha de 15 anos. Viajo numa cabide de segunda classe e vamos para Seattle, onde Thomas pretende encontrar sucesso nos negócios. Meu ticket é o número 29750 e, no dia 10 de abril de 1912, subi a bordo do Titanic. Ainda não sei se sobrevivi.

Ao embarcar em Titanic: a Exposição. Objetos Reais, Histórias Reais, tornei-me Elizabeth, uma das passageiras que estiveram no mais célebre navio da história. Não escolhi ser ela: a funcionária que estava na estrada da exposição entregou-me, aleatoriamente, um cartão de embarque com esse nome.

Entro e encontro frases na parede, fotos da construção do navio, a música que embala os passageiros mais ricos, as histórias de muitos personagens reais e vários objetos resgatados do fundo do mar depois de ficarem mais de setenta anos adormecidos na escuridão oceânica. Felizmente, a exposição não está lotada e viajo em cada um dos objetos. Descubro que existia uma enorme sala de ginástica para os privilegiados da primeira classe. E que as mais luxuosas cabines custavam o que hoje seria 103 mil dólares. 103 mil dólares! Outra descoberta é o fato de que muitos dos passageiros da terceira classe embarcaram no Titanic por causa da greve dos carvoeiros. Como os navios menores cancelaram suas partidas, eles foram rearranjados. 

Há óculos, canetas, roupas, carteiras, moedas, louças, porcelanas, metais, cartas, cartões postais, botões, sinos, suspensório, talheres, cachimbos, jóias, o pedaço de um banco, um balde, vidros de perfumes intactos que ainda exalam seus perfumes… Há isso e muito mais: história, lembranças, fantasmas. 

Há um iceberg fake, um bote em tamanho real projetado no chão, muitos vídeos.  Mas o que realmente me toca é poder encostar meus dedos em um pedaço do casco do Titanic. O mesmo casco frio que chocou-se contra o bloco de gelo, o mesmo casco duro que não resistiu, o mesmo casco liso que escorregou para o fundo. 

A viagem já está quase no final. A parede exibe a lista de todos os passageiros. Os que viveram e os muitos que se foram. Procuro meu nome. Vejo que sobrevivi. (Paula Taitelbaum)

O meu cartão de embarque no Titanic

Titanic: A exposição fica até o dia 22 de maio no BarraShoppingSul em Porto Alegre e depois segue para Curitiba e Brasília. A empresa responsável pelo espólio do navio, a RMS Titanic, Inc. conta com um acervo de mais de 5,5 mil peças do Titanic, em exibição permanente em Las Vegas (EUA). 

E para os que querem saber ainda mais sobre o Titanic, ou para quem não puder ver a exposição, fica a sugestão de ler O crepúsculo da arrogância, de Sergio Faraco. Em 216 páginas, Faraco relata a combinação de erros, a pretensão, a arrogância e a desinformação que resultou na tragédia mais improvável do início do século XX.

Autor de hoje: Oscar Wilde

Dublin, Irlanda, 1854 – † Paris, França, 1900

De família abastada, estudou em Oxford, onde liderou um movimento cultural que propunha o hedonismo extremado. O retrato de Dorian Gray, seu único romance, que possui inúmeras traduções em dezenas de línguas, desde o seu lançamento provocou reações simultâneas de ira e de admiração. Wilde também escreveu narrativas curtas, poemas e peças teatrais, sendo considerado o renovador da dramaturgia vitoriana. Em seus textos, critica a sociedade da época, marcada pelo preconceito e pelo apego às convenções. Sua obra caracteriza-se pela concisão verbal e pela elegância do estilo, veiculando uma visão de mundo amarga e crítica. Embora, no início de sua carreira, agisse como um dândi, devido ao comportamento extravagante e à prática da arte pela arte, seu talento superou os obstáculos e sua obra permanece como representativa da melhor literatura da passagem do século XIX para o século XX.

Obras principais: O príncipe feliz e outros contos, 1888; O retrato de Dorian Gray, 1891; A importância de ser prudente, 1895; A balada do cárcere de Reading, 1898; De profundis, 1905

OSCAR WILDE por Vicente Saldanha

Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde é um autor normalmente associado a discussões estéticas e temas polêmicos. Sua vida e sua obra se entrelaçam e nos remetem a alguns aspectos importantes da Inglaterra vitoriana. Iniciou sua carreira literária com poemas de inspiração clássica e sobre temas variados. Um deles, “Ravenna”, recebeu um importante prêmio literário. Nele o poeta canta suas impressões sobre a famosa cidade italiana em versos decassílabos com rimas emparelhadas. Em seguida, lançou O príncipe feliz e outros contos. Trata-se de uma coleção de contos de fadas, originalmente escritos para seus filhos, em linguagem elegantemente simples e atmosfera charmosa. Um bom começo para quem pretende iniciar-se na sua obra em prosa. Também merecem destaque outros contos, como “O fantasma de Canterville” e “A esfinge sem segredos”. Com o romance O retrato de Dorian Gray, Wilde afirmou sua filiação ao movimento estético da “arte pela arte”, segundo o qual a arte seria auto-suficiente e não necessitaria servir a nenhum propósito moral ou político. É emblemático, nesse sentido, o prefácio da obra, composto de aforismos sobre a natureza da arte e da criação literária. A narrativa, em si, é uma fábula moderna que discute valores morais e estéticos da era vitoriana em uma tentativa de sobrepor-se à tendência moralizante das obras de ficção da época. Além da poesia e da ficção, a obra teatral do escritor merece destaque. Entre suas peças, a mais conhecida é A importância de ser prudente. Trata-se de uma comédia de erros em que os personagens exprimem opiniões cáusticas sobre temas variados como arte, casamento e crítica literária.

O sucesso teatral do autor, porém, não durou muito. Seu envolvimento amoroso com lorde Alfred Douglas, um jovem aristocrata, desencadeou um longo e penoso processo criminal que levou à condenação do escritor a trabalhos forçados. De sua experiência na prisão resultou A balada do cárcere de Reading. O poema trata de um condenado à forca e das impressões de Wilde acerca do cárcere. O ritmo elegante e tristemente musical do texto, juntamente com as rimas nos versos pares, acentua a atmosfera opressiva e soturna da prisão. Mais tarde, Wilde escreveu De Profundis, uma longa carta dirigida a Alfred Douglas, que se tornou uma espécie de réquiem do tumultuado relacionamento e do próprio Wilde. Hoje, passado mais de um século de sua morte, Oscar Wilde ainda é um autor que merece ser lido e apreciado. A leitura de seu romance, de seus contos, poemas e peças, além de propiciar uma viagem no tempo de volta à Inglaterra vitoriana, encanta pela elegância de suas palavras, pela espirituosidade, pela expressão de idéias anticonvencionais e por uma sensibilidade acentuada.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.