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Filósofos Futebol Clube

O célebre “Futebol Filosófico”, esquete humorística criada pelo grupo de humor inglês Monty Python nos anos 70, continua inspirando iniciativas criativas pelo mundo. Uma delas é a  linha “Pão e Circo” da marca de roupas Humanus, de Porto Alegre, que vai estampar camisetas com desenhos estilizados de Nietzsche, Sartre, Freud, Schopenhauer, entre outros. Os produtos são assinados pela designer e ilustradora Raquel Sordi, que criou um visual retrô para retratar toda a equipe do “FFC – Filósofos Futebol Clube”:

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Para conhecer o pensamento e a vida de cada um deles, leia Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton, que dedica um capítulo inteiro para as ideias de cada filósofo. E se você não conhece o Futebol Filosófico, assista agora mesmo! A esquete descreve um jogo durante as Olimpíadas de Munique de 1972 entre os filósofos que representam a Grécia e a Alemanha – no qual os jogadores-pensadores passeiam pelo campo, imersos em reflexões e alheios à bola e ao gol:

via Roger Lerina/Zero Hora

A filosofia de Bertrand Russell

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As principais preocupações de Bertrand Russell quando jovem eram o sexo, a religião e a matemática – tudo na esfera teórica. Em sua longa vida (ele morreu em 1970 aos 97 anos), ele acabou sendo controverso em relação ao primeiro item, atacou o segundo e fez contribuições importantes para o terceiro.

As visões de Russell sobre o sexo causaram-lhe problemas. Em 1929, ele publicou “Casamento e moral”, livro no qual questionou as visões cristãs sobre a importância de ser fiel ao parceiro. ele não concordava com a fidelidade. Muitas pessoas torceram o nariz na época. Não que isso incomodasse Russell. (…)

Ele foi igualmente franco e provocador em relação à religião. Para Russell, não havia nenhuma chance de Deus intervir para salvar a humanidade: nossa única chance consiste em usarmos o poder da razão. Segundo ele, as pessoas eram atraídas pela religião porque tinham medo de morrer. A religião as confortava. Era muito reconfortante acreditar na existência de um Deus que puniria as pessoas más, mesmo que se livrassem de um assassinato e de coisas piores na Terra. Mas isso não é verdade. Deus não existe. E a religião quase sempre produziu mais miséria do que felicidade. Russell reconhecia que o budismo era diferente de todas as outras religiões, mas o cristianismo, o islamismo, o judaísmo e o hinduísmo tinham de se responsabilizar por muita coisa. No decorrer da história, tais religiões foram a causa de guerras, ódio e sofrimento. Milhões de pessoas morreram por causa delas.

(trecho de Uma breve história da filosofia de Nigel Warburton)

Leia mais sobre o pensamento e o legado filosófico de Bertrand Russell em Ensaios céticos, Por que não sou cristão e No que acredito da Coleção L&PM Pocket.

A felicidade, por Aristóteles

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“Uma andorinha só não faz verão”. Provavelmente você deve pensar que essa frase é de William Shakespeare ou de algum outro  grande poeta. Até poderia ser. Mas na verdade ela é de um livro de Aristóteles chamado “Ética a Nicômaco”, que recebeu esse título por ser dedicado ao seu filho, Nicômaco. Aristóteles queria dizer que, para provar que o verão começou, é preciso mais de uma andorinha ou mais de um dia quente. Do mesmo modo, pequenos prazeres não representam a verdadeira felicidade. Para ele, a felicidade não passava de alegria momentânea. Surpreendentemente, ele  acreditava que as crianças não podiam ser felizes, o que parece um absurdo. Se as crianças não podem ser felizes, quem pode? No entanto, isso revela o quanto a sua visão de felicidade é diferente da nossa. As crianças estão apenas começando a viver e, por isso, não tiveram uma vida plena em nenhum sentido. A verdadeira felicidade, argumentava Aristóteles, exigia uma vida mais longa.

(trecho do capítulo 2 de Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton)

Uma andorinha sozinha não faz verão

Ele foi discípulo de Platão. Viajou e trabalhou como tutor de Alexandre, o Grande. Fundou a própria escola em Atenas, chamada Liceu. E enquanto Platão vivia no mundo das ideias, contentando-se em filosofar em gabinete, ele quis explorar a realidade por meio dos sentidos. Ele é Aristóteles. O grande filósofo que morreu em 7 de março de 322 a.C. e que está em Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton.

O texto inicial do capítulo 2 de "Uma breve história da filosofia", dedicado a Aristóteles

O texto inicial do capítulo 2 de “Uma breve história da filosofia”, dedicado a Aristóteles. (Clique sobre a imagem para ampliá-la)

 

Retrospectiva: os destaques de 2012

E lá se foi 2012. Deixando boas lembranças e ótimos livros no catálogo L&PM. Foram muitos os lançamentos em formato convencional e pocket. Aqui, destacamos um para cada mês do ano que está terminando, de dezembro até até janeiro.

DEZEMBRO – Não tenho inimigos, desconheço o ódio, de Liu Xiaobo. Por que é destaque: o chinês Liu Xiaobo é um escritor, intelectual, ativista e professor que foi condenado a 11 anos de prisão por suas ideias. Prêmio Nobel da Paz 2010, pela primeira vez seus textos foram reunidos e publicados no Brasil, apresentando uma China que o ocidente ainda não conhece.

NOVEMBRO – Allen Ginsberg e Jack Kerouac: as cartas. Por que é destaque: o livro reúne a correspondência trocada entre os dois escritores beats durante mais de 20 anos. As quase 500 páginas que separarm a primeira da última carta oferecem “uma das mais frutíferas fusões de vida e obra da literatura do século 20” conforme disse a Folha de S. Paulo.

OUTUBRO – Um lugar na janela, de Martha Medeiros. Porque é destaque: a autora de Feliz por nada compartilha com seus leitores as mais afetuosas memórias de viagens feitas em várias épocas da vida, aos vinte e poucos anos e sem grana, depois, já mais estruturada, mas com o mesmo espírito aventureiro.

SETEMBRO – A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Por que é destaque: pela primeira vez no Brasil traduzida direto do alemão, a obra maior de Freud chegou à coleção L&PM Pocket em dois volumes coordenados por psicanalistas e professores de renome e que incluindo notas e comentários que Freud adicionou ao longo da vida, mais exclusivo índice de sonhos, nomes e símbolos.

AGOSTO – Guerra e Paz, de Tolstói, na Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos. Por que é destaque: no caso de Guerra e Paz, uma obra bastante extensa, a adaptação para HQ é muito impressionante. “Coleciono HQs, de forma intensa, desde 1958. Nunca, nesses anos todos, vi ou ouvi falar de Guerra e Paz no formato de quadrinhos. Qualquer roteirista, mesmo com experiência e capacidade, deve ter sonhado com essa aventura louca.” disse Goida a respeito do livro.

JULHO – Os filhos dos dias, de Eduardo Galeano. Por que é destaque: inspirado na sabedoria dos maias, Galeano escreveu um livro que se situa como uma espécie de calendário histórico, onde de cada dia nasce uma nova história. Provocante, intenso e sensível como toda obra do escritor, os textos formam uma colcha de retalhos costurada com poesia, emoção e concisão.

JUNHO – Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton. Por que é destaque: a filósofa e escritora Sarah Bakewell definiu este livro como um “manual de existência humana em que poucas vezes a filosofia pareceu tão lúcida, tão importante, tão válida e tão fácil de nela se aventurar”. Partindo da tradição iniciada com Sócrates, o autor traz dados interessantes sobre a vida e o pensamento de alguns dos mais instigantes filósofos de todos os tempos.

MAIO – História secreta de Costaguana, de Juan Gabriel Vásquez. Por que é destaque: Juan Gabriel Vásquez foi um dos convidados da Flip 2012 – Festa Literária Internacional de Paraty. Misturando fatos históricos e ficção, Vásquez cria uma história em que o escritor Joseph Conrad é um dos personagens e que tem como pano de fundo a construção do Canal do Panamá.

ABRIL – Simon’s Cat, de Simon Tofield. Por que é destaque: em abril, Simon’s Cat foi publicado pela primeira vez no Brasil. O gato que não tem nome definido é o mais famoso felino do Youtube. Depois de Simon’s Cat – As aventuras de um gato travesso e comilão, em novembro deste ano foi lançado o segundo volume da série: Simon’s Cat – Em busca de aventura.

MARÇO – Erma Jaguar, de Alex Varenne. Por que é destaque: esta HQ luxo traz todas as aventuras de Erma Jaguar, personagem criada pelo notável ilustrador Alex Varenne. Erma é uma espécie de “madame” moderna que à noite, vestindo seu corpete preto e dirigindo seu carro, vai satisfazer todas as suas fantasias. Insaciável, ela enlouquece homens e mulheres de todos os tipos.

FEVEREIRO – Diários de Andy Warhol. Por que é destaque: esta nova edição dos Diários do artista pop Andy Warhol, dividida em dois volumes em formato de bolso (e reunidos em uma caixa especial), marcou a entrada da Coleção L&PM Pocket na casa dos 1.000 títulos. Um dos mais reveladores retratos culturais do século XX, Diários de Andy Warhol soma mais de mil páginas de glamour, fofocas e culto às celebridades.

JANEIRO – 1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares. Por que é destaque: este livro conta como um movimento de rebelião popular paralisou e derrotou o golpe de Estado dos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica e evitou a guerra­ civil. Escrito por um jornalista que testemunhou e participou do Movimento da Legalidade junto a Leonel Brizola,­ então governador­ do Rio Grande do Sul.

Breve história de Voltaire

A escultura mais famosa da imagem de Voltaire, feita por Jean-Antoine Houdon, conseguiu capturar o sorriso cerrado e os pés de galinha desse homem espirituoso e corajoso. Defensor da liberdade de expressão e da tolerância religiosa, Voltaire foi uma figura controversa. Na Europa do século XVIII, porém, a Igreja Católica controlava com rigidez o que podia ser publicado. Muitos dos livros e peças de Voltaire foram censurados e queimados em público, e ele chegou a ser preso na Bastilha, em Paris, por ter insultado um poderoso aristocrata. Mas nada disso o impediu de desafiar os preconceitos e as pretensões daqueles que o cercavam. No entanto, hoje ele é mais conhecido como o autor de Cândido (1759) – Trecho de Uma breve história da filosofia.

O impressionante busto de Voltaire esculpido por Houdon

Voltaire nasceu em Paris no dia 21 de novembro de 1694 e foi batizado com o nome de François Marie Arouet. Segundo Nigel Warburton, autor de Uma breve história da filosofia, uma das coisas que o diferenciou de outros célebres filósofos foi que Voltaire era rico. Warburton conta em seu livro que, jovem, ele fez parte de um grupo que descobriu uma falha no sistema de loterias do governo e comprou vários milhares de bilhetes premiados. Investiu esse dinheiro e enriqueceu ainda mais. Isso deu a ele liberdade financeira para defender as causas em que acreditava. Acabar de vez com a injustiça era sua paixão.

Por que Nietzsche dá tanto Ibope?

O que tanto fascina em Friedrich Nietzsche? Não é exagero dizer que ele é o filósofo da moda. “Quando Nietzsche chorou”, “Nietzsche para estressados” são apenas alguns livros que usam o nome do filósofo para chegar ao topo das listas de bestsellers. Há muitas teorias para esta popularização de Nietzsche entre letrados e iletrados. A dominante, é que sua filosofia é radical quando ele enfatiza que as emoções e as forças irracionais exercem um papel importante na construção dos valores humanos. E isto inclui seu combate ao cristianismo, não aceitando o preceito básico da moral cristã de que todos os homens têm o mesmo valor. Para Nietzsche isso era uma balela. Shakespeare e Beethoven, entre tantos gênios, provaram sua tese de que existem pessoas melhores do que as outras. Em “Assim falou Zaratustra”, seu livro mais popular, ele inventou o Übermensch ou o “super-homem”. Uma teoria complexa que acabou sendo exaltada por Hitler meio século depois. Numa temível simplificação, ele via nela uma comprovação para o seu anseio de, a partir da “raça” ariana, criar um homem superior.  

Afora esta odiosa utilização pelos nazistas (Nietzsche estava morto há 30 anos quando Hitler surgiu como líder na Alemanha) – esta espécie de possível “sustentação filosófica” para teorias racistas -, Nietzsche encanta pela sua permanente transgressão ao pensamento filosófico estabelecido. Por outro lado, é quase certo que tenha influenciado Sigmund Freud, cuja obra explorou a natureza e o poder dos desejos inconscientes. No belíssimo livro Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton, há um capítulo extremamente esclarecedor sobre esta questão da popularidade do filósofo. Veja o trecho em que Warburton inicia seu capítulo sobre Nietzsche:

“Deus está morto.” Essa é a citação mais famosa do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Mas como Deus poderia morrer? Supostamente, Deus é imortal. E seres imortais não morrem, mas vivem para sempre. De certa forma, porém, a questão é essa. É por isso que a morte de Deus soa tão estranha: não há como ser diferente. Nietzsche estava deliberadamente brincando com a ideia de que Deus não poderia morrer. Ele não estava dizendo literalmente que Deus estivera vivo em algum momento e que agora não estava mais, e sim que a crença em Deus havia deixado de ser razoável. Em seu livro, A gaia ciência (1882), Nietzsche colocou a frase “Deus está morto” na boca de um personagem que segura um lampião e procura por Deus em todos os lugares, mas não consegue encontrá-lo. Os habitantes do vilarejo pensam que ele é louco.

Nietzsche foi um homem memorável. Nomeado professor da Universidade de Basel aos 24 anos, ele parecia decidido a seguir uma distinta carreira acadêmica. Contudo, esse pensador excêntrico e autêntico não se adaptou e parecia gostar de di­fi­cul­­tar a própria vida. Ele acabou deixando a universidade em 1879, em parte devido à sua saúde debilitada, e viajou para a Itália, a França e a Suíça, escrevendo livros que quase ninguém lia na época, mas que hoje são famosos como obras tanto literárias quanto filosóficas. Sua saúde mental piorou, e ele passou grande parte do fim da vida em um manicômio.

Maquiavel ou o poder a qualquer custo

“Imagine que você seja um príncipe, dotado de poder absoluto, governando uma cidade-estado, como Florença ou Nápoles, na Itália do século XVI. Você dará uma ordem e ela será atendida. Se quiser mandar alguém para a cadeia por ter falado algo contra você, ou por suspeitar de que houve uma conspiração para matá-lo, você pode fazê-lo. (…) Segundo Nicolau Maquiavel (1469-1527), às vezes é melhor mentir, quebrar promessas e até matar os inimigos. Um príncipe não precisaria se preocupar em manter sua palavra. Como dizia ele, um príncipe eficaz tem de “aprender a não ser bom”. O mais importante era manter-se no poder, e quase todas as formas de fazer isso eram aceitáveis. O príncipe, livro no qual ele fala sobre essas coisas, teve fama (e infâmia) mesmo antes de ser publicado em 1532. Algumas pessoas o descreveram como maligno ou, na melhor das hipóteses, como o manual dos facínoras; outras o consideraram o relato mais preciso já escrito sobre o que acontece na política. Muitos políticos atuais leram o livro, embora pouquíssimos admitam, revelando, talvez, que estão colocando em prática os princípios da obra.” (Trecho de Uma breve história da filosofiade Nigel Warburton) 

A estátua de Maquiavel na Uffizi Gallery em Florença

Uma breve história da filosofia é um livro imperdível para quem quer entender melhor os grandes pensadores da história. E para aqueles que, a partir da sua leitura, se sentirem estimulados a mergulhar mais fundo em determinados filósofos, a Coleção L&PM Pocket tem muitas opções, incluindo Maquiavel, de quem publica O príncipe e A arte da guerra. Em tempos de julgamentos (e, felizmente, cassações) no Senado, vale conhecer melhor estas obras.

Filosofia para todos!

Uma breve história da filosofia é um “manual da existência humana”. Assim Sarah Bakewell, filósofa e escritora, autora do sucesso internacional Como Viver – uma biografia de Montaigne definiu este grande livro, e acrescentou: “poucas vezes a filosofia pareceu tão lúcida, tão importante, tão válida e tão fácil de nela se aventurar. É um livro maravilhoso para introduzir na filosofia aqueles que já se sentiram curiosos em relação a quase tudo”.

Esta é a grande sacada do livro de Nigel Warburton. Ele identifica a filosofia como a primeira e mais importante de todas as ciências, pois ela tenta ensinar a pensar. Sendo assim não pode ser algo só para “eleitos”, “mega-letrados”. Não. A filosofia, sendo o princípio de tudo, tem que ser compreendida por todos.

A angústia e a euforia de viver, a existência e o sentido da vida. A relação entre as pessoas e a relação das pessoas com o mundo. Felicidade e tristeza. Amor e ódio. Tudo é filosofia. E para compreender tudo isto é preciso pensar. Uma breve história da filosofia não faz este milagre. Mas seguramente mostra o caminho. E além de maravilhosamente esclarecedor, este livro acrescenta um ingrediente irresistível: o prazer de ler.

“Uma andorinha só não faz verão”. Provavelmente  você deve pensar que essa frase é de William Shakespeare ou de algum outro grande poeta. Até poderia ser. Mas na verdade ela é de  um livro de Aristótoles chamado Ética a Nicômaco, que recebeu esse título por ser dedicado ao seu filho, Nicômaco. Aristóteles queria dizer que, para provar que o verão começou, é preciso mais de uma andorinha ou mais de um dia quente. Do mesmo modo, pequenos prazeres não representam a verdadeira felicidade. Para ele, a felicidade não passava de alegria momentânea.” (trecho inicial do capítulo “A verdadeira felicidade” sobre Aristóteles)