Jardim de inverno

Chega o inverno. Um esplêndido ditado
dão-me as lentas folhas
vestidas de silêncio e de amarelo.
Sou um livro de neve,
uma larga mão, uma pradaria,
um círculo que espera,
que assim pertenço à terra e a seu inverno.

Cresceu o rumor do mundo na folhagem,
ardeu depois o trigo constelado
por flores rubras como queimaduras,
logo chegou o outono estabelecendo
a escritura de vinho:
e tudo passou, foi céu passageiro
a taça do estio,
e se apagou a nuvem navegante.

Eu esperei no balcão, tão enlutado
como ontem nas heras da minha infância,
que a terra estendera
suas asas no meu amor desabitado.

Eu soube que a rosa feneceria
e este caroço do transitório pêssego
voltaria para dormir, germinar:
e me embebedei com a taça do ar
até que todo o mar se fez noturno
e o amanhecer foi convertido em cinza.

Vive a terra agora
tranquilizando o seu interrogatório,
estendida a pele do seu silêncio.
Volto a ser agora
o taciturno que chegou de longe
envolto em chuva fria e pelos sinos:
devo para a pura morte da terra
a intenção das minhas germinações.

Pablo Neruda em Jardim de Inverno (edição bilíngue), Coleção L&PM Pocket

Caulos e o primeiro livro a denunciar crimes ambientais

Era 1976 quando a L&PM Editores lançou o livro “Só dói quando eu respiro” de Caulos. Foi o primeiro livro de um intelectual brasileiro importante a abordar com um humor quase trágico a questão da ecologia – do desmatamento, da poluição, do crescimento urbanístico desenfreado. E isso em um tempo em que ninguém pensava em meio ambiente ou “sustentabilidade”. Só uns poucos, como José Lutzenberger e seus pares, que geralmente eram acusados de “malucos”, se preocupavam com a natureza.

A primeira capa de "Só dói quando eu respiro", edição de 1976

Caulos é um grande artista brasileiro. Pintor, cartunista, deixou a sua marca na imprensa defendendo a causa da ecologia e – na época da ditadura – da democracia. Seus trabalhos eram publicados no legendário “O Pasquim” (onde além de publicar cartuns, fazia com Ivan Lessa a coluna “Gip gip nheco nheco”) e no Jornal do Brasil, quando este jornal era o mais influente no país. Caulos era o mais importante cartunista do JB.

Um dos cartuns do livro

Outro cartum de "Só dói quando eu respiro"

Pois o principal dos seus trabalhos que saiu no JB e no Pasquim foi publicado em “Só dói quando eu respiro”, este livro admirável. A L&PM Editores está preparando uma nova edição para o começo de julho.

A realização da “Rio + 20” é a ocasião ideal para apreciar este trabalho magnífico. E entender o que é um “clássico”: um livro genial que resiste incólume na sua incrível qualidade gráfica e atualidade temática, 36 anos depois de ter sido publicado pela primeira vez. (Ivan Pinheiro Machado)

Em 2001, o livro foi relançado com esta capa que, em breve, chegará novamente às livrarias

Feliz aniversário Garfield!

Ele nasceu faminto e sarcástico (e mais gordo do que atualmente) no dia 19 de junho de 1978. Neste dia, a primeira tirinha de Garfield foi publicada em 41 jornais dos EUA. Jim Davis escolheu seu nome em homenagem a John Garfield Davis, seu avô, que segundo ele era “ranzinza por fora” e “um coração mole por dentro”. Exatamente como o gato criado por Jim.

A tirinha número 1 de Garfield (clique para aumentar)

A segunda tirinha de Garfield (clique para ampliar)

Estas e mais 2.850 tiras estão em Garfield – 2.582 tiras da Série Ouro L&PM. Pra completar, tem mais Garfield na Coleção L&PM Pocket.

“Meninos, eu vi” On the Road, o filme

*Por Paula Taitelbaum

Como diria Gonçalves Dias em I-Juca Pirama: “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme verdadeiro, íntegro e profundo. Centrado na capacidade humana de ir em busca da sua essência. Ou de se distanciar dela. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme baseado em um livro, mas não escravizado por ele. Que escreve sua própria história não só com palavras, mas principalmente cores, ritmo, música e… silêncio. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme em que Garrett Hedlund recebe o espírito de Dean Moriarty/Neal Cassady e se entrega a ele como só os grandes atores são capazes de fazer. Como Viggo Mortensen, encarnando Old Bull Lee/William Burroughs, fez em cada sílaba sua. “Meninos, eu vi”. Eu vi o filme que eu não sabia que veria, que uma parte de mim nem esperava gostar, cujo trailer nem havia me empolgado. Mas que quando pegou a estrada não a abandonou jamais, honrando cada quilômetro percorrido por Jack e Neal, rodado com a paixão que só os amantes da obra original poderiam ter. “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme sobre a sensação universal de ter vinte anos, que me fez chorar no final, assim que a voz do verdadeiro Jack ecoou no cinema e logo que as palavras dele tingiram a tela – I think of Dean Moriarty… “Meninos, eu vi”. Eu vi um filme que tem alma –  e nem importa se ela é beat. E que, em seus 140 minutos, passou a muitas milhas por hora sem negar carona aos que algum dia já se deixaram levar por On the road.

Garrett Hedlund como Dean Moriarty em um dos cartazes do filme que estreia no Brasil em 13 de julho de 2012

*Paula Taitelbaum e Eduardo Bueno (tradutor de On the Road) assistiram ao filme On the Road/Na estrada em uma sessão fechada, na sexta-feira, 15 de junho. Ambos adoraram. Eduardo também chorou no final.

Maria Bethânia, Fernando Pessoa e a delicadeza

Por Nanni Rios*

Quem assistiu ao show Bethânia e as palavras, que fez turnê pelo Brasil em 2011, pode confirmar esta minha impressão: ficou difícil pensar em Maria Bethânia sem se lembrar de Fernando Pessoa. Ela recita os versos do poeta português como ninguém – talvez nem o próprio, que era tímido e não tinha a eloquência como dom – e com uma naturalidade impressionante, como só quem tem uma intimidade quase carnal com cada um daqueles versos conseguiria fazer. E é assim que ela faz. Cantou, encantou e se fez inesquecível. Me emocionei, aplaudi de pé e corri para a porta do camarim e de lá não saí até vencer o segurança – muito simpático, diga-se de passagem – pelo cansaço. Tiete assumida, consegui um abraço de Maria Bethânia, que me recebeu com um sorriso largo no rosto, ainda cheia de poesia e delicadeza.

“Bethânia e as palavras” em Porto Alegre (2011)

É por isso que hoje, no dia de seu aniversário, quero falar de Fernando Pessoa. O Poema do Menino Jesus reúne, na minha opinião, alguns dos mais belos versos escritos sob o pseudônimo de Alberto Caeiro e fica ainda mais bonito na voz dela. Vê-la ao vivo recitando este poema foi pura catarse e, desde então, não há mais como separá-los.

Ouça o trecho do show em que ela declama o poema:

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
(…)
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
(…)
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios
(…)
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar.
(…)
*Nanni Rios é editora de mídias sociais da L&PM Editores, fã de Maria Bethânia e leitora de Fernando Pessoa.

Mostra de cinema de Curitiba homenageia o escritor Dalton Trevisan

O Museu da Imagem e do Som do Paraná em Curitiba vai promover a Mostra Dalton Trevisan no Cinema, que exibirá longas e curtas-metragens feitos a partir do universo do escritor paranaense. Conhecido pelo rigor com que revisa sua obra, Trevisan autorizou pouquíssimos realizadores a trabalhar seus livros no cinema, exigindo sempre fidelidade absoluta ao que foi escrito, sem acréscimos, alterações ou adaptações. Tanto que somente dois longas e alguns poucos curtas-metragens fazem parte desse acervo.

A mostra começa segunda-feira, dia 18 de junho e vai até quarta-feira, dia 20. Os filmes serão exibidos no Auditório Brasílio Itiberê, a partir das 19h30, e a entrada é gratuita. Todas as exibições serão apresentadas por especialistas na obra de Dalton Trevisan e a sessão de curtas terá a presença dos realizadores, que farão um debate sobre as adaptações.

Dalton Trevisan foi contemplado recentemente com o Prêmio Camões de literatura, a maior honraria da literatura em língua portuguesa, e na semana passada foi agraciado com o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Não perca a chance de conhecer a obra de um dos maiores escritores brasileiros no cinema. Dê uma olhada na programação e agende-se:

Dia 18 de junho, 19h30
Um Uísque Antes, Um Cigarro Depois – de Flávio Tambellini

Comédia em três episódios, sendo o segundo, “Mocinha de Luto”, a primeira filmagem autorizada de um conto de Dalton Trevisan. Esse episódio foi filmado em Curitiba no início dos anos 70, e diversos lugares conhecidos da cidade servem de locação para a história. Apresentação do jornalista Ayrton Baptista Junior (CBN, Globo.com).

Dia 19 de junho, 19h30
Penélope – de Estevan Silvera
Em Busca da Curitiba Perdida – de Estevan Silvera
Balada do Vampiro – de Beto Carminatti e Estevan Silvera

Três dos raros curtas-metragens feitos com autorização do autor preservam o texto integral dos contos originais. Apresentação do cineasta Fernando Severo (diretor do MIS). Após a exibição será realizado debate com os diretores.

Dia 20 de junho, 19h30
Guerra Conjugal – de Joaquim Pedro de Andrade

Influência confessa no cinema de Pedro Almodóvar, que o viu num festival em Barcelona, Joaquim Pedro de Andrade, um dos maiores diretores do Cinema Novo, entrelaça trechos e personagens extraídos de vários contos de Dalton Trevisan, que assina os diálogos. Foi exibido no Festival de Cannes e recebeu diversos prêmios no Brasil. Apresentação do professor Fabio Francener Pinheiro (Curso de Cinema e Vídeo da FAP).

Fernando Pessoa por Almada Negreiros

Em 15 de junho de 1970, morria no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa, no mesmo quarto onde morrera Fernando Pessoa 35 anos antes, o pintor e poeta Almada Negreiros, autor de alguns dos retratos mais famosos do poeta português e que estampam as capas de Antologia poética (Coleção 64 páginas) e Poesias (Coleção L&PM Pocket).

Eles se conheceram em 1913, quando Almada Negreiros realizava sua primeira exposição individual na Escola Internacional de Lisboa. A simpatia foi imediata e, em 1915, eles fundaram junto com o poeta Mario de Sá Carneiro a célebre Revista Orpheu.

Hercules Poirot em cena

Muitas foram as histórias de Agatha Christie adaptadas para o teatro e várias escritas por ela já como dramaturgia. Tragédia em três atos, apesar do nome, não é peça, mas romance. A história começa quando um ator famoso, Sir Charles Cartwright, oferece um jantar para amigos e um deles morre durante a recepção. Tudo indica que foi um acidente, mas como entre os presentes está Hercules Poirot, tudo pode ser diferente do que se espera.

Poirot foi interpretado muitas vezes nos palcos, mas, de acordo com a autobiografia de Agatha Christie, parece que era difícil agradar a Rainha do Crime na escolha do ator. “Sempre me pareceu estranho que, seja quem for que faça o papel de Poirot, nunca tenha as medidas certas… Charles Laughton tinha peso demais e Francis Sullivan era grande, forte e com mais de um metro e oitenta de altura” escreveu.

Charles Laughton

Francis Sullivan

É ano de lembrar e ler Faulkner

Prêmio Nobel de Literatura em 1949, William Faulkner é considerado um dos maiores autores norte-americanos modernos. Ao falecer de ataque cardíaco em 6 de julho de 1962, deixou de herança para a humanidade dezessete livros, entre eles O som e a fúriaSartoris e Enquanto agonizo, este último publicado na Coleção L&PM Pocket. Eleito um dos cem melhores romances em inglês do século XX, Enquanto agonizo é um romance em que Faulkner tece um caleidoscópio de possibilidades a partir de personagens simples, mas que formam um espelho da condição humana.

2012 é o ano que marca os 50 anos da morte de Faulkner e esse já é um bom motivo para mergulhar nos meandros que envolvem a escrita de um autor ovacionado por muitos outros escritores. Jorge Luis Borges, por exemplo, disse sobre ele: “Faulkner gosta de expor o romance através dos personagens. O método não é totalmente original, mas ele faz isso em um grau que é quase intolerável.”

Eles estão prestes a virar pocket

Lançados originalmente em formato convencional pela L&PM, muitos livros ganham vida nova quando são relançados em pocket. Isso porque, neste novo formato, eles ficam disponíveis nos milhares de expositores que a editora mantém em todos os cantos do país; seja nas bancas de jornais do Chuí, na rede de farmácia Big Bem em Belém do Pará, na Livraria Saraiva do Shopping Manauara em Manaus, passando pelas praias de Natal no Rio Grande do Norte e chegando a dezenas de bancas na Avenida Paulista em São Paulo. Muito mais baratas, as edições da coleção L&PM POCKET, a maior coleção de livros de bolso do Brasil, estão literalmente em todos os cantos do país, com um acabamento industrial impecável e com preços que correspondem, no mínimo, a metade do que custariam em uma edição convencional. Veja abaixo o que vem por aí, livros que recentemente foram sucesso de livraria e que, ainda este ano, estarão disponíveis em edições econômicas e bem cuidadas:

Simon’s Cat: as aventuras de um gato travesso e comilão (vol. 1 e 2) – Simon Tofield

Só as mulheres e as baratas sobreviverão Claudia Tajes

Revolução Francesa (vol 1 e vol 2) – Max Gallo

Diários de Jack Kerouac – 1947-1954

As melhores histórias da mitologia egípcia – A. S. Franchini

As melhores lendas medievais – A. S. Franchini e Carmen Seganfredo

Pedaços de um caderno manchado de vinho – Charles Bukowski

A camareira – Markus Orths

Espelhos – Eduardo Galeano

Surdo mundo – David Lodge

Todos os contos de Maigret (vol. 1 e 2) – Georges Simenon

A ferro e fogo 1: Tempo de solidão Josué Guimarães

A ferro e fogo 2: Tempo de guerra Josué Guimarães