Mecha de cabelo de Napoleão é vendida por US$ 13 mil

Um leilão na Nova Zelândia vendeu cerca de 40 itens da memorabília de Napoleão Bonaparte. Os objetos estavam em posse de descendentes de um oficial britânico que conviveu com Bonaparte durante os últimos anos de sua vida, quando esteve exilado na ilha de Santa Helena.

Um dos itens leiloados foi uma mecha de cabelo do imperador francês, cortada logo depois que ele morreu, em 1821. O comprador, que desembolsou US$ 13 mil, foi um londrino não-identificado pela empresa responsável pelo leilão. O total arrecadado com a venda de todos os itens foi de quase US$ 100 mil.

O gol

O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol está cada vez menos frequente na vida moderna. Há meio século, era raro que uma partida terminasse sem gols: 0 a 0, duas bocas abertas, dois bocejos. Agora, os onze jogadores passam toda a partida pendurados na trave, dedicados a evitar os gols e sem tempo para fazer nenhum. O entusiasmo que se desencadeia cada vez que a bola sacode a rede pode parecer mistério ou loucura, mas é preciso levar em conta que o milagre é raro. O gol, mesmo que seja um golzinho, é sempre goooooooooooooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre, e a multidão delira e o estádio se esquece que é de cimento, se solta da terra e vai para o espaço.

Até o final da Copa, o blog da L&PM publica diariamente um trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano. Leia os anteriores:
O árbitro
Gol de Nilton Santos
O pecado de perder 

Diretor de 2012 vai levar às telas teoria de que Shakespeare não teria escrito suas peças

Já não é de hoje que, vez por outra, alguém surge com a teoria (que a maioria considera absurda) de que William Shakespeare não teria escrito suas peças. Tem até quem diga que ele nem existiu. Pois a controversa história será levada às telas por Roland Emmerich, diretor de 2012, Stargate, Godzilla, Independence Day e outros filmes catástrofes. Com esse currículo nas costas, parece um pouco difícil acreditar que Anonymous, nome do filme, faça jus à obra de Shakespeare. Mas provavelmente nem seja esse o objetivo de Emmerich. O roteiro, cercado de suspense, é centrado na ideia de que o verdadeiro autor de Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth, Otelo e todos os clássicos shakespearianos teria sido o 17º Conde de Oxford, Edward de Vere, sucessor da Rainha Elizabeth I. Filmado em Berlim, Anonymus tem estreia prevista para 2011 e traz Vanessa Redgrave como Rainha Elizabeth. Abaixo, uma das fotos já divulgadas.

Roland Emmerich durante gravações de Anonymous / Divulgação

Irmãos Grimm para ler e viajar

Quem não cresceu ouvindo os clássicos dos Irmãos Grimm? Chapeuzinho Vermelho, A bela adormecida, O pequeno polegar, Branca de neve e tantas outras histórias atravessam as gerações em novas leituras, edições e até adaptações para o cinema.

E que tal se agora, além de viajar pelas páginas desses clássicos, você pudesse, literalmente, viajar pelas paisagens que inspiraram os Irmãos Grimm? Na Alemanha, onde os dois viveram, foi criada a “Rota dos contos de fada”. Em um trajeto de 560 quilômetros entre Frankfurt e Bremen, é possível conhecer a casa na qual Wilhelm e Jacob viveram até os 6 anos (em Hanau), a Vila de Steinau (56 quilômetros ao norte de Hanau), onde moraram depois, além de passear por inúmeras cidadezinhas que podem ter servido de cenário para a dupla.

A dica é planejar o roteiro para 2011, quando parte dos museus da Rota, hoje em reforma, já estarão abertos à visitação. Enquanto você fala com seu agente de viagens, aproveite para reler as clássicas histórias nos dois volumes lançados pela Coleção L&PM Pocket. E quando a viagem sair, não esqueça de levá-los na mala, claro.

O árbitro

O árbitro é arbitrário por definição. Este é o abominável tirano que exerce sua ditadura sem oposição possível e o verdugo afetado que exerce seu poder absoluto com gestos de ópera. Apito na boca, o árbitro sopra os ventos da fatalidade do destino e confirma ou anula os gols. Cartão na mão, levanta as cores da condenação: o amarelo, que castiga o pecador e o obriga ao arrependimento, ou o vermelho, que o manda para o exílio.
Os bandeirinhas, que ajudam, mas não mandam, olham de fora. Só o árbitro entra em campo; e com toda razão se benze ao entrar, assim que surge diante da multidão que ruge. Seu trabalho consiste em se fazer odiar. Única unanimidade do futebol: todos os odeiam. É vaiado sempre, jamais é aplaudido.
Ninguém corre mais do que ele. É o único obrigado a correr o tempo todo. Este intruso que ofega sem descanso entre os vinte e dois jogadores galopa como um cavalo, e a recompensa por tanto sacrifício é a multidão que exige sua cabeça. (…)

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Gol de Nilton Santos
O pecado de perder 

Sobrinho-bisneto de Bram Stoker virá ao Brasil

Da sombra do tio-bisavô (?) surge de repente o escritor Dacre Stoker, autor de Drácula, o morto-vivo. Dacre é um parente (bem distante) de Bram Stoker, criador do Drácula (o original), e vem a Bienal do Livro de São Paulo em agosto. Para quem gosta de histórias de terror, é uma oportunidade de ouro: Dacre participará do Salão de Ideias sobre vampirismo com José Mojica Marins, o célebre Zé do Caixão. E se você está pensando em ir, já pode preparar a fantasia: os visitantes caracterizados entram de graça e ainda concorrem a prêmios.

Também durante a Bienal, a L&PM lança na sua Série Ouro, um livro que reúne alguns dos maiores clássicos de horror: Drácula (o de Bram Stoker), Frankenstein,  de Mary Shelley  e O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson.

Veja as adaptações do clássico de Bram Stoker para o cinema no post Parabéns ao Drácula.
 

Gol de Nilton Santos

“Foi no Mundial de 58. O Brasil estava ganhando de 1 a 0 contra a Áustria. No começo do segundo tempo, Nilton Santos, o homem-chave da defesa brasileira, chamado de Enciclopédia pelo muito que sabia de futebol, avançou, partindo de seu campo. Abandonou a retaguarda, passou a linha central, esquivou um par de adversários e continuou seu caminho. O técnico basileiro, Vicente Feola, corria também pela lateral do campo, mas do lado de fora. Suando em bicas, gritava:
– Volta, volta!
E Nilton, imperturbável, continuava sua corida para a área adversária. O gordo Feola, desesperado, agarrava a cabeça, mas Nilton não passou a bola a nenhum atacante: fez toda a jogada sozinho, e culminou-a com um golaço.
Então, Feola, feliz, comentou:
– Viram só? Eu não disse? Este sim, sabe!”

Nota do editor: exatamente há 52 anos atrás, em 29 de junho de 1958, o Brasil conquistou a Copa do Mundo pela primeira vez, derrotando os suecos, anfitriões da Copa, por 5 a 2. 

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O pecado de perder 

Balzac e a política: um autor de direita e uma obra de esquerda

Ivan Pinheiro Machado

Balzac viveu em um dos períodos mais movimentados e importantes da história da humanidade. Nasceu em 20 de maio de 1799 e morreu em 19 de agosto de 1850. Isto significa que, 10 anos antes de seu nascimento, seu pai – advogado e vereador em Tours, cidade onde morava a família de Balzac – estava às voltas com a Revolução Francesa que eclodiu em 14 de julho de 1789. Este dia é o começo do fim do poder absoluto de Luis XVI que acabou definitivamente em setembro de 1792 quando foi proclamada a República. Meses mais tarde, em fevereiro de 93, o rei e a rainha foram decapitados. Começou então o período do Terror, comandado pelos radicais Marat, Danton e Robespierre. Marat acabou assassinado na banheira por Charlotte Corday. Depois foi Danton e, por fim, a cabeça do “incorruptível” Robespierre foi parar no cesto, encerrando o período do Terror um ano depois de seu começo. O Diretório passou a governar a França. É a época do início das guerras napoleônicas, da ascensão fulminante da burguesia, e da instituição da corrupção generalizada. Em 18 brumário do ano IX, segundo o calendário da Revolução (9 de novembro de 1799), aconteceu o famoso golpe de Estado que conduziu Napoleão à chefia da Nação. Balzac tinha 8 meses quando ele assumiu o poder e 6 anos quando autoproclamou-se Imperador. Napoleão caiu em 1814, mas  voltou do exílio na Ilha de Elba para reassumir o governo dos “100 dias”. Seu fim ocorreu em 1815 quando foi derrotado em Waterloo. Balzac tinha 15 anos e assistiu nas Tulherias quando o Imperador fez a pomposa revista das tropas que iam para Waterloo. 20 anos depois, ele descreveria esta cena impressionante de forma magistral em A mulher de 30 anos.

Finda a era de Napoleão, foi restaurada a monarquia com Luis XVIII, depois sucedido por seu primo Carlos X em 1824. Conservador, Carlos X tentou derrubar as conquistas de julho de 1789 e caiu com a Revolução de julho de 1830. Subiu ao trono, Luis Felipe I, o “Felipe Égalité”, um monarca “esclarecido” situado bem à esquerda de Carlos X e simpatizante de Revolução. Mas Felipe foi destronado em 1848 quando, desgastado pela crise econômica e pelas intrigas palacianas, caiu em desgraça tanto pela esquerda como pela direita. Foi proclamada então – para desespero de Balzac – a II República. Balzac morreu em 1850 e não viu a volta da França Imperial. Em 1852, o sobrinho de Napoleão Bonaparte, Luis Bonaparte, foi coroado imperador, após um plebiscito com a concordância de 95% dos franceses. O Napoleão III ficaria 18 anos no poder.

 O “relator” de um novo mundo

Pode-se dizer que Balzac viveu, na plenitude de sua vida, toda a efervescência política da França e da Europa da primeira metade do século XIX.  E não foi pouca coisa. Os primeiros 25 anos do século XIX foram uma viagem vertiginosa com mudanças que se refletiriam nos rumos da civilização ocidental. O jovem Balzac estava lá e teve a sensibilidade de perceber que aquela era uma nova sociedade. Havia uma burguesia financeira e industrial nascente, uma classe média composta de funcionários públicos, profissionais liberais e comerciantes. E havia, sobretudo, a possibilidade de mudar de classe, de ascender socialmente. Enfim, um novo mundo estava batendo à sua porta. E Balzac percebeu que era sua chance de entrar para o panteon da história; ele iria ser o “relator” deste novo mundo. Sua Comédia Humana é o documento definitivo desta transformação.

Enquanto os historiadores se preocuparam em documentar os eventos históricos, Balzac fez o inestimável serviço de narrar a chamada “vida privada” da Europa neste meio século. Marx e Engels nunca esconderam sua admiração por Balzac – que os próprios comunistas consideravam “um vassalo da aristocracia”. Mas Engels teve a percepção correta de que “Balzac descreveu melhor a sociedade francesa do que todos os tratados de historiadores, economistas e estatísticos”.

Politicamente falando, Balzac é o paradoxo em pessoa. Auto-intitulado monarquista e legitimista, era a favor da monarquia do “direito divino”. Seu legado literário é um verdadeiro brado contra a usura, contra a sociedade do dinheiro pelo dinheiro. Suas presas prediletas são os banqueiros, os agiotas, os funcionários super-graduados do Estado francês. Não há um elogio da monarquia como sistema (embora muitas vezes ele apregoe “um governo forte”), mas existe um cinismo impregnado em seus personagens que freqüentam o poder. Sua literatura expõe as vísceras de um sistema geralmente corrupto; o tráfico de influências, o nepotismo, as seduções do poder, o fisiologismo político, a troca de favores.

Se foi “progressista” em sua obra e “reacionário” na vida real, esta é apenas mais uma contradição deste homem que viveu os paradoxos e, dentro deles, construiu a maior obra da história da literatura. No final da sua vida, estava indignado com a Revolução de 1848 quando Luis Felipe, que ele considerava um monarca “liberal demais”, foi derrubado. As barricadas nas ruas de Paris, a II República, deixaram Balzac perplexo. Para ele, era demais absorver a entrada de uma nova classe, no caso, a classe operária, no jogo social. Politicamente, manifestava-se cansado e decepcionado, no ocaso de sua vida. Mesmo assim, apresentou-se como candidato a deputado pelo partido conservador na nova Constituinte. Não foi eleito.

Balzac defendia os aristocratas, era contra a República e tinha um fascínio deslumbrado pela nobreza, pelo “faubourg” Saint Germain, onde moravam os bem nascidos. Este homem de direita fez uma obra de esquerda. Balzac queria ser rico e nobre a qualquer custo. Mas expôs as mazelas de um mundo fútil e corrupto. Era fascinado pelas altas rodas, pelo luxo, mas em seus romances ridicularizava os banqueiros, os agiotas e os grandes proprietários.

A nossa sorte é que ele foi um desastre para os negócios, como vimos no post “Um homem de (maus) negócios”. Porque na impossibilidade de ser rico e poderoso só restou a ele ganhar a vida escrevendo a Comédia Humana.

Leia também:

O homem que amava as mulheres
Balzac: a volta ao Brasil mais de 20 anos depois
Por que ler Balzac
O monumento chamado Comédia Humana
Balzac: o homem de (maus) negócios
Sexo para todos os gostos
20 de maio: aniversário de Balzac
Ouro e prazer
Balzac e as balzaquianas
O poder das mulheres na Comédia humana

CLIQUE AQUI PARA LER A PARTE 12 DESTA SÉRIE.

O pecado de perder

A partir desta segunda-feira e até o final da Copa, o blog da L&PM vai trazer diariamente trechos do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano. O trecho de hoje foi retirado da crônica “O pecado de perder”.

“O futebol eleva suas divindades e as expõe à vingança dos crentes. Com a pelota no pé e as cores pátrias no peito, o jogador que encarna a nação marcha para conquistar glórias em longínquos campos de batalha. Na volta, o guerreiro vencido é um anjo caído. Em 1958, no aeroporto de Ezeiza, as pessoas jogaram moedas nos jogadores de seleção argentina, que tinham feito má figura no Mundial da Suécia. No Mundial de 82, Caszely errou um pênalti e no Chile sua vida ficou impossível. Dez anos mais tarde, alguns jogadores da Etiópia pediram asilo às Nações Unidas, depois de perder por 6 a 1 do Egito.

Somos porque ganhamos. Se perdemos, deixamos de ser. A camisa da seleção nacional transformou-se no mais indubitável símbolo de identidade coletiva, e não só nos países pobres ou nos pequenos que dependem do futebol para figurar no mapa. Quando a Inglaterra foi eliminada nas preliminares do Mundial de 94, o Daily Mirror, de Londres, abriu título na primeira página, em corpo catástrofe: O FIM DO MUNDO.”

Ivan Ilitch

Por Luiz Antonio de Assis Brasil

É uma preciosidade, esta pequena novela de Tolstói: A Morte de Ivan Ilitch. Tão preciosa quanto o romance Guerra e Paz. A primeira, um estudo minimalista; o outro, um poderoso drama acerca da invasão napoleônica à Rússia dos czares. Cada qual, à sua maneira, honra o gênio que os escreveu, e Ivan Ilitch possui uma grandeza que rivaliza com o famoso épico.

E por quê? Antes de tudo, pela segura condução da narrativa. O conflito central – a doença e morte do protagonista – só se agrava da primeira à última página. Aliás, muitos elogiam o admirável Crônica de uma Morte Anunciada como se fosse o primeiro livro a antecipar o seu final sem que isso seja um spoiler. Tolstói já fizera isso. Mesmo sabedores que Ivan Ilitch vai morrer, lemos, fascinados, como a personagem, a partir do anúncio de sua doença, vai ganhando em humanidade, revendo sua vida inútil e amparada por seu cargo burocrático e bem pago.

A questão tratada nesta narrativa não é a morte, que a ela nos acostumamos à medida que passa o tempo, mas é a morte como o fim da possibilidade de aprimorarmos nossa vida. Sim, com a morte cessa todo o esforço para sermos melhores. E quando essa morte surge como uma possibilidade logo ali, ao dobrar da esquina, tudo é pior.

Ivan Ilitch vê, a partir de uma pequena dor, que não é eterno, e que todo o amparo de um conforto conquistado, agora nada valem. Ivan, por isso, não suporta que sua esposa e sua filha decidam ir ao teatro, porque nada é mais importante do que sua doença. Ivan não admite sequer otimismo profissional de seu médico, detesta-lhe a saúde, o perfume, a pele rosada e hígida.

Tolstói consegue, como nenhum outro, utilizar-se da dor física para refletir sobre os limites de nossa vontade. Ivan Ilitch, o onipotente, deve dobrar-se a algo mesquinho e maligno que cresce dentro de seu corpo. Eis aí uma lição para os que, admitindo em tese que são mortais, não aceitam a inevitabilidade de sua morte pessoal. Uma boa reflexão para os neoarrogantes de nosso século.

E temos na praça uma premiada tradução, editada pela L&PM, assinada pela inesquecível e talentosa Vera Karam. É uma celebração da literatura.

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Texto publicado originalmente na coluna de Assis Brasil no jornal Zero Hora.