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Woody Allen no Rio de Janeiro?

Se depender do prefeito Eduardo Paes, sim. Ele disse, em entrevista ao jornal O Globo, que está disposto a pagar o que for preciso para convencer Woody Allen a filmar seu próximo longa no Rio de Janeiro. A declaração foi notícia também no jornal inglês The Guardian, um dos maiores do mundo.

woody

(montagem feita pelo site adorocinema.com)

O principal interesse, segundo Paes, é a movimentação turística nas cidades onde Woody Allen ambienta seus filmes. Atualmente, ele está filmando seu próximo longa no sul da França com Colin Firth e Emma Stone no elenco. O filme anterior, “Blue Jasmine”, que já estreou nos Estados Unidos, foi filmado em São Francisco e em Nova York. Além disso, Paes está interessado também em ter o nome da cidade maravilhosa no título do filme, como foi o caso dos com os recentes “Meia-noite em Paris” e “Para Roma, com amor”, que foram grandes sucessos de bilheteria.

“Eu quero muito que ele venha! Já fiz de tudo. Falei com a irmã dele, mandei bilhete via (o arquiteto Santiago) Calatrava, que é vizinho dele em Nova York, e pago o que for para que ele venha filmar aqui. (…) Eu pago 100% da produção”, disse o prefeito.

 

Trio de ouro

Chegaram mais três títulos da Série Ouro que reúne luxuosas edições com antologias e obras de grandes autores da literatura universal.  Jane Austen tem 768 páginas e traz os romances A abadia de Northanger, Razão e sentimento e Orgulho e preconceito. Franz Kafka, em suas 520 páginas, oferece os principais livros do escritor tcheco, entre eles A metamorfose e Cartas ao pai. Para completar, Memória do fogo oferece a monumental trilogia em que Eduardo Galeano conta a história da América Latina em 856 páginas.

Entre os próximos lançamentos da Série Ouro estão obras reunidas de Nietzsche, Oscar Wilde e Fernando Pessoa, além da Odisseia em edição bilíngue (português/grego) com tradução de Donaldo Schüler e mais um volume com histórias de Sherlock Holmes.

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Alberto Marsicano – 31 de janeiro de 1952, 18 de agosto de 2013

Por Claudio Willer*

Mais um que se foi. Soube há pouco, mas estava no hospital desde segunda-feira, desmaiado, com crise de asma.

Verbete dele na Wikipedia, já atualizado pela morte, dá bibliografia e discografia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Marsicano

Levar uma vida livre – ‘experimental’, teria dito Roberto Piva – não o impediu de produzir copiosamente. Rimbaud por ele mesmo, em parceria com Daniel Fresnot, livro certo na editora errada. Preciso e informativo. Que seja reeditado. Usei em palestras e ensaios.

Traduções preciosas – sobre William Blake, recorria preferencialmente a seu O Casamento do Céu e do Inferno & outros escritos, L&PM Pocket. Os Keats (Iluminuras), Wordsworth e Shelley (Ateliê), em parceria com John Milton, dificílimas, precisas. O que fez sobre Bashô e haicais, luminoso. Reli recentemente, complementando traduzir os haicais de Kerouac.

Crônicas marsicanas (L&PM) mostra a verve como narrador. Combinou – fazia isso ao vivo – mirabolantes histórias reais, e invenções, frutos de sua imaginação fervilhante. Por exemplo, no episódio de São Luiz do Paraitinga, do qual participo, fundiu duas histórias: aconteceu tudo aquilo e mais, completado por um belíssimo fim de tarde com ele tocando cítara no alto de um morro; mas a leitura de Piva, também real, foi em outra ocasião, no SESC-Interlagos, com ele também tocando. Livro ainda tem belas passagens de prosa poética e reflexão filosófica.

Além de escritor, Alberto Marsicano era músico e introduziu a cítara indiana no Brasil

Além de escritor, Alberto Marsicano era músico e introduziu a cítara indiana no Brasil

Místico desregrado, adepto n’yngma, a loucura sagrada tibetana; e do candomblé / umbanda – espírito sincrético. Às vezes o via na Avenida Paulista, fones de ouvido, olhos fechados, imerso em êxtase, inteiramente alheio ao que se passava ao redor – feliz.

Generoso. Comparecia, prestigiava amigos. Tocar cítara no Viva Piva, a foto circula na internet, foi uma das inumeráveis ocasiões. Quando fiz Artaud para a L&PM, presenteou-me com a edição norte-americana preparada por Susan Sontag, ajudou-me enormemente. Enquanto escrevia Um obscuro encanto, deu-me o livro sobre alquimia em Rimbaud de Daniel Guerdon; e me passou os arquivos em word da nova edição de Blake, ainda no prelo. Sou-lhe devedor.

Trechos de Crônicas marsicanas que Elizabeth Lorenzotti postou em minha pg de Facebook:

cronicas_marsicanas“Num transatlântico espanhol, sob o olhar pasmo dos passageiros, arranquei as folhas de Paranoia (obra prima de Piva), coloquei cada uma delas numa garrafa (que arrumei na cozinha) e arrojei-as ao alto mar, proferindo a conjuração poética: ‘O pensamento profético de Piva singrará os Sete Mares’.”

“Estava numa gélida madrugada esperando o primeiro metro perto do Tamisa em Londres. Numa cena vitoriana, um vulto emerge entre o fog cambaleante me entrega um livro e esvai-se na névoa. Eram os ‘Selected Poems’ de Blake que posteriormente verteria ao português”

 

 

 

* Claudio Willer é poeta, ensaísta e tradutor. O texto acima foi publicado originalmente em seu Blog no dia 18 de agosto de 2013.

Patti Smith e Philip Glass homenageiam Allen Ginsberg no Edinburgh Festival

Allen Ginsberg se foi em 1997, mas sua poesia pulsante continua viva pelo mundo. Sua obra maior, o Uivo, é fonte de inspiração para o trabalho de grandes artistas da atualidade como Patti Smith e Philip Glass, que prestaram uma linda homenagem ao amigo durante o Edinburgh Festival, na Escócia. O show “The Poet Speaks”, apresentado nesta quarta, dia 14 de agosto, trouxe a poesia de Ginsberg na voz de Patti Smith com Philip Glass ao piano. Certamente, um momento inesquecível!

Patti Smith Philip Glass in Edinburgh

A história de Patti com Ginsberg tem muito a ver com o retorno da cantora aos palcos após a morte de seu marido em 1994. Ela conta que foi ele quem a estimulou a retornar. “Eu tinha deixado de me apresentar porque me apaixonei, casei e decidi viver de forma mais simples para criar nossos filhos. Quando meu marido morreu, em dezembro de 1994, eu fiquei arrasada e eu não tinha ideia de voltar a me apresentar, até que, no fim de janeiro, eu recebi uma ligação de Allen Ginsberg”, contou. Na ocasião, ele a convidava para participar de um evento beneficente. “Ele disse, basicamente, que eu deveria transformar o meu pranto em dança – deixe seu amado ir e siga a sua vida. E foi assim que eu retornei para o mundo das apresentações: através de Allen, e através da palavra falada.”

patti_ginsberg

O show no Edinburgh Festival terminou com a canção People have the power, de Patti Smith, e suas palavras finais foram: “Não se esqueçam de usar a sua voz”, dividindo com a multidão de fãs o privilégio de ter convivido com Allen Ginsberg.

Bukowski e os cavalos

Bukowski nasceu em 16 de agosto de 1920. Na foto, ele com seus pais

Bukowski nasceu em 16 de agosto de 1920. Na foto, ele com seus pais

Gelo para as águias

Sigo lembrando dos cavalos
sob o luar
sigo lembrando de

alimentar os cavalos
açúcar
pedras oblongas de açúcar
mais parecendo gelo,
e suas cabeças são como cabeças
de águias
cabeças calvas que
poderiam morder e

não mordem.

Os cavalos são mais reais que
meu pai
mais reais que Deus
e poderiam ter pisado nos meus
pés mas não pisaram
poderiam ter feito coisas horríveis
mas não fizeram.

Eu tinha quase 5 anos
mas ainda não consegui esquecer;
ó meu deus eles eram fortes e bons
as línguas vermelhas molhadas
projetadas para fora de suas almas.

Poema publicado no livro Textos autobiográficos

Balzac e o imperador

Por Voltaire Schilling*

Nas suas contumazes escapadas dos credores, Honoré de Balzac, um eterno endividado perseguido por letras vencidas, conseguiu alugar, em 1828, uma pequena e modesta vila na saída de Paris. Recorreu a um nome falso para assinar o contrato. Era um ponto estratégico situado entre o observatório e um convento, o que permitiria a ele, em caso de extrema necessidade, saltar o muro dos fundos e ganhar o campo até desaparecer. Nessa nova moradia, uma das tantas em que ele viveu, condenado àquela vida de cigano fujão, colocou sobre a caixa que guardava os seus arquivos um busto de Bonaparte.

Prometera a si mesmo, naquela ocasião, inspirando-se na impressionante aventura ensejada pelo general corso, “reconquistar a Europa com a pena de águia ou de corvo”. O que Napoleão fizera com seu exército, sebmetendo o continente inteiro à sua vontade, ele se predispôs a fazer com seus livros.

(…)

Seguramente foi o exemplo de Napoleão, um sujeito que saíra do nada, nascido do mundo, que serviu-lhe de farol e modelo. Aquela soma de audácia e vontade inquebrantável que imanara da presença do general fez com que Balzac aspirando à mesma fama, se tornasse um escritor-fábrica voltado exclusivamente para a produção de livros. Trabalhador incansável, movido a doses cavalares de café fortíssimo (combustível que o matou do coração aos 51 anos) que ele mesmo gostava de preparar, enfrentava jornadas dignas de um condenado às galés.

Do mesmo modo como o jovem tenente Bonaparte, ainda nos seus tempos de anonimato, sonhava com as pirâmides do Egito ou em reproduzir as façanhas de Alexandre o Grande ou de César, a imaginação de Balzac, que deu seus primeiros passos escrevendo literatura do tipo “B”, o empurrou para vôos cada vez mais elevados.

(…)

Uma alma imaginativa feérica e borbulhante como a de Balzac não poderia jamais deixar de inclinar sua simpatia pela figura do imperador, de deixar-se dominar por aquela força da natureza que parecia levar tudo adiante, submetendo os homens e o destino à sua vontade férrea.

(…)

Portanto, nada de se estranhar que Balzac, leitor infatigável, tenha começado a coletar desde 1830 todas as frases atribuídas a Napoleão que conseguiu encontrar nos jornais, nas revistas ou nos livros de memórias dedicadas ao imperador falecido.

(…)

* Voltaire Schilling é historiador e professor e os textos acima são trechos de “Balzac e o imperador”, introdução escrita para o livro “Napoleão, como fazer a guerra – Máximas e pensamentos de Napoleão Bonaparte recolhidos por Honoré de Balzac“.

balzacenapoleao

Passe Livre

Blog da Folha – Por Elekistão (Cassiano Elek Machado) – 14/08/13

Ninguém descreveu melhor um engarrafamento do que Julio Cortázar. No primeiro conto de “Todos los Fuegos el Fuego” (que título, não, senhoras e senhores?), o escritor franco-argentino descreve um congestionamento que dura meses, numa estrada que leva Fontainebleau a Paris. A boa nova é que o mais bonito trânsito da literatura mundial está de volta, em nova edição, a este congestionado país tropical. “A Autoestrada do Sul & Outras Histórias” (org. Sérgio Karam, tradução Heloisa Jahn, 21 tostões) é o nome de uma coletânea de contos que a editora gaúcha L&PM publica estes dias, em formato de bolso — cabe em qualquer porta-luva).

Engarrafamento com 13 mil carros de brinquedo em Madrid

Engarrafamento com 13 mil carros de brinquedo em Madrid

Escrita em 1964, “Autopista del Sur” é uma descrição minuciosa de um gigantesco  nó de carros, enlaçados sob o sol de agosto (e eu cito: “…O sol, que se punha do lado esquerdo da rodovia, derramava sobre cada automóvel uma última avalanche da geleia alaranjada que fazia ferver os metais e ofuscava a vista, sem que jamais uma copa de árvore desaparecesse completamente atrás de nós, sem que a outra sombra entrevista à distância se aproximasse a ponto de mostrar sem a menor dúvida que a massa de automóveis estava se movendo nem que fosse um pouquinho..”).

Os personagens do conto não têm nomes: cada um é tratado de acordo com o carro onde está empacado. Há o engenheiro do Peugeot 404, o homem pálido e solitário do Caravelle, os recém-casados do Volkswagen. Nas primeiras horas, cinco horas, eles avançam uns 50 metros (segundo os cálculos do engenheiro do Peugeot). Mas não muito mais nas horas e dias seguintes. E vem a fome, e a sede, o frio, o sono, as necessidades fisiológicas.

Pouco a pouco, a “sociedade” do engarrafamento vai se organizando. Um consegue água, outro, cobertores, uma das freiras à bordo do 2HP descola um sanduíche de presunto, enquanto o Ford Mercury e o Porsche traficam mantimentos. Motoristas se conhecem, se apaixonam, alguns até morrem.  E eis que, de golpe, do mesmo modo fantástico como havia se formado, a enorme maçaroca de carros começa a se mover.  E então…

“…todos corriam a 80 km/h na direção das luzes que cresciam pouco a pouco, já sem que se soubesse direito para que tanta pressa, para que tanta correria na noite entre carros desconhecidos onde ninguém sabia nada dos outros”

O jovem Cortázar, preparando-se para encarar um engarrafamento

O jovem Cortázar, preparando-se para encarar um engarrafamento

Numa entrevista dada muitos anos depois sobre o conto, Cortázar (1914-1984) contou a origem (e sua leitura crítica) da história.

“Estava na Itália e li um ensaio que afirmava que os trânsitos não tinham nenhuma importância: me pareceu superficial e frívolo dizer isso. Os engarrafamento são um dos signos mais negativos desta triste sociedade em que vivemos, que provam a contradição com a vida humana, a busca pela desgraça, a infelicidade, a exasperação através da grande maravilha tecnológica que é o automóvel. Ele deveria nos dar a liberdade e está nos trazendo as piores consequências. Nunca havia estado num congestionamento quando escrevi o conto. É curioso que alguns meses depois de ter escrito a história passei por isso. Estive durante cinco horas numa estrada de uma província francesa num engarrafamento. Descobri com surpresa e com uma sensação de fatalidade que o começo do conto se repete quando você está num verdadeiro congestionamento. Você desce do carro, pede um cigarro para o motorista ao lado, blasfema contra a prefeitura, os automóveis e tudo o mais. E logo há um momento em que começa muito calor e começam os problemas físicos, e vem uma senhora e pede água, porque uma criança está chorando. Foi uma experiência impressionante me ver dentro de meu próprio conto..” 

Soa bastante familiar, não?

P.s. Em agosto de 2010, o conto de Cortázar se materializou numa estrada chinesa, a via que liga Pequim ao Tibete. Um engarrafamento ao longo de 100 quilômetros da rota demorou 11 dias para ser desbaratado. Leia aqui bom texto do escritor espanhol Vicente Verdú sobre o episódio. 

P.s.2  Além de ter exibido sua destreza no congestionamento, Cortázar teve ótima performance em alta velocidade. Em parceria com Carol Dunlop, com quem era casado, ele escreveu no início dos anos 1980 o maravilhoso “Os Autonautas da Cosmopista”, relatando uma viagem pela estrada, de Paris a Marselha. Está esgotado há um par de décadas no Brasil. 

P.s. 3 O livro “A Autoestrada do Sul & Outras Histórias” inclui, pasmem, outras histórias. Entre elas, está a joia “O Perseguidor”, inspirada no saxofonista Charlie Parker, um dos favoritos de Cortázar, ao som de quem estas anotações foram escritas.

Novo filme de Simon’s Cat já tem quase 3 milhões de visualizações

Não resta a menor dúvida: Simon’s Cat é mesmo o mais famoso gato da internet. Seu novo vídeo, “Suitcase”, foi publicado no Youtube no dia 2 de agosto de 2013 e já alcança quase 3 milhões de visualizações.

Simon’s Cat também é publicado em livros pela L&PM Editores. Clique aqui e conheça os títulos.

Os 700 anos de Boccaccio na Unicamp

No ano em que o mundo literário celebra os 700 anos do nascimento do autor de Decameron, a UNICAMP promove um evento internacional sobre Giovanni Boccaccio nos dias 14 e 15 de agosto. Entre os participantes estão Ivone Benedetti, a tradutora da edição do Decameron que a L&PM vai lançar em setembro, e o autor do prefácio, Carlos Berriel, que também faz parte do Comitê de Organização. A programação completa do evento está no site www.giovanniboccaccio700.blogspot.com.br

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Giovanni Boccaccio pelo gravurista italiano Raffaello Sanzio Morghen

A rejeitada Jane Austen

(…) Entre 1795 e 1798, Jane Austen começou a redigir seus primeiros romances: Elinor and Marianne (que seria depois Razão e sentimento), First Impressions (Orgulho e preconceito) e Susan (A abadia de Northanger). Os originais circulavam apenas no âmbito familiar, mas o reverendo Austen, com sua acuidade crítica, achou que a filha era de fato uma escritora digna de ser publicada. Em novembro de 1797, escreveu a seguinte carta ao editor londrino George Cadell:

Prezado Senhor,
Tenho em minha posse o manuscrito de um romance, compreendendo três volumes com a extensão aproximada da Eveline, da srta. Burnay. Por estar perfeitamente cônscio do significado que teria uma obra desse gênero se lançada por um editor de respeito é que me dirijo ao senhor. Ficaria, portanto, muito agradecido se o senhor me informasse, caso esteja interessado nela, quais seriam os custos de publicação a expensas do autor, e qual seria o adiantamento que o senhor estaria propenso a pagar por sua aquisição, na hipótese de vir a ser ela aceita. Caso o senhor demonstre algum interesse, estarei pronto a lhe enviar a obra. De seu humilde servidor,
George Austen.

O Sr. Cadell, ao rejeitar a oferta, não imaginava que seu nome ficaria perpetuado na história literária como o editor que recusou Orgulho e preconceito!

(Trecho de “A abadia de Northanger ou a rejeitada Susan”, texto de apresentação de Ivo Barroso que também está em Jane Austen – Obras escolhidas, L&PM Série Ouro)

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