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Enquanto isso, no Salão do Livro de Paris…

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Começou nesta sexta-feira, 16 de março, e vai até segunda, 19 de março, o Salon du Livre de Paris. Ivan Pinheiro Machado, nosso editor, está por lá e mandou notícias. A edição de 2018 tem a Rússia como país convidado, mas na noite de quinta-feira, ao visitar o Salão, o presidente da França, Emmanuel Macron, acompanhado de sua esposa Brigitte, passou algumas horas visitando os estandes, mas evitou o pavilhão da Rússia, país convidado de honra do evento. “Eu decidi não ir ao pavilhão oficial da Rússia (…) em solidariedade aos nossos amigos britânicos”, disse Macron referindo-se ao caso do espião russo envenenado na Inglaterra.

O presidente da França, Emmanuel Macron, circulou pelo Salão do Livro de Paris, mas evitou o pavilhão da Rússia

O presidente da França, Emmanuel Macron, circulou pelo Salão do Livro de Paris, mas evitou o pavilhão da Rússia

O Salão do Livro de Paris vai destacar a renovação das letras na Rússia e contará com a presença de 38 autores russos. O número de jovens, aliás, chamou a atenção no primeiro dia de evento, circulando aos milhares e com entusiasmo.

SALAO DO LIVRO PARIS 2018

Jovens foram presença marcante no primeiro dia de Salão

Autor de hoje: Leon Nikoláievitch Tolstói

Iásnaia Poliana, Rússia, 1828 – † Astápovo, Rússia, 1910

Filho de latifundiários da alta aristocracia russa, Tolstoi estudou Direito e Línguas Orientais na Universidade de Kazan. Mais tarde, entrou para o exército e tomou parte na Guerra da Crimeia. Sua obra literária inclui livros de memórias e romances. A experiência nas guerras resultou-lhe no conhecimento das aldeias cossacas, das expedições contra as tribos montanhesas e dos costumes do interior da Rússia. Após a guerra, viajou à Suíça, à França e à Alemanha e, ao retornar, fundou uma escola-modelo para camponeses. Considerado um dos romances mais importantes da história da literatura universal, Guerra e paz constitui um painel épico da sociedade russa entre 1805 e 1815. Dele emana uma visão de mundo otimista, que atravessa os horrores da guerra e os erros da humanidade. A obra de Tolstói também registra crises de consciência e a denúncia da mentira social e da ilusão do amor.

OBRAS PRINCIPAIS: Políkushka, 1863; Guerra e paz, 1863-1869; Anna Kariênina, 1877; Padre Sérgio, 1884; A morte de Ivan Ilitch, 1886; Sonata a Kreutzer, 1889; Ressurreição, 1899

LEON NIKOLÁIEVITCH TOLSTÓI por João Armando Nicotti

O nome Leon Tolstói sugere considerações importantes em relação a outros nomes da literatura russa: sua obra surgiu,nas palavras de um crítico, a partir das denominadas escolas puchikiniana e gogoliana. Foi contemporâneo de Turguêniev, Dostoiévski, Gonchárov e Saltikóv-Schedrín; apreciou O herói de nosso tempo, de Liérmontov; ao reler A filha do capitão, de Púchkin, enfatizou que a psicologia dos personagens ficara em segundo plano e, mais tarde, estabeleceu estreitas relações com Korolénko, Tchekhov e Górki, a geração posterior. Suas primeiras obras (1852-1857) abrangem as épocas de sua vida: Infância, Adolescência e Juventude. Em seguida, sua participação em guerras (Cáucaso e Criméia) fica registrada também, na literatura. A partir de então, Tolstói, longe da carreira militar e tendo como preceptor Iván Turguêniev, investe na literatura, na educação, e concentra-se, também, nos problemas existenciais, sociais e filosófico-religiosos do homem russo. Idealiza uma sociedade russa (similar à apresentada em Os cossacos, 1864) em que todos desfrutem do mesmo plano de igualdade; constrói um vasto painel da vida russa a partir da invasão napoleônica em Guerra e paz (1863-1869) e discute a infidelidade conjugal num mundo hipócrita da alta sociedade russa e a morte em Anna Kariênina (1877), tema este reincidente e específico em títulos como A morte de Ivan Ilitch e Sonata a Kreutzer. O leitor de Tolstói, em especial o de Guerra e paz  e Anna Kariênina, é absorvido pela complexa rede de interesses e jogos psicológicos que confirmarão o destino de cada protagonista. O liame entre autor e leitor se fecha na tentativa deste de se compreender um pouco mais no cenário da existência humana. Tolstói foi um pensador da sociedade russa: escreveu sobre a repressão czarista (Não posso calar!, 1908), discutiu os ditames da Igreja (A confissão, 1882, e Padre Sérgio, 1911), sugeriu um modelo pedagógico novo para a educação (Abecedário, 1872) e buscou critérios para uma definição de arte (O que é a arte?, 1898). Expulso da Igreja Ortodoxa russa, em 1901, Tolstói pregava um cristianismo novo, desligado do dogmatismo eclesiástico a partir da transformação interior do indivíduo. Em Ressurreição, a espiritualização renovada em seus protagonistas deveria ser, segundo o desejo do autor, extensiva a todo o povo da Rússia. Com a chegada do século XX, Tolstói almejava uma nova vida para os injustiçados sociais, na perspectiva de reconciliação do bem, da moral reavaliada e da bondade acima de tudo. Sua obra como um todo enfatizou a vida e suas diferentes formas de amor, assim como apresentou, na essência de personagens como Anna Kariênina, Vronski, Liêvin, Ivan Ilitch, Guerássim, Políkushka, André Bolkonski, Natacha Rostov e Evgueni Irténiev, as manifestações problematizadas frente à vida e à morte, eternizando esse dualismo que compõe o grande mistério da condição humana.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. A partir de hoje, todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Autor de hoje: Anton Tchékhov

Tanganrov, Rússia, 1860 – † Badenweiler, Alemanha, 1904

Descendente de servos da gleba e filho de um pequeno comerciante, formou-se médico pela Universidade de Moscou. Trabalhou duramente para pagar seus estudos e sustentar a família, exercendo a medicina numa clínica rural. Depois de alguns anos, dedicou-se apenas à literatura, publicando contos e revistas. A contenção necessária do conto, numa época em que o governo russo exercia rigorosa censura sobre a intelectualidade, fez dele o criador de textos intensos e concisos. Mestre do gênero, sua visão de mundo é ética e democrática, voltada para o combate das injustiças e para a sátira contra a sociedade. Apontado pela crítica como o criador do conto sem enredo ou de atmosfefra, sua obra veicula simpatia e compaixão entre os homens, sendo considerado o intérprete dos intelectuais, das mulheres e das crianças. Dramaturgo, romancisa e contista, seus textos influenciaram toda a literatura ocidental.

Obas principais: A estepe, 1888; Enfermaria  n˚ 6, 1892; Tio Vânia, 1898; A dama do cachorrinho, 1898

ANTON TCHÉKHOV por Juremir Machado da Silva

Neto de servo, filho de pequeno comerciante, o adolescente Anton Tchékhov foi arrancado de sua cidade natal, Tanganrog, situada à beira do mar de Azov, pela falência do pai. Descobriu, então, as ruas de Moscou e a “escola da vida”. Graças a esse aprendizado diário do cotidiano, complementado pelo curso de medicina, ele se tornaria um extraordinário observador e narrador da vida comum. Não lhe interessavam os grandes heróis nem os sábios exemplares, mas sim os homens médios, a gente de todo dia, a existência menor que constituiu o social como um todo. De certo modo, Tchékhov, mestre da pecisão e da narrativa concisa, sempre quis entender as engrenagens do vivido a partir de sua essência: o banal.

Como se fosse um cientista examinando fenômenos bem delimitados, tratou de individualizar os casos abordados pelo seu olhar de escritor e de mostrar o existente com base em dados e elementos concretos em lugar de refletir sobre abstrações ou generalidades. Essa maneira de ver o mundo e de construir os seus personagens aparece nas suas novelas ou no seu teatro. Habituado a escrever histórias muito curtas para jornais e revistas, ele sempre soube ir direto ao ponto, mesclando detalhes com uma percepção aguda e, através do humor, revelando o absurdo das situações descritas. Escreveu mais de seiscentos textos em quarenta anos de vida.

Nunca mudou seu método. Quem descobre Tio Vânia, Três irmãs (1901), O jardim das cerejeiras (1904), ou qualquer uma das suas histórias célebres ou menos conhecidas, defronta-se com uma mistura de cômico, patético e trágico. Em resumo, acompanha a transfiguação do banal pelos incidentes do cotidiano. Em “Angústia”, história muito breve, que pode ser lida na edição basileira de O homem no estojo (1889), toda a arte de Tchekhov emerge: num anoitecer gelado, sob a neve, o cocheiro Iona tenta falar com alguém sobre a morte do filho. Ninguém quer ouvi-lo. Ao final de uma jornada de trabalho infrutífera, no mais fundo da sua solidão, ele encontra, enfim, quem lhe dê ouvidos: sua égua. Uma última frase econômica resume um mundo em desespero: “Iona se deixa arrebatar e conta-lhe tudo.”

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. A partir de hoje, todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.