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Tchékhov no teatro com o Grupo Galpão

Dias 20, 21 e 22 de setembro, o grupo mineiro Galpão apresenta, dentro da programação do Porto Alegre em Cena deste ano, a peça Eclipse, montada a partir da leitura de quase 200 contos do escritor russo Anton Tchékhov. O espetáculo faz parte das comemorações dos 30 anos da companhia teatral. Em Eclipse, o grupo mergulhou na obra de Tchékhov para criar uma peça em que cinco pessoas, presas num mesmo espaço, aguardam o final de um eclipse solar. Enquanto isso, elas discorrem sobre a existência e a condição humana, perpassando os contos e a filosofia do escritor. Eclipse faz parte do projeto “Viagem a Tchékhov”, que deu origem também à montagem “Tio Vânia (aos que vierem depois de nós)” e marca o retorno do Galpão ao Porto Alegre em Cena. A peça será apresentada no Theatro São Pedro, sempre às 21h.

No vídeo abaixo, um dos integrantes do grupo fala sobre a montagem e a direção de Jurij Alschitz em entrevista concedida em abril de 2012, quando Eclipse foi apresentada no festival de teatro de Curitiba.

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Autor de hoje: Anton Tchékhov

Tanganrov, Rússia, 1860 – † Badenweiler, Alemanha, 1904

Descendente de servos da gleba e filho de um pequeno comerciante, formou-se médico pela Universidade de Moscou. Trabalhou duramente para pagar seus estudos e sustentar a família, exercendo a medicina numa clínica rural. Depois de alguns anos, dedicou-se apenas à literatura, publicando contos e revistas. A contenção necessária do conto, numa época em que o governo russo exercia rigorosa censura sobre a intelectualidade, fez dele o criador de textos intensos e concisos. Mestre do gênero, sua visão de mundo é ética e democrática, voltada para o combate das injustiças e para a sátira contra a sociedade. Apontado pela crítica como o criador do conto sem enredo ou de atmosfefra, sua obra veicula simpatia e compaixão entre os homens, sendo considerado o intérprete dos intelectuais, das mulheres e das crianças. Dramaturgo, romancisa e contista, seus textos influenciaram toda a literatura ocidental.

Obas principais: A estepe, 1888; Enfermaria  n˚ 6, 1892; Tio Vânia, 1898; A dama do cachorrinho, 1898

ANTON TCHÉKHOV por Juremir Machado da Silva

Neto de servo, filho de pequeno comerciante, o adolescente Anton Tchékhov foi arrancado de sua cidade natal, Tanganrog, situada à beira do mar de Azov, pela falência do pai. Descobriu, então, as ruas de Moscou e a “escola da vida”. Graças a esse aprendizado diário do cotidiano, complementado pelo curso de medicina, ele se tornaria um extraordinário observador e narrador da vida comum. Não lhe interessavam os grandes heróis nem os sábios exemplares, mas sim os homens médios, a gente de todo dia, a existência menor que constituiu o social como um todo. De certo modo, Tchékhov, mestre da pecisão e da narrativa concisa, sempre quis entender as engrenagens do vivido a partir de sua essência: o banal.

Como se fosse um cientista examinando fenômenos bem delimitados, tratou de individualizar os casos abordados pelo seu olhar de escritor e de mostrar o existente com base em dados e elementos concretos em lugar de refletir sobre abstrações ou generalidades. Essa maneira de ver o mundo e de construir os seus personagens aparece nas suas novelas ou no seu teatro. Habituado a escrever histórias muito curtas para jornais e revistas, ele sempre soube ir direto ao ponto, mesclando detalhes com uma percepção aguda e, através do humor, revelando o absurdo das situações descritas. Escreveu mais de seiscentos textos em quarenta anos de vida.

Nunca mudou seu método. Quem descobre Tio Vânia, Três irmãs (1901), O jardim das cerejeiras (1904), ou qualquer uma das suas histórias célebres ou menos conhecidas, defronta-se com uma mistura de cômico, patético e trágico. Em resumo, acompanha a transfiguação do banal pelos incidentes do cotidiano. Em “Angústia”, história muito breve, que pode ser lida na edição basileira de O homem no estojo (1889), toda a arte de Tchekhov emerge: num anoitecer gelado, sob a neve, o cocheiro Iona tenta falar com alguém sobre a morte do filho. Ninguém quer ouvi-lo. Ao final de uma jornada de trabalho infrutífera, no mais fundo da sua solidão, ele encontra, enfim, quem lhe dê ouvidos: sua égua. Uma última frase econômica resume um mundo em desespero: “Iona se deixa arrebatar e conta-lhe tudo.”

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. A partir de hoje, todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Grupo Galpão prepara montagem de “Tio Vânia” para 2011

O grupo mineiro Galpão está orbitando pela Rússia e, em 2011, anunciou que chegará em Tchékhov. Para o primeiro semestre do ano, já está marcada a estreia de “Tio Vânia”, sob o comando da diretora convidada Yara Novaes. Além dessa peça, o premiado grupo, que em 2012 completará 30 anos, prepara para dezembro uma montagem com base nos contos do escritor e que terá direção do também russo Jurij Alschitz. Enquanto as estreias não chegam, vá lendo Tchékhov nas suas férias. Veja aqui mais sugestões de títulos.

Cartaz da peça "Romeu e Julieta", encenada pelo Grupo Galpão em Londres