Arquivo mensais:novembro 2013

Flávio Tavares e seus 13 dias com Che Guevara

Punta del Este, 1961. Não se surpreendam nem estranhme pelo lugar onde convivi com Ernesto Che Guevara durante treze dias. Sim, ali mesmo, nesse balneário grã-fino transformado em sede da Conferênci Interamericana Econômica e Social da OEA.

Eu tinha 27 anos e, como enviado da rede de jornais Última Hora, de Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, cobria a reunião convocada pelos Estados Unidos para concretizar aAliança para oProgresso,um passo a mais para isolar Cuba do resto do continente.

Ele, aos 33 anos, era ministro da Indústria e presidente do Banco Nacional de Cuba e chefiava a delegação cubana à reunião. Acompanhei-o durante as sessões e nos intervalos da conferência. Duas vezes jantei ao seu lado no hotel em que se hospedava.

Perguntei, ouvi e observei.

É nesse período breve e intenso, de 5 a 18 de agosto de 1961, que retrato aqui nas fotografias que dele fiz e na observação de tudo o que ele fez. quatro meses antes, havia fracassado a invasão de Cuba, patrocinada pelos norte-americanos, e em Punta del Este, o mito Che Guevara emergiu como definitivo.

(…)

Estendo minha máquina a Tarso de Castro e ele a dispara duas vezes, da rua, mas as fotos saem fora de foco. No dia seguinte, porém, o jornal El Popular, de Montevidéu, estampa na primeira página uma foto do Che no palanque, eu ao seu lado, similar a uma das que saíram tremidas.

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Che e Flávio Tavares nas fotos tremidas feitas pelo jornalista Tarso de Castro

Flávio ao lado de Che na foto que estampou a capa do jornal El País

Flávio ao lado de Che na foto que estampou a capa do jornal El País

Os textos acima fazem parte de Meus 13 dias com Che Guevara, mais novo livro de Flávio Tavares. Flávio autografa no dia 10 de novembro, domingo, na Feira do Livro de Porto Alegre. 

 

“Palavra vai, palavra vem” no blog Garatujas Fantásticas

capa_Palavra vai_palavra vem.inddGaratujas Fantásticas” é o nome de um blog muito lindo e fofo que compartilha conteúdo de qualidade focado no público infantojuvenil. Nesta sexta-feira, 8 de novembro, o livro infantil Palavra vai, palavra vem, de Paula Taitelbaum, lançado em setembro pela L&PM, ganhou um espaço de destaque por lá. O texto é de Tatiana Arcolini, uma das idealizadoras do blog, e há uma entrevista com a autora por lá.

Sabe quando um livro chega até as nossas mãos, a gente abre e, de cara, se encanta? Foi assim que aconteceu comigo e essa preciosidade que é Palavra Vai, Palavra Vem, da Paula Taitelbaum. Linda do começo ao fim, essa obra-prima me ganhou não apenas pela poesia das palavras que viajam soltas pelo ar e se transformam em outras palavras, novas, recontadas, recortadas, numa brincadeira sem fim. As páginas são uma delicadeza à parte formadas por recortes e colagens de papéis que formam ilustrações incríveis, coloridas, ricas e cheias de significados. Um primor!

E a história começa assim: da janela, a mãe chama sua filha Clara. É quando essa palavra começa uma longa e interessante viagem pelo céu. Enquanto perde e ganha outras letras, Clara vai se transformando em outras palavras: rara, arara, ar, mar, amar até que, finalmente, vira novamente Clara e chega ao seu destino final.

Palavra Vai, Palavra Vem, editado pela L&PM, é daqueles livros repletos de poética e rimas que fazem nossa imaginação voar junto com cada palavra, como se elas tivessem vida própria. (Tati Arcolini)

Clique aqui para viajar até o “Garatujas Fantásticas” e ver a matéria completa.

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 Paula Taitelbaum autografa seu livro no dia 10 de novembro, domingo, às 19h, na área infantil da Feira do Livro de Porto Alegre.

Oh Happy Day!

8 de novembro, diz a Wikipedia, é o “Dia Feliz” em vários países. Não conseguimos descobrir o exato motivo dessa data tão alegre, mas o que isso importa? Se hoje é o Dia Feliz, vamos festejar!

Em 1932, a madre superiora da Escola Americana de irmãs de Notre Dame decidiu que todas as noviças deveriam escrever um ensaio autobiográfico descrevendo aspectos da sua vida. Recentemente esses textos foram revisados por psicólogos, que os classificaram de acordo com o número de sentimentos positivos que eles revelavam. Então isso foi comparado com a longevidade das irmãs. Surpreendentemente, a quantidade de sentimentos e emoções positivas de cada texto se correlacionou com a longevidade da autora. Mais sentimentos positivos, maior longevidade. Estudos semelhantes foram realizados na última década e os resultados foram semelhantes. Uma visão positiva e mais feliz da vida indica a possibilidade de viver por mais tempo. Os estudos de mapeamento cerebral para a satisfação e a felicidade também correlacionam esses fatores com longevidade.

(Trecho de Não sou feliz, livro que o Dr. Fernando Lucchese autografa hoje, 8 de novembro, às 16h na Feira do Livro de Porto Alegre)

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Autores e citações

O artista americano Ryan Sheffield fez uma série de posters com retratos em tamanho 30 x 40cm de grandes escritores e suas respectivas citações mais famosas.  Os cartazes estão à venda num e-commerce colaborativo administrado pelo próprio artista. Qual deles é o seu preferido?

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Julio Cortázar na lista negra dos militares

Na semana passada, o Ministério da Defesa da Argentina divulgou as chamadas “listas negras” que trazem os nomes de personalidades consideradas perigosas pela ditadura. Entre eles está o do escritor Julio Cortázar.

Os papéis são parte de 1.500 documentos encontrados no subsolo do Edifício Condor, sede da Força Aérea do país.

Na lista, além de escritores, estão jornalistas, intelectuais, artistas, professores, advogados e locutores. Outros que aparecem entre os possíveis inimigos do governo militar da época são o da cantora Mercedes Sosa e da atriz Norma Aleandro.  

Os documentos encontrados incluem ainda 280 atas secretas da junta militar, informações sobre a relação entre o Chile e o Reino Unido e documentos comprovando que os militares ajudaram o jornal “Clarín” a comprar parte da Papel Prensa, maior empresa de papel-jornal do país. A ditadura argentina foi de 1976 a 1983.

Julio Cortázar faleceu em 1984, um ano depois do fim da ditadura na Argentina

Julio Cortázar faleceu em 1984, um ano depois do fim da ditadura na Argentina

 De Julio Cortázar, a L&PM publica A autoestrada do sul e outras histórias.

No dia 12 de novembro às 17h na Feira do Livro de Porto Alegre acontecerá o bate-papo Cortázar: tradução e criação na literatura hispano-americana, com a participação do organizador do livro, Sergio Karam, e da tradutora Heloisa Jahn.

Uma incrível e imperdível Noite Beat em SP

O espírito de Jack Kerouac e Allen Ginsberg vai baixar nesta quinta-feira, 7 de novembro, no Teatro Cemitério de Automóveis em São Paulo. É lá que acontecerá uma noite dedicada aos beats com a participação de Eduardo Bueno e Claudio Willer.

“Enorme. Trepidante. Resultado do ímpeto visionário de Ivone Fs, Guilherme Ziggy e João Pinheiro. Quem assistir à programação sairá do teatro com sensações alucinógenas.” Assim Willer descreveu o evento em seu blog.

Exposições, pocket show, lançamentos de livros, leituras e um debate com especialistas em literatura beat fazem parte da programação que começa às 18h. Tudo com entrada franca.

Clique na imagem abaixo para ver a programação completa:

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Veja aqui os títulos beats publicados pela L&PM Editores.

Lou Reed por Patti Smith

No domingo de manhã, me levantei cedo. Tinha decidido na noite anterior ir para o mar, então coloquei um livro e uma garrafa de água dentro de um saco e peguei a estrada para Rockaway Beach. Parecia uma data significativa, mas não consegui conjurar nada específico. A praia estava vazia e, com a proximidade do aniversário do furacão Sandy, o mar calmo parecia encarnar a verdade contraditória da natureza. Fiquei lá por um tempo, acompanhando o caminho de um avião que voava baixo, quando então recebi uma mensagem de texto de minha filha, Jesse. Lou Reed estava morto. Vacilei e respirei fundo. Eu o tinha visto recentemente com sua esposa, Laurie, e senti que ele estava doente. Um cansaço sombreava seu brilho habitual. Quando Lou se despediu, seus olhos escuros pareciam conter uma tristeza infinita e benevolente.

Conheci Lou no Max’s Kansas City em 1970. O “The Velvet Underground” fazia duas apresentações por noite ali, ao longo de várias semanas naquele verão. O crítico e estudioso Donald Lyons estava impressionado com o fato de eu nunca tê-los visto, e ele me levou lá em cima para a segunda apresentação da primeira noite. Adoro dançar, e você podia dançar por horas com a música do “The Velvet Underground”. Uma onda dissonante de “doo-wop” que permite que você se mexa muito rápido ou muito lentamente. Foi a minha introdução tardia e reveladora a “Sister Ray”.

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Patti Smith e Lou Reed no início dos anos 70

Alguns anos depois, na mesma peça no andar de cima do Max’s, Lenny Kaye, Richard Sohl e eu apresentamos nossa própria “land of a thousand dances”. Lou costumava parar para ver o que estávamos fazendo. Um homem complicado, ele encorajava nossos esforços, mas depois mudava e me provocava como um garotinho maquiavélico. Eu tentava desviar dele, mas, felino, ele reaparecia de repente e me desarmava com alguma citação de Delmore Schwartz sobre amor ou coragem. Eu não entendia seu comportamento errático ou a intensidade dos seus humores, que variavam, assim como seus padrões de fala, de rápidos a lacônicos. Mas eu entendia sua devoção à poesia e a qualidade arrebatadora de suas performances.

Ele tinha olhos pretos, camiseta preta, pele branca. Ele era curioso, às vezes suspeito, um leitor voraz, e um explorador sonoro. Um obscuro pedal de guitarra era, para ele, um outro tipo de poema. Ele era a nossa ligação com o ar infame da Factory. Ele tinha feito Edie Sedgwick dançar. Andy Warhol sussurrou em seu ouvido. Lou trouxe a sensibilidade da arte e da literatura para sua música. Ele era o poeta novaiorquino da nossa geração, defendendo os desajustados como Whitman tinha defendido seus trabalhadores e Lorca seus perseguidos.

Como minha banda trabalhou suas canções, Lou nos concedeu suas bênçãos. Perto do final da década de setenta, eu estava me preparando para deixar Nova York rumo a Detroit, quando cruzei com ele no elevador no antigo Gramercy Park Hotel. Eu estava carregando um livro de poemas de Rupert Brooke. Ele pegou o livro da minha mão e nós olhamos juntos para a fotografia do poeta. Tão lindo, disse ele, tão triste. Foi um momento de completa paz.

Patti Smith e Lou Reed nos anos 2000

Patti Smith e Lou Reed nos anos 2000

Enquanto a notícia da morte de Lou se espalhava, uma sensação ondulante se instalava, então explodiu, enchendo a atmosfera com uma energia vibrante. Dezenas de mensagens chegaram até mim. Uma chamada de Sam Shepard, que dirigia um caminhão por Kentucky. Um fotógrafo japonês desconhecido me mandou uma mensagem direto de Tokyo: “Eu estou chorando”.

Como meu luto estava no mar, duas imagens me vieram à mente, marcas d’água num papel – céu colorido. O primeiro era o rosto de sua esposa, Laurie. Ela era o seu espelho; em seus olhos, você pode ver a sua bondade, a sinceridade e a empatia. O segundo foi o “great big clipper ship”, que ele desejava embarcar, da letra de sua obra-prima, “Heroin”. Eu imaginava que isso estava à sua espera sob a constelação formada pelas almas dos poetas, da qual ele tanto desejava participar. Antes de dormir, eu procurei o significado da data – 27 de outubro – e descobri que era o aniversário de Dylan Thomas e Sylvia Plath. Lou tinha escolhido “the perfect day” para zarpar – o dia dos poetas, “Sunday morning, the world behind him”.

O texto acima, escrito por Patti Smith, foi originalmente publicado na New Yorker.

Patti Smith e Lou Reed são personagens do livro Mate-me por favor – a história sem censura do punk.

Filme que estreia domingo no NatGeo baseou-se em “Os últimos dias de John F. Kennedy”

Com a aproximação do 50º aniversário do assassinato de John Fitzgerald Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963, estreia neste domingo, dia 10 às 21h15, no canal a cabo NatGeo (National Geographic), o filme “Quem matou Kennedy”, produzido por Ridley Scott e baseado no best-seller “Os últimos dias de John F. Kennedy”, de Bill O’Reilly e Martin Dugard, que acaba de ser lançado no Brasil pela L&PM Editores. 

O livro que deu origem ao filme que estreia no dia 10 de novembro no NatGeo

O livro que deu origem ao filme que estreia no dia 10 de novembro no NatGeo

Protagonizado por Rob Lowe (JFK) e Will Rothhaar (Lee Harvey Oswald), com Michelle Trachtenberg (Marina Oswald) e Ginnifer Goodwin (Jacqueline Kennedy), a narrativa reflete os altos e baixos de dois homens, dois relacionamentos que, eventualmente, se cruzam e provocam duas mortes impactantes que chocaram a nação. O premiado dramaturgo e roteirista Kelly Masterson foi quem adaptou o livro para a TV.

Ao mesmo tempo em que mostra Kennedy e Oswald como os pólos opostos que eram, refletindo o caminho de cada um naquele fatídico dia, a história contada em livro e filme revela os bastidores da lenda Kennedy para refletir o homem que ele era com flashes de momento íntimos, incluindo a devastadora perda de seu filho Patrick, seu notável relacionamento e colaboração com seu irmão Bobby Kennedy.

“JFK representava tanto não só para mim, mas para todos nós” disse Rob Lowe sobre o personagem que interpreta. “Ser capaz de participar de sua história como parte deste projeto incrível no 50º aniversário de sua morte foi uma lição de humildade emocionante, uma oportunidade única na vida”.

Rob Lowe é JFK no filme "Quem matou Kennedy"

Rob Lowe é JFK no filme “Quem matou Kennedy?”

Além do Brasil, o filme estreia neste mesmo dia e horário em toda a América Latina. Clique aqui e saiba mais no site do NatGeo.

 

Polícia alemã recupera Picasso, Matisse e Chagall roubados pelos nazistas

1.500 pinturas valiosas, incluindo telas de Picasso, Matisse, Chagall, Otto Diz, Emil Nolde, Franz Marc e outros modernistas, foram recuperadas pela polícia alemã. As obras, roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra, estavam no apartamento de Cornelius Gurlitt, 80 anos, herdeiro de um clã de galeristas. Segundo cálculos da revista alemã Focus, o valor estimado dos quadros é de cerca de € 1 bilhão.

Segundo a Focus, a família de Gurlitt possuía uma galeria na Alemanha que serviu de depósito para os quadros entre os anos 1930 e 1940, sob jugo nazista. Seu pai foi um dos principais marchands germânicos no período e teria avaliado pinturas de Hitler na época em que ele era aspirante a artista plástico. As pinturas se alinham ao que os nazistas chamavam de “arte degenerada”, que incluía todo tipo de expressão estética não-germânica ou feita por judeus.

De acordo com os investigadores, as pinturas estavam há cerca de sete décadas amontoadas em quartos sujos na casa de Gurlitt, sem as condições de conservação necessárias. Parte do acervo era negociada ilegalmente por ele — que pode ser processado por crime de evasão fiscal.

Neste momento as obras estão sendo transferidas para uma câmara de segurança do serviço de alfândegas da Baviera e estão sob a avaliação de uma historiadora da arte.

O roubo de quadros por agentes de Hitler é o tema do novo longa dirigido por George Clooney, “Caçadores de obras-primas” (“The monuments men”), já cotado para o Oscar e com estreia no Brasil marcada para 17 de janeiro.

Pra quem gosta de livros sobre o tema pintura, a dica é   Roubaram a Mona Lisa! que aborda o furto da Gioconda no início do século XX.

O edifício em Munique onde as obras foram encontradas

O edifício em Munique onde as obras foram encontradas

Matisse encontrado na casa de Gurlitt

Matisse encontrado na casa de Gurlitt

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Um Chagall roubado pelos nazistas agora foi recuperado

Claudia Tajes tipo exportação

A escritora Claudia Tajes é citada numa matéria da revista inglesa Litro como uma das maiores escritoras brasileiras contemporâneas, na opinião do escritor e cineasta Vinicius Jatoba. O texto intitulado “Brazilian women are writing better than their male contemporaries now. Who to read and why.” (algo como “Mulheres brasileiras estão escrevendo melhor do que seus contemporâneos homens hoje. Quem ler e por quê”) funciona como um guia de leitura e, ao se referir à autora de Sangue quente e outros livros, diz o seguinte:

“Outra autora que se destaca, para mim, é Claudia Tajes, cujos romances e contos compõem o mais divertido e dramático panorama da sexualidade brasileira. Em suas obras, os homens estão perdidos em seus papéis masculinos típicos (‘Vida dura‘), e as mulheres vivem sua sexualidade na emoção de ir ao encontro de todas as possibilidades que a sociedade de consumo lhes oferece (‘Louca por homem‘). Longe da banalidade que o tema sugere, Tajes faz, com um humor agradável, análises sobre a solidão e a inadequação por trás da ‘liberdade’, que promete ser um bom negócio, mas acaba deixando vazios os gestos e as intenções. Uma das obras mais engraçadas e mais originais da literatura brasileira contemporânea, ‘A vida sexual da mulher feia‘, brinca com os nossos conceitos eróticos, acabando por subvertê-los completamente.”

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