Arquivo mensais:dezembro 2011

58. O Primeiro-ministro que amava as novelas

Por Ivan Pinheiro Machado*

Em 1976, Portugal era uma festa. Depois de 40 anos da sinistra ditadura salazarista, a cidade de Lisboa vivia a euforia dos cravos vermelhos. Tudo começara um ano antes, em 1975, quando a Revolução dos Cravos havia devolvido a democracia ao povo português.

Naquele ano, eu debutava na Feira Internacional do Livro de Frankfurt, onde, levado pela mão do grande editor brasileiro Fernando Gasparian, fiz os primeiros contatos com importantes agentes e editores internacionais. Gasparian era um homem internacional na exata acepção da palavra. Circulava nas rodas mais influentes da intelectualidade de esquerda europeia. Havia morado em Londres e feito política no Brasil, onde chegou a ser Secretário da Indústria do Estado de São Paulo. Foi empresário, fazendeiro, ganhou muito dinheiro e sempre se manteve firme nos seus ideais democráticos. Participou ativamente da resistência, foi sócio de O Pasquim e dono do legendário Opinião um dos jornais mais sérios e ativos no combate à ditadura. Na época, Portugal era uma espécie de paraíso para nós, brasileiros nostálgicos da democracia. Um verdadeiro exército de exilados invadia Lisboa. Eram professores, militantes, profissionais liberais, políticos cassados… enfim, uma legião de expatriados que já havia fugido da Argentina, que caíra nas mãos dos militares, e depois escapara do Chile, que estava nas mãos igualmente sinistras de Pinochet. Os que conseguiram sair do Chile acabaram, a maioria, ou em Paris ou em Portugal pós Revolução dos Cravos.

Fernando Gasparian já tinha vários encontros agendados e no domingo, quando a Feira de Frankfurt acabou, nós voamos para Lisboa. Eu fui para a casa do escritor Josué Guimarães, um dos principais correspondentes de jornais brasileiros sediados em Lisboa, que juntamente com sua mulher Nídia me acolheu principescamente. Chegamos por volta do meio-dia e, ao anoitecer, Gasparian me ligou e disse “vamos a um jantar meio formal, seria bom que você colocasse uma gravata”. Era o seu estilo afirmativo, sua maneira peculiar de fazer convites. Eu ri e perguntei onde iríamos. Ele estava apressado: “Vamos nos encontrar às 8h no Tivoli”. Às 8 horas lá estava eu de gravata em frente ao tradicional Hotel Tivoli. O Gasparian chegou pontualmente num táxi, eu subi e em 15 minutos estávamos no… Palácio Presidencial. “O Mário (Soares) nos convidou para jantar”, disse o Fernando rindo, “você vai gostar dele, é um boa praça”.

Fomos recebidos pelo cerimonial do palácio, umas três ou quatro pessoas. Uma das encarregadas não demorou a explicar a ausência do anfitrião: “O Primeiro-ministro pede que aguardem no salão uns 15 minutos, pois ele está a ver a novela brasileira”. Nós sorrimos e sentamos no magnífico salão. O jantar foi divertidíssimo, pois o Primeiro-ministro Mário Soares, amigo do Gasparian, era um homem culto e muito divertido. E não perdia por nada nenhum capítulo de “Gabriela Cravo e Canela”, que liderava a audiência em Portugal em 1976.

Armando Bogus e Sônia Braga eram Nacib e Gabriela na novela brasileira que era sucesso em Portugal

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo oitavo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Al Hinkle, um dos personagens de On the road

Em um post anterior, falamos brevemente de Al Hinkle (Albert C. Hinkle) que, junto com Neal Cassady, comprou o Hudson 49, carro que também virou personagem de Jack Kerouac em On the road. Al e sua mulher, Helen, foram muito amigos de Kerouac, de Ginsberg e também de Neal Cassady e de sua mulher Carolyn. Em On the road, o casal Hinkle foi imortalizado com os nomes de Big Ed Dunkel e Galantea.

Ontem, descobrimos que Al, que hoje tem 85 anos, possui uma página no Facebook, onde postou algumas fotos ao lado de Jack Kerouac e dos atores principais do filme de Walter Salles, Garrett Hedlund (Sal Paradise) e Sam Riley (Dean Moriarty):

Os amigos Jack Kerouac e Al Hinkle nos bons tempos de estrada

Al escreveu na legenda desta foto: "Aqui está o Garrett e eu, em minha casa, na frente do meu retrato e do de minha esposa Helen que Carolyn Cassady pintou. Eu estarei postando mais fotos em breve."

Nessa ele colocou a legenda: "Aqui estou eu com Sam Riley, o ator que interpreta Sal Paradise (Jack Kerouac) no filme On The Road. Minha filha Dawn tem uma foto com Garrett Hedlund, que interpreta Dean Moriarty (Neal Cassady), mas ela não me deixou postá-la!"

Woody Allen, quem diria, já foi garoto-propaganda da Smirnoff

Em meados de 1966, uma campanha chamava a atenção nas páginas da Playboy norteamericana. Lá estava ele com sua cara… de pau, vendendo nada menos do que vodka. Nosso querido Woody Allen: 

Woody Allen ao lado da bela Monique van Vooren (clique sobre a imagem para aumentar)

"Para sair da concha... tente Smirnoff" diz o título deste anúncio

Não parece o garoto da Bombril?

Tinha até página dupla

Woody Allen aproveitou a deixa e fez piada de si mesmo. Usou o fato de ter sido garoto-propaganda em um de seus Standup Comics. No texto chamado Vodka Ad ele supostamente contava como tinha ido parar nestes anúncios. “Deixe-me começar pelo início. Eu fiz um anúncio de vodka, que é a primeira coisa importante. (…) Eu vou dizer pra você como eles conseguiram meu nome, ele estava em uma lista no bolso de Eichmann [oficial nazista], quando ele foi pego. Eu estou sentado em casa, assistindo televisão. (…) E o telefone toca e uma voz do outro lado diz: ‘Então, este ano você gostaria de ser o homem vodka?’, e eu digo ‘Não. Eu sou um artista, eu não faço comerciais. Eu não quero agradar ninguém. Eu não bebo vodka e se eu o fizesse, eu não iria beber o seu produto.’ Ele diz: “Que pena. Eles pagam 50 mil dólares.’ E eu digo: “Espere. Vou colocar o Sr. Allen na linha.'”

Deu vontade de rir com Woody Allen? Cuca fundida, Sem plumas, Que loucura! e Adultérios trazem textos impagáveis daquele que um dia, quem diria, já foi o “homem vodka do ano”.

Walter Salles manda notícias da estrada

O Hudson 49, carro que atravessou os EUA na filmagem de On the Road, de Walter Salles, acaba de chegar… ao The Beat Museum. É lá que, a partir de agora, ele ficará estacionado para quem quiser ver, tocar e se emocionar pensando que um carro igualzinho conduziu Jack Kerouac e Neal Cassady pela aventura que deu origem ao livro On the Road.

Para chegar ao The Beat Museum, o Hudson 49 foi pilotado por Garrett Hedlund, ator que vive Dean Moriarty e que, segundo Walter Salles, conhece o carro como a palma da mão, já que soma pelo menos 100 mil quilômetros de estrada com ele. Para chegar até o museu, Garrett fez questão de dirigir o carro de Los Angeles a San Francisco pela Route 1. Com ele, partiram John Cassady, filho de Neal, mais o fotógrafo Greg Smith.

Mas a notícia mais incrível é que ninguém menos do que Al Hinkle, que comprou o carro original com Neal Cassady em 1949, pegou uma carona nessa viagem. Com 85 anos de idade, Al embarcou no Hudson em San José, quando Garrett e seus companheiros pararam para pegá-lo. Os quatro chegaram na quarta à noite, 7 de dezembro, em North Beach, San Francisco, onde o The Beat Museum os aguardava ansiosamente.

E por falar em chegar, não vemos a hora do filme estrear.

O Hudson 49 que agora está no The Beat Museum em San Francisco (clique para ampliar)

Verbete de hoje: Marge

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  a norte-americana Marge (1904-1993)

Com o seu nome real, Marjorie Henderson Buell, ela é uma ilustre desconhecida. Agora, com o pseudônimo artístico, Marge, todo mundo sabe: é a mãe-criadora de Little Lulu (Luluzinha), Tubby Tompkins ( Bolinha) e Little Alvin ( Alvinho). No início, Little Lulu foi “gag cartoon” nas páginas do Saturday Evening Post (1935). O sucesso fez com que a Western Publishing Company obtivesse os direitos para comercializar Little Lulu em forma de comic books (1945) também em tiras diárias (1955-1967). Para todo esse trabalho, Marge contou com o auxílio de vários colaboradores, em particular John Stanley, Woody Kimbrell, Roger Armstrong e o roteirista Del Connel. No domínio do merchandising, Little Lulu e seus amigos venderam-se para os mais diversos produtos, ganhando igualmente uma série de desenhos para a TV. Até 1972, Marge manteve controle geral da série, que existe ainda, com propriedade da Western. As melhores recompilações, porém, são de histórias feitas na década 50 e 60.

Os originais: Luluzinha e Bolinha como Marge começou a desenhar

Alimentos diet são menos calóricos do que os convencionais?

Nos sábados, este blog publica algumas das dúvidas que são esclarecidas em “Fatos & Mitos sobre sua alimentação“, o novo livro do Dr. Fernando Lucchese. O Dr. Lucchese é autor também do bestseller Pílulas para viver melhor, entre outros livros.

Alimentos diet são menos calóricos do que os convencionais?

Produtos diet são aqueles que restringem completamente algum tipo de nutriente, como açúcar, proteínas, gordura ou sódio. O chocolate dietético, por exemplo, não tem açúcar, mas é mais calórico do que o tradicional devido à maior adição de gordura. Com a retirada de algum nutriente, o alimento pode até apresentar uma diminuição nas calorias, mas isto não quer dizer que seja menos calórico do que o convencional. Deve-se verificar se essa redução é significativa e justifica a substituição do alimento convencional pelo diet. Leia sempre os rótulos, informe-se!

A polêmica biografia de Kurt Vonnegut

Um curioso duelo intrigou o mundo literário esta semana. De um lado, o escritor Charles Shields, que acaba de lançar um livro de 528 páginas sobre a vida de Kurt Vonnegut, o autor de Café da manhã dos campeões e Matadouro 5. De outro, Mark Vonnegut, filho de Kurt, que acusa Shields de ter feito um retrato equivocado se seu pai no livro And so it goes.

Segundo o biógrafo, Kurt Vonnegut era um velho amargo e solitário, que estava sempre irritado e tinha tendências depressivas, além de tratar mal suas esposas. O levantamento realizado por Shields sugere ainda que o autor do libelo pacifista Matadouro 5 era proprietário de parte das ações da empresa Dow Chemical, fabricante do napalm, usado em bombas incendiárias e lança-chamas no início da Segunda Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã.

Além de contraditória (se compararmos com a mensagem que Kurt Vonnegut nos deixou por meio de sua obra), a biografia tropeça em outro problema: segundo Mark, o biógrafo conviveu pouquíssimo tempo com seu pai e as informações que ele apurou sobre a infância e a família do escritor também não são bem assim. Shields conta que Kurt Vonnegut foi uma criança triste, com problemas afetivos, e que seu pai era distante. Mark desmente.

Ele admite que Kurt Vonnegut “não era um homem ou um pai perfeito e teve dois casamentos fracassados”, mas o retrato que Shields pintou com estas “tintas” não mostra a realidade.

O espírito de Natal está entre nós

Quando Charles Dickens escreveu Um conto de Natal, no final de 1843 (e que seria publicado em 1844), seu maior estímulo foi o dinheiro que iria ganhar com o texto. Dickens criou a história às pressas para que pudesse receber logo o dinheiro e nem imaginou o sucesso que teria com ele. Um conto de Natal nasceu como uma canção de cinco estrofes e mostra o personagem Ebenezer Scrooge, um homem avarento e egoísta, sendo visitado por quatro espíritos. Na véspera de Natal, Scrooge recebe o espírito de seu sócio, recém falecido, mais os espíritos dos Natais do passado, do presente e do futuro.

A obra teve um papel fundamental na reabilitação das tradições e valores natalinos em uma época em que se encontravam em declínio. A história é baseada em dois dos temas preferidos de Dickens: a injustiça social e a pobreza. Ao longo de todo o livro, ele descreve a combinação desses dois elementos, bem como suas causas e efeitos. Um conto de Natal já teve várias adaptações para o cinema e teatro, inspirou Walt Disney a criar o Tio Patinhas (cujo nome original é Uncle Scrooge) e agora, além do volume da Coleção L&PM POCKET, chega à Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos. É mais um volume em capa dura, todo colorido e com um caderno especial que traz um rico painel sobre o autor e sua obra. Não poderia existir melhor época para ele chegar.

Andy Warhol em três dimensões

Terça-feira, 8 de dezembro, 1981. No vernissage de Iolas encontrei Werner Erhard que estava com a tal Stassinopoulos, e ele é tão bonito! Ele é tão bonito! Deveria fazer cinema. Espero que o retrato dele fique confirmado, porque aí vou fazer uma porção de discípulos da meditação transcedental, todos vão querer retratos.

O trecho que mostra exatamente o que Andy Warhol estava fazendo há 30 anos atrás faz parte de Diários de Andy Warhol, publicado pela L&PM em 1989 e que está sendo preparado para voltar ao mercado em dois volumes, na Coleção L&PM POCKET.

E vem mais Andy Warhol por aí: a L&PM vai lançar também, em breve, a vida de Andy Warhol na Série Biografias e ainda o livro “América”, com textos e fotos de sua autoria. Assim como nos seus diários, “América” expõe e mostra celebridades no backstage e em momentos de descontração. Warhol carregava sempre uma câmera com ele e, nesta obra, registra muitas das cenas citadas em seus diários. Com a biografia, o livro de fotos e os diários, a L&PM terá o papa do pop em três dimensões.