Dorothy Parker e “The Ginger Man”

Quatro vivas entusiasmados*

Por Dorothy Parker

J. P. Donleavy, autor do impressionante romance The Ginger Man, nasceu no Brooklyn, cresceu no Bronx, então foi para Dublin e estudou no Trinity College. Ele provavelmente voltou ao seu solo nativo por algum tempo, pois a contracapa de seu romance [McDowell, Obolensky, edição expurgada, 1958] diz que grande parte dele foi escrito no Bronx e em Boston, mas seja lá onde tenha sido, ele o fez com o amor por Dublin no coração e a batida de Dublin na cabeça. Apesar de ter uma lista completa de preferências menos perfeitas do que esse livro – eu penso que muitos dias vão se passar antes de me deparar com algo que chegue perto de brilhar tanto quanto The Ginger Man. Acredito que, quando isso acontecer, terá sido escrito pelo Sr. Donleavy.

A palavra “picaresco” de alguma forma me soa sonolenta, mas acredito que seja necessária agora – todos temos de fazer sacrifícios de vez em quando. Então vamos lá: The Ginger Man é o romance picaresco que faz todos pararem. Vigoroso, violento, loucamente divertido, ele é a malemolência da malandragem, uma clamorosa canção cômica sobre sexo. Um crítico na Inglaterra – onde o livro teve um sucesso surpreendente – o chamou de “uma contribuição inequívoca para o tema dos ‘jovens homens furiosos’”, mas uma nota biográfica explica que o Sr. Donleavy não gosta disso, nem deveria.

Seu livro não é furioso, a menos, é claro, que você queira deslocar seu alcance para o postulado de que comportamentos ultrajantes sejam uma forma de protesto furioso. (Eu entendo, aliás, que todos os chamados jovens homens furiosos se sintam insultados pelo título dado ao grupo. Eu não vejo porque se ressentem disso – certamente se há qualquer geração que tenha o direito de sentir raiva é a deles.) Mas com certeza não há nenhuma indignação na boa e honesta obscenidade; e é inegável que The Ginger Man é o mais obsceno possível. Se há os que se chocam com ele, fico tentada a dizer, “Tudo bem, vá em frente e fique chocado.” Eu acredito, de fato, que eu poderia ceder à tentação e gritar essas devastadoras palavras a qualquer minuto.

Outro crítico inglês diz que o estilo do Sr. Donleavy é uma mistura de Henry Miller e James Joyce –a influência de Joyce eu até posso ver, claro, mas a conexão com Henry Miller é um enigma para mim. (É justo admitir que por muito tempo qualquer coisa relacionada a Henry Miller era um enigma para mim. Mas então um enorme cão, em uma ovação de boas-vindas depois que ficamos separados por apenas um quarto de hora, pulou sobre mim e me jogou pra trás, causando uma concussão. E talvez seja desse choque não premeditado que tenha se originado minha atual cativante inabilidade de lembrar um número de telefone durante o tempo que se passa entre a lista telefônica e o aparelho, efeito que me concedeu visão dupla por alguns dias. E que empreguei para tentar ler novamente as obras do Sr. Miller, prosseguindo sem dificuldades.) Para mim The Ginger Man traz em seu humor absurdo uma leve sugestão de como o Murphy de Samuel Beckett teria sido se o Sr. Beckett não tivesse se enrolado em uma escrita elaborada, ou talvez traga de forma nebulosa à memória o ótimo romance de Joyce Cary, The Horse’s Mouth, apesar do Sabastian Dangerfield do Sr. Donleavy fazer o patife de Joyce Cary ficar parecendo o queridinho do professor. Mas isso é exagero da minha parte. No que se refere ao estilo e ao tema do livro do Sr. Donleavy, temos que tirar o chapéu para ninguém menos do que o Sr. Donleavy.

*Dorothy Parker escreveu esta resenha, entitulada “Four rousing cheers” em julho de 1958 para a Revista Esquire. Tentamos traduzí-lo mantendo a sonoridade, mas, para quem lê em inglês, vale clicar aqui e dar uma olhada no original, repleto de jogos de palavras e aliterações. The Ginger Man acaba de chegar à Coleção L&PM POCKET com o título de Um safado em Dublin.

A biografia de Cartier-Bresson em pocket

No inverno de 2009, a L&PM publicou o livro “Cartier-Bresson: o olhar do século” de Pierre Assouline. Uma bela obra que teve uma excelente carreira nas livrarias. Esgotadas duas edições, lançaremos no próximo mês de janeiro a versão “pocket”.

Ou seja. Você, leitor, terá o mesmo conteúdo fascinante que conta a história do maior fotógrafo de todos os tempos em outro belo livro. Em formato menor, é verdade, mas com um preço muuuito menor – e incluindo caderno de fotos.

E sem esquecer: os livros da Coleção L&PM POCKET são costurados e feitos em papel de primeira qualidade. Isso quer dizer que não há perigo dos livros desfolharem nas suas mãos. (IPM)

Mais um filho de Galeano

Ele chegou há poucos dias, por email. E causou furor. Os originais de “Los hijos de los días”, o novo livro de Eduardo Galeano, já estão aqui. Emocionante, lindo e intenso, ele traz uma pequena história para cada dia do ano, sempre centrada em um fato real que aconteceu naquela data. Pode ser o nascimento de alguém, o pronunciamento de um presidente, a morte de um mártir. Ou o que mais Galeano possa ter descoberto de interessante naquele dia e em diferentes épocas. “Los hijos de los días” é mais uma forma que o escritor encontrou para resgatar a história e a transformar em poesia. Como só mesmo Eduardo Galeano sabe fazer.

Diciembre
5

La voluntad de belleza

El presidente de la Sociedad Española de Historia Natural dictaminó, en 1886, que las pinturas de la caverna de Altamira no tenían miles de años de edad:

– Son obra de algún mediano discípulo de la escuela moderna actual – afirmó, confirmando las sospechas de casi todos los expertos.

Veinte años después, los tales expertos tuvieron que reconocer que estaban equivocados. Y así se demostró que la voluntad de belleza, como el hambre, como el deseo, había acompañado desde siempre la aventura humana en el mundo.

Mucho antes de eso que llamamos Civilización,  habíamos convertido en flautas los huesos de las aves, habíamos perforado los caracoles para hacer collares y habíamos creado colores, mezclando tierra, sangre, polvo de piedras y jugos de plantas, para alindar nuestras cavernas y para que cada cuerpo fuera un cuadro caminante.

Cuando los conquistadores españoles llegaron a Veracruz, encontraron   que los indios huastecos andaban completamente desnudos, ellas y ellos, con los cuerpos pintados para gustar y gustarse:

– Estos son los peores – sentenció el conquistador Bernal Díaz del Castillo.

“Los hijos de los días” traz 366 pequenas histórias como esta que você leu acima, a do dia de hoje. O livro terá cerca de 400 páginas, sairá em formato convencional e será traduzido por Eric Nepomuceno. A previsão de lançamento é o primeiro semestre de 2012. (Paula Taitelbaum)

Verbete de hoje: Mort Drucker

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é Mort Drucker (1929)

Nos últimos anos, raro foi o filme ou série de TV de sucesso não caricaturizado por Mort Drucker nas páginas da revista Mad. No início, seu estilo ainda poderia lembrar algo de outro grande artista colaborador da Mad, Jack Davis. A continuidade de seu trabalho, entretanto, foi limpando qualquer influência estranha. Quem tentou imitar Mort, por exemplo, foi um artista menor da Mad, Ângelo Torres. Com roteiros de Dick de Bartolo e Stan Hart, Mort muitas vezes em suas sátiras misturava elementos (por exemplo, Sean Connery aparecendo num filme de James Bond interpretado por Roger Moore), com resultados hilariantes. Sua capacidade de caricaturar figuras do mundo do cinema, da TV e da vida sociopolítica-cultural norte-americana foi impressionante. Mesmo no caso de filmes considerados clássicos e sérios (como 2001, Perdidos na noite, Quem tem medo de Virgina Woolf? ou Platoon), o trabalho de Mort é tão criativo e engraçado que a gente acabava perdoando sua irreverência iconoclasta. Mort Drucker, antes de se tornar colaborador quase exclusivo da Mad, desenhou, entre 1948 e 1956, os quadrinhos de Abott e Costello.

Cafeína pode ajudar a queimar gordura?

Nos sábados, este blog publica algumas das dúvidas que são esclarecidas em “Fatos & Mitos sobre sua alimentação“, o novo livro do Dr. Fernando Lucchese. O Dr. Lucchese é autor também do bestseller Pílulas para viver melhor, entre outros livros.

Cafeína pode ajudar a queimar gordura?

A cafeína aumenta a quantidade de gordura que é liberada pelas células adiposas, permitindo ser mais facilmente utilizada como combustível. Não há nada de errado em tomar uma xícara de café de manhã, porém, para maximizar os efeitos da queima de gordura, o melhor é tomar cerca de uma hora antes de se exercitar. Mas não espere milagres. A quantidade de gordura queimada pela cafeína é muito pequena.

O eterno Marquês de Sade

O que esperar de um livro assinado pelo Marquês de Sade? Todos nós sabemos: monstruosas máquinas de tortura, lâminas afiadas, ferros em brasa, chicotes, correntes e outros aparatos de suplício cujo requinte está em mutilar lentamente dezenas de corpos a serviço da volúpia libertina, fazendo escorrer o sangue dos imoloados e o esperma dos algozes, em cenas que têm o poder de produzir simultaneamente a dor das vítimas, o orgasmo dos devassos e o profundo desconforto dos leitores. Sim, todos nós sabemos; e até mesmo aqueles que jamais abriram um desses livros sabem o que eles contêm.

Assim a ensaísta, tradutora e professora de literatura Eliane Robert Moraes começa seu prólogo, “Um outro Sade”, no livro Os crimes do amor. E como ela mesmo diz, não é preciso ter lido algum dos livros do Marquês para saber quem ele é e do que suas palavras eram capazes. Em Os crimes do amor, no entanto, há um outro Sade. Nenhuma palavra obscena, nenhuma crueldade física, nenhum discurso justificando o crime.

Quando queria, Sade sabia ser virtuoso. Mas sua fama de devasso ultrapassou as páginas, virou alcunha, estampou um gênero de prazer. Antes de Sade não existia o sadismo. Não como nome, pelo menos. Morreu aos 74 anos, em 02 de dezembro de 1814, em sua cela no Hospício de Charenton. Seu nome, no entanto, permanece eternizado e sempre lembrado quando se fala em literatura erótica.  

Assim o Marquês de Sade foi retratado no final da vida

Socorro! Harry Potter virou poeta beat

Imagine se Allen Ginsberg fosse Harry Potter e Jack Kerouac tivesse a cara do Capitão América. Não seria, no mínimo, estranho? Pois é assim que promete ser Kill Your Darlings, filme que contará a história de como Ginsberg e Kerouac se aproximaram, através do amigo em comum e editor, Lucien Carr.

Por acaso ele tem cara de Allen Ginsberg?

A ideia do roteiro é boa, mas só de pensar que o autor de Uivo será interpretado por Daniel Radcliffe, o eterno Harry Potter (que ainda por cima é britânico!) e que Kerouac será vivido pelo “super-herói” Chris Evans, nos dá um certo desconforto. Radcliffe foi a segunda opção, depois que Jesse Eisenberg (que pelo menos é americano e judeu como Ginsberg!) saiu fora do projeto. Para quem não lembra, Eisenberg é o ator principal do oscarizado Facebook.

Pelo menos nessa foto, o Capitão América Chris Evans - que também trabalhou no Quarteto Fantástico - não está com roupa de super-herói

O filme, que tem roteiro e direção do estreante John Krokidas está em produção desde 2009. A história que Krokidas quer contar dará destaque para Carr que, em 1944, foi preso pelo assassinato de seu amante, David Kammerer. Aliás, o único do elenco que parece se salvar é Ben Whishaw, ator que viverá Carr.

Segundo  notícias publicadas na imprensa internacional, as filmagens com o novo Ginsberg começarão quando Harry Potter Radcliffe terminar sua participação na atual temporada de uma peça na Broadway.

Os verdadeiros Kerouac, Carr e Ginsberg cantando em um bar

Allen Ginsberg já foi interpretado por James Franco em Howl (Uivo), filme de 2010. Aliás, Franco está ótimo no papel. Pena que Howl, que conta a história do famoso poema beat, acabou não ganhando o merecido destaque no circuito cinematográfico. Mas talvez seja justamente este espaço comercial que o diretor de Kill Your Darlings esteja buscando com seu elenco. Aguardemos o resultado. (Paula Taitelbaum)

É proibido beijar Oscar Wilde

Pra colocar fim à depredação do túmulo de Oscar Wilde no cemitério de Père Lachaise, em Paris, a família do escritor resolveu erguer em volta do jazigo uma parede de vidro. Na verdade, a principal preocupação era impedir que as pessoas continuassem deixando marcas de batom no túmulo. Isso mesmo: centenas de beijos deixados por fãs e admiradores do escritor ornavam o local – o que, segundo a família e amigos próximos, era uma afronta à memória do autor de O retrato de Dorian Gray.

“Oscar era muito cuidadoso com sua imagem, apresentando-se sempre bem vestido. Não acho que lhe agradaria a ideia de repousar num túmulo degradado, mesmo por beijos de batom”, disse o ator britânico Rupert Everett, famoso intérprete das obras de Wilde.

O neto do escritor, Merlin Holland, lembra outro motivo pelo qual a atitude dos visitantes não era bem vista por sua família: foi um beijo que levou Oscar Wilde para a prisão em 1895. Holland assegura que, se vivo fosse, seu avô estaria enfurecido com a situação.

O neto de Oscar Wilde discursou na inauguração das novas paredes de vidro

Antes, o jazigo era assim, "decorado" com centenas de beijos de fãs e admiradores

As placas de vidro têm dois metros de altura e  impedem totalmente o acesso ao túmulo, que ostenta uma extravagante esfinge alada, esculpida em 1912 pelo artista Jacobs Epstein especialmente para decorar o jazigo do escritor.

“Flores, não beijos de batom!”, bradou o neto, que assistiu à “cerimônia” de colocação das placas ao lado do Ministro irlandês das Artes e do Patrimônio, que também apoiou a intervenção.

A velha companheira de Woody

Hoje, 01 de dezembro, Woody Allen está completando 76 anos. E para comemorar compartilhamos aqui um trecho especial de  Woody Allen: A Documentary, que mostra de que modo Woody Allen escreve o que escreve. No lugar de um computador, ele continua com sua máquina de escrever “da vida inteira”, onde certamente escreveu Sem Plumas, Cuca Fundida e Que loucura!, livros da Coleção L&PM POCKET.

Mas o melhor é a maneira como Woody edita seus escritos… Nem o Word tem um jeito de colar tão moderno!