Pelo Twitter, fãs ajudam Bret Easton Ellis a criar novo romance

Bret Easton Ellis, que escreveu o best seller O psicopata americano quando tinha apenas 21 anos de idade, tem usado o Twitter para conversar com seus fãs, propor ideias e colher sugestões para novos romances. No último sábado, 10 de março, ele tuitou sobre a ideia de escrever uma continuação para seu romance mais famoso a partir de uma atualização de seu personagem principal, Patrick Bateman. Ao fim da longa consultoria com seus 260 mil seguidores, ele tinha escrito 14 páginas que mapeiam os prós e os contras da possibilidade de escrever a continuação daquela história.

Ele chegou a “desenhar” como seria a versão atual de seu Bateman em vários drops de 140 caracteres, o que provocou frenesi entre os fãs. Para fazer jus ao novo contexto, o Bateman contemporâneo compartilharia seu cotidiano nas redes sociais por meio de seu iPad, como faz a maioria dos seres urbanos, em geral obcecados por aparências e pela espetacularização da vida. Notem que a essência do personagem se mantém, mas as ferramentas são atualizadas.

Ao final ele agradeceu a participação de todos e prometeu que iria conversar com seu agente sobre as novas ideias, mas antes teria que sentir ao longo do fim de semana se este novo Patrick Bateman realmente poderia existir.

Nós aqui da L&PM, como todos os fãs de Easton Ellis, vamos continuar acompanhando pelo Twitter as cenas dos próximos capítulos 😉

“Geração Beat” será encenada pela 1ª vez

Talvez poucos saibam disso, mas Jack Kerouac já se aventurou pelos caminhos do teatro e escreveu, em 1957, uma peça em três atos chamada Geração Beat (Coleção L&PM Pocket), a única de sua curta carreira de dramaturgo. Eis que 55 anos depois, a peça será encenada pela primeira vez na cidade natal de Kerouac, Lowell, no estado de Massachusetts, durante o festival “Jack Kerouac Literary”. Serão oito performances que estão sendo preparadas  pelo grupo Merrimack Repertory Theatre em parceria com a University of Massachusetts Lowell.

Se a peça não foi encenada antes, não foi por falta de empenho do próprio Kerouac. Na época, ele enviou cópias do texto para diversos produtores e atores (entre eles Marlon Brando), mas diante das sucessivas negativas, acabou desistindo e o texto ficou engavetado por muito tempo até ser redescoberto em 2005.

Geração Beat mostra um dia na vida do personagem Jack Duluoz, uma espécie de alter ego de Kerouac. Como é de praxe, as histórias são baseadas nas vivências do escritor e os outros personagens fazem referência a Allen Ginsberg, William Burroughs, Neal Cassady, Gregory Corso e outros malditos. A estreia está prevista para outubro.

Uma mineral com gás para Moebius

Por Ivan Pinheiro Machado*

O Maxim’s era um restaurante que causava furor no Rio de Janeiro. Plantado no alto da torre do Rio Sul em Botafogo, aliava à lenda parisiense uma vista paradisíaca. Era difícil conseguir reserva no Maxim’s. Como seu homônimo francês, era o preferido dos ricos e famosos. Jean Giraud, dito Moebius estava sentado diante de mim e do adido cultural francês. Eu estava um pouco nervoso. O consulado da França no Rio havia transmitido um convite a mim, pois Moebius gostaria de almoçar com seu editor brasileiro. Estava no Rio como convidado e estrela da Bienal de Quadrinhos que realizava-se na Fundição Progresso na Lapa. Nos encontramos pontualmente às 13h. Era primavera de 1991 e a L&PM Editores havia publicado em sua saudosa coleção de álbuns de quadrinhos dois clássicos seus, “Major fatal” (1988) e “O Homem é bom?” (1984).

Os títulos de Moebius publicados pela L&PM Editores

Moebius estava além do seu tempo. Seus personagens intrigantes erravam por paisagens estranhas, planetas, cidades futuristas e desertos improváveis. Publicamos na década de 80 do século passado as histórias que nos fascinaram nos nossos vinte anos. Vários episódios de “A Garagem Hermética de Jerry Cornelius” estavam impressos em “Major fatal”. Delirantemente fantásticas, suas histórias fizeram com que eu imaginasse que iria encontrar um personagem inquieto, falador, messiânico. Quando fui apresentado a ele pelo adido, o que vi foi um homem discreto, com um ar clássico de intelectual francês. Estava curioso para saber o que editávamos (naquele tempo não tinha internet, Google, estas coisas que acabaram com os mistérios). Lembro que me achou muito jovem para ser um editor e ficou impressionado por editarmos “Valentina” de Guido Crepax e “Corto Maltese” de Hugo Pratt. Estava fascinado com a beleza  do Rio de Janeiro, cuja baía da Guanabara se descortinava aos nossos pés sob um sol feérico. A vista que os janelões do Maxim’s nos proporcionavam era verdadeiramente deslumbrante. Enfim, rapidamente fiquei à vontade diante daquele homem modesto, simpático e introvertido. Guardo daquele agradável encontro de almoço a imagem dos seus óculos redondos e do seu pedido de “uma água mineral com gás” como bebida. Nem parecia o super star dos quadrinhos; o genial inspirador de Ridley Scott em “Alien” e “Blade Runner”, o colaborador da lendária revista “Metal Hurlant”, aquele que era considerado um dos maiores e mais premiados desenhistas do mundo.

No sábado, 10 de janeiro, ele morreu aos 73 anos. Ao saber da notícia abri meu velho exemplar da “Garagem Hermética”. Fiquei imaginando o silencioso Moebius flutuando nos seus mundos pós-galáticos e fui invadido por uma sincera melancolia ao perceber o vazio real que fica quando um grande criador se vai.

*Ivan Pinheiro Machado é editor

Jack Kerouac aos 90 por hora…

Dentre todas as paixões que agitaram Jack Kerouac, uma jamais o deixou: a paixão genealógica. Por certo, o sonho com as origens é bem comum, ainda que dos mais perturbadores. É um salto no desconhecido, um enunciado do país das sombras, uma estadia fictícia entre os que, há muito tempo, nos inscreveram numa história por acontecer, a nossa, da qual constituímos, para nós mesmos, o ponto final muito provisório. A sequência mais próxima dessa saga é o roteiro primitivo de nossa concepção, no qual um desejo de viver se encarnou, aleatório, acidental. Todos sabem que poderiam não ter nascido. O não-nascido, esse duplo indizível, habitou Jack Kerouac. (…) Jack Kerouac nasce em 12 de março de 1922 em Lowell, pequena cidade de Massachusetts a 45 quilômetros ao norte de Boston, onde as indústrias têxteis e de calçados estão bem implantadas. (…) Em 12 de março, o inverno continental não terminou. O Merrimack arasta ainda alguns blocos de gelo e o céu é baixo, úmido e ventoso.  (Trecho de Kerouac, série Biografias L&PM)

2012 será uma marca na história de Kerouac. Ele estaria completando 90 anos hoje, o filme baseado em seu mais famoso livro será lançado em breve e, provavelmente, uma nova geração de amantes de On the road se aproxima. Para completar, seu “Scroll” (o manuscrito original de On the road) ganhará novas exposições pelo mundo ao longo deste ano. Aliás, ouvimos falar que é possível que ela chegue de carona no Brasil… Por enquanto são só rumores soprando no vento (como diria Bob Dylan). Mas cruzem os dedos.

Jack Kerouac e seu manuscrito original, escrito em um rolo de telex de 36 metros que foi colocado direto na sua máquina de escrever

Verbete de hoje: Glauco

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o brasileiro Glauco (1957-2010).

Glauco Vilas Boas, paranaense de Jandaia do Sul, nasceu em 10 de março. Junto com Angeli e Laerte, formou a trinca dos melhores e mais ativos quadrinistas da contracultura brasileira. Seus primeiros bonecos (ou abobrinhas, como ele gostava de chamar) foram publicados em 1976, no Diário da Manhã, de Ribeirão Preto. Colaborou para as seções de humor Vila Lata e Gol, da Folha de S. Paulo, onde manteve igualmente uma tira diária com o personagem Geraldão. O sucesso da figura – um “Edipão” em estado crônico, cuja frase chave é “amar é espiar a mãe tomando banho” – incentivou Glauco a criar sua revista própria (exatamente Geraldão), que começou trimestral. Com a participação cada vez maior de outros ótimos desenhistas e criadores, Geraldão atingiu um público tão entusiasta quanto o de Chiclete com Banana, de Angeli. Em Geraldão, além das tiras do conhecido personagem, aparecem O casal neuras, Zé do apocalipse, Doy Jorge e Dona Marta. Junto com Laerte e Angeli, Glauco fez seguidamente histórias a seis mãos. Em Geraldão colaboraram Claudio Paiva, Pelicano e Jaca. Glauco, como cartunista, foi premiado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba (1977/1978) e na 2a Bienal de Humorismo y Grafica Militante de Cuba, 1980. Teve três livros publicados, Abobrinhas da brasilonia, As minorias do Glauco e Geraldão. Depois de 1990: em revistas, as histórias de Glauco saíram em Bundas (Los Três Amigos, com Angeli e Laerte), Mil Perigos, Interquadrinhos, Geraldinho e Glauco Geraldão. Álbuns e livros: As espocadas de Geraldão (Ensaio/Circo, 1995); Abobrinhas da brasilônia – reedição pela L&PM, em 2006; Geraldão 1: edipão, surfistão, gravidão (L&PM, 2007); Geraldão 2: a genitália desnuda (L&PM, 2007); e Geraldão 3: ligadão, taradão na televisão (L&PM, 2008). Álbuns coletivos: Los Três Amigos (Ed. Ensaio, 1992/1994), com Laerte e Angeli; Os filhos da dinda (Scritta Ed., 1992); e Seis mãos bobas (Jacarandá/Devir, 2006), com Laerte e Angeli. Morreu assassinato, em 2010, junto com o filho Raoni.

Glauco está na Coleção L&PM Pocket

12 de março de 2012 marca os 2 anos da morte trágica e precoce de Glauco.

Invocação à noite

Oh deusa, que proteges dos amantes
O destro furto, o crime deleitoso,
Abafa com teu manto pavoroso
Os importunos astros vigilantes:

Quero adoçar meus lábios anelantes
No seio de Ritália melindroso;
Estorva que os maus olhos do invejoso
Turbem de amor os sôfregos instantes:

Tétis formosa, tal encanto inspire
Ao namorado sol teu níveo rosto,
Que nunca de teus braços se retire!

Tarde ao menos o carro à Noite oposto,
Até que eu desfaleça, até que expire
Nas ternas ânsias, no inefável gosto.

Bocage, O delírio amoroso & outros poemas

Um pouco pro “santo” Bukowski

Hollywood está para Bukowski como Nova York está para Woody Allen: a cidade é sua personagem, seu ponto de partida, o cenário de tantas histórias. Na verdade, Los Angeles foi e continua sendo a casa do velho Buk. Onde se pode visitar seu túmulo, o número 875 da seção “Ocean View” do Green Hills Memorial Park em Rancho Palos Verdes, perto de onde ele viveu com sua esposa, Linda, de 1978 até o dia em que morreu, em 9 de março de 1994, vítima de leucemia. Sua lápide traz um desenho simples de um boxeador junto ao epitáfio “Don´t try” (“Não tente”). Basta perguntar a um funcionário do cemitério e os visitantes são conduzidos ao lugar de descanso de Hank. Segundo consta, é comum os fãs chegarem com uma garrafa de cerveja e derramarem o “líquido sagrado” junto ao túmulo numa demonstração de afeto. “Um pouco pro santo”, como se diz. Só que neste caso, nem tão santo assim…

Há os que dão um gole pro “santo” Bukowski

Há os que deixam a garrafa inteira

A L&PM publica todos os romances de Bukowski, mais contos e poemas.

O homem que amava as mulheres

Na onda de comemorações do Dia Internacional da Mulher, fomos em busca das (várias!) mulheres de Charles Bukowski, um dos escritores que mais as retratou em seus romances, contos e poemas. Como quase tudo que o velho Buk escreveu tem algo de autobiográfico, dá pra tentar adivinhar quais personagens foram inspiradas nestas mulheres.

Bukowski e sua primeira mulher, Barbara Frye, em 1956

Não sabemos quem é a moça, mas o que importa é que o velho Buk parece feliz!

Pelo menos a pose é de intelectual...

Mulheres e álcool, muito álcool.