Galeano na L&PM WebTV

Já faz parte do banco de vídeos da L&PM WebTV a participação do escritor uruguaio Eduardo Galeano na Feira do Livro de Porto Alegre de 2008. Galeano participou de uma edição especial do “Encontros com o Professor”, uma espécie de talk show semanal conduzido pelo jornalista Ruy Carlos Ostermann.
No vídeo, é possível assistir a íntegra do evento e ouvir alguns trechos de “Espelhos – Uma história quase universal” lidos pelo próprio escritor.

Clique aqui e para ver a galeria de fotos da passagem do escritor pela Feira.

Assista ao vídeo:

Encontrei o Leonardo!

Por Paula Taitelbaum*

Enquanto leio o primoroso Roubaram a Mona Lisa! de R. A. Scotti (você não leu? Tá esperando o quê?) descubro, além de um livro muitíssimo bem escrito – sobre o verídico roubo do quadro mais famoso do mundo em 1911 –  que alguns personagens das belas artes mundiais possuem um lado que eu desconhecia. Primeiro, deparei com um Picasso que envolvia-se com freqüência em furtos de obras de arte: “No final da audiência, Picasso, que havia comprado as peças roubadas, foi liberado depois de assumir o ato e ser alertado para que não saísse de Paris”. Depois, fiquei sabendo que Leonardo da Vinci arrasava os corações de Florença com um rosto que tinha uma beleza “fora do comum”. Para mim, a imagem que surgia ao ouvir falar do mestre da Vinci era a de um velho homem de nariz adunco, muitas rugas e vasta cabeleira – e não a figura do titã de cabelos louros e encaracolados que lhe caiam sobre os ombros despertando suspiros nas donzelas. Confesso que duvidei. E por isso fui ao Google procurar algo que pudesse atestar a beleza do pai da Mona Lisa. O que encontrei foi o vídeo produzido pelo TED – Ideas worth spreading. É uma micro palestra do artista Siegfried Woldhek sobre o verdadeiro rosto de Leonardo da Vinci. Muito bom!

Paula é jornalista, escritora e coordenadora da L&PM WebTV

L&PM em tempo real #2 — Iotti assalta a editora

O jornalista e humorista Iotti, muito bem disfarçado de Carlos Henrique, apareceu de surpresa na L&PM hoje a tarde. E não foi para uma visita de cortesia. O criador do Radicci veio – com algum desespero – em busca do pocket Ratos e homens, de John Steinbeck. Como não havia nenhum exemplar vagando a esmo pela editora, o jeito foi retirar um da estante “intocável” da produção, a única que reúne (reunia) todos os 850 livros da coleção de bolso por ordem de publicação.
Esperamos que ele aproveite bem a leitura enquanto encomendamos outro Steinbeck pra repor a perda antes que alguém repare.

Iotti acompanhado da assessora da L&PM, Tássia Kastner, e de seu exemplar de "Ratos e homens". Ao fundo, a estante desfalcada / Foto: Cristine Kist

Freud explica: agora em livro de bolso

Por Caroline Chang*

Minha tia, uma das figuras principais da minha formação, é psicóloga de orientação freudiana. Numa certa fase da minha infância, eu dizia que, quando crescesse, queria ser “pepsicóloga”. Quando a realidade oferecia algum fenômeno, alguma relação ou explicação não-evidente, mas inconsciente, logo aprendi a lascar, do alto do meu então um metro de altura: “Freud explica” ou “Que lapso!”. Em seguida, quando meu pai e a minha mãe se separaram, e eu, em 1983 e com sete anos, passei a viver com o meu pai, a importância do Freud na minha vida recrudesceu. Passei a frequentar duas vezes por semana o consultório de uma “psi” (as diferenciações profissionais não eram claras para mim então) que, entre uma brincadeira aqui e um jogo ali (meu preferido, e acho que o dela também, era o “Jogo da vida”), me incitava a falar e fazia perguntas, algumas das quais incômodas. Na minha adolescência, o hábito de falar para elocubrar já era parte de mim, e mais uma vez fiz psicoterapia, com uma freudiana-kleiniana. De forma que não considero um exagero dizer que devo muito a Freud, esse gênio da raça, “Sigi de ouro”, como lhe chamava a mãe. De forma que me senti imbuída não só de uma pesada responsabilidade moral e profissional, mas de um senso de responsabilidade íntimo, talvez primo da gratidão, quando, cerca de três anos antes de janeiro de 2010 (data em que a obra freudiana entraria em domínio público), demos início à necessariamente longa, lenta e pedregosa empreitada de publicar algumas de suas principais obras em formato de bolso.

Assim como acho que num mundo ideal todo mundo deveria/poderia fazer psicoterapia ou análise pelo menos uma vez na vida, considero – respeitadas as leis de direito autoral – um motivo de comemoração para a humanidade quando obras do calibre das de Freud se tornam disponíveis em várias edições, em várias traduções, editadas por diversos profissionais e pelas mais variadas casas. E creio que é uma razão de orgulho para nós, brasileiros, o fato de no nosso país haver uma tradição psicanalítica forte a ponto de várias editoras respeitadas estarem neste momento trabalhando em novas edições e traduções de Freud. (Eu, que cresci lendo tão-somente as coleções Vaga-Lume e Pra Gostar de Ler, que era o que havia de disponível na época, garanto: quanto mais numerosas as opções, melhor para o público-leitor).
Foi um nervosismo, mas sobretudo um prazer, editar O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, duas das obras chamadas “sociais” de Freud, com a colaboração de Renato Zwick (que não poupou esforços para alcançar, no português, o mesmo nível de clareza linguística e conceitual dos originais em alemão); de Edson Sousa e Paulo Endo, profundos e apaixonados conhecedores não apenas da obra freudiana, mas da vida do pai da psicanálise; de Márcio Seligmann-Silva, verdadeiro entusiasta das releituras que as novas traduções de Freud proporcionarão a todos, e que foi suficientemente audaz e suficientemente fiel ao espírito revolucionário do autor ao propor “cultura” para tradução de “Kultur”, em vez da tradução tradicional, “civilização”; e de Renata Udler Cromberg, que enriquece e atualiza a leitura de O futuro de uma ilusão com seu prefácio, tão humanista, tão certo da possibilidade de melhora das pessoas.
Espero que os leitores gostem. Para aqueles que tomarem contato com Freud pela primeira vez por meio desses livros, que suas vidas sejam doravante iluminadas por essa inteligência maior.

Boa leitura.

* Caroline Chang é editora e tradutora da L&PM

L&PM em tempo real #1 – “História regional da infâmia”

Como prometemos lá na primeira apresentação (sim, já tivemos duas) do blog, o nosso objetivo é fazer com que você, caro leitor, fique sempre por dentro do que está acontecendo na editora.  Na última semana, por exemplo, quem veio fazer uma visita ao editor Ivan Pinheiro Machado foi o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva.

Juremir e Ivan discutem "História regional da infâmia", que deve ser lançado no segundo semestre de 2010 / Fotos: Cristine Kist

Os dois conversaram sobre o próximo livro de Juremir, que deve ser lançado no segundo semestre desse ano sob o título provisório de História regional da infâmia – O destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras.

Saiba mais sobre o livro nesse pequeno resumo feito pelo Ivan:

“Juremir Machado da Silva pesquisou 3 anos, estudou 15 mil documentos com a ajuda de mais 10 pesquisadores. O resultado foi um livro que desnuda a Revolução Farroupilha do manto de mitos que a envolve. É um livro, ao mesmo tempo, sobre a história da revolta e sobre ‘a questão do mito’.  Há um estudo minucioso sobre o célebre combate de Porongos, onde foram massacrados mais de 100 soldados que faziam parte do batalhão dos ‘lanceiros negros’. Juremir alimenta a discussão sobre se houve ou não traição em Porongos. E conclui, como tantos outros historiadores, que tudo não passou de um estratagema para se livrarem dos negros revolucionários. Afinal, os chefes farroupilhas prometeram libertar os negros combatentes da escravidão e este era um item polêmico na hora de acertarem a capitulação com o Império.
‘História regional da infâmia’ é um livro ímpar pela profundidade com que ataca assuntos considerados ‘tabus’ no Rio Grande. E mostra que na realidade a revolução Farroupilha foi uma revolta de estancieiros com menos de 3.000 baixas. Se considerarmos que a guerra da Secessão americana consumiu mais de 600 mil vidas em 5 anos, devemos louvar a guerra farroupilha que fez muito barulho, mas na realidade consumiu 0,5% das vidas da guerra civil americana, no dobro do tempo. Enfim, o livro, ao desnudar o mito, reduz o movimento a uma dimensão infinitamente menor do que aquela que nos ensinam nas escolas. Ele analisa a mistificação criada a partir do século XX e a espantosa competência daqueles que ‘incharam’ a história de uma revolta que não foi assim tão terrível. Afinal, os revolucionários jamais controlaram Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas, praticamente as únicas cidades importantes do estado à época. E, ao contrário de todas as revoluções, esta acabou muito bem, com os seus chefes indenizados regiamente pelos vencedores imperiais e voltando para suas fazendas sem serem incomodados.”

Ivan Pinheiro Machado

Reestreia oficial

O blog da L&PM está de volta. Completamente repaginado e adaptado ao novo site, esse espaço se propõe a ser o canal direto de comunicação entre os leitores e a editora.

No blog será possível saber o que acontece na L&PM quase que em tempo real, ler e publicar resenhas e ver dicas de filmes, peças e exposições. Também daremos nossa opinião sobre os mais diversos assuntos relacionados à cultura, à internet e ao mercado editorial. 

Sejam bem-vindos, mais uma vez.

Para ver sua resenha publicada aqui, basta enviá-la para comunicacao@lpm.com.br

Blog, WebTV e um novo site comemoram 36 anos de L&PM e 15 anos na internet

Por Ivan Pinheiro Machado

A internet ainda engatinhava no Brasil de 1995. Em Porto Alegre, eram apenas dois provedores: a Nutec (que mais tarde seria o ZAZ e, na bolha das grandes aquisições, acabaria sendo absorvida pelo Terra) e a estatal PROCERGS, que cuidava de toda a parte técnica dos sistemas de informática do Governo do Estado. Eram essas duas empresas que abrigavam os 450 internautas até então registrados no Rio Grande do Sul. A “operação internet” começava muito mais como uma excentricidade, um investimento no futuro. Nem Bill Gates tinha entrado na jogada, e a única ferramenta de acesso à internet era o velho “Netscape”. Atenta à novidade, a L&PM entrou em contato com diretora da PROCERGS, Marli Nunes Vieira, e propôs uma parceria com a estatal – imediatamente aceita – para colocar no ar o site inaugural da editora. Depois de seis meses de trabalho, em setembro de 1995, a página virtual da L&PM foi lançada. Era o primeiro site comercial do Rio Grande e o primeiro site de uma editora no Brasil, com todos os livros cadastrados, capas, sinopses e biobibliografias do autores. E lá se foram 15 anos.

Em 2010 já não são 450 internautas. São milhões de pessoas conectadas, dependentes, interligadas, transformando a internet no mais corriqueiro meio de comunicação e informação. De lá para cá, assim como a web mudou, a L&PM cresceu. E tornou-se protagonista da única grande revolução que aconteceu no mercado editorial brasileiros nos últimos 20 anos: a implantação do livro de bolso como um hábito do brasileiro. Portanto, não é soberba dizer que está no DNA da editora abrir caminhos e perseguir o novo, o inusitado.

No distante ano de 1974, dois jovens de 21 anos juntaram seus nomes e seus sonhos para criar uma microeditora que, em princípio, deveria ser uma experiência undergournd, bem ao gosto dos anos 70. Hoje, a L&PM se posiciona entre as grandes editoras brasileiras, e é líder de mercado no segmento de livro de bolso. O que faz com que tenhamos muito para comemorar.

Pois é na esteira dessa comemoração, para registrar essa vontade de lançar o novo, que estamos inovando mais uma vez. A partir dessa segunda-feira, 15 de março, o site pioneiro da L&PM estará novo – de novo. Além da mudança no design, de notícias, sinopses de livros e biografias, vamos inaugurar o Blog da L&PM e a primeira WebTV de uma editora no Brasil. O Blog será um espaço em que pretendemos expor o cotidiano do nosso trabalho e publicar idéias, comentários e mensagens de nossos amigos, autores e leitores. A Web TV, que entra no ar já na segunda-feira, é um projeto piloto que deverá se consolidar e ganhar novos programas a partir do início de abril. Lá, você encontrará os autores da editora falando sobre sua vida e obra, além de vídeos relacionados com o nosso trabalho, entrevistas, curiosidades e tudo o que tem a ver com cultura em geral. Mais uma vez – a exemplo dos livros de bolso – os nossos colegas vão ter que correr atrás. E o beneficiado será sempre o leitor. A idéia é essa.

Arthur Rimbaud: a tragédia, o charme e o mito

Por Ivan Pinheiro Machado

A padiola é suspensa e içada até o navio. Lá embaixo, dezesseis homens olham calados depois de realizarem seu trabalho. Abdo Rimbo, como chamavam Arthur Rimbaud, está indo embora para morrer. A dor lancinante impede o riso, um aceno mais efusivo. Calados, aqueles homens do deserto quase perdoam seu algoz; aquele europeu duro, irrascível, que só se referia a eles como “negros sujos, imbecis, bestas de carga”. Depois de 11 anos na África Oriental, a maldita doença interromperia sua fuga.

O navio o levaria de Aden a Marselha e o grande poeta da França morreria poucos meses mais tarde, depois de um sofrimento atroz, aos 37 anos, em 10 de outubro de 1891.

Ninguém notou quando morreu. Mesmo o grande Verlaine já tinha esquecido o seu grande amor adolescente, o poeta irreverente, tresloucado, de grandes olhos azuis que escandalizara o Quartier Latin. Também pudera, ele havia sumido em 1880 na chamada “terra das sombras”, a tenebrosa Abissínia na África Oriental e ninguém, salvo sua família, havia tido notícias dele.

O tempo foi passando e sua poesia, enfim descoberta, espalhou-se pelo ar da França, como pólen na primavera. Seus versos ardentes, suas alucinações, seus poemas geniais, suas iluminações e sua temporada no inferno espantaram o mundo. Todos estavam perplexos; como aquela obra genial fora produzida por um adolescente que aos dezoito anos abandonara a poesia, a família, os amigos, a França?

Depois de rolar pela Europa e o Oriente próximo, aos 24 anos Arthur chegou ao norte da África. Nunca mais escrevera um verso. Queria enriquecer, queria desaparecer. Não seria mais Jean-Nicholas Arthur Rimbaud. Seria Abdo Rimbo, o mercador da Abssínia. O traficante de armas e – dizem, sem nunca ter sido provado– de escravos. O obsessivo francês que carregava consigo, sob o sol de 50 graus, um cinturão com o ouro acumulado atado à cintura. Vagarosamente a lenda cresceu. O poeta solitário, calado, internado no fundo da África. Traficando armas, escravos, camelos. Ingredientes poderosíssimos para excitar os sofisticados círculos literários parisienses e daí ganhar o mundo. O mito cresceu, histórias aqueceram a lenda do menino poeta que abandonou a poesia aos 18 anos e fugiu para a África. Milhares de livros foram escritos; biografias, ensaios, teses, todos tentavam decifrar o enigma. Seus passos pelos confins da África foram seguidos meticulosamente por centenas de biógrafos que escreveram milhares de páginas. Mas nada foi descoberto. Ficou o mito. Que cresceu com tempo e continua a crescer, ficando, quem sabe, maior que a obra poderosa, fundamental, que influenciou decisivamente a poesia dos séculos que vieram depois.

Rimbaud no Brasil

A coleção L&PM POCKET publicou Uma temporada no inferno, com tradução e introdução de Paulo Hecker Filho. Entre a reduzida bibliografia rimbaldiana publicada no Brasil destacam-se Poesia Completa (Top Books), com tradução e introdução de Ivo Barroso, a Correspondência Completa (Top Books), também um magnífico trabalho de tradução, introdução e notas do poeta e tradutor Ivo Barroso, Rimbaud Livre, um ensaio de Augusto de Campos, e o excelente livro Rimbaud na África (Nova Fronteira), do inglês Charles Nicholl. Destaque também para o livro A hora dos assassinos, um ensaio sobre a vida de Rimbaud por Henry Miller (L&PM POCKET). No início da década de 80 a L&PM publicou Rimbaud na Abssínia e Rimbaud da Arábia do especialista francês Alain Borer e uma antologia de cartas, “Correspondência de Arthur Rimbaud” (seleção e edição de Ivan Pinheiro Machado) com introdução de Ivo Barroso. Estes livros estão totalmente esgotados podendo ser encontrados somente em sebos ou no site Estande Virtual.

Rimbaud também está na Série Biografias L&PM.

Novo desenho do site e estreia da WebTV movimentam início de março

A partir do dia 1° de março os frequentadores do site da L&PM terão uma surpresa bem agradável: o espaço ganhará nova roupagem, mais moderna e organizada. Para os curiosos, podemos adiantar que o atual layout do blog em muito lembra o futuro design do site…

Martha Medeiros, Moacyr Scliar (durante conversa com Ivan Pinheiro Machado), Duca Leindecker e David Coimbra já gravaram programas na WebTV

Com o novo desenho estreia também a L&PM WebTV, um canal de vídeos com programação estritamente cultural e cujo foco será, claro, a literatura. As gravações de depoimentos de escritores já estão adiantadas e após um pequeno período experimental a TV contará com uma grade de programação fixa e atualizações diárias.  Em breve postaremos mais novidades aqui no blog!

Elogio da velhice

Por Luiz Antonio de Assis Brasil

O insuperável texto a respeito é o De Senectute (A Velhice, às vezes traduzido como Saber Envelhecer), de Cícero. O pensador usa um método: apresenta argumentos contra a velhice e depois os rebate. De Senectute não pretende consolar: Cícero nada vê de mau na velhice.

Vamos sumariamente aos argumentos e aos contra-argumentos.
Primeiro: a velhice nos afasta da vida ativa. Qual vida? A natureza dota cada idade de vidas próprias, com seus próprios ritmos de atividade.
Segundo: a velhice não tem forças; sim, mas ninguém exige dela ser forte! Mesmo ao suposto enfraquecimento da memória, Cícero tem resposta espantosa: diz ele que jamais viu um velho esquecer-se do lugar onde escondeu seu dinheiro: quo thesaurum obruisset. Ainda dentro deste item, diz-se que os velhos são rabujentos: difficiles. Nada disso. São rabugentos porque sempre o foram, desde a juventude; os outros é que não se aperceberam disso.
Terceiro: a velhice nos priva dos melhores prazeres. Os melhores prazeres, entretanto, mudam com a idade. Um velho terá imenso prazer nas antigas amizades, no bom vinho, no paladar pausado, na reflexão, na arte e na cultura e os desfrutará com muito mais volúpia que o jovem, pois tem mais vagares e compreensão das coisas. Além disso -vejam o bom-humor de Cícero – não se sofre por ser privado daquilo de que não se tem saudades: quod non desideres.
Quarto: a velhice nos aproxima da morte. Certo, se pensarmos apenas na cronologia; entretanto, os mais propensos a morrer cedo são os jovens, por sua afoiteza e pelo caráter devastador das doenças juvenis; ademais, não há razão para temer a morte: se houver uma vida futura post mortem, ótimo; se não houver, nunca o saberemos, aut nullus est. O autor crê na imortalidade da alma, mas prefere ficar em sua argumentação terrena.
Conclusão de Cícero: os velhos não devem nem se apegar nem renunciar sem razão à vida. Para isso é preciso ser sábio e a sabedoria é coisa natural na velhice.
Leia De Senectute. Lá está tudo isso, e melhor. Se você não lê latim, há boas traduções. Se for jovem, rirá muito; se for velho, ficará feliz – o que é muitíssimo diferente.

Texto publicado no jornal Zero Hora