Autor de hoje: Marcel Proust

Paris, França, 1871 – † Paris, França, 1922

Filho de médico, passou sua infância em Paris, em Champs-Elysées, e as férias de verão em Illiers, sob os cuidados da família. Estudou Direito em Paris, onde fundou a revista O Banquete, na qual publicou suas primeiras experiências literárias. Freqüentou os salões da época, inspirando-se na alta burguesia e na aristocracia francesa para compor seus romances. Após a morte dos pais, dedicou-se à redação do romance Em busca do tempo perdido, publicado entre 1913 e 1927, composto de sete partes. Opondo-se à temática realista, a obra de Proust registra a evocação da memória, capaz de reunir presente e passado em uma mesma sensação. Relatada em primeira pessoa, ultrapassa a narrativa tradicional e realista através da introspecção e da observação. Nela o autor procura demonstrar que o tempo da vida, que parece irremediavelmente perdido, se recupera por meio da obra de arte. Sua obra ampliou os rumos da literatura, contrariando o pensamento positivista dominante na passagem do século.

OBRAS PRINCIPAIS: No caminho de Swann, 1913; À sombra das raparigas em flor, 1919; O caminho de Guermantes I, 1914; O caminho de Guermantes II, 1922; Sodoma e Gomorra, 1922; A prisioneira, 1923; A fugitiva, 1925; O tempo redescoberto, 1927

MARCEL PROUST por Tatata Pimentel

Marcel Proust nasceu em 10 de julho de 1871 em Auteuil, arredores de Paris, em família fugida das turbulências revolucionárias do centro da cidade. Filho de mãe judia, milionária e possessiva, Jeanne Weil, e de pai médico, famoso e autoritário, Adrian Proust. Supõe-se que, em função dos traumas sofridos pela mãe durante a gestação e o parto, a criança tenha nascido com uma asma incurável – tanto física quanto psíquica. Essa doença perseguirá Proust até a sua morte, em 18 de novembro de 1922. Portanto, a sua vida coincide com o painel histórico narrado, que tem por título geral Em busca do tempo perdido.

Proust consegue publicar em vida: No caminho de Swann, em 1913; O caminho de Guermantes I, em 1914; À sombra das raparigas em flor, em 1919; O caminho de Guermantes II, Sodoma e Gomorra, ambos em 1922. Neste mesmo, sai Sodoma e Gomorra II. Após a morte de Proust, seu irmão, Robert, tenta organizar seus cadernos de rascunhos e decifrar os bilhetes, colados nas folhas e contendo as idéias de Proust para os volumes seguintes. Com esta tentativa, publicam-se: A prisioneira, em 1923; A fugitiva, em 1925; e, finalmente, em 1927, O tempo redescoberto. O infindável trabalho para se chegar a um texto final de todos os romances que compõem Em busca do tempo perdido só termina com a edição definitiva, na coleção Pléiade, organizada por Jean-Yves Tadié, em quatro volumes, em 1987 – desautorizando todas as versões anteriores da obra máxima de Proust. Obra esta interminada e interminável. Quando Proust coloca a palavra fim, o faz durante a escritura do romance, e não ao finalizá-lo. Essa narrativa é um imenso painel da sociedade francesa que coincide com a vida do autor. Guerras, revoluções, manifestações artísticas e, principalmente, o fim de uma aristocracia, paralelo ao surgimento de uma burguesia ostensiva. Emergidas exclusivamente através da memória involuntária do autor, com um gole de chá de tília e uma madeleine prensada contra o palato.

Essas memórias saem, grosso modo, de três grupos sociais: o círculo Guermantes, dos aristocratas, a ascensão da burguesa madame Verdurin e as recordações da infância em Combray. Com a famosa frase: “Durante muito tempo, deitava- me cedo”, o autor deslancha a recuperação do passado, das fobias da solidão e da expectativa do beijo da mãe antes do adormecer – na casa de sua tia-avó em Combray. A justificativa de um caminho que leva à casa de Swann e outro que leva ao castelo dos Guermantes deve-se ao fato de que, saindo pela porta de frente da casa da tia, ia-se para a casa de Swann; saindo-se pelo portão dos fundos, ia-se em direção aos Guermantes. Essa oposição geográfica se realizará na obra de Proust quando a burguesia casa-se com a aristocracia. Os primeiros volumes de Em busca do tempo perdido são os mais lidos; há muito leitor derrotado pelas imensas descrições de sensações do narrador, ao fio de todo o romance. Mas o princípio é extremamente fácil, saboroso e divertido. Em busca é o maior desafio para leitor de todas as épocas, que só se interessa por conhecer “a historinha do livro” – hábito que se formou contemporaneamente com a vitória do best-seller, cuja preocupação única é o mito da narrativa e o final da trama. Em busca do tempo perdido é um romance de sensações. O gosto da madeleine no palato com chá de tília e as receitas fabulosas da velha empregada Françoise. O sentimento de ser ou não traído por Albertine, a frase musical que consagra o amor de Albertine e do narrador e a sexualidade dos amigos íntimos. Nada é confirmado nos romances, e sim deixado na dúvida, pois toda a obra é escrita em primeira pessoa. O que o narrador sabe, ele viu ou lhe foi relatado. Ele não é onipresente nem onisciente, como no romance tradicional.

Os grandes painéis da obra: a reunião da família durante as férias do narrador em Combray, com a imortal figura de Françoise; a carência do amor da mãe e a doença de tia Léonie; a beleza de À sombra das raparigas em flor, que se passa na praia atlântica de Cabourg, no litoral francês, e os lazeres da burguesia e da aristocracia; o Caso Dreyfus, discutido nos salões da sociedade parisiense; o anti-semitismo posto em questão; a pintura infernal da Primeira Guerra em Paris; a descoberta da homossexualidade dos vários amigos do narrador; a descrição de uma descida ao inferno dantesco, num bordel masculino parisiense, durante o bombardeio da cidade. E, por fim, a chave de ouro da obra, com a festa na casa dos Guermantes, onde finalmente o narrador constata a decadência física, moral e intelectual dos milhares de personagens que habitam as páginas de Em busca do tempo perdido. O tempo passou para aquela fatia da sociedade parisiense do fim de século. Alguns, criação literária. Outros, personagens reais da época, como a atriz Sarah Bernhardt.

Ler essa obra é tão difícil quanto ler qualquer obra-prima da humanidade, pela sua extensão, pela quantidade de personagens e por sua mobilidade social: uma madame que vira duquesa e tem outro nome; uma prostituta que vira princesa e também muda de nome. É impossível estabelecer uma geografia na obra e uma genealogia. São essas mutações da sociedade e suas ideologias que a tornam o maior painel literário da passagem do século. Exclusivamente pela sensibilidade do narrador: as pesquisas do autor com as minúcias de moda, penteado e chapéu. Enfim, a transmutação de uma sociedade arcaica francesa rumo à França contemporânea.

Para quem pretende enfrentar Proust no original: Bibliothèque de La Pléiade, quatro volumes, Paris, 1987. Para quem deseja ler em português: tradução de Fernando Py, publicada pela Ediouro, e tradução de Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Lucia Miguel Pereira, publicada pela Globo. Os estudos sobre a obra de Proust pululam, desde Deleuze até Julia Kristeva.

Biografia: A Monumental e Definitiva, de Painter. Mas nada subsiste sem a leitura da obra. Difícil e monumental. Longa e eterna, como qualquer obra de arte.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Marcel Proust é o autor escolhido deste Domingo porque hoje, 10 de julho, é seu aniversário!

Para comemorar o Dia da Pizza

Desde 1985, 10 de julho é o Dia da Pizza em São Paulo. A data foi instituída pelo então secretário de turismo, Caio Luís de Carvalho, porque esta foi a data de encerramento de um concurso que elegeu as 10 melhores receitas de pizza mussarela e margherita da cidade. Ou seja: hoje, mesmo que você não seja um paulista da gema, é dia de lembrar desta companheira de todas as horas, deste que é o cardápio preferido das noites de Domingo (e de muitas outras também). A receita de hoje começa e termina em pizza. Mas é uma versão daquelas bem tradicionais, com o sabor da pizza caseira que você comia quando era criança. Ela está no livro Voltaremos! – Receitas e conversas de forno e fogão, de Anonymus Gourmet.

PIZZA CERTA

1/2 kg de farinha de trigo; 1 pitada de sal; 2 envelopes de fermento biológico seco instantâneo; 1/2 litro de água morna; 1 lata e 1/2 de molho de tomate; 3 latas de atum.

Utensílios para a receita. Uma panela, uma peneira e uma forma para pizza.

Organize os ingredientes. Comece preparando a massa

1- Misture a farinha peneirada com o fermento e o sal.

2- Aos poucos, vá colocando a água morna.

3- Misture bem até a massa ficar homogênea.

4- Se precisar, coloque mais um pouco de farinha.

5- Coloque a massa em cima da mesa e sove-a bem com a ajuda de mais farinha de trigo, para não grudar a massa na mesa e nas mãos.

6- Depois, com um rolo, abra a massa.

7- Coloque-a na forma para pizza e deixe dobrar de tamanho.

8- Enquanto isso, faça o recheio misturando o molho de tomate com o atum.

9- Refogue bem em fogo baixo.

10- Tempere com sal e pimenta e coloque-o sobre a pizza já crescida.

11- Cubra tudo com fatias de queijo e rodelas de tomate. Leve ao forno preaquecido até derreter bem o queijo e cozinhar a massa.

12- Por mais ou menos 30 minutos.

Dica do Anonymus. Você pode substituir o atum por sardinha em lata.

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM.

Peça “Adultérios”, de Woody Allen, estreia hoje em São Paulo

A cortina sobe num dia cinzento em Nova York. Pode haver até um pouco de nevoeiro. O ambiente sugere um ponto isolado próximo das margens do rio Hudson, onde as pessoas podem se apoiar sobre o parapeito, observar os barcos e ver a praia de New Jersey. Provavelmente entre as ruas 70 e 80 Oeste. Jim Swain, escritor, com idade entre quarenta e cinquenta anos, está esperando nervoso, conferindo o relógio, andando de um lado para outro, tentando ligar para um número no celular, sem resposta. Está claramente esperando por alguém. Esfrega as mãos, confere se está chovendo e talvez puxe a gola do casaco um pouco para cima ao sentir ao menos uma névoa úmida. Em seguida, um homem grande, sem-teto, com barba por fazer, um morador de rua mais ou menos da idade de Jim, passa meio que de olho nele. Seu nome é Fred. Fred acaba se aproximando de Jim, que está cada vez mais consciente da presença dele e que, embora não esteja exatamente com medo, fica desconfiado por estar numa região erma com um sujeito grande e mal-encarado. Acrescente-se a isso o fato de Jim querer que seu encontro com quem quer que ele esteja esperando seja muito em particular. Afinal, Fred puxa conversa.

Assim começa a primeira peça de Adultérios, livro de Woody Allen que apresenta três deliciosas e divertidas histórias que se passam em Nova York e seus arredores e trazem os mais legítimos personagens de Allen. Pois, hoje, 08 de julho,  estreia em São Paulo a montagem de Adultérios (cujo título original é Central Park West). É a primeira vez que este texto de Woody Allen é adaptado aos palcos brasileiros e marca o retorno de Fabio Assunção ao teatro. Além dele, estão no elenco Norival Rizzo e Carol Mariottini. O diretor Alexandre Reinecke optou por alternar Fábio Assunção e Norival Rizzo nos papéis do mendigo Fred e do escritor Jim Swain que, no início da peça, espera sua amante com a intenção de terminar o relacionamento com ela. Fred, esquizofrênico e inteligente, puxa conversa com ele e, lá pelas tantas, acusa Jim de ter roubado sua história para escrever o roteiro de seu filme (que é sucesso de bilheteria). Como essa história termina? Bom, nesse caso, só leia o livro e assistindo à peça. Ou melhor: fazendo os dois.

Os três atores de "Adultérios" em cena / Foto de divulgação

ADULTÉRIOS
Estréia:
8 de julho, sexta-feira, 21h30
Local: Teatro Shopping Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569 – 6º Andar)
Horários: Sextas, às 21h30 – Sábados, às 20h e às 22h – Domingos, às 19h.
Temporada: De 8 de julho a 25 de setembro de 2011
Preços: Sextas: R$ 50,00 – Sábados: R$ 70,00 – Domingos: R$ 60,00.
Duração: 60 minutos
Lotação: 600 lugares
Classificação Etária: 12 anos
Horário de funcionamento da bilheteria: terça à quinta, no 6º andar, das 13h às 19h; de sexta a domingo, no 6º andar, das 13h até o início dos espetáculos. Telefones da bilheteria: 3472.2229 e 3472.2230
Vendas pela Internet: www.ingressorapido.com.br e 11.4003.1212

Cara a cara com os maiores escritores do mundo

Por Paula Taitelbaum*

Sou um gênio. Tive uma ideia de roteiro para um filme. Vou vender para Hollywood. Não, pensando bem, vou oferecer a Woody Allen. De graça. O storyline é o seguinte: a moça vai visitar a National Portrait Gallery, em Londres, e, de repente, todos os escritores que estão nas telas, pintados em diferentes épocas, ganham vida e se misturam. Como assim isso não passa de um misto de “Uma noite no museu” com “Meia noite em Paris”? Ok, você venceu, sou um fracasso como roteirista…

Brincadeiras à parte, esta ideia é meio inevitável quando se visita a National Portrait Gallery, um museu único e exclusivamente dedicado a retratos. Lá, estão os originais de muitas das imagens que conhecemos – e outras que não são tão populares assim. Telas com imagens de Shakespeare, das irmãs Brontë, de Robert Louis Stevenson, de Jane Austen, de Charles Dickens, de Lord Byron, de Jonathan Swift. As fotos (e não as reproduções) de Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Virginia Woolf, James Joyce, Beatrix Potter… Imagina se eles se descolassem dali!

Só os escritores entrariam no meu filme, mas claro que não são apenas eles que estão pelas paredes. Há reis, rainhas, nobres, pintores, músicos, políticos, celebridades, cientistas (o portrait de Darwin é impressionante!), inventores, roqueiros e ricos das mais variadas espécies. Há pinceladas de todos os famosos que o Reino Unido já viu e produziu.

Vá a Londres, visite a National Portrait Gallery. E depois me diga se o meu roteiro, mesmo que óbvio, não seria um sucesso…

Eu e Shakespeare, feitos um para o outro

Eduardo Bueno e Robert Louis Stevenson

Eu e as irmãs Brontë, na tela sozinha está Emily Brontë, autora do "O morro dos ventos uivantes"

Jane Austen, desenhada por sua irmã (e eu no reflexo)

Charles Dickens era lindo!

Mas Lord Byron era mais lindo ainda!

 *Paula Taitelbaum e Eduardo Bueno visitaram a National Portrait Gallery no final de junho.

O primeiro manuscrito de Shakespeare

O americano Henry Clay Folger (1857 – 1930) adquiriu seu primeiro original de Shakespeare em 1893. É isso mesmo, você não leu errado: estamos falando dos manuscritos originais das peças de um dos maiores dramaturgos de todos os tempos! Depois de ter em mãos o primeiro, conseguir os outros virou obsessão. Durante 35 anos, Folger conseguiu juntar cerca de 82 originais dos 232 que se tem notícia, e agora eles estão em exposição na Folger Shakespeare Library, espaço fundado por ele em Washington para abrigar suas relíquias.

Sala de leitura da Folger Shakespeare Library

O curador Owen Williams examina os demais manuscritos guardados em um cofre no subsolo da Folger Shakespeare Library

Além dos 82 originais de Folger (entre eles o primeiríssimo fólio de Shakespeare), outras 10 peças originais que pertencem a outro colecionador também fazem parte da exposição Fame, Fortune & Theft: The Shakespeare First Folio, que vai até o dia 3 de setembro.

O primeiro fólio de Shakespeare em exibição

Não fosse por estes colecionadores ávidos como Henry Clay Folger e outros que o antecederam, talvez não conheceríamos hoje obras como A tempestade, Macbeth, Noite de Reis e Júlio César.

Leia mais sobre o acervo e outros detalhes da exposição no jornal The New York Times.

“Gre-Nal é Gre-Nal”, uma minissérie baseada nos textos de David Coimbra

Por Ivan Pinheiro Machado

Você que é brasileiro e curte futebol, obviamente já ouviu falar em Gre-Nal. É o chamado “clássico local”, que reúne – numa histórica rivalidade – os dois maiores times do Rio Grande do Sul, o Grêmio Futebol Portoalegrense e o Esporte Clube Internacional. Há alguns gaúchos que dizem que é a maior rivalidade do Brasil. Na minha opinião isto é apenas um bairrismo a mais. A rivalidade entre os dois times é do tamanho das rivalidades entre Bahia e Vitória, Figueirense e Avaí, Coritiba e Atlético Paranaense, São Paulo e Corinthians, Palmeiras e Corinthians, São Paulo e Palmeiras, Vasco e Flamengo, Flamengo e Fluminense, Goiás e Atlético, Atlético e Cruzeiro, Santa Cruz e Náutico, Remo e Paissandu, CSA e CRB e por aí vai. Portanto, os seguidores deste blog dos mais distantes quadrantes deste país entendem o que é um Gre- Nal.

David Coimbra é um jornalista gaúcho que é também um grande escritor brasileiro. Seus livros “Cris, a fera”, “Jogo de Damas”, “Pistoleiros também mandam flores”, “A cantada infalível / A mulher do centroavante”, “Canibais”, entre outros, são apreciados em todo o Brasil. Toda a sua obra é publicada pela L&PM Editores nos formatos convencional e em pocket. Seu texto é tido pela crítica especializada como um dos melhores do país. Ele escreve tanto romance histórico, como novelas de mistério, amor e sexo. Ironia, bom humor e contundência são as marcas do escritor. A sua atividade jornalísitica, rendeu vários livros de reportagem e, juntamente com Nico Noronha, Carlos André Moreira e Mário Marcos, escreveu a história do clássico gaúcho no livro “A história dos Grenais“.

Pois a RBS TV, que retransmite a TV Globo no Rio Grande do Sul, começará a exibir neste sábado, 09 de julho, depois do programa Jornal do Almoço, uma minissérie em quatro capítulos chamada “Gre-Nal é Gre-Nal” que, de forma muito bem-humorada, tratará desta rivalidade futebolística. O roteiro será baseado nos textos que David Coimbra escreveu sobre futebol em livros e no jornal Zero Hora.

Pra sentir o clima, veja um dos teasers que estão sendo exibidos:

O livro que inspirou Woody Allen a escrever “Meia noite em Paris”

Woody Allen é um intelectual europeu. Sempre foi. E a prova disso é seu culto à Nova York, a menos americana de todas as cidades americanas. Quem leu “Cuca Fundida”, “Sem Plumas”, e todos os contos e peças de Allen, poderá constatar que ele não é um cineasta americano. É um cineasta internacional. Nos últimos tempos, Woody Allen escancara esta condição ao fazer filmes que contemplam cidades cosmopolitas do mundo e personagens com diferentes sotaques. Tenho ouvido pessoas tentando criticar “Meia noite em Paris”, dizendo que é um filme de clichês, uma visão americanizada da cultura européia. Não acho. Esta, na verdade, é a nossa visão. Mesmo porque, a impressão que nós temos da Europa é aquecida pelo ponto de vista que os americanos têm do Velho Mundo. E quem disse que esta é uma falsa visão?

Se você ainda não leu, leia o livro de Gertrude Stein Autobiografia de Alice B. Toklas. É escancaradamente uma das inspirações para o roteiro de “Meia noite em Paris”. Você vai entender porque Paris era o paraíso dos intelectuais e artistas na primeira metade do século XX. Na verdade, Paris era o paraíso de TODOS os artistas. Se ficou esta ideia de uma “visão americana” da Paris, é porque os americanos Hemingway, Fitzgerald, Henry Miller, Gertrude Stein, T. S. Eliot, sem dúvida nenhuma escreviam bem melhor do que os outros… (Ivan Pinheiro Machado)

Veja alguns trechos do livro que certamente inspirou Woody Allen:

“A casa da Rue de Fleurus, número 27, se compunha, tal como hoje, de um minúsculo pavilhão de dois andares com quatro pecinhas, cozinha e banheiro, e um vasto ateliê anexo. (…) Toquei a campainha do sobrado e fui levada ao minúsculo vestíbulo e depois à pequena sala de refeições forradas de livros. No único espaço livre, as portas, havia desenhos de Picasso e Matisse presos por tachinhas.”

“Eliot [T.S. Eliot] e Gertrude Stein mantiveram uma conversa solene, principalmente a respeito de infinitivos separados por preposições e outros solecismos gramaticais e por que motivos Gertrude Stein gostava de usá-los.”

“A primeira coisa que aconteceu quando regressamos a Paris foi encontrar Hemingway com uma carta de recomendação de Sherwood Anderson. Eu me lembro muito bem da impressão que tive de Hemingway naquela primeira tarde. Era um rapaz extraordinariamente bonito, de vinte e três anos de idade. Faltava pouco tempo para todo mundo ter vinte e seis…”

“Getrude Stein e Fitzgerald são muito estranhos na relação que mantêm entre si. Gertrudes Stein tinha ficado impressionadíssima com Ths Side of Paradise. Leu quando saiu e antes de conhecer qualquer escritor da nova geração americana. Disse que considerava o livro como a primeira manifestação pública da nova geração. E nunca mais mudou de opinião.”

Gertrude Stein (de cabelo preso à direita) e sua companheira Alice Toklas na casa de Paris em 1923

Pinóquio em stop-motion

Você sabe como foi que “um pedaço de madeira que chorava e ria como um menino” – e que daria origem à Pinóquio – chegou à casa de Gepeto? Pois esta história está logo no início do livro de Carlo Collodi (Coleção L&PM POCKET) e talvez também seja contada em “Pinocchio”, filme que será produzido a partir da narrativa original e de desenhos feitos por Gris Grimly. A animação em stop-motion está prevista para estrear em 2014 e foi uma ideia do cineasta mexicano Guillermo Del Toro, que assina o roteiro. O projeto vai usar como referências as ilustrações de Grimly, que além de participar do roteiro, também assina a direção ao lado de Mark Gustafson, diretor da animação “O Fantástico Sr. Raposo”. Del Toro já afirmou há alguns meses atrás que sua versão será bem mais sombria e surreal do que a clássica animação da Disney, algo mais no estilo Tim Burton. Para completar, o roqueiro Nick Cave foi chamado para fazer a consultoria musical do projeto. E deve ser tudo verdade ou… o nariz de alguém já teria crescido a esta altura.

Os bonecos que farão parte do filme de Guillermo del Toro (clique para ampliar)

Os desenhos de Gris Grimly (clique para ampliar)

“A madeira da qual Pinóquio foi esculpido é a própria humanidade.” (Benedetto Croce)

35. O Humor nos tempos de chumbo: uma historinha da “Antologia Brasileira de Humor”

Por Ivan Pinheiro Machado*

O segundo lançamento da L&PM Editores foi a “Antologia Brasileira de Humor” em dois volumes. Era 1976. Hoje, passadas mais de três décadas, este livro, que reúne os 82 dos mais importantes humoristas brasileiros da época, é um documento único, histórico e precioso. O humor estava – paradoxalmente – em alta. Vivíamos sob dura censura e eram o cartum, a tira, ou mesmo o texto de humor, os únicos veículos onde, por ignorância e descuido dos censores, ainda se podia “vazar” algum “contrabando” contra a ditadura. A “Antologia Brasileira de Humor” retrata de maneira extraordinária este momento da história cultural e política de nosso país. A prova da popularidade dos livros de humor são as listas de bestsellers da época. Entre os livros mais vendidos, a maioria eram livros do gênero. Títulos de Ziraldo, Millôr Fernandes, antologias de piadas e outros livros editados principalmente pela editora Codecri, de propriedade de “O Pasquim”, dominavam as listas. E toda a atividade humorístico/contestadora do país, na época, emanava de uma velha casa no alto da ladeira da rua Saint Roman, no final de Copacabana, no Rio de Janeiro. Lá era a a sede do “templo” da resistência cultural brasileira, “ O Pasquim”.

Os volumes 1 e 2 da "Antologia Brasileira de Humor"

Havíamos estreado como editora em agosto de 1974 com o Rango 1, do Edgar Vasques (leia o post que conta esta história). O Lima, o Edgar Vasques, o Fraga (humorista e colaborador da Folha da Manhã de Porto Alegre) e eu formávamos a equipe que editaria a primeira grande antologia organizada naqueles tempos sombrios.

Para que o nosso projeto se concretizasse precisávamos “vender” a ideia para a turma do Pasquim. Millôr, Ziraldo, Caulos, Ivan Lessa, Jaguar, Fortuna, Henfil e o resto da “patota” (como eles se auto-intitulavam) tinha que endossar a empreitada. Além é claro, da turma de São Paulo, com Laerte, Angeli, Luiz Gê, Chico e Paulo Caruso entre muitos outros. Se o pessoal do “Pasquim” aderisse, certamente todo mundo seguiria.

O Edgar Vasques era um cara conhecido pelo seu original e brilhante personagem Rango (que mais tarde seria publicado também pelo “Pasquim”). Tendo ele como referência, marcamos – via caríssimos telefonemas interurbanos –, encontros com Millôr Fernandes e Ziraldo no Rio de Janeiro. Éramos meninos de pouco mais de 20 anos e Millôr e Ziraldo já eram monstros sagrados da cultura brasileira. O encontro com Millôr foi inesquecível. Ele se mostrou gentilíssimo, recebeu-nos em sua cobertura/estúdio na praça Gen. Osório e, depois do encontro, nos convidou para almoçar na sua casa, na Vieira Souto esquina com Aníbal de Mendonça. Neste prestigiado endereço tivemos a oportunidade de comer um verdadeiro banquete de comida brasileira promovido por Dona Vanda, esposa do Millôr. De lá, fomos até a sede do “Pasquim”, onde Ziraldo nos aguardava precedido por um telefonema do Millôr. Subimos a íngreme ladeira da rua Saint Roman e lá apresentamos ao Ziraldo o projeto da “Antologia” pedindo que ele fizesse um “meio-campo” entre nós e o pessoal que colaborava no “Pasquim”. Ele achou ótimo e se comprometeu a cobrar dos parceiros o material para inclusão na antologia. Henfil, Caulos, grandes figuras, testemunharam o encontro e imediatamente se solidarizaram conosco prometendo também nos ajudar a “cooptar” o resto do pessoal. Até que, no meio da nossa conversa, Ivan Lessa entrou na sala. Eu, que achava o Ivan Lessa e o Millôr os caras mais inteligentes do Brasil, preparei-me para me curvar diante do gênio. Ele estava sério, olhou para nós irritado e perguntou:

– Quem são estes caras? (Bem assim).

O tom era de poucos amigos. Ziraldo ficou meio constrangido, mas falou:

– Eles são gaúchos lá de Porto Alegre, estão organizando uma Antologia Brasileira de Humor e querem a nossa colaboração.

Ivan Lessa passou da irritação à indignação:

– Pôrra Ziraldo! Você adora dar força para a concorrência! Não vê que estes caras são nossos concorrentes, pô! Porque a Codecri não faz esta porra desta antologia? Desta aí eu estou fora!

Ficamos paralisados. O Ziraldo, o Caulos e o Henfil, chateadíssimos, esperaram o Ivan Lessa sair da sala batendo a porta para se desculparem. Nós estávamos chocados. O Ziraldo procurou contemporizar:

– Não levem a mal, porque o Ivan é assim mesmo…deixa comigo, eu convenço ele a participar.

Seis meses depois, ia para as livrarias a “ Antologia Brasileira de Humor” em dois volumes,  com capa do grande cartunista paranaense Miran, 10 mil exemplares de tiragem (cada volume) e com a participação de 82 humoristas, entre eles… Ivan Lessa.

Abaixo, separamos alguns dos cartuns que foram publicados nos dois volumes da antológica antologia. Clique e folheie à vontade:

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo cinco post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Independence Day ao som de Jimi Hendrix

4 de julho é um dia que a maioria de nós já ouviu falar. E isso, claro,  não só pelo apreço do mundo ocidental à história, mas também graças ao poder de Hollywood – que eternizou  o  “Independence Day” através da lente de diferentes diretores. 4 de julho de 1776 foi o dia em que as treze colônias que se revoltaram contra a Inglaterra fizeram dos Estados Unidos uma nação independente. Hoje, 235 anos depois, poucos se consideram tão “livres” quanto eles.

Em 1969, no Festival de Woodstock, o grande Jimi Hendrix tocou “Star Spangled Banner”, o hino norteamericano, misturado ao som de bombardeios, o que fazia uma referência direta à Guerra do Vietnã. O resultado, ainda hoje, é bombástico.