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Múltiplos olhares sobre Allen Ginsberg

Pelo jeito, o Howl Festival 2011 realizado de 3 a 5 de junho em Nova York para comemorar o aniversário de Allen Ginsberg foi um sucesso! Basta dar uma olhada nas notícias e fotos da festa que circularam na internet desde o primeiro dia. Como de costume, o festival abriu com uma leitura em grupo de Howl (Uivo), o longo e célebre poema de Ginsberg que dá nome ao evento. Ainda na programação, vários shows de música, apresentações de dança, performances, poesia e até um carnaval infantil.

Ao longo do Tompkins Square Park, que fica no East Village, bairro em que Allen Ginsberg morou até o fim da vida, diversos artistas gráficos também prestaram sua homenagem ao poeta. Fazendo uma busca simples por “Howl Festival 2011” no Flickr, você encontra uma verdadeira cobertura fotográfica colaborativa do evento:

(passe o mouse sobre as fotos para ver os créditos ou clique para ir direto ao perfil do fotógrafo no Flickr)

howl festival 2011

Art Around the Park, Howl Festival 2011, East Village, New York City - 3

ginsburg, allen at Howl

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Quer ver mais fotos? No Flickr há centenas delas! Clique aqui e sinta o clima do que foi o Howl Festival 2011.

Bertrand Russell e seu cachimbo

Bertrand Russell é considerado o filósofio mais expressivo e engajado do século XX, ao lado de Sartre. Fumante incansável, sempre segurando seu cachimbo, Russell estava em um avião que, em 1948 caiu sobre o mar da Noruega. Em sua autobiografia, ele descreveu o acidente: “Quando nosso avião pousou sobre a água, tornou-se óbvio que algo estava errado. Nós estávamos sentados no avião enquanto ele lentamente afundava. Vi botes reunidos em volta dele e logo fomos informados que devíamos pular no mar e nadar até um destes barco – o que todas as pessoas perto de mim fizeram. Soubemos posteriormente que os dezenove passageiros da área de não-fumantes tinham morrido quando o avião atingiu a água. Eu havia dito a um amigo em Oslo, que foi quem reservou meu lugar no avião, que ele devia escolher uma poltrona onde eu pudesse fumar e comentei jocosamente: “Se eu não puder fumar, vou morrer”. Inesperadamente, esta acabou sendo uma verdade.”

Bertrand Arthur Wiliam Russell, terceiro conde de Russell, nasceu no País de Gales, em uma família tradicional. Tornou-se filósofo, lógico, matemático, além de inveterado humanista. Foi pacifista, posicionou-se a favor da emancipação feminina e do controle da natalidade, combateu o imperialismo e foi um dos primeiros defensores do desarmamento nuclear. Agnóstico declarado, criticava qualquer forma de autoridade que tolhesse a liberdade de pensamento e de expressão e acusava instituições religiosas e seus fieis por dificultarem a vida do ser humano. Seus leitores e admiradores viam nele um profeta da vida criativa, moderna e racional. Em 1950, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Na década de 1960, denunciou os Estados Unidos pela invasão do Vietnã. Foi casado quatro vezes e, apesar de nunca ter largado seu cachimbo, morreu com quase cem anos.

De Bertrand Russel, a L&PM publica Por que não sou cristão; Ensaios céticos e No que acredito, livro da Série Pocket Plus em que o filósofo começa dizendo que “O homem é uma parte da natureza, não algo que contraste com ela. Seus pensamentos e movimentos corporais seguem as mesmas leis que descrevem os deslocamentos de estrelas e átomos…”

31. O homem que sabia dar títulos

Por Ivan Pinheiro Machado*

Editor, até pouco tempo atrás, era considerado apenas um leitor de luxo. Uma espécie de diletante privilegiado, quase como um diretor de uma fundação. Poucos imaginavam que uma editora pudesse ser uma empresa, ter obrigações prosaicas como pagar salários, direitos autorais, aluguéis etc. As pessoas se sentiam no direito de interromper o nosso jantar num restaurante para dizer que tinham uns poemas ou um romance “e você vai ter que ler e publicá-los!”. Este detalhe insalubre da profissão de editor é pouco conhecido. Vez por outra, numa festa ou num lugar público, você se torna refém dos chatos…  Hoje, o mercado se profissionalizou e estas abordagens já não são tão frequentes como antes. Ainda acontece, mas o “público em geral” já tem ideia de que editor é um profissional como qualquer outro. Uma editora, ao contrário de uma fundação, é um negócio sujeito às leis do mercado.

Com os escritores acontecia praticamente o mesmo. Eram (e são) atormentados pelos mesmos chatos e amigos para lerem originais e darem uma opinião ou uma ajudinha para encontrar um editor. O José Onofre Krob Jardim, escritor e um dos melhores textos da imprensa brasileira, falecido recentemente, contava uma história muito boa sobre esta relação entre o “chato” e o escritor.

William Faulkner, prêmio Nobel de 1949, autor de “O som e a fúria”, “Enquanto agonizo”, “Luzes de agosto”, entre outras obras-primas, era famoso por criar ótimos títulos para os seus livros. Um dia, um amigo ligou e disse que seu filho havia escrito um romance muito bom, mas que estava com dificuldades para escolher o título. Ele pedia que Faulkner lesse o livro e desse um nome a ele. Educadamente, o grande escritor concedeu que o filho do amigo fosse a sua casa com seus originais.

Poucos dias depois, o rapaz cumpriu a promessa do pai e chegou na casa do escritor com um enorme calhamaço, um romance com quase 800 páginas datilografadas.

– Aqui está o livro para o senhor ler, Mestre.

Faulkner olhou apavorado para aquela montanha de papel e disse:

– Olha, meu filho, eu acho que já tenho um título para o seu livro…

– Mas o senhor não quer ler?

– Diga-me uma coisa. Por acaso a sua história se refere a tambores? Há alguma passagem em que os personagens toquem tambores?

– Não… com certeza não.

– Diga-me também o seguinte; em algum momento do livro existe uma cena em que há o som de clarins como fundo?

– Não. Respondeu o jovem, cada vez mais intrigado.

– Então está aí… Disse Faulkner com um sorriso sábio. Já temos o título: “Nem tambores, nem clarins”!!

O escritor William Faulkner em seu escritório

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo primeiro post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Fernando Pessoa e o Tejo

O rio Tejo, que corta Portugal de oeste a leste, é personagem típico na literatura feita no país. Nos versos de Fernando Pessoa, um de seus poetas mais ilustres, não seria diferente. Ouça a seguir o poema O rio da minha aldeia, do livro Poesias (Coleção L&PM Pocket), interpretado por Tom Jobim no CD Música em Pessoa, lançado em 1985, por ocasião dos 50 anos da morte do poeta português.

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal
Toda a gente sabe disso
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Conheça os livros de Fernando Pessoa e seus heterônimos na Coleção L&PM Pocket.

Uma obra inédita de Conan Doyle

A novela inédita The narrative of John Smith escrita por Sir Arthur Conan Doyle entre 1883 e 1884 será finalmente publicada pela British Library. A responsável pelo setor de manuscritos da British Library, Rachel Floss, contou ao jornal The Guardian que Conan Doyle, na época com apenas 23 anos, chegou a enviar os originais a uma editora, mas o pacote se perdeu no correio e ele tentou reescrever o livro com base naquilo que lembrava. É esta história reconstituída, explica Rachel, que será lançada em novembro deste ano e já tem até capa:

Em The narrative of John Smith, um homem de 50 anos vive confinado em seu quarto devido a uma doença e desenvolve suas opiniões sobre diversos assuntos, de religião à guerra. Quem teve a oportunidade de ler afirma que já há nele alguns indícios do personagem Sherlock Holmes, cuja primeira história foi publicada pouco tempo depois.

Conheça os títulos de Conan Doyle na Coleção L&PM Pocket.

Nossos primeiros Mangás

Os Mangás possuem muitos fãs e colecionadores. Não apenas no Japão – país que mais consome quadrinhos no planeta -, mas pelo mundo afora.  A L&PM aderiu ao gênero e, ainda este ano, vai lançar títulos clássicos de uma das maiores editoras japonesas, a Shogakukan: Solanin (em dois volumes), de Inio Asano, e Boken Shonen, de Mitsuri Adashi.

E para adiantar, apresentamos aqui a capa original do primeiro volume de Solanin que chegará à Coleção L&PM POCKET no segundo semestre de 2011 (aqui ela ainda está em japonês) e duas páginas como elas chegam na editora: com os balõeszinhos em branco para serem preenchidos com a versão em português, cuja tradução do japonês está sendo feita por Adriana Kazue Sada, sob a coordenação editorial de Alexandre Boide (o mesmo tradutor da Série Peanuts Completo). Logo, logo, você vai saber o que eles estão dizendo aí… Por enquanto, use a imaginação.

O amigo de Kafka

A grande metamorfose de Kafka aconteceu em 3 de junho de 1924 quando, depois de muito sofrimento causado pela Tuberculose, ele finalmente descansou. Robert Klopstock, seu grande amigo, acompanhou os últimos dias do escritor, como mostra o trecho do livro Kafka, série Biografias L&PM.

Às quatro horas da manhã, Dora chama Klopstock ao quarto, porque Franz respira muito mal. Klopstock tem consciência do perigo e acorda o médico, que faz uma injeção canforada. Então começa a última batalha do escritor, a da morfina. Ele culpa, com raiva, seu amigo, recriminando-o por não querer ajudá-lo: “Você sempre me prometeu, há quatro anos. Você me tortura, você sempre me enganou… Não falarei mais com você. Eu estou morrendo, afinal”. Aplicaram-lhe duas injeções. Na segunda, ele disse: “Não trapaceie, você está me dando um antídoto”. Depois ele disse […]: “Mate-me, senão você é um assassino”. Deram-lhe pantapon, ele ficou feliz: É bom assim, mas mais, mais, você está vendo que não está fazendo efeito”. Depois, ele lentamente adormeceu. Suas últimas palavras foram para sua irmã Elli, Klopstock segurava-lhe a cabeça. Kafka, que sempre teve um medo extremo de contaminar alguém, disse, olhando para o amigo que tomava por sua irmã: “Vamos, Elli, não tão perto”. E como Klopstock se endireitasse um pouco: “Sim, assim, está bem.

Robert Klopstock ainda era estudante de medicina quando interrompeu seus estudos para ajudar a cuidar de Kafka. Seu nome ficaria para sempre ligado ao do autor de A metamorfose, Carta ao pai, O processo, Um artista da fome, entre outros.

Robert Klopstock, o amigo de Kafka que estava ao lado do escritor no dia de sua morte

E foi graças a outro amigo, o escritor e jornalista Max Brod, que a obra de Franz Kafka não se perdeu no tempo. Em 1922, Kafka pediu a ele que destruísse todos os seus escritos após sua morte. Brod não cumpriu a promessa, salvou o que conseguiu, recuperou trabalhos perdidos durante o regime nazista na Alemanha e publicou grande parte dos livros do amigo. À Brod, o nosso muito obrigada. 

Volta o Outono

Pablo Neruda
(do livro Residência na Terra II – tradução de Paulo Mendes Campos)

Um enlutado dia cai dos sinos
como trêmula teia de vaga viúva,
é uma cor, um sonho
de cerejas mergulhadas na terra,
é uma cauda de fumaça que chega sem descanso
a trocar a cor da água e dos beijos.

Não sei se me entendem: quando do alto
se avizinha a noite, quando o solitário poeta
à janela ouve correr o corcel do outono
e as folhas do medo pisoteado rangem nas suas artérias
há algo sobre o céu, como língua de boi
espesso, algo na dúvida do céu e da atmosfera.

Voltam as coisas ao lugar,
o advogado indispensável, as mãos, o azeite,
as garrafas,
todos os indícios de vida: as camas, sobretudo,
estão cheias dum líquido sangrento,
a gente deposita sua confiança em sórdidas orelhas,
os assassinos descem escadas,
mas não é isto, e sim o velho galope,
o cavalo do velho outono que tremula e dura.

O cavalo do velho outono tem a barba vermelha
e a espuma do medo lhe cobre as faces
e a aragem que o segue tem forma de oceano
e perfume de vaga podridão enterrada.

Todos os dias baixa do céu uma cor cinzenta
que as pombas devem repartir pelas terras:
a corda que o esquecimento e as lágrimas tecem,
o tempo que dormiu longos anos dentrodos sinos,
tudo,
os velhos trajes mordidos, as mulheres que olham
chegar a neve,
as papoulas negras que ninguém podem contemplar sem morrer,
tudo cai nas mãos que levanto
no meio da chuva.

Conheça todos os títulos de Pablo Neruda publicados pela L&PM.

Para comemorar o aniversário de 85 anos de Allen Ginsberg

“Allen Ginsberg nasceu em Mewark, Nova Jersey, a 3 de junho de 1926, filho de Louis e Naomi Ginsberg, ambos de famílias de judeus russos emigrados. Seu pai foi poeta e professor de literatura no secundário. Chegou a ser publicado em antologias importantes e frequentou círculos literários de prestígio. Sua mãe, também professora, passou boa parte da vida internada, vítima de esquizofrenia paranóica. Por isso, a infância e juventude de Ginsberg em Paterson, para onde logo se mudaram e Louis passou a lecionar, foram difíceis e dolorosas. Convivendo com crises e dificuldades, Ginsberg cresceu, contudo, em um ambiente culto, pelas leituras e pela produção do pai, e politizado, também por influência de Louis, socialista, e de Naomi, comunista militante. O drama familiar o levou a interrogar-se sobre sua identidade, seu papel na sociedade e no mundo. Contribuiu para que desenvolvesse, como observam seu biógrafo Barry Miles e outros comentaristas, tolerância e simpatia pela loucura e excentricidade, quer fossem de personalidades da literatura, os escritores visionários e desregrados, ou das pessoas com quem conviveu durante o período de formação da Geração Beat nos anos 40 e 50, e ao longo do restante da sua vida” (Claudio Willer* no prefácio de “Uivo“)

Allen Ginsberg, que faleceu em 5 de abril de 1997, faria 85 anos hoje. Para comemorar a data, desde 2003, seus fãs organizam o Howl! Festival em Nova York. É uma grande festa que começa no dia 3 de junho e vai até o dia 5, com eventos de música, dança, poesia e até um carnaval infantil. Basta chegar e participar. A comemoração acontece no Tompkins Square Park, que fica no East Village, bairro em que Ginsberg morou até o fim da vida.  Como de costume, o festival abre com um grupo de leitura de “Howl” (Uivo), o longo e pulsante poema de Ginsberg. No ano passado, cerca de 100 mil visitantes celebraram as palavras de Ginsberg. Quem estiver em Nova York já tem programa pra este final de semana.

*Claudio Willer realizou a tradução, seleção e notas de “Uivo” – editado em formato convencional e pocket pela L&PM

A maior saga poética de todos os tempos

“Eu inventei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas;  tentei inventar novas flores, novos astros, uma nova linguagem. Acreditei que tinha poderes sobrenaturais… Que nada! Devo enterrar minha imaginação e minhas lembranças! Uma bela glória de artista e de criador arrebatado!”  

Quando Arthur Rimbaud (1854-1891) escreveu à sua irmã Isabelle “a vida é uma miséria, uma miséria sem fim. Porque existimos?” ele tinha 37 anos e apenas mais alguns meses de vida. Mas que importância tem isto para alguém que viveu muitas vidas em uma só; uma vida de aluno precoce, uma vida de adolescente rebelde, uma vida efêmera de poeta genial, uma vida de amante de Paul Verlaine, uma vida de grande viajante ao redor do mundo, uma vida de negociante na Abissínia, uma vida de estropiado, de aleijado, errando pelos desertos da África Oriental, uma vida de tragédia grega, de verbo e de silêncio. A vida e a obra se confundem e se unem para formar a incrível saga de Arthur Rimbaud na terra. 

“Rimbaud” de Jean-Baptiste Baronian é o novo livro da Série Biografias da nossa coleção L&PM Pocket. Um livro escrito com o arrebatamento digno de Jean Nicolas Arthur Rimbaud, o mito, cuja vida envolta de mistérios, se constitui numa das maiores aventuras poéticas de todos os tempos. (Ivan Pinheiro Machado

Rimbaud está na Série Biografias L&PM

 

A L&PM publica Uma temporada no inferno, de Arthur Rimbaud, em edição bilingue. E também A hora dos assassinos, um estudo de Henry Miller sobre a poesia de Rimbaud.