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O ardente The Globe

Por Paula Taitelbaum

Era verão e o público lotava  o The Globe naquela noite de 29 de junho de 1613 para mais uma estreia de Shakespeare. O céu estava limpo e, sob ele, a maioria dos espectadores permanecia em pé aguardando o início de “Henrique VIII”. Eles eram os chamados “groudlings” e se amontoavam em volta do palco, ao ar livre, em pé ou sentados no chão. No The Globe, uma construção octogonal de madeira, era possível acomodar até três mil pessoas e os que tinham mais recursos sentavam-se nos bancos cobertos. Sob o palco, alguns alçapões guardavam surpresas para durante a encenação. Sobre o tablado, havia uma galeria para ser usada em cenas de varanda, saídas e entradas dos atores ou para os músicos entoarem as canções da peça. 

O espetáculo então teve início e, mais uma vez, ele parecia mostrar que o texto de Shakespeare seria um sucesso. Envolvido nas tramas e dramas do monarca Henrique, o público estava concentrado quando soou o tiro de canhão de uma das cenas. O susto foi grande. Além do estrondo, ele acabou atingindo o telhado do lugar. O fogo espalhou-se rapidamente. E assim, em menos de uma hora, há exatos 398 anos atrás, o The Globe, popular teatro de Londres, foi totalmente consumido pelas chamas. Ninguém se feriu e a maioria dos figurinos e adereços das peças de Shakespeare conseguiram ser resgatados do incêndio.

Apesar do incidente, o teatro que era chão de Shakespeare foi logo reconstruído. Mas em 1642, com os puritanos no poder –  e franzindo a testa para qualquer tipo de entretenimento – o governo ordenou que todos os teatros locais fossem fechados. Desta vez, o The Globe não resistiu às fúria flamejante de gente como Oliver Cromwell, líder da Guerra Civil Inglesa, e sucumbiu, sendo demolido em 1644. Felizmente, Shakespeare, que morrera em 1616, não assistiu a esta triste cena.

Foi só a partir de 1970 que começou-se a falar novamente no The Globe e na possibilidade de uma reentrada dele nos circuito de teatros londrinos, com uma campanha liderada pelo ator e diretor britânico Sam Wanamaker. Anos depois, tiveram início as pesquisas arqueológicas para encontrar o local aproximado do The Globe original e uma réplica do antigo teatro começou a ser erguida em 1989, num terreno que, tudo indica, fica a 100 metros de onde estava o antigo. 

Em 1999, o Shakespeare´s Globe Theatre foi inaugurado, mantendo exatamente as mesmas características daquele erguido à beira do Tâmisa em 1542. A peça que abriu a temporada do novo teatro foi justamente uma das primeiras de Shakespeare a ser encenada no velho The Globe: “Henrique V“.

O Shakespeare Globe na beira do Tâmisa

Hoje, lá está ele imponente em seu estilo “retrô”. E basta pagar uma bagatela de 5 libras para sentir-se um verdadeiro “groudling” dos tempos shakespearianos. Foi o que eu fiz há cinco dias atrás. A tarde estava linda e, sob o céu azul, comprei ingresso para um espetáculo que começava às 14h (há sessões às 14h e às 19h30min). A única ironia é que, justamente naquele dia, a peça em cartaz não era assinada pelo do dono da casa, mas por seu maior concorrente: Christopher Marlowe. Mesmo assim, valeu assistir a “Doctor Faustus” à beira de um palco que, naquele momento, fiingi ser o mesmo em torno do qual Shakespeare orbitava.

Consegui um bom lugar na beira do palco - Foto: Eduardo Bueno

Às 14h em ponto os músicos se acomodaram na galeria - Foto: Paula Taitelbaum

Queria ver Shakespeare, mas era dia de Marlowe - Foto: Paula Taitelbaum

 O Shakespeare´s Globe tem uma lojinha ótima. E o melhor é que dá pra comprar pela internet. Dá uma olhada.

E se David Lynch filmasse “A metamorfose”

Tem livros cujas histórias são tão bem contadas e cheias de detalhes que chegam a ser visuais. Não é a toa que inúmeros diretores já se inspiraram em histórias da literatura para fazer seus filmes como Pedro Almodóvar em Carne Trêmula, Marc Foster no Em busca da terra do nunca e Tim Burton em Alice no país das maravilhas, só pra citar alguns.

Já tentou imaginar como você faria um filme a partir do seu livro preferido? O vídeo abaixo propõem um exercício interessante para estudantes de artes gráficas e cinematográficas: criar uma abertura para um filme (que ainda não foi feito) baseado na história de um livro sob a batuta de determinado diretor, tudo de faz-de-conta. Se David Lynch filmasse A metamorfose, de Franz Kafka, por exemplo, o resultado poderia ser algo mais ou menos assim:

Note que os créditos trazem nomes de pessoas “de verdade” como David Lynch e Meryl Streep, mas é só um exercício. No post Livros reais, filmes imaginários, do jornalista Almir de Freitas no site da revista Bravo!, há outros vídeos inspirados em livros ainda não filmados como O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger e outros.

A arca de Fernando Pessoa

Precavido e organizado, o poeta português Fernando Pessoa “salvou” boa parte de sua intensa produção literária numa arca. Os poemas que ainda não tinham sido publicados foram organizados e etiquetados pelo próprio Pessoa para garantir que a posteridade não profanasse sua obra.

A arca onde Fernando Pessoa guardava seus manuscritos foi a leilão em 2008 junto com fotos e outros pertences do escritor

Nesta arca, havia um envelope verde com o rótulo “quadras”, cujo conteúdo revela um outro Fernando Pessoa – que também não está em nenhum de seus heterônimos. Eram 60 folhas com 365 quadras até então desconhecidas pelo grande público, que revelam um poeta simples que fazia registros do cotidiano e da vida na aldeia. Este material foi reunido no livro Quadras ao gosto popular (Coleção L&PM Pocket), que conserva desde a ordem dos papéis organizados por Pessoa até a ortografia da época.

Mas, afinal, o que é uma “quadra”?

Na introdução do livro Quadras ao gosto popular, assinada pela escritora Jane Tutikian, há uma explicação:

Vale dizer que este [a quadra] é o mais elementar e popular dos gêneros poéticos, cuja  principal característica é a simplicidade do tema e do esquema métrico, composto por redondilhas maiores (versos de sete sílabas), também conhecidas como “medida velha” – esquema de composição muito utilizado pelos poetas medievais.

Mas a definição do próprio Fernando Pessoa, extraída do livro Missal das trovas e citado na mesma introdução, é muito mais poética:

A quadra é um vaso de flores que o povo põe à janela  da sua alma. Da órbita triste do vaso escuro a graça exilada das flores atreve o seu olhar de alegria. Quem faz quadras portuguesas comunga a alma do povo, humildemente de todos nós e errante dentro de si próprio (…)

Aí vai um pouco da simplicidade e da leveza desta outra face de Fernando Pessoa:

8
Entreguei-te o coração
E que tratos tu lhe deste!

É talvez por ‘star estragado
Que ainda não mo devolveste…

11
Duas horas te esperarei
Dois anos te esperaria
Dize: devo esperar mais?
Ou não vens porque inda é dia?

117
O cravo que tu me deste
Era de papel rosado
Mas mais bonito era inda
O amor que me foi negado

Billy the Kid surpreende mais uma vez

O famoso retrato de Billy the Kid, tido como o único registro em foto do maior serial killer do velho oeste dos Estados Unidos, foi arrematado em um leilão por US$2,3 milhões, superando a expectativa inicial de venda de US$400 mil. O retrato foi dado pelo próprio Billy a seu amigo Dan Dedrick e permanecia com a família até então.

Foi esta imagem que criou a falsa ideia de que Billy the Kid era canhoto. Tanto que o filme feito em 1958 por Arthur Penn (o mesmo diretor de Bonnie e Clyde) sobre a vida do criminoso, com Paul Newman no papel principal, ganhou o título de The Left Handed Gun. Muito tempo depois, descobriu-se que a técnica fotográfica utilizada na época reproduzia imagens invertidas, dando a ilusão de que ele segurava a arma com a mão esquerda.

Para conhecer a história completa de um dos personagens mais enigmáticos do imaginário mundial, leia Billy the Kid da Coleção L&PM Pocket.

O lugar onde nasceu Peter Pan

“Vocês precisam entender que será difícil acompanhar as nossas aventuras se não se familiarizarem com o Kensington Gardens, se não o conhecerem tão bem quanto David o conhece. O Gardens fica em Londres, onde vive o rei, e as crianças o visitam todos os dias, a não ser que estejam decididamente febris, mas ninguém jamais conseguiu percorrer muito rápido. (…) O Serpentina começa aqui perto. É um lago encantado, e há uma floresta submersa no fundo dele. Se você espiar na beira da água, verá as árvores todas crescendo de lá para cá, e dizem que no período da noite também existem estrelas submersas no lago. Se existem mesmo, Peter Pan as vê quando está velejando pelo lago no Ninho de Tordo. Só uma pequena parte do Serpentina fica no Gardens, pois ele logo passa por baixo de uma ponte e se estende para muito longe, até a ilha na qual nascem todos os pássaros que viveram meninos e meninas. Ninguém que seja humano, exceto Peter Pan (e ele é apenas meio humano), consegue chegar até a ilha, mas você pode escrever o que deseja (menino ou menina, moreno ou loiro) num pedaço de papel e depois dobrar o papel em forma de barco e lançá-lo na água, e ele chega à ilha de Peter depois do anoitecer.” (Trecho do primeiro capítulo de Peter Pan em Kensington Gardens)

Se você morasse na frente do Kensignton Garden, como J. M. Barrie um dia morou, provavelmente também ficaria inspirado a criar alguma história, quem sabe um poema, de repente uma música. Os recantos verdes, o lago Serpentine, a ilha cravada na água, as árvores retorcidas, a ponte e os pássaros e tudo o mais que se estendia além das janelas de Barrie, serviu de estímulo para que o escritor criasse os cenários do mundo de Peter Pan. Eu estive lá na semana passada. Eu vi Peter de perto. Eu senti vontade de mergulhar no lago para procurar suas árvores submersas (mas avisos indicam que você não deve tocar na água, pois as algas verdes podem causar “danos à saúde”). Eu atravessei a rua e fiquei orbitando em volta da casa que um dia foi de Barrie. E mesmo que o novo proprietário tenha posto tapumes para evitar as fotos, nós subimos no muro e clicamos o jardim onde muito provavelmente um dia Sir James tomou o seu chá inglês das cinco. (Paula Taitelbaum, que esteve em Kensignton Garden na quinta-feira passada com Eduardo Bueno e fez as fotos abaixo)

O lago Serpentina percorre o Kensington Gardens

As águas e os recantos formam uma paisagem encantada

A seta indica que Peter Pan está por perto

E aqui está ele bem no meio do parque!

O bronze da escultura foi doado pelo próprio J.M. Barrie

Atravessando a rua, chegamos na casa de esquina que um dia foi do escritor

A placa deixa claro que ele morou mesmo aqui

Será que tem alguém em casa?

Como ninguém atendeu, Eduardo Bueno resolveu dar uma espiadinha

E conseguiu fazer uma foto do jardim que um dia foi de Barrie

(se quiser ver mais fotos do passeio pela terra de Peter Pan, vá até a nossa galeria no Flickr e divirta-se!)

Kensington Gardens é um parque público de Londres que fica junto ao Hyde Park. O lago Serpentine (Serpentina) foi criado no séc. XVIII a pedido da esposa do rei George II, Carolina de Ansbach. Há alguns anos, ali também foi construido um memorial em homenagem à Princesa Diana.

Fãs dos Smurfs provam que “a Terra é azul”

Milhares de pessoas em diversos lugares do mundo – de Bruxelas ao Ibirapuera – saíram às ruas hoje para comemorar o aniversário do cartunista Peyo, que nasceu em 25 de junho de 1928. O “detalhe” é que elas estavam pintadas de azul da cabeça aos pés e usavam touca branca na cabeça, ou seja, eram milhares de Smurfs em tamanho real!

No início, era só uma ideia criativa para celebrar o aniversário do criador das famosas criaturinhas azuis, mas com o tempo, o dia 25 de junho se tornou o Dia Mundial dos Smurfs. Este ano, a comemoração serviu também para divulgar a estreia do filme dos Smurfs, que está marcada para o dia 5 de agosto no Brasil.

Smurfs no Parque do Ibirapuera, em São Paulo

Smurfs em tamanho real foram vistos no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (Foto: Rodrigo Dionisio/Frame/AE)

Em Bruxelas, terra natal de Peyo, centenas de pessoas foram às ruas pintadas de azul (Foto: Virgine Lefour/AFP)

E as novidades não param por aí! Deve chegar à L&PM nos próximos dias o livro O Smurf Repórter. No teaser à seguir dá pra ter um gostinho do que vem por aí:

Snoopy, o primeiro cão a pisar na Lua

Se você é fã de Peanuts e achou que estava por dentro de todas as peripécias de Snoopy, Charlie Brown e sua turma, saiba que o simpático cãozinho foi o primeiro beagle a pisar na Lua. Isso mesmo! Está tudo “documentado” numa série de seis tirinhas publicadas por Charles Schulz em 1969, em que o próprio Snoopy aparece comemorando o feito:

E ele não estava brincando: Charlie Brown e Snoopy foram os mascotes da tripulação da Apollo 10, missão realizada em maio de 1969 que “preparou o terreno” para a Apollo 11, que voaria rumo ao espaço dois meses depois, sob o comando de Neil Armstrong. Enquanto o astronauta John Young se aproximava da superfície da Lua a bordo do “módulo lunar Snoopy”, seu colega de tripulação, Tom Stafford, o observava de longe a bordo do “módulo de comando Charlie Brown”.

Portanto, pode-se dizer que foi graças à ajuda de Snoopy e Charlie Brown na missão Apollo 10 que Neil Armstrong pisou na Lua em 20 de julho de 1969 🙂

Já tem companhia para o feriado?

Um chocolate quente, um pijama confortável, música suave em um ambiente silencioso. O dia de hoje pede exatamente isso. Afinal, feriados são pequenos hiatos em meio a uma atribulada rotina e devem ser desfrutados ao máximo. Servem para pensar na vida, passear com um amigo, fazer um programinha romântico ou mesmo ficar deitado deixando-se inundar pelo sol invernal. Outra ideia para quem quer aproveitar o feriado é escolher um companheiro. De Machado de Assis a Raymond Chandler, de Bukowski a Anaís Nïn, de Allen Ginsberg a Agatha Christie.

Já pensou em passar o feriado com eles em um dos ambientes a seguir? 🙂

Biblioteca da Delft University, na Holanda.

Sala de leitura da Biblioteca do Parlamento em Ottawa, no Canadá

Österreichische Nationalbibliothek (The Austrian National Library) em Vienna

Para quem gosta de bibliotecas, este site fez uma seleção de fotos de algumas das mais lindas do mundo!

O sonho de consumo do tradutor de “On the road”

Foi ao entrar na famosa e tradicional livraria londrina Foyles que Eduardo Bueno, o tradutor de On the road, viu seu lado consumista ser consumido pelo desejo. Lá estava uma linha inteira de acessórios para quem quer colocar o pé na estrada junto com Jack Kerouac: agenda, capa de passaporte, garrafa térmica, caderno, eco bag, chaveiro, identificador de bagagem e necessaire de On the road.

Kit completo da Penguin para quem quer colocar o pé na estrada.

Obviamente, Eduardo não se conteve e comprou cinco dos itens oferecidos:

Eduardo Bueno e seus objetos de desejo.

Os objetos são um oferecimento da editora Penguin e ocupam um canto inteiro da Foyles, livraria que tem tudo a ver com o livro de Kerouac, já que tem a maior sessão de livros e de literatura de viagem do Reino Unido. A Foyles ocupa cinco andares de um prédio de tijolos à vista na Charing Cross Road, rua que foi eternizada no filme Nunca te vi, sempre te amei (cujo título original é 84 Charing Cross Road).

Mas é bom dizer que a rua e a região inteira sofreram o impacto da chegada dos e-books e as pequenas livrarias estão todas fechando suas portas. Felizmente, a Foyles persiste e resiste no mesmo endereço desde 1903, no número 121 e, em 2010, foi eleita a melhor livraria da Inglaterra. (Paula Taitelbaum, direto da Charing Cross Road)

Duas visões sobre “Meia noite em Paris”, de Woody Allen

Assim que o novo filme de Woody Allen estreou no Brasil, na última sexta-feira, dia 17 de junho, corremos para as salas de cinema mais próximas para conferir o que prometia ser mais uma obra-prima de um dos nossos cineastas preferidos. E, mais uma vez, ele não decepcionou!

O editor Ivan Pinheiro Machado e a editora de vídeos da WebTV, Laura Linn, compartilham a seguir suas impressões sobre o filme.

Meia Noite em Paris: Cinema e literatura como metáfora

Por Ivan Pinheiro Machado

Digamos que você não seja um cinéfilo, um especialista em cinema. Mas mesmo assim gosta muito de cinema e procura acompanhar os lançamentos, vez que outra se aventura num filme de arte, mas também não despreza uma comédia romântica. Eu sou mais ou menos assim. Como, aliás, todo mundo. Adoro cinema. Afora os filmes violentos demais, com tiros demais, que eu abandonei definitivamente, eu vejo tudo.

E ontem vi um filme extraordinário: Meia noite em Paris, de Woody Allen. O filme é um tributo a duas coisas que são caras à muita gente: literatura e Paris.

Woody Allen, o velho bruxo, foi para frente do seu caldeirão fumegante e começou a desfiar seus sortilégios. Uma trama simples, descomplicada, vai tomando corpo tendo como pano de fundo uma cidade-espetáculo e a mitologia cultural gerada pelos anos 20.

Se você leu Autobiografia de Alice B. Toklas de Gertrude Stein (L&PM Pocket), então você é um privilegiado. Se também leu Salvador Dali (Coleção Pocket Plus), Jean Cocteau, se viu Belle de Jour, de Buñuel, se leu Grande Gatsby, de Fitzgerald e O Sol também se levanta, de Ernest Hemngway, se leu os poemas de T. S. Elliot e os livros do próprio Woody Allen publicados na coleção L&PM Pocket como Cuca Fundida, Sem Plumas, Adultérios, Que Loucura, se ouviu Cole Porter, se curte Picasso, Maitisse, Modigliani, então melhor ainda.

A maestria de Woody Allen faz com que os delírios de Gil, o escritor americano semi-frustrado de férias em Paris, fiquem absolutamente naturais. Mas eu não vou contar o filme. Vá ao cinema mais próximo e delicie-se com um mergulho nos velhos e bons tempos. Ajude a aquecer a doce lenda de que Paris foi e sempre será uma festa. E veja um Woody Allen puro sangue, daqueles em que ele acerta a mão e que dá vontade de aplaudir quando o filme acaba.

Meia noite em Paris, um hino de amor à Cidade Luz

Por Laura Linn*

Woody Allen revela todo o encanto da Cidade Luz, em seu novo filme, Meia noite em Paris, enfocando a magia, o charme e a beleza da eterna capital do romantismo. Um homem comum, despretencioso, que sonha em ser escritor e morar em uma Paris chuvosa dos anos 20, onde viveram grandes artistas e escritores como Ernest Hemingway, Gertrude Stein e Pablo Picasso. Allen homenageia a cidade utilizando o nonsense e o realismo fantástico que prende a atenção do espectador do começo ao fim. Une-se a fantasia à realidade, o passado ao presente com o desejo que as pessoas possuem de viver uma realidade diferente da sua.

Nos últimos anos, o diretor deixou sua amada Nova York e migrou para a Europa, realizando filmes maravilhosos como Match Point, Scoop, Vicky Cristina Barcelona, entre outros. Com diálogos divertidos, Woody Allen nos leva pelas ruas da cidade, mostrando o charme de Paris ao dia e a tranformação da cidade ao soar da meia noite. O espectador viaja no tempo, junto ao personagem, aos “loucos anos 20″e à “Belle Époque”, duas das mais marcantes décadas da capital francesa. A câmera passeia pela típica noite parisiense da época com seus cafés e bordéis, mulheres belíssimas e sedutoras, ao mesmo tempo em que encontra subitamente os maiores intelectuais da época, passando a conviver com ídolos na cidade de seus sonhos. Assim, vão desfilando a sua frente, Hemingway, Buñuel, Zelda e Scott Fitzgerald, Cole Porter e Salvador Dali. Sente-se uma vontade de viver aquela mesma história, encontrar esses grandes personagens da literatura, da música e das artes, apaixonar-se novamente.

Meia noite em Paris

Allen não é apenas um grande diretor, mas também um grande roteirista. São mais de 40 anos como cineasta e praticamente um filme realizado por ano. O que fascina nos filmes do diretor novaiorquino são os diálogos, a interpretação dos atores e a forma como ele mostra o cotidiano e o comportamento do ser humano na sociedade com romantismo, humor e drama. Meia noite em Paris é perpassado por um olhar crítico sobre a insatisfação das pessoas com a sua realidade. Com as belas paisagens de Paris, como pano de fundo, um humor sutil e atuações incríveis como de Marion Cottilard – que já ganhou um Oscar de Melhor Atriz como Piaf – o filme é um verdadeiro hino de amor à cidade.

*Laura Linn é editora de vídeos da L&PM WebTV e formada em Cinema pela PUC-RS.