Arquivo da tag: Martha Medeiros

Retrospectiva: os destaques de 2012

E lá se foi 2012. Deixando boas lembranças e ótimos livros no catálogo L&PM. Foram muitos os lançamentos em formato convencional e pocket. Aqui, destacamos um para cada mês do ano que está terminando, de dezembro até até janeiro.

DEZEMBRO – Não tenho inimigos, desconheço o ódio, de Liu Xiaobo. Por que é destaque: o chinês Liu Xiaobo é um escritor, intelectual, ativista e professor que foi condenado a 11 anos de prisão por suas ideias. Prêmio Nobel da Paz 2010, pela primeira vez seus textos foram reunidos e publicados no Brasil, apresentando uma China que o ocidente ainda não conhece.

NOVEMBRO – Allen Ginsberg e Jack Kerouac: as cartas. Por que é destaque: o livro reúne a correspondência trocada entre os dois escritores beats durante mais de 20 anos. As quase 500 páginas que separarm a primeira da última carta oferecem “uma das mais frutíferas fusões de vida e obra da literatura do século 20” conforme disse a Folha de S. Paulo.

OUTUBRO – Um lugar na janela, de Martha Medeiros. Porque é destaque: a autora de Feliz por nada compartilha com seus leitores as mais afetuosas memórias de viagens feitas em várias épocas da vida, aos vinte e poucos anos e sem grana, depois, já mais estruturada, mas com o mesmo espírito aventureiro.

SETEMBRO – A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Por que é destaque: pela primeira vez no Brasil traduzida direto do alemão, a obra maior de Freud chegou à coleção L&PM Pocket em dois volumes coordenados por psicanalistas e professores de renome e que incluindo notas e comentários que Freud adicionou ao longo da vida, mais exclusivo índice de sonhos, nomes e símbolos.

AGOSTO – Guerra e Paz, de Tolstói, na Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos. Por que é destaque: no caso de Guerra e Paz, uma obra bastante extensa, a adaptação para HQ é muito impressionante. “Coleciono HQs, de forma intensa, desde 1958. Nunca, nesses anos todos, vi ou ouvi falar de Guerra e Paz no formato de quadrinhos. Qualquer roteirista, mesmo com experiência e capacidade, deve ter sonhado com essa aventura louca.” disse Goida a respeito do livro.

JULHO – Os filhos dos dias, de Eduardo Galeano. Por que é destaque: inspirado na sabedoria dos maias, Galeano escreveu um livro que se situa como uma espécie de calendário histórico, onde de cada dia nasce uma nova história. Provocante, intenso e sensível como toda obra do escritor, os textos formam uma colcha de retalhos costurada com poesia, emoção e concisão.

JUNHO – Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton. Por que é destaque: a filósofa e escritora Sarah Bakewell definiu este livro como um “manual de existência humana em que poucas vezes a filosofia pareceu tão lúcida, tão importante, tão válida e tão fácil de nela se aventurar”. Partindo da tradição iniciada com Sócrates, o autor traz dados interessantes sobre a vida e o pensamento de alguns dos mais instigantes filósofos de todos os tempos.

MAIO – História secreta de Costaguana, de Juan Gabriel Vásquez. Por que é destaque: Juan Gabriel Vásquez foi um dos convidados da Flip 2012 – Festa Literária Internacional de Paraty. Misturando fatos históricos e ficção, Vásquez cria uma história em que o escritor Joseph Conrad é um dos personagens e que tem como pano de fundo a construção do Canal do Panamá.

ABRIL – Simon’s Cat, de Simon Tofield. Por que é destaque: em abril, Simon’s Cat foi publicado pela primeira vez no Brasil. O gato que não tem nome definido é o mais famoso felino do Youtube. Depois de Simon’s Cat – As aventuras de um gato travesso e comilão, em novembro deste ano foi lançado o segundo volume da série: Simon’s Cat – Em busca de aventura.

MARÇO – Erma Jaguar, de Alex Varenne. Por que é destaque: esta HQ luxo traz todas as aventuras de Erma Jaguar, personagem criada pelo notável ilustrador Alex Varenne. Erma é uma espécie de “madame” moderna que à noite, vestindo seu corpete preto e dirigindo seu carro, vai satisfazer todas as suas fantasias. Insaciável, ela enlouquece homens e mulheres de todos os tipos.

FEVEREIRO – Diários de Andy Warhol. Por que é destaque: esta nova edição dos Diários do artista pop Andy Warhol, dividida em dois volumes em formato de bolso (e reunidos em uma caixa especial), marcou a entrada da Coleção L&PM Pocket na casa dos 1.000 títulos. Um dos mais reveladores retratos culturais do século XX, Diários de Andy Warhol soma mais de mil páginas de glamour, fofocas e culto às celebridades.

JANEIRO – 1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares. Por que é destaque: este livro conta como um movimento de rebelião popular paralisou e derrotou o golpe de Estado dos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica e evitou a guerra­ civil. Escrito por um jornalista que testemunhou e participou do Movimento da Legalidade junto a Leonel Brizola,­ então governador­ do Rio Grande do Sul.

Amazon e Google Play agora no Brasil

A Amazon chegou ao Brasil. A gigante de Seattle abriu sua loja online na internet brasileira a partir das 00h20 desta quinta-feira e, em www.amazon.com.br, já é possível comprar Kindles e e-books.

Entre os livros digitais mais vendidos, está Um lugar na janela, mais recente lançamento de Martha Medeiros pela L&PM Editores.

"Um lugar na janela" já está entre os mais vendidos da Amazon

Os livros de Martha Medeiros também aparecem em um banner da Amazon dedicado aos autores brasileiros

A L&PM, que faz parte da DLD – Distribuidora de Livros Digitais – já está com todo o seu catálogo de livros digitais disponível na Amazon. São 464 títulos de todos os gêneros.

Um pouco antes da Amazon brasileira entrar no ar, outra gigante também deu a partida para a venda de e-books em território nacional. Às 00:05 da mesma quinta-feira, a Google Play, loja do Google, começou suas operações. E Um lugar na janela também está lá em destaque.

"Um lugar na janela" também em destaque na Google Play

Com as novas opções para vendas de livros digitais, somadas a Apple Store que também chegou há pouco tempo, a expectativa é que os e-books decolem no país. Só a L&PM, como já falamos, tem um amplo catálogo que não para de crescer.

Nós & Martha Medeiros: Bodas de Prata

Por Ivan Pinheiro Machado

Em 1985, Martha Medeiros foi até a L&PM levada por sua amiga Beth Perrenoud que, na época, era nossa assessora de imprensa. Beth me apresentou à jovem poeta que, recordo bem, estava envergonhadíssima. Ela deixou os seus poemas na editora, eu li, lembro que gostei muito, mas a L&PM na época estava com outros projetos e nós acabamos não publicando o seu livro de estreia. Tanto o livro era bom que foi imediatamente publicado com o título de “Strip-Tease” pelo editor Caio Graco, um dos mais importantes editores brasileiros que comandava a então poderosa Editora Brasiliense. Como os rios correm para o mar (como dizia o Millôr), nós fomos atrás e Martha, – que entre suas incontáveis qualidades está o fato de não ser orgulhosa – concordou em dar para a L&PM seu segundo livro de poemas. “Meia-noite e um quarto” saiu em 1987 com uma belíssima capa do Caulos e um belo texto de apresentação do Caio Fernando Abreu. Quatro anos depois, publicamos “Persona non grata”. Sabendo da admiração do Millôr pelos poemas de Martha – coisa muito rara, pois poeticamente falando, o Millôr era mega exigente –, mandamos os originais para ele pedindo que, caso gostasse, escrevesse a orelha do livro. Millôr não só escreveu a orelha, como postou o texto (como não se dizia naquela ápoca) na sua poderosíssima coluna no mais poderoso jornal do Brasil que era justamente o Jornal do Brasil. No texto ele falava sobre o novo livro, comparando com o primeiro: “Persona non grata repete a dose, nem melhor, nem pior, apenas excelente”. O livro seguinte, também de poesia, foi “De cara lavada”, com outro lindo texto do Caio Fernando Abreu na orelha. Depois veio “Topless” em 1997, o primeiro livro de crônicas publicado pela L&PM. E “Non-Stop”, “Trem-bala”, “Montanha-Russa”, “Coisas da vida”, o livro “Poesia reunida” que, como diz o título, reunia toda a poesia de Martha desde “Striptease”.  Em 2001, foram publicadas as poesias inéditas em “Cartas extraviadas”. 2008 foi a vez do livro de crônicas “Doidas e Santas” com o qual Martha conquistou o Brasil definitivamente e apareceu em todas as listas de bestsellers do país. Mas foi em 2011, com “Feliz por nada”, que ela chegou ao topo, ao número 1 de todas as listas, ultrapassando em menos de um ano o incrível número de 200 mil livros vendidos. Em outubro deste ano, lançamos seu livro de relatos de viagens “Um lugar na janela”, que já é um sucesso. Passaram-se 25 anos desde o belo “Meia noite e um quarto”. Estamos completando as bodas de prata cheios de planos. Um longo e feliz casamento, como não se encontram mais hoje em dia.

* * *

Para ler o que Caio Fernando Abreu e Millôr disseram sobre Martha nas orelhas dos livros, clique aqui.

 

Ricardo Freire indica o novo livro de Martha Medeiros

Ricardo Freire é um especialista em viagens. Ex-publicitário premiadíssimo, acabou largando a vida de agência para  escrever sobre lugares ao redor do mundo. Desde 2005, Freire dedica-se exclusivamente a textos relacionados a turismo e hoje é uma referência no assunto. Veja o que ele escreveu em seu blog “Viaje na Viagem” sobre o novo livro de Martha Medeiros, Um lugar na janela:

(…)

Já compre, li e devorei o livro, que é o segundo da Martha no tema viagens. Mas o anterior era um guia — de Santiago do Chile. Então esse é o primeiro de relatos (ou crônicas, ou memórias) de suas indas e vindas nos últimos 25 anos.

Não espere um livro recheado de dicas datadas como os últimos da Danuza (#prontofaleimermo): o que a Martha compartilha com generosidade e muita graça são suas experiências e sensações a cada viagem. Você vai rir muito da Martha mochileira que passou 45 dias na Europa hospedada em casas de amigos dos amigos que nem sabiam da sua existência até ela telefonar da estação ferroviária. E vai acompanhar sua trajetória de vida através das viagens, terminando com sua reconciliação com Nova York. É quase uma autobiografia, pípols.

Apenas dois capítulos não são de memórias. O último, “Meu jeito de viajar”, é uma compilação de dicas sensatíssimas para quem quer viajar melhor. E o primeiro, “Pré-embarque”, traz reflexões bacanas sobre o que é viajar. Adoro essa passagem:

“Se para você é um suplício abandonar seu sofá, seu carro, seu travesseiro e o Fantástico aos domingos, não viaje. Se você é do tipo que não consegue se maravilhar com o que está vendo porque está mais preocupado com os mosquitos, os remédios, as gorjetas, o fuso horário e em checar os e-mails do trabalho, não viaje. Se voê não faz idéia em que ponto do mapa fica o local para onde está indo, não tem a mínima curiosidae sobre a cultura do lugar, até desconhece o idioma falado, não viaje. Se você está fazendo as mala sob coação, pois sua mulher o ameaçou com o divórcio, faz bem em ter juízo, vá com ela. mas, fora algum outro caso assim extremo, não viaje. Não é obrigatório. Não assegura uma vaga no céu. Viajar é para quem tem espírito desbravador, mas se você não tem, não tem.”

Ah: falei que estou citado nesse capítulo? Honradíssimo.

 

Um lugar entre amigos

No lançamento de Um lugar na janela que aconteceu na quinta-feira passada, 29 de novembro, na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio, Martha Medeiros recebeu muitos amigos, entre eles, Malu Mader:

As fotos aqui publicadas são do Canal Viva, da Rede Globo, que foi ao local gravar uma entrevista com Martha. O ator Emilio Orciollo Neto também passou por lá. Emilio está em cartaz com a peça “Também queria te dizer”, baseada em textos de Martha. 

Sucesso de Martha Medeiros no Rio de Janeiro

Quando a Martha Medeiros lança um novo livro, milhares de fãs correm até as livrarias para garantir um exemplar. E ontem, na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio, acabamos conhecendo um pouco mais desses fãs. E de suas histórias. O tamanho da fila da sessão de lançamento de Um lugar na janela começou cedo, indicando que seria uma bela – e longa – noite. A primeira fã chegou na livraria às 16h e, três horas depois, ganhou o carinho da Martha e um autógrafo no livro. Nervosa, esqueceu de tirar uma foto e teve que pedir licença para voltar à fila. Logo em seguida, uma família de fãs: Fabio, Marise e a filha Lívia. Para não dar briga em casa, levaram logo dois exemplares. Um senhor veio reforçar o pedido de casamento para a Martha – mas só para a próxima “reencarnação”, pois nessa ele acha que já passou um pouco da idade. E o seu Rubens conseguiu garantir a assinatura da Martha nesse contrato de casamento. Muita gente deu uma de Papai Noel e levou livros para a família toda. Todos assinados pela escritora com o nome de quem será presenteado. A maioria declarou seu livro preferido. Sua crônica preferida. Foi uma noite de confissões de fãs fiéis e apaixonados que dividiram suas histórias com Martha e com seus novos “amigos de fila”. Uma noite para ser lembrada, de muitos autógrafos, abraços e fotos que se estandeu até quase 23h. Uma bela troca de carinho entre Martha e seus leitores. (Fernanda Scherer)

A fila para pegar um autógrafo de Martha Medeiros atravessava a Livraria da Travessa de Ipanema

Família unida para garantir o seu “Lugar na janela”
Seu Rubens conseguiu a assinatura de Martha no “Contrato de casamento para a próxima reencarnação”
A escritora e atriz Elisa Lucinda também estava lá

Amanhã tem mais: sábado, 1 de dezembro, Martha Medeiros autografa Um lugar na janela em São Paulo, às 11h da manhã na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Quem vai nos autógrafos de Martha Medeiros?

Na próxima quinta, dia 29 de novembro, Martha Medeiros vai ao Rio de Janeiro lançar Um lugar na janela. Depois segue para São Paulo, onde autografa o livro no sábado, 1º de dezembro. Colunista do jornal O Globo, Martha é conhecida nacionalmente e Um lugar na janela já ocupa a quarta posição entre os mais vendidos da Revista Veja

Há umas duas semanas atrás, Karen Kounrouzan, do Caldeirão do Huck e atual capa da Playboy, foi vista no aeroporto Santos Dumont carregando o livro anterior de Martha: Feliz por nada. Será que a moça vai comprar o livro novo e aparecer em alguma das sessões de autógrafo? Aguardemos. 

Karen Kounrouzan e o seu "Feliz por nada" de Martha Medeiros

RIO DE JANEIRO: 29 DE NOVEMBRO, quinta-feira, às 19h na Livraria Travessa de Ipanema

SÃO PAULO: 1º DE DEZEMBRO, sábado, às 11h na Livraria Cultura do Conjunto Nacional

Feira do Livro de Porto Alegre foi muito além dos tons de cinza

A Câmara Riograndense divulgou ontem o balanço da 58ª Feira do Livro de Porto Alegre. Durante seus 17 dias, o evento recebeu 1,3 milhão de pessoas e foram vendidos 411.056 livros. Já a lista dos títulos que mais venderam ficou a cargo do Jornal Zero Hora – já que a Câmara abandonou a prática de mostrar os preferidos do público.

Uma semana antes do final da Feira, Zero Hora percorreu as 106 bancas da Área Geral para elaborar o ranking. Os livreiros foram solicitados a informar os três livros nacionais e três internacionais mais procurados. Com a divulgação de que os mais vendidos da literatura nacional eram David Coimbra com Uma história do mundo e Martha Medeiros com Um lugar na janela, estes títulos da L&PM Editores passaram a ter uma procura ainda maior e fizeram com que a Feira do Livro ganhasse outras cores além dos “50 tons de cinza”.

É bom lembrar que, em meio a tantas opções de livros, a lista de mais vendidos funciona como uma indicação ao leitor que, muitas vezes, sente-se perdido no mar de títulos que vê pela frente.

Martha Medeiros autografou por quase quatro horas na Feira do Livro de Porto Alegre

A fila de David Coimbra também durou muitas horas e seu livro já está na terceira edição

Martha Medeiros e Assis Brasil autografam na Feira do Livro de Porto Alegre

Hoje, 10 de novembro, Martha Medeiros e Luiz Antonio de Assis Brasil têm encontros marcados com os leitores na Feira do Livro de Porto Alegre. Martha autografa seu livro, Um lugar na janela, às 16h. E Luiz Antônio de Assis Brasil falará sobre Figura na sombra na Sala Oeste do Santander Cultural às 18h e, às 19h, vai autografar seu novo livro. Leia aqui os textos publicados hoje no Caderno Especial Feira do Livro do Jornal Zero Hora.

O jeito Martha de viajar

Escritora lança “Um Lugar na Janela: Relatos de Viagem”

Por Rosane Tremea – Jornalista

É bem lá no final de Um Lugar na Janela que Martha Medeiros deixa clara a impressão das primeiras páginas do livro. Seus relatos de viagem podem ser traduzidos como anotações despretensiosas, daquelas que os mais ou menos viajantes fazem ao final de cada dia, recostados à cama da pousada, na sacada do hotel ou na mesa de um café. Tudo para não deixar escapar um detalhe, para não esquecer uma sensação, um sabor, um aroma, para não ser traído pela memória. Ainda que não se tenha, como ela diz, pretensões jornalísticas ou literárias.

Para perceber isso, não seria preciso chegar exatamente ao final do livro, que será lançado hoje, às 16h, na Praça de Autógrafos. Desde o início, Martha esclarece não se tratar de um guia de viagens, nem de tratados filosóficos ou antropológicos de autores como Paul Theroux ou Alain de Botton, ou da literatura que emerge das incursões de Pablo Neruda e Erico Verissimo.

Muito antes de se tornar uma escritora, Martha viajava. Diz ela, aliás, que a aventura começou às 14h do dia 20 de agosto de 1961, em Porto Alegre. Ou seja, os motivos que a levam a se mover por cidades, países e continentes são os que a fazem viver desde a hora do nascimento: o desejo da descoberta, para resumir.

É assim desde a primeira ida à Europa, aos 20 e poucos anos (naquele tempo, e não faz tanto tempo, a primeira vez não era tão precoce!), pulando de país em país, hospedando-se na casa de amigos de amigos, até o mais recente pouso em Nova York, a última escala descrita, na companhia das duas filhas.

Há de tudo no diário de bordo de Martha. De situações prosaicas – como embriagar-se de um pôr do sol, esperar em vão pela bagagem ao lado de uma esteira –, a outras nem tanto, como sentar perto de Harrison Ford num aeroporto sem conseguir dirigir-lhe a palavra. Ou, ainda, aquelas que a própria abominava, como cantar em coro num ônibus de excursão a caminho de Marrakesh.

Há passagens em que se imiscui a cronista, e ela dá um toque de autoajuda materna ao revelar momentos da convivência com uma das filhas, então com 19 anos, no longínquo Japão:“Só mesmo se afastando da rotina para estabelecer uma intimidade menos invasiva e mais calorosa. Viagens propiciam isso, uma quebra de hierarquia e uma democrática união diante do desconhecimento mútuo”.

Em Um Lugar na Janela, Martha confessa render-se a alguns de seus preconceitos, a manter muitos de seus princípios, a não se render ao consumismo e nem ao invasivo e às vezes inadequado hábito de fotografar tudo o tempo todo, de não abrir mão de uma boa companhia – ainda mais se for o amor de sua vida –, mas de não deixar de embarcar quando houver só a sua própria parceria.

Martha revela seu jeito de viajar. Que não é melhor nem pior que o de ninguém. É apenas o seu jeito, leve, de ver o mundo.

* * *

Ilustres visitantes

Por Luiz Paulo Faccioli – Escritor

Porto Alegre, 1998. Luiz Antonio de Assis Brasil trabalha com avidez em seu novo romance, muitas páginas já escritas – talvez 80 –, quando estaca. A obra vai tomando a forma dos romances que o fizeram um dos mais importantes autores de sua geração. O texto à sua frente tem a prosa luxuosa, o andamento lento e as sutilezas estilísticas que sempre foram sua marca registrada. Mas o escritor sente que precisa mudar. Fiel ao que sempre ensinou a seus alunos, ele não tem dúvidas: deleta impiedosamente tudo o que havia escrito e recomeça do zero.

Em 2001, surge O Pintor de Retratos, obra demarcadora da nova fase. O público não estranhou: detrás daquela prosa agora econômica, atenta ao essencial – e, por isso mesmo, muito mais forte –, está o mesmíssimo autor, só que renovado.

De lá para cá, foram quatro romances formando uma espécie de tetralogia: todos eles são protagonizados por visitantes que chegam ao pampa e o decifram com olhos forasteiros. Esses personagens são o italiano Sandro Lanari, de O Pintor de Retratos, o cronista emissário do imperador, de A Margem Imóvel do Rio, o Maestro Mendanha, de Música Perdida. No mais recente, Figura na Sombra, figuram dois ainda mais ilustres: o médico e botânico francês Aimé Bonpland, que empreendeu diversas expedições científicas mundo afora acompanhando o naturalista e geógrafo alemão Alexander von Humboldt. A expedição às Américas, que durou cinco anos, definiu uma mudança de rumo: Humboldt retorna à Europa com o objetivo de escrever uma grande obra abrangendo todas as descobertas que fez, enquanto Bonpland decide deixar para trás o prestígio que tem na corte de Napoleão Bonaparte, e um amor incompleto pela imperatriz Josefina, para se estabelecer no pampa, interessado sobremaneira em nossa erva-mate.

Aqui, Aimé vira Don Amado, que aparece no belíssimo prólogo recebendo um emissário de Humboldt em sua estância Santa Ana, em Corrientes, Argentina, no ano de 1858.

Em suas pouco mais de 260 páginas, Figura na Sombra descreve as peripécias dos dois aventureiros em suas fabulosas expedições, em que ficção e história outra vez se mesclam. Porém, o que mais importa é a grande aventura humana: Bonpland e Humboldt têm uma relação tão rica quanto conflituosa, e Assis Brasil nos faz vivê-la em toda sua magnitude e complexidade em outro de seus magistrais romances.