Arquivo mensais:março 2013

As irmãs Fokkens, mais velhas prostitutas de Amsterdã, anunciam aposentadoria

O bairro da Luz Vermelha na capital holandesa (aquele em que as meninas ficam nas vitrines) acaba de perder suas mais antigas – e ilustres – representantes. É que as gêmeas idênticas Louise e Martine Fokkens, de 70 anos, acabam de anunciar que já não estão mais no batente.

Juntas, as duas somam cem anos de experiência na alcova, trabalhando como prostitutas. Período em que elas juram ter feito sexo com 355 mil homens.

Louise, que tem quatro filhos, sofre de artrite e, segundo ela, a doença torna algumas posições sexuais impraticáveis. Já Martine admite que, nos últimos anos, tem sido muito difícil atrair clientes. A exceção, contou a holandesa que tem três filhos, é um senhor que gosta de sessões semanais de sadomasoquismo. “Não pude desistir dele. Era como se ele viesse para uma missa de domingo”, contou a recém-aposentada, em reportagem ao jornal britânico “Sun”.

As gêmeas também afirmaram que estão se aposentado porque os tempos já não são os mesmos e sentem falta dos anos dourados da prostituição em Amsterdã.

Quem quiser mais detalhes sobre a vida das irmãs Fokkens, não perde por esperar. Em outubro, a L&PM Editores vai publicar o livro que conta as memórias delas, desde que tudo começou quando Louise – a primeira a cair na vida – tinha 17 anos. O livro, que originalmente tem o impronunciável título de Ouwehoeren (e em inglês ganhou o nome de Meet the Fokkens) foi o maior sucesso editorial da Holanda em 2012.

As gêmeas Fokkens, que ficaram ainda mais famosas depois da publicação de seu livro de memórias

As gêmeas Fokkens, que ficaram ainda mais famosas depois da publicação de seu livro de memórias

As irmãs nos áureos tempos

As irmãs nos áureos tempos

 

Millôr Fernandes e a arte de traduzir

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Com a experiência que tenho, hoje, em vários ramos de atividade cultural, considero a tradução a mais difícil das empreitadas intelectuais. É mais difícil mesmo do que criar originais, embora, claro, não tão importante. E tanto isso é verdade que, no que me diz respeito, continuo a achar aceitáveis alguns contos e outros trabalhos meus de vinte anos atrás; mas não teria coragem de assinar nenhuma das minhas traduções da mesma época. Só hoje sou, do ponto de vista cultural e profissional, suficientemente amadurecido para traduzir. As traduções quase sem exceção (e não falo só do Brasil), têm tanto a ver com o original quanto uma filha tem a ver com o pai ou um filho a ver com a mãe. Lembram, no todo, de onde saíram, mas, pra começo de conversa, adquirem como que um outro sexo. No Brasil, especialmente (o problema econômico é básico), entre o ir e o vir da tradução perde-se o humor, a graça, o talento, a poesia, o pensamento, e, mais que tudo, o estilo do autor.

Fica dito – não se pode traduzir sem ter uma filosofia a respeito do assunto. Não se pode traduzir sem ter o mais absoluto respeito pelo original e, paradoxalmente, sem o atrevimento ocasional de desrespeitar a letra do original exatamente para lhe captar melhor o espírito. Não se pode traduzir sem o mais amplo conhecimento da língua traduzida mas, acima de tudo, sem o fácil domínio da língua para a qual se traduz. Não se pode traduzir sem cultura e, também, contraditoriamente, não se pode traduzir quando se é um erudito, profissional utilíssimo pelas informações que nos presta – o que seria de nós sem os eruditos em Shakespeare? – mas cuja tendência fatal é empalhar a borboleta. Não se pode traduzir sem intuição. Não se pode traduzir sem ser escritor, com estilo próprio, originalidade sua, senso profissional. Não se pode traduzir sem dignidade.

(Millôr Fernandes – De uma entrevista para a Revista Senhor – 1962)

O catálogo L&PM possui várias obras traduzidas por Millôr Fernandes: O jardim das cerejeiras, seguido de Tio Vânia, de Tchékhov; Pigmaleão, de George Bernard Shaw; Fedra, de Racine; Lisístrata – A greve do sexo, de Aristófanes; quatro peças de Shakespeare: Hamlet, O rei Lear, A megera domada, As alegres matronas de Windsor e duas de Moliére: Don Juan e As eruditas.

Colunista do blog da Revista Capricho resenha “Kill all Enemies”

Kill all Enemies chega amanhã às livrarias de São Paulo e, a partir de então, começará a ser distribuido para todo o Brasil. Nesta quinta-feira, 14 de março às 19h, Melvin Burgess autografa seu livro na Livraria da Vila Lorena. Mas mesmo antes de ser lançado, Kill all Enemies já vem despertando elogios de jornalistas e blogueiros que receberam o chamado “copião”. A colunista e repórter da Revista Caprinho, Giovanna Ferrarezi, parece ter gostado de verdade do livro. Veja o vídeo em que ela comenta Kill all Enemies:

O livro, claro, já está prontinho. Veja aqui a capa:

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Giovanna dá mais detalhes no seu blog, o Radioactive Unicorns, clique aqui e vá lá conferir.

“O grande Gatsby” vai abrir o Festival de Cannes 2013

É oficial: o filme “O grande Gatsby”, do diretor Baz Luhrmann, baseado na obra homônima de F. Scott Fitzgerald, é o escolhido para a abrir o Festival de Cannes 2013. Ele será exibido fora da mostra competitiva, no dia 15 de maio, no Teatro Lumière.

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O longa tem no elenco Leonardo Di Caprio no papel do magnata Jay Gatsby e Carey Mulligan como Daisy. Outros nomes compõem o time de estrelas, como Tobey Maguire, Joel Edgerton, Amitabh Bachchan e o rapper americano Jay-Z.

Assista ao trailer:

A cidade em que nasceu Jack Kerouac

Estranha e sombria Lowell

Jack Kerouac nasce em 12 de março de 1922 em Lowell, pequena cidade de Massachusetts a 45 quilômetros ao norte de Boston, onde as indústrias têxteis e de calçados estão bem implantadas. O nome dela vem do empresário industrial Francis Cabot Lowell, que desenvolveu suas manufaturas nessa área, construiu o dique de Pawtucket e mandou cavar um canal a fim de utilizar as águas revoltas do Merrimack. A cidade, que conheceu seu apogeu na segunda metade do século XIX e no começo do XX, expandiu-se em função das estratégias das empresas sucessivas, englobando vilarejo após vilarejo e acolhendo diversas vagas de imigração de operários de origem anglo-saxã de partida para Boston que se consideravam mal pagos. E assim se instalaram em Lowell franco-canadenses, irlandeses, gregos, poloneses, portugueses. Havia até cristãos da igreja siríaca. (…) Em 12 de março, o inverno continental não terminou. O Merrimack arrasta ainda alguns blocos de gelo e o céu é baixo, úmido e ventoso. É no número 9 da Lipine Road que Jack Kerouac vem ao mundo. A rua, calma, pertence a Centralville. A casa, de madeira, é simples, à imagem das que podem ser almejadas pelos operários qualificados e a pequena burguesia. Duas crianças, sabe-se, o precederam naquele lar: Gerard e Carolyn (Nin). O pai possui então sua gráfica, a Spotlight Print, onde ele trabalha frequentemente só e emprega algumas vezes um ou dois assistentes. Gabrielle, a mãe, aplainadora de couro em uma fábrica de sapatos, alterna períodos de permanência no lar e na fábrica. O meio familiar é descrito como caloroso, atento às crianças e banhado na tradição católica, não sem propensão carola. Leo, conhecido por sua exuberância e afirmador de seu livre-pensamento – para ele, a religião é fraude -, estabelece com a religiosidade uma certa distância. (Trecho de Kerouac, de Yves Buin, Série Biografias L&PM)

Jack nasceu Jean-Louis e, em casa, era chamado de Ti-Jean, apelido, aliás, com o qual ele assina várias das cartas que trocou com seu amigo Allen Ginsberg e que estão no livro Jack Kerouac & Allen Ginsberg: as cartas.

A família Kerouac reunida: os pais Leo e Gabrielle e os filhos Gerard, Carolyn e o caçula Jean-Louis (Jack)

A família Kerouac reunida: os pais Leo e Gabrielle e os filhos Gerard, Carolyn e o caçula Jean-Louis (Jack) – Clique na imagem para ampliar

A casa em que Jack Kerouac nasceu ainda está lá, em Lowell (nesta foto com uma placa de "Aluga-se) - clique na imagem para ampliar

A casa em que Jack Kerouac nasceu ainda está lá, em Lowell (nesta foto com uma placa de “Aluga-se”) – Clique na imagem para ampliar

 

O primeiro still do novo filme de Woody Allen

Saiu a primeira imagem oficial do novo filme de Woody Allen, Blue Jasmine, em que as duas protagonistas aparecem com expressões opostas e bem marcadas: Cate Blanchett em primeiro plano com um semblante um pouco tenso e infeliz e Sally Hawkins aparece mais ao fundo numa pose mais descontraída.

Blue-Jasmine

Blue Jasmine tem estreia prevista para 28 de junho.

Mais cartazes do filme “O grande Gatsby”

No ano passado, a produção do filme O grande Gatsby, baseado no clássico homônimo de F. Scott Fitzgerald, divulgou quatro cartazes para divulgação do longa, cada um com um dos atores do núcleo principal da história, mas manteve o suspense sobre os cartazes com Leonardo Di Caprio, que vive Jay Gatsby, e Carey Mulligan que interpreta a belíssima Daisy. Agora, a coleção de posters está completa:

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Além dos cartazes individuais, o filme já tem um poster oficial com todos eles juntos:

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O grande Gatsby tem a direção de Baz Luhrmann, o mesmo diretor de Romeu e Julieta e Moulin Rouge, e estreia em maio nos Estados Unidos e em junho no Brasil.

O sonho de publicar “A interpretação dos sonhos”, de Freud

Cinco anos depois: sobre a experiência de editar a primeira tradução brasileira direta de “A interpretação dos sonhos”

Por Caroline Chang*

Hoje fiz as contas: faz cinco anos que começamos o projeto de publicar a obra de Freud, iniciando com A interpretação dos sonhos, traduzido direto do alemão (coisa que não tinha sido feita, ainda; os leitores brasileiros liam A interpretação ou numa tradução da versão em inglês de James Strachey, ou em espanhol). Vendo retrospectivamente, foi uma aventura e tanto, que relembro aqui.

A ideia era nos prepararmos para a entrada da obra freudiana em domínio público, que ocorreria em 1º de janeiro de 2010. Trata-se de um marco importante: a partir dessa data, qualquer pessoa ou editora que quisesse publicar os textos freudianos, em alemão ou em tradução, poderia fazê-lo, sob o ponto de vista legal de direitos autorais. O que significa que pela primeira vez o pensamento deste grande homem estaria (está) disponível para os leitores em várias traduções e edições, numa pluralidade de opções e leituras que só posso ver como bem-vinda.

O início do projeto envolveu a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. Queríamos um colegiado de estudiosos de Freud que pudesse nos apontar, dentre a imensidão de textos escritos pelo pai da psicanálise, uma lista inicial de obras a serem editadas (sobre a fértil genialidade de Freud, não posso deixar de pensar: sorte nossa que não havia televisão naquela época). Não poderia ficar fora dessa lista A interpretação, primeira obra psicanalítica do autor no sentido de que é nela que ele afirma a existência e explica parte do funcionamento de uma novidade chamada “inconsciente”.

O passo seguinte: encontrar um tradutor para a tarefa hercúlea. Hercúlea não apenas pelo alentado tamanho do texto – em torno de 650 laudas –, mas pela importância (inclusive simbólica) do trabalho; pela dificuldade da terminologia psicanalítica (que na Interpretação ainda não é tratada com rigor pelo próprio Freud); e pelo fato de que esse é um dos textos mais “duros” do autor, estilisticamente falando. Nele Freud ainda se prende um tanto a um estilo acadêmico do qual depois se despojará, como se vê em Totem e tabu, considerado um de seus textos mais elegantes.

A escolha natural recaía sobre Renato Zwick, jovem tradutor, ex-estudante de psicologia que já havia vertido para a L&PM, entre outras, O mal-estar na cultura e O futuro de uma ilusão, duas obras freudianas mais curtas e mais simples.

Como diz a frase usualmente atribuída a Cocteau, “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”. O Renato, com sua têmpera germânica, recebeu o convite, ponderou-o e aceitou a missão. Acordamos que a tradução se basearia na Studienausgabe da S. Fischer Verlag. O conceito da edição que queríamos – voltada para o público em geral, não apenas para estudiosos, psicanalistas e especialistas – o Renato já conhecia. Entre ele começar a estudar o trabalho e entregar a última parcela da tradução, foram-se quase dois anos. Recebi o arquivo final em dezembro de 2010.

O ano de 2011 foi todinho de revisões. Primeiro li o texto e sugeri várias modificações para o tradutor. Então o Renato fez as alterações necessárias e me devolveu o arquivo. Encomendei então a revisão técnica da igualmente destemida Tania Rivera, psicanalista e professora da Universidade de Brasília. Imbuída da importância da tarefa, a Tania fez uma leitura à altura. Além de várias observações e sugestões de alterações terminológicas, foi dela a ideia de sinalizar, na nossa edição, os trechos e notas que Freud foi acrescentando à Interpretação à medida que o livro, originalmente de 1899, ia sendo reeditado.

Sem se mixar para o desafio de redigir o texto de apresentação da primeira tradução direta de uma obra dessa envergadura, junto com a revisão técnica a Tania também entregou seu texto, intitulado “O sonho e o século”. Foram-se mais algumas semanas de leituras internas da apresentação e solicitações de alteração para tornar o texto acessível a todo tipo de leitor (inclusive ao leitor que estivesse se deparando com Freud pela primeiríssima vez).

Enquanto isso eu tinha que explicar pro Ivan Pinheiro Machado, publisher da casa e meu chefe, por que um livro que já tinha custado uma pequena fortuna ia atrasar mais uma vez.

Foi então o momento de “mediar” os argumentos da Tania e do Renato em relação a trechos específicos – geralmente o Renato defendia a visão germanista da coisa, levando sobretudo em consideração a língua em que o texto foi escrito, enquanto a Tania tinha uma visão mais psicanalítica. Depois de muitos e-mails, arquivos para lá, arquivos para cá, acho que quem saiu ganhando foi o livro – e o leitor. (Aliás, uma das coisas legais de editar o Freud é justamente o intercâmbio com pessoas preparadíssimas, de alto nível e comprometidas com a causa como a Tania e o Renato.)

Em seguida demoramos mais um bom tempo para inserir as marcações de acréscimos a edições posteriores feitas por Freud. Chegamos à conclusão de que a melhor maneira de sinalizar isso era como fora feito pela Presses Universitaires de France: apresentar um risco vertical ao lado do trecho acrescentado e, ao final do referido trecho, informar entre colchetes o ano do acréscimo.

Como fazer isso no editor de texto? Como transpor essa marcação para o programa de paginação? A solução que encontramos foi sublinhar todos os trechos a serem destacados, para que a Mônica Bohrer, mais tarde trabalhando no InDesign, pudesse inserir os riscos verticais nas margens das páginas e apagar o sublinhado.

Devo dizer que sou uma franca admiradora do dr. Sig. Tenho uma tia que é psicóloga, fiz terapia desde os sete anos e sou adepta da análise. Tenho plena convicção de que devia estar assegurado na Constituição o direito de todo cidadão fazer análise uma vez na vida, pelo menos. Daí o senso de responsabilidade – ou melhor dizendo, o nervosismo que tomou conta de mim durante todo esse processo de edição. Deus me livre fazer feio logo com a obra mais emblemática desse gênio, a quem devo tanto da minha saúde mental. Havia grandes chances de que a nossa edição fosse a primeira tradução direta a ser lançada no Brasil, e eu sabia que, embora estivéssemos pensando no leitor em geral, todos os olhos psicanalíticos – freudianos, lacanianos, junguianos, kleinianos etc. – estariam voltados para nós. A discussão de cada termo me parecia crucial. Toda decisão editorial era tomada com muito cuidado, pesando prós e contras.

Uma vez acrescentada a biografia dos colaboradores, o “Itinerário para uma leitura de Freud”, de autoria dos psicanalistas e professores Edson Sousa e Paulo Endo, bem como os índices ao final do livro, decidimos publicar A interpretação em dois volumes, tal como acontece na Argentina (me refiro à edição da Amorrortu, que, como as outras duas edições estrangeiras já citadas, consultamos muitas e muitas vezes). Definição de onde vai terminar o primeiro volume e começar o segundo; da numeração das páginas; como seriam os sumários, a numeração das notas etc. Finalmente lá estavam os arquivos finais, prontos para a preparação. Que ficou a cargo da Patrícia Yurgel, que já fizera um bom trabalho com textos de Freud.

Foi durante o acompanhamento da preparação e da supervisão das emendas aceitas e rejeitadas pelo tradutor que o inesperado se deu. Eu estava grávida, mas esperava que a minha filha aguentasse as pontas e me deixasse concluir a edição do livro, só dando o ar da graça lá pela última semana de janeiro. Porém, no dia 12 tive que correr para o hospital e delegar tudo da Interpretação para a minha colega, a editora Janine Mogendorff.

Não me entendam mal: eu confiaria (e confio) tudo à Janine. Somos unha e carne, cu e cueca, etc. Mas – quem é editor vai me entender – eu queria levar esse livro pela mão até o final. Só que a natureza não está nem aí para veleidades intelectuais, e lá me fui para cinco meses de licença-maternidade.

Pula para junho de 2012: a Dora, minha filha, tá com 5 meses, linda, lépida e faceira, e eu volto a trabalhar. Para minha felicidade, o processo de edição de A interpretação não estava concluído, e pude acompanhar as etapas finais. A revisão paginada foi feita pela Lia Cremonese, que também já tinha trabalhado nos dois Freuds anteriores, e o Renato, anos depois de concluída a tradução, fez mais uma leitura. Fizemos alguns ajustes na paginação, melhoramos os cabeçalhos, revimos os índices, revimos tudo mais uma vez, incluímos na página de créditos o logo do Goethe Institut (o livro recebeu um subsídio de tradução do governo alemão), liberei os arquivos, a Lúcia Bohrer mandou o livro para a gráfica, a Janine conferiu as provas, repassamos os últimos detalhes, e chegou a hora em que era necessário largar a mão do livro e confiar que ele caminharia sozinho.

Então, cinco anos depois do início de tudo, depois de a publicação ser programada e reprogramada várias vezes, chega o resultado. Mal dá para acreditar. É uma felicidade, ao mesmo tempo que um alívio, ver A interpretação pronta. Se como editora foi um privilégio ficar encarregada dessa edição, é também um privilégio para o leitor ter a possibilidade de ler um texto dessa envergadura numa tradução direta e numa edição acessível sob todos os pontos de vista – privilégio que nem todos os países gozam.

Partilho com o leitor o trecho que mais me chamou a atenção durante o processo de edição: uma nota à edição de 1909 sobre a relação da vida intrauterina e do ato do nascimento com a crença na vida após a morte:

“Apenas tardiamente aprendi a avaliar o significado das fantasias e dos pensamentos inconscientes acerca da vida no ventre materno. Eles contêm não só a explicação para o medo singular que muitas pessoas sentem de serem enterradas vivas, como também a motivação inconsciente mais profunda para a crença numa continuação da vida após a morte, crença que apenas figura a projeção no futuro dessa vida inquietante antes do nascimento. Aliás, o ato do nascimento é a primeira experiência de angústia e, assim, a fonte e o modelo para esse afeto.”

A todos os estudiosos e curiosos, boa leitura!

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*Caroline Chang é editora da L&PM e escreveu este texto em 31 de outubro de 2012. “A interpretação dos sonhos” é publicada em em dois volumes na Coleção L&PM Pocket e também em um só volume na Série Ouro.

 

Dia de homenagear Bukowski

O velho Buk se foi em 9 de março de 1994, vítima de leucemia. Tinha 73 anos. Deixou uma filha, muitos escritos e uma imensa saudade.

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encurralado

bem, eles diziam que tudo terminaria
assim: velho. o talento perdido. tateando às cegas em busca
da palavra

ouvindo os passos
na escuridão, volto-me
para olhar atrás de mim…

ainda não, velho cão…
logo em breve.

agora
eles se sentam falando sobre
mim: “sim, acontece, ele já
era… é
triste…”

“ele nunca teve muito, não é
mesmo?”

“bem, não, mas agora…”

agora
eles celebram minha derrocada
em tavernas que há muito já não
frequento.

agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona

enquanto as sombras assumem
formas

combato retirando-me
lentamente

agora
minha antiga promessa
definha
definha

agora
acendendo novos cigarros
servido mais
bebidas

tem sido um belo
combate

ainda
é.

(Poema de Charles Bukowski publicado em Textos autobiográficos. Clique aqui e veja todos os livros de Bukowski publicados pela L&PM)

 

Por que Jane Austen é tão atual

As mulheres querem a liberdade de escolher. Por isso os romances de Jane Austen ainda encontram leitoras nascidas duzentos anos depois dela: suas personagens se exercitam na arte da escolha, estabelecem julgamentos pessoais, dialogando e construindo uma independência das exigências do seu tempo. Os homens, até mesmo Freud, comentaram ser difícil definir nosso objeto de desejo. É que lhes é impossível crer que não desejamos um objeto, nem mesmo a eles, embora ser amadas nos interesse muito. Queremos é ser escutadas, levadas em consideração, o direito à dúvida, à contradição.

(Diana Corso, psicanalista e escritora, em depoimento à Revista Claudia)

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