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George Bernard Shaw e o teatro brasileiro

A comédia Pigmaleão, uma das peças mais famosas do Prêmio Nobel de Literatura George Bernard Shaw, inspirou o musical “Minha querida dama”, que fez sucesso nos palcos brasileiros nos anos 60. Com Bibi Ferreira e Paulo Autran no elenco, o espetáculo marcou época na história do teatro brasileiro.

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Além do casal, outro grande nome integrava o elenco: Jayme Costa. Bibi conta que várias vezes viu seu pai, o ator e diretor Procópio Ferreira, nos bastidores do teatro assistindo discretamente à peça. Certa vez, quando foi agradecer a ilustre audiência, ele respondeu: “Filha, você e o Paulo estão muito bem, mas na verdade eu venho aqui para assistir ao Jayme Costa”.

O musical deu origem a um disco, que eternizaria este grande momento do teatro brasileiro em vitrolas saudosas pelo mundo.

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Outra adaptação famosa do texto de Bernard Shaw foi o filme “My fair lady”, em 1964, com Audrey Hepburn no elenco, sob a direção de George Cukor. Na L&PM, o celebrado texto faz parte da Coleção L&PM Pocket e tem a tradução do mestre Millôr Fernandes.

Millôr Fernandes e a arte de traduzir

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Com a experiência que tenho, hoje, em vários ramos de atividade cultural, considero a tradução a mais difícil das empreitadas intelectuais. É mais difícil mesmo do que criar originais, embora, claro, não tão importante. E tanto isso é verdade que, no que me diz respeito, continuo a achar aceitáveis alguns contos e outros trabalhos meus de vinte anos atrás; mas não teria coragem de assinar nenhuma das minhas traduções da mesma época. Só hoje sou, do ponto de vista cultural e profissional, suficientemente amadurecido para traduzir. As traduções quase sem exceção (e não falo só do Brasil), têm tanto a ver com o original quanto uma filha tem a ver com o pai ou um filho a ver com a mãe. Lembram, no todo, de onde saíram, mas, pra começo de conversa, adquirem como que um outro sexo. No Brasil, especialmente (o problema econômico é básico), entre o ir e o vir da tradução perde-se o humor, a graça, o talento, a poesia, o pensamento, e, mais que tudo, o estilo do autor.

Fica dito – não se pode traduzir sem ter uma filosofia a respeito do assunto. Não se pode traduzir sem ter o mais absoluto respeito pelo original e, paradoxalmente, sem o atrevimento ocasional de desrespeitar a letra do original exatamente para lhe captar melhor o espírito. Não se pode traduzir sem o mais amplo conhecimento da língua traduzida mas, acima de tudo, sem o fácil domínio da língua para a qual se traduz. Não se pode traduzir sem cultura e, também, contraditoriamente, não se pode traduzir quando se é um erudito, profissional utilíssimo pelas informações que nos presta – o que seria de nós sem os eruditos em Shakespeare? – mas cuja tendência fatal é empalhar a borboleta. Não se pode traduzir sem intuição. Não se pode traduzir sem ser escritor, com estilo próprio, originalidade sua, senso profissional. Não se pode traduzir sem dignidade.

(Millôr Fernandes – De uma entrevista para a Revista Senhor – 1962)

O catálogo L&PM possui várias obras traduzidas por Millôr Fernandes: O jardim das cerejeiras, seguido de Tio Vânia, de Tchékhov; Pigmaleão, de George Bernard Shaw; Fedra, de Racine; Lisístrata – A greve do sexo, de Aristófanes; quatro peças de Shakespeare: Hamlet, O rei Lear, A megera domada, As alegres matronas de Windsor e duas de Moliére: Don Juan e As eruditas.