Arquivo mensais:maio 2012

“A arte da guerra” agora com mais arte

A arte da guerra, de Sun Tzu, é um daqueles livros muito antigos que continua sendo muito atual. Escrito um século antes de Cristo, é considerado o mais remoto tratado militar do mundo. Mas o que encanta os leitores não são as suas dicas de como vencer o inimigo além da fronteira, mas a forma como as estratégias podem ser aplicadas na vida, em cada guerra pessoal que travamos: da guerra dos sexos à guerra nas empresas.

A tradução da L&PM, de Sueli Barros Cassal a partir daquela feita do chinês pelo Padre Amiot em 1772, é fluente e sonora. Como a própria Sueli escreve no prefácio do livro “O Padre Amiot deixou de lado os comentários que foram acrescentados aos versículos, ao longo do tempo, por vários comentadores chineses. (…) E dois milênios depois, ainda conserva seu fulcro original e sua dicção aforismática e oracular”.

O livro, que é um dos maiores sucessos da Coleção L&PM Pocket, ganhou algo a mais: ilustrações belíssimas feitas por Gilmar Fraga e uma nova capa. Veja alguns dos desenhos feitos especialmente para o clássico de Sun Tzu:

Clique aqui e assista ao vídeo em que Gilmar Fraga conta como foram feitas as ilustrações e de onde veio sua inspiração.

Das páginas do livro para a vida real

Você já teve certeza de que era o personagem de um livro? Pois saiba que isso tem nome. Depois de uma série de experiências com amantes da literatura, psicólogos americanos chegaram à conclusão de que, ao ler um livro, o leitor não apenas visualiza o ambiente descrito pelo autor como consegue se transportar para a história e inserir-se no enredo. E mais do que isso: eles concluíram também que algumas pessoas levam o que vivenciaram para a sua vida.

Os pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio examinaram o fenômeno conhecido como “tomada de experiências”, que acontece quando o leitor incorpora emoções, pensamentos, hábitos e crenças de um personagem como se fossem suas.

O estudo publicado pela revista “Journal of Personality and Social Psychology” descobriu que, em algumas situações, esse fenômeno leva a reais mudanças de comportamento, ainda que sejam temporárias. E, segundo eles, quanto mais fraca a personalidade, mais suscetível ela está para tais “incorporações”.

 “A tomada de experiências pode ser uma maneira poderosa de mudar nossos comportamentos e pensamentos de forma significativa e benéfica”, afirmou Lisa Libby, uma das autoras, em material divulgado pela universidade.

Se pensarmos que muitos já se sentiram como Sal Paradise, personagem de On the Road, e sairam pela estrada afora em busca de aventura depois de lerem o livro de Kerouac, veremos que o fenômeno é bem mais comum do que imaginamos… Sorte é que, até onde a gente sabe, ninguém incorporou os hábitos de Drácula de Bram Stoker. Aliás, nossos pescoços agradecem.

“Na estrada” em Paris

Já começamos a contagem regressiva para a estreia de “On the road”, marcada para o dia 23 de maio em Paris, durante o Festival de Cannes. E as ruas da capital francesa já estão preparadas para receber um dos filmes mais esperados do ano. Dodô Azevedo, editor de conteúdo do site brasileiro de “Na estrada”, já está por lá e registrou a decoração especial na avenida Champs-Élysées.

Em breve, chegará às livrarias uma nova edição do livro On the road, desta vez em formato convencional e com a imagem do poster do filme na capa.

Os sentimentos contraditórios de Virginia

É somente depois que passou dos cinquenta anos que Virginia Woolf consegue ter um certo distanciamento com relação à crítica. Mas depois de quantos tormentos?! Seu Diário até essa época é uma radiografia fiel da acolhida recebida por cada um de seus livros. Com precisão, Virginia analisa a evolução de sua cota de popularidade. Quando afirma não querer ser célebre, nem grande, tudo em seu Diário afirma o contrário. A romancista queria ser apenas “alguém que escreve pelo prazer de escrever”, mas não para de se torturar: “Talvez seja verdade que minha reputação agora só irá declinar. Vão me fazer de ridícula. Vão apontar-me com o dedo, que atitude deverei adotar?”, pergunta-se em 1932, quando está no auge de sua glória. A vida de Virginia se parece com uma corrida pelo reconhecimento que revela um sofrimento profundo. Afinal, a única coisa que vale a pena neste mundo vil é não duvidar da literatura. Mais uma vez, Virginia Woolf fica dividida entre desejos contraditórios. O de se expor em plena luz a fim de recolher os louros de que tanto precisa para continuar seu vasto empreendimento. O de ficar à sombra e mergulhar cada vez mais profundamente nas águas agitadas da consciência. Virginia sofre por ser tributária da flutuações de seu renome enquanto gostaria de ver apenas o avanço de sua obra.

(Trecho de Virginia Woolf, Série Biografias L&PM)

Ainda em 2012, a Coleção L&PM Pocket vai lançar, de Virginia Woolf, o livro Mrs. Dalloway com tradução de Denise Bottmann.

“Na estrada” já tem site no Brasil

A Playarte, distribuidora do filme “Na estrada/On the road”, anunciou hoje o lançamento da versão brasileira do site do filme de Walter Salles. Além de informações sobre o livro de Jack Kerouac que deu origem ao filme, o site oferece vários presentinhos para os fãs brasileiros: cenas do filme, fotos das filmagens, as versões brasileiras de todos os cartazes oficiais e um blog que promete entreter os fãs com informações, curiosidades e novidades quentinhas sobre o filme, que estreia por aqui no dia 15 de junho no Brasil.

Tela inicial do site brasileiro de "Na estrada"

Em breve, chegará às livrarias uma nova edição do livro, em formato convencional, e cuja capa traz a imagem do poster do filme.

Os livros preferidos de Hemingway

A edição de fevereiro de 1935 da Revista Esquire trazia um artigo de Ernest Hemingway no qual o escritor revelava os 17 livros que ele gostaria de ler novamente como se fosse a primeira vez. Na lista, há alguns títulos publicados pela L&PM: O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë; Madame Bovary, de Gustave Flaubert; Guerra e Paz, de Tolstói; As aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain; O vermelho e o negro, de Stendhal e Os dublinenses, de James Joyce.

Hemingway na sua mesa de trabalho, cercado por seus livros favoritos

Se você deseja ter a sensação que Hemingway queria repetir – a de ler estes livros pela primeira vez – aqui está a chance de começar…

John Fante por Caio Fernando Abreu

Os sonhos de todos nós

Se me perguntassem qual foi o livro que mais gostei de ler em 1984 (e nos últimos anos), responderia sem vacilar: Pergunte ao pó, de John Fante. Ele trouxe de volta um tipo de emoção experimentado no final dos anos 1960, com a descoberta de J. D. Salinger, do Holden Caulfield de O apanhador no campo de centeio aos membros da família Glass, à qual pertencia Seymour, o suicida poeta zen. Em comum entre os dois, uma infinita piedade pela condição humana e a inocência de personagens perdidas num mundo de relações incompreensíveis. Sonhos de Bunker Hill traz de volta o alter ego de Fante: o escritor Arturo Bandini, visto alguns anos depois de Pergunte ao pó. O virginal Bandini do livro anterior agora batalha no mundo dos roteiros cinematográficos de Los Angeles – cidade que ele amou e cantou como ninguém –, fascinado por traseiros femininos, em luta contra a falta de grana e, quase sempre, de inspiração para escrever. Publicado originalmente em 1982, um ano antes da morte de Fante, aos 74 anos, o livro tem uma peculiaridade: não foi escrito, mas ditado a Joyce, mulher do autor. Cego, com as duas pernas amputadas devido a problemas com diabetes, essa foi a única maneira que Fante encontrou de não parar de escrever. Não podia parar. E, escrevendo ou ditando, a emoção era sempre a mesma: tripas e coração, como diz seu admirador Bukowski, misturados no mesmo esforço de fundir humor e dor, ternura e ridículo, grandeza e miséria.

Bandini é palhaço, herói, gigolô, artista, vagabundo, romântico: tudo ao mesmo tempo. Daí talvez sua irresistível simpatia, capaz de fazer com que qualquer um de nós se identifique com suas confusões. Em volta de Bandini, uma galeria de personagens – muitas nitidamente calcadas em modelos reais daquela fauna absurda dos anos de ouro de Hollywood, nas décadas de 1930 e 1940 – tão malucas quanto ele. Podem ser a roteirista Velda van der Zee, autora (em coautoria com Bandini) do hilariante faroeste Sin City, ou o também roteirista Frank Edgington, vagamente homossexual, com quem Bandini divide uma história ambígua, regada a vinho e maconha (ele agora está menos moralista do que quando conheceu Camila Lopez, a inesquecível princesa maia de sapatos em farrapos, de Pergunte ao pó), o lutador Duque de Sardenha, ou a amante Helen Brownell, dona do hotel onde ele mora. Em todos, a palavra de Fante não demarca nenhum limite definido entre a dignidade e o grotesco. Nessa delicada faixa de transição do cômico para o trágico, nessa corda bamba entre o que se gostaria de ser e o que realmente se é, equilibram-se as pungentes criaturas de Fante. Que fazem rir um riso nervoso, de olhos molhados. Os sonhos sonhados em Bunker Hill, guardadas circunstâncias e proporções, são os mesmos sonhos de todos nós. É o sonho de um trabalho criativo e gratificante, que a realidade acaba por reduzir a duas palavras no roteiro de Sin City: Ôoo! e Eia! Os sonhos de um grande amor pulverizados pelo cansaço sem sex appeal de uma cinquentona, e a modesta contestação: “Éramos bons um para o outro, Helen Brownell e eu”. O sonho de uma volta triunfante ao lugar de origem – quando Bandini retorna a Boulder, no Colorado, e um porre antiestratégico transforma em tombo as vantagens contadas sobre Johnny Weismuller e Esther Williams e Buster Crabbe. Em todos os tombos de Bandini, o desmentido da fantasia de que a vida, afinal, seja menos mesquinha. Viver – a própria vida vai provando aos pouquinhos – não tem nenhum happy end em technicolor e cinemascope. Para Fante-Bandini, a única forma de conquistar essa ilusão de sentido, grandeza ou beleza da vida talvez tenha sido escrever.

Por isso, no final, com “dezessete dólares na carteira e o medo de escrever”, ele senta-se em frente à máquina e, orando a Deus e a Knut Hamsum, inicia o processo mágico e salvador de transformar em ficção cheia de poesia uma realidade que nem sempre foi tão poética assim. “Ah vida!” – ele clamava em Pergunte ao pó. – “Tua amarga doce tragédia, sua puta deslumbrante que me levaste à destruição”. John Fante não foi exatamente “um gigante da literatura”, nem escreveu sobre grandes tragédias da alma humana: detinha-se sobre o pequeno, com muito cuidado. Com doses generosas de sentimentos raros: perdão e amor. Ele escreveu pouco: além de Pergunte ao pó e Bunker Hill, sua obra compõem- se apenas de Wait Until Spring, Bandini (1938), os contos de Dago Red (1940), Full of Life (1952) e The Brotherhood of Grape (1977) [postumamente foi publicado 1933 foi um ano ruim]. Passou quase toda a vida retirado dos cintilantes circuitos da badalação, às voltas com problemas de saúde. Era um homem muito simples, todos dizem. Sabia que suas histórias não tinham muitas pretensões mais do que resgatar do pó do esquecimento figuras que, se ele não as tivesse lembrado, permaneceriam para sempre anônimas. Sabia também que tudo parece meio idiota quando se pensa na morte. E que as pessoas, de muitas maneiras estranhas, tortuosas, piradas, no final das contas só querem amar e ser felizes. Doloroso é que isso, que parece tão pouco, seja geralmente tão inatingível. Fante-Bandini sabia muito bem de todas essas coisas.

(Texto escrito por Caio Fernando Abreu em 1985 e publicado originalmente na introdução do livro Sonhos de Bunker Hill, de John Fante.)

Aguarde: vem aí uma novela inédita de Martha Medeiros

Noite em claro é uma novela de Martha Medeiros que será lançada no mês de junho na Coleção 64 páginas. Cronista de Feliz por nada, um dos maiores bestsellers nacionais dos últimos tempos, poeta do belo Cartas extraviadas, ficcionista consagrada de Divã (sucesso literário, teatral e cinematográfico), Martha mostra neste seu novo trabalho a escritora madura, irreverente e surpreendente que é. Noite em claro é um livro para ser “devorado” de uma só vez. Se passa num clima “noir” – uma noite de tempestade, uma garrafa de champanhe e uma mulher escrevendo sem censura  sobre sua vida. (Ivan Pinheiro Machado)

Enquanto isso, há 200 anos na biografia de Beethoven…

No outono de 1812 acontece um curioso episódio, que lança uma luz um tanto desfavorável sobre as concepções morais de Beethoven. Seu irmão caçula Johann, farmacêutico em Linz, inicia um caso amoroso com uma mulher de costumes considerados discutíveis, Teresa de Obermeyer. Ciúmes? Sobressalto de pudicícia? Reflexo do clã? Velho rancor que busca apenas um pretexto para explodir em violência tirânica? Teresa, na verdade, é mãe de uma filha de pai desconhecido. Imediatamente, Beethoven corre a Linz. Parece furioso. Injúrias, rixa com o irmão: na família Beethoven, as diferenças se resolvem mediante punhos. Ele quer que a intrusa desapareça da vida do irmão. Chega até a alertar as autoridades da cidade e o bispo para que a expulsem. O caso dura cerca de um mês. No final, Johann pega o irmão de surpresa: ele se casa com a amante. Ludwig assiste à cerimônia praguejando, ele que não consegue se casar, e já no dia seguinte volta a Viena. Pelo menos, durante essa tragicomédia familiar bastante lamentável, conclui sua Oitava Sinfonia…

(Trecho de Beethoven, Bernard Fauconnier, Série Biografias)

Ouça aqui a Oitava Sinfonia: