Arquivo mensais:agosto 2011

Muerto cayó Federico

Em 19 de agosto de 1936, em pleno verão andaluz, o poeta Federico Garcia Lorca, que afrontava as normas do regime com sua poesia, foi friamente assassinado pelo exército nacionalista. Sem julgamento ou misericórdia, deram-lhe um tiro de fuzil na nuca e se livraram de seu corpo num lugar qualquer da província de Granada.

A morte de Lorca foi um soco no estômago de poetas e artistas de todo o mundo, que reagiram à triste notícia usando o que tinham de melhor para expressar sua tristeza: a arte. No ano seguinte ao assassinado de Lorca, Picasso fez um de seus quadros mais famosos, a Guernica. Ao ser questionado por um oficial alemão se ele teria pintado o quadro, Picasso respondeu: “não, os senhores é que o fizeram”.

Profundamente abalado com a barbárie da Guerra Civil Espanhola e tocado pela morte do amigo, Pablo Neruda escreveu os poemas reunidos no livro Terceira residência, um verdadeiro libelo contra a guerra com versos sobre política e liberdade.

No Brasil, Lorca foi homenageado por Vinicius de Moraes, que compôs o belíssimo poema “A morte de madrugada”. A seguir, os versos de Vinicius na voz do ator português Mario Viégas e abaixo, a última estrofe do poema:

Atiraram-lhe na cara
Os vendilhões de sua pátria
Nos seus olhos andaluzes
Em sua boca de palavras.
Muerto cayó Federico
Sobre a terra de Granada
La tierra del inocente
No la tierra del culpable.
Nos olhos que tinha abertos
Numa infinita mirada
Em meio a flores de sangue
A expressão se conservava
Como a segredar-me: – A morte
É simples, de madrugada…

Parte da obra poética de Federico Garcia Lorca está no livro Antologia Poética – Garcia Lorca, da Coleção L&PM Pocket.

A arqueóloga que fascinou Agatha Christie

Acaba de chegar por aqui um novo título de Agatha Christie. E ao abrir a primeira página de Os 13 problemas, o que se lê antes do Sumário é uma dedicatória: “Para Leonard e Katherine Wooley”. Mas, afinal, quem é o casal Wooley a quem a Rainha do Crime dedicou este seu livro?

Depois de se divorciar de seu primeiro marido, Archie, Agatha resolveu viajar pelo Oriente. Após passar por Bagdá, decidiu que iria a Ur. Como já era uma escritora famosa, seus agentes organizaram tudo. Entre os preparativos, foram contatados Leonard e Katherine Woolley, os arqueólogos que estava à frente de uma grande escavação em Ur. Em sua autobiografia, Agatha Christie conta seu primeiro encontro com eles: “Os Wooleys tinham tudo muito bem organizado: os visitantes iam sozinhos dar uma volta pelas escavações, sendo-lhes mostrado o essencial, e depois eram delicadamente postos para fora. Fui recebida, porém, amavelmente, como hóspede importante e deveria ter dado a esse fato muito maior apreço do que realmente dei. Esse tratamento em relação a mim foi inteiramente devido ao fato de Katherine Wooley, a mulher de Leonard Wooley, ter justamente acabado de ler um dos meus livros, O Assassinato de Roger Ackroyd (…). A Sra. Wooley levou tão longe seu entusiasmo que perguntou aos outros membros da expedição se já haviam lido meu livro, e os que não leram foram severamente censurados”

Agatha Christie descreveu Katherine Wolley como uma mulher extraordinária (que logo se tornaria uma de suas melhores amigas): “As pessoas ficavam sempre divididas entre detestarem-na com ódio feroz e vingativo, ou ficarem fascinadas por ela – possivelmente por mudar tão rapidamente de disposição que tudo nela era imprevisível (…) Os assuntos que ela falava nunca eram banais. Tinha capacidade de estimular o intelecto dos outros, encaminhando-os por veredas que antes jamais lhes haviam sido sugeridas”. Tão encantada Agatha ficou por ela que a personagem principal de Morte na Mesopotâmia, Louise Leidner, foi inspirada nela. Poirot, assim como sua criadora, fica fascinado pela personalidade da esposa do arqueólogo-chefe. Que mulher não devia ser mesmo essa Katherine…

Katherine e Leonard Wooley, em primeiro plano, nas escavações de Ur (clique para ampliar)

A morte de um gênio chamado Balzac

“Em 18 de agosto, Victor Hugo, tendo ouvido que o seu colega se encontrava em um estado alarmante, apresenta-se ao cair da noite na Rue Fortunée. É recebido. Descreveu a cena. O quarto empestado. Os médicos mandaram colocar produtos destinados a livrar o ar do odor da gangrena que tomou conta de uma das pernas. Balzac está na cama, emagrecido, lívido, o rosto tomado pela barba. Não reconhece o visitante. Morre durante a madrugada. Será impossível, como então era costume, realizar uma máscara mortuária: nas horas que seguem à morte, as carnes do rosto já estão apodrecendo. (…) Durante essa noite de 18 de agosto, Hugo, de volta à sua casa, disse que a Europa ia perder um dos seus grandes espíritos. A sua admiração é real e profunda. O poeta do cérebro épico captou qual era a visão e o alcance do romancista. Durante os funerais em Saint-Philippe-du-Roule, quando um oficial evoca o ‘homem distinto’ que era Balzac, responde em voz alta: ‘Era um gênio’.” (Trecho de Balzac, de François Taillandier, série Biografias L&PM).

Honoré de Balzac e seu amigo Victor Hugo eternizados por Auguste Rodin

Massacrado pela péssima alimentação e atormentado pelas dívidas, Balzac se foi em 18 de agosto de 1850, aos 51 anos, dois meses após ter casado com a condessa polonesa Éve Hanska, o grande amor de sua vida. Três dias depois, em seu enterro, Victor Hugo proferiu o discurso fúnebre em sua homenagem. Ele pode ser lido aqui, em um dos posts da Série Especial Balzac, publicada neste blog.

A L&PM publica dezesseis títulos de autoria de Balzac.

Balzac é destaque na Wikipédia em português

Quem já acessou a página inicial da Wikipédia em português (sem ser pela busca do Google) deve ter observado que há sempre um “Artigo em destaque” dentro de uma caixa azul (como na imagem abaixo). Estar ali significa que o artigo é de “excelente qualidade”. No ambiente colaborativo e aberto da Wikipédia, em que todo mundo pode  escrever o que bem entende, ter este atestado de credibilidade é valioso.

Bom… tudo isso é pra dizer que o artigo sobre a vida e a obra de Honoré de Balzac está lá na página inicial da Wikipédia em destaque já faz uns dias. Isso quer dizer que, se você precisar de informações precisas sobre o autor de A Comédia Humana, a comunidade de colaboradores da Enciclopédia Livre – como é conhecida a Wikipédia – garante que naquele artigo você pode confiar.

E não é fácil virar “Artigo em destaque”: primeiro, o texto tem que se enquadrar em um lista enorme de critérios (deve conter referências, fontes, notas, etc) e só então vai para a fila de votação. Apenas os usuários mais ativos e mais antigos têm direito a voto, ou seja, tem muita gente comprometida com a Wikipédia de olho no que é publicado por lá. E o processo não termina aí: são contabilizados apenas os votos que vêm com justificativa. E não adianta escrever qualquer coisa, pois só vale se a justificativa estiver de acordo com aquela lista de critérios iniciais. Após esta seleção criteriosa (ufa!), o artigo mais bem votado ganha destaque na página inicial da língua correspondente. É por isso que ser eleito como “Artigo em destaque” na Wikipédia é um mérito e tanto para o conteúdo construído colaborativamente.

Outra opção para saber tudo sobre Balzac é assistir ao documentário Vida & Obra – Honoré de Balzac, apresentado pelo editor Ivan Pinheiro Machado na L&PM WebTV.

Loucos por Peanuts

O site pinterest.com é uma descoberta e tanto. Um lugar que concentra gente com gostos e posts em comum. Ou, como diz a home, “as coisas que você ama”. Entre os tantos assuntos que encontramos por lá, Peanuts parece ser um dos mais populares. Há de tudo um pouco: arte, brinquedos, roupas, unhas, louças, bijus, bolos e ideias que são, literalmente, a cara do Snoopy! Aqui um pequeno exemplo do que você vai encontrar por lá. Ficou curioso pra ver mais? Clica aqui

Woody Allen na terra dos paparazzi

Imagine a quantidade de paparazzi que acompanham de perto o dia-a-dia de Woody Allen nas filmagens de seu novo filme Bop Decameron, em Roma. Mas Woody, que não é bobo nem nada, colocou-os para trabalhar em outra posição: na frente das câmeras! Para gravar as cenas em que Leopoldo Pisanello (Roberto Benigni) – um homem de meia idade que, da noite para o dia, vira celebridade e passa a ser perseguido por jornalistas e fotógrafos – o diretor/roteirista chamou paparazzi de verdade. As cenas abaixo se passam na Piaza di Campo dei Fiori.

E é claro que os paparazzi aproveitaram a oportunidade de chegar bem perto do aclamado diretor para tirar uma casquinha. Vai dizer que você não faria o mesmo?

Bop Decameron estreia só em 2012, mas enquanto isso você pode se divertir com os textos e roteiros divertidíssimos de Woody Allen na Coleção L&PM Pocket.

41. Delirando com Bukowski em quadrinhos

Por Ivan Pinheiro Machado*

Em 1984, estava andando pelos corredores de uma livraria em Paris quando um grande álbum de HQ chamou minha atenção. Era um título de uma importante editora francesa de quadrinhos, a Glénat: “Folies Ordinaires”, de Charles Bukowski, ilustrado pelo alemão Matthias Schultheiss. Naquela época, publicávamos a coleção L&PM Quadrinhos, só de álbuns clássicos e que chegou a ter 120 títulos.

A edição francesa que deu origem a tudo ainda está na prateleira de Ivan Pinheiro Machado

De volta ao Brasil, com a certeza de que aquele deveria ser mais um dos títulos da Coleção, escrevi uma carta à Glénat pedindo o contato de Schultheiss (naquele tempo se escreviam cartas!). Começamos a nos corresponder e marcamos, para o ano seguinte, um encontro na Feira de Frankfurt.

Matthias Schultheiss era (provavelmente continua sendo) um alemão alto e simpático que se mostrou muito agradável. Perguntei a ele de onde havia surgido a ideia daqueles quadrinhos e Schultheiss me contou que ficara muito impressionado com os livros de Bukowski. Falou ainda que ele e Buk se encontraram pessoalmente e que o escritor tinha gostado muito dos desenhos. E fez questão de salientar que os dois tomaram vários porres juntos.

Meses depois, contrato assinado, publicamos as cinco histórias de “Folies Ordinaires” em dois volumes: “Delírios Cotidianos” e “New York, 25 Cents ao dia” com tradução de Suely Bastos. Com o passar dos anos, os livros foram se esgotando e o contrato venceu. Até que, em 2008, resolvemos republicar. A primeira coisa a fazer seria encontrar Schultheiss e contatá-lo novamente. Felizmente, o Google ajudou e cheguei ao seu site oficial. Ele lembrava de tudo e, refeitos os contratos, Schultheiss nos enviou a ilustração da capa em alta definição. O novo “Delírios Cotidianos” saiu como na versão francesa, cinco histórias em um único volume.  

A capa da nova edição

Poucas vezes uma adaptação gráfica aproximou-se tanto de seus originais, como em “Delírios cotidianos”. Com um estilo realista, Schultheiss transpôs impecavelmente o universo dos bêbados, das prostitutas, dos marginais e dos desesperados que povoam as páginas do escritor que, se vivo fosse, estaria completando 92 anos hoje.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quadragésimo primeiro post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Alexandre, o disputado

Suposta estátua de Alexandre, O Grande em Skopje, capital da Macedônia

O embate político entre gregos e macedônios, que já dura 20 anos, ganhou um novo foco de conflito: uma estátua de Alexandre, O Grande em Skopje, capital da Macedônia. Todo mundo sabe que o famoso imperador nasceu na Macedônia, mas com o novo arranjo territorial e político da região, a cidade de Pella, berço de Alexandre, ficou na parte grega do território.

Aliás, desde a independência da República da Macedônia, os gregos têm um pé atrás com a escolha (nada original) do nome do novo país, pois temem que os novos vizinhos reivindiquem o restante do território homônimo que continua sob domínio grego.

Mas voltando ao assunto: para todos os efeitos, Alexandre, O Grande é grego. E sendo assim, não há razão para uma homenagem desta dimensão (a estátua tem 22 metros de altura!) em território macedônio, certo? Mais ou menos. Os macedônios, por sua vez, tiram o corpo fora e garantem que a estátua não representa o nobre imperador, mas “apenas um guerreiro a cavalo”, sem identidade definida.

Ficou o dito pelo não dito – ou melhor, o feito pelo não feito. Mas o mais controverso é que a construção do monumento em questão faz parte de um grande esforço governamental para renovar a cidade de Skopje, capital da República da Macedônia, que inclui entre outras obras, a construção de uma estátua do rei Filipe II, pai de Alexandre. Suspeito, no mínimo.

Tinha um Shakespeare no meio do caminho…

Imagine chegar no metrô, a caminho do trabalho num dia de semana qualquer, e se deparar com dois sujeitos jogados no chão do vagão, gesticulando e recitando textos em até duas línguas diferentes… até que, de repente, alguém se destaca da plateia e explica o que está acontecendo: são atores, mais precisamente no meio do Ato V, Cena 3 de Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

O verdadeiro teatro "underground": cena da peça "Rei Lear", de Shakespeare, encenada no metrô de Nova York

Cenas assim já não são mais novidade para quem usa o metrô em Nova York.  Fred Jones e Paul Marino são os atores de rua que ganham a vida se apresentando no metrô da Big Apple. Em entrevista ao jornal The New York Times, eles contam que, além do sustento, ganham aplausos e vivas da plateia adulta, sorrisos e olhares curiosos dos pequenos, e números de telefone de mulheres jovens e atraentes que desejam conhecê-los fora dali. Paul Marino é quem revela tais “lucros” e Fred Jones, nada modesto, confirma.

Segundo a dupla, o elemento surpresa é fundamental para o sucesso das apresentações: eles entram no metrô como pessoas normais, sem chamar muita atenção, pois todos os objetos de cena ficam guardados na mochila. Até que um deles coloca uma barba falsa, óculos de plástico e uma máscara, caracterizando rapidamente o personagem, e a esquete tem início. De repente, outro ator entra na cena e começa a recitar Hamlet em inglês e espanhol alternadamente, para o caso de haver algum imigrante ou turista recém chegado. Só depois que todo mundo já viu, gostou e aplaudiu é que eles se apresentam como atores e pedem uma contribuição aos passageiros.

Enquanto alguns reclamam da falta de dinheiro ou tempo para ir mais ao teatro, outros como Fred Jones e Paul Marino apresentam soluções: tiram Shakespeare do teatro e colocam no meio do caminho das pessoas. Que podem escolher entre se deixar “tropeçar” ou mudar de vagão. Na nossa opinião, a primeira opção será sempre mais atraente, é claro.

O nascimento de um leão chamado… Napoleão

Para os que entendem de zodíaco, Napoleão Bonaparte não poderia ter nascido sob outra constelação. Aliás, o próprio nome já traz em si o signo que o iluminou durante toda a vida: Leão. Ao nascer em 15 de agosto de 1769, Napoleão logo mostrou que era um típico leonino: ambicioso, orgulhoso, vaidoso e com grande espírito de liderança. Natural de Ajaccio, capital da Córsega, ele foi o segundo de oito filhos.

Aluno brilhante, aos 16 anos formou-se como oficial de artilharia. Aderiu à Revolução Francesa em 1789 e, em 1793, depois de liderar a retomada de Toulon, foi promovido a general de brigada. Tinha 24 anos e era o mais jovem general do exército francês. Aos 27, em 1796, tornou-se comandante em chefe do Grande Exército depois de derrotar os austríacos na campanha da Itália. Iniciou aí sua fulminante ascensão. Atingiu a celebridade comandando as tropas francesas em triunfos lendários como as batalhas de Rivoli, Austrelitz e Marengo. Tornou-se imperador, foi exilado em Elba, voltou de forma triunfal. E acabou seus dias na Ilha de Santa Helena, isolado em meio ao Oceano Atlântico, onde morreu em 5 de maio de 1821 e entrou para a história como o maior líder que o mundo Ocidental já viu.

Alguém ainda duvida de que os leoninos nasceram para reinar? Mesmo assim, Napoleão costumava dizer que “um trono não passa de uma tábua forrada de veludo”.

"O nascimento de Napoleão" foi desenhado por A. Raffet em 1839. Prestou atenção nos leões?

Para saber mais sobre Napoleão, leia seus aforismos, publicados em Manual do líder e também Napoleão – como fazer a guerra com as máximas e pensamentos de Napoleão recolhidas por ninguém menos do que Honoré de Balzac.